Abordagem do texto como unidade de ensino e a diversidade de tipos textuais e de gêneros discursivos orais e escritos
TEMA
Célia Maria de Medeiros
O TEXTO COMO UNIDADE DE ENSINO
SUJEITO:
senhor absoluto de suas ações e de seu dizer.
TEXTO:
produto – lógico - do pensamento
3. LÍNGUA:
interação - dialogia
SUJEITO:
atores/construtores sociais
TEXTO:
o próprio lugar da interação
2. LÍNGUA:
código – mero instrumento da comunicação.
SUJEITO:
(pre)determinado pelo sistema.
TEXTO:
simples produto da codificação de um emissor a ser decodificado pelo leitor/ouvinte.
O TEXTO COMO UNIDADE DE ENSINO
O QUE É UM TEXTO?
O QUE SÃO GÊNEROS?
a) conteúdo temático – o que é ou pode ser dizível por meio do gênero;
b) a construção composicional – estrutura particular dos textos pertencentes ao gênero;
c) o estilo: configuráveis específicas das unidades de linguagem derivadas, sobretudo, da posição enunciativa do locutor. (BAKHTIN, 2003).
O QUE SÃO GÊNEROS?
GÊNEROS TEXTUAIS/DISCURSIVOS E TIPOS TEXTUAIS
TIPOS TEXTUAIS | GÊNEROS TEXTUAIS |
1. constructos teóricos definidos por propriedades linguísticas intrínsecas; | 1. realizações linguísticas concretas definidas por propriedades sócio-comunicativas; |
2. constituem sequências linguísticas ou sequências de enunciados no interior dos gêneros e não são textos empíricos; | 2. constituem textos empiricamente realizados cumprindo funções em situações comunicativas; |
3. sua nomeação abrange um conjunto limitado de categorias teóricas determinadas por aspectos lexicais, sintáticos, relações lógicas, tempo verbal; | 3. sua nomeação abrange um conjunto aberto e praticamente ilimitado de designações concretas determinadas pelo canal, estilo, conteúdo, composição e função; |
4. designações teóricas dos tipos: narração, argumentação, descrição, injunção e exposição | 4. exemplos de gêneros: telefonema, sermão, carta comercial, romance, bilhete, aula expositiva, reunião de condomínio, horóscopo, receita culinária etc. |
Adam (1990) e Bronckart (1999) defendem, como Marcuschi (2005), uma posição similar sobre a diferença entre tipos textuais e gêneros textuais.
TIPOS DE SUPORTE
CONVENCIONAIS
INCIDENTAIS
SERVIÇOS EM FUNÇÃO DA ATIVIDADE COMUNICATIVA
O suporte firma ou apresenta o texto para que se torne acessível. (MARCUSCHI, 2008).
DOMÍNIOS DISCURSIVOS | MODALIDADES DE USO DA LÍNGUA | |
ESCRITA | ORALIDADE | |
INSTRUCIONAL (científico, acadêmico, educacional) | artigos científicos, resenhas relatórios, notas de aula, conferências, projetos, sumário etc. | debates, discussões, aulas participativas etc. |
JORNALÍSTICO | editoriais, reportagens, nota social, cartas do leitor, entrevistas jornalísticas etc. | entrevistas jornalísticas, debates etc. |
RELIGIOSO | orações, catecismo, bulas papais etc. | sermões, rezas, confissão etc. |
SAÚDE | receita médica, bulas, receitas culinárias etc. | consulta, entrevista médica etc. |
COMERCIAL | rótulo, classificados, nota fiscal, bilhete de ônibus etc. | publicidade e refrão de feira-livre etc. |
INDUSTRIAL | instrução de montagem de equipamento, manuais de instrução, avisos etc. | ordens expressas em linha de produção etc. |
GÊNEROS TEXTUAIS POR DOMÍNIOS DISCURSIVOS E MODALIDADES
DOMÍNIOS DISCURSIVOS | MODALIDADES DE USO DA LÍNGUA | |
ESCRITA | ORALIDADE | |
JURÍDICO | contratos, leis, estatutos, certidões de batismo etc. | tomada de depoimento, exortações etc. |
PUBLICITÁRIO | propagandas, anúncios, outdoors, endereço eletrônico, endereço de internet etc. | publicidade na TV e no rádio etc. |
LAZER | histórias em quadrinhos, horóscopo, palavras cruzadas etc. | piadas, fofocas, adivinhas etc. |
INTERPESSOAL | cartas pessoais, telegramas, lista de compras, diário pessoal etc. | conversações espontâneas, recados etc. |
MILITAR | roteiro de cerimônia oficial, lista de tarefas etc. | ordem do dia, comandos de formatura etc. |
FICCIONAL | contos, crônicas, roteiro de filme, romances etc. | fábulas, lendas, poemas etc. |
GÊNEROS TEXTUAIS POR DOMÍNIOS DISCURSIVOS E MODALIDADES
Jornalismo
(Domínio Discursivo)
Jornal Eletrônico
[Suporte]
Reportagem
Jornalística
[Gênero textual]
Divulgação de Eventos Sociais da Região do Seridó/RN
[Formação Discursiva]
Narração...
[Sequências
Tipológicas
Jornal
[Órgão, Instituição]
COMO FORMULAR UMA PROPOSTA SIGNIFICATIVA PARA O ESTUDO DOS GÊNEROS TEXTUAIS/DISCURSIVOS E OS TIPOS TEXTUAIS?
Agrupamento de gêneros
- domínio social da comunicação a que pertencem;
- capacidades de linguagem envolvidas na produção e
- compreensão desses gêneros e sua tipologia geral. São eles:
Agrupamento de gêneros
Exemplos:
contos de fada, fábulas, lendas, narrativas de aventura, de enigma, ficção científica, crônica literária, romance, entre outros.
Agrupamento de gêneros
b) Agrupamento da ordem do relatar – comporta os gêneros pertencentes ao domínio social da memorização e documentação das experiências humanas, situando-as no tempo.
Exemplos: relato de experiências vividas, diários íntimos, diários de viagem, notícias, reportagens, crônicas jornalísticas, relatos históricos, biografias, autobiografias, testemunhos etc.
Agrupamento de gêneros
c) Agrupamento da ordem do argumentar – inclui os gêneros relacionados ao domínio social da discussão de assuntos sociais controversos, objetivando um entendimento e um posicionamento frente a eles, exigindo para tanto, sustentação, refutação e negociação de tomadas de posição.
Exemplos: textos de opinião, diálogos argumentativos, cartas de leitor, cartas de reclamação, cartas de solicitação, debates regrados.
Agrupamento de gêneros
d) Agrupamento da ordem do expor – engloba os gêneros relacionados ao domínio social de transmissão e construção de saberes, visando de forma sistemática possibilitar a apreensão dos conhecimentos científicos e afins, numa perspectiva menos assertiva e mais interpretativa, exigindo a apresentação textual de diferentes formas dos saberes.
Exemplos: textos expositivos, conferências, seminários, resenha, artigos, tomadas de notas, resumos de textos expositivos e explicativos, relatos de experiência científica.
Agrupamento de gêneros
e) Agrupamento da ordem do descrever ações – reúne os gêneros cujo domínio social é o das instruções e prescrições, revisando a regulação ou normatização de comportamentos.
Exemplos: receitas, instruções de uso, instruções de montagens, bulas, regulamentos, regimentos, estatutos, constituições, regras de jogo, dentre outros.
DIMENSÕES DE ANÁLISE
Visto que o estabelecimento de critérios adequados deve ser o primeiro passo para solucionar a questão da tipologia, Koch e Fávero (1987) propõem, como básicas para a comparação/diferenciação de textos, três dimensões interdependentes:
DIMENSÃO PRAGMÁTICA | DIMENSÃO ESQUEMÁTICA | DIMENSÃO LINGUÍSTICA |
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ATIVIDADE PRÁTICA
1º MOMENTO
2º MOMENTO
Gênero textual: orientação de uso
Tipo de agrupamento:
da ordem do descrever ações
Domínio discursivo:
Comercial
Suporte: embalagem
Dimensão pragmática:
“Adicione água fervente aos poucos”
(atitude comunicativa – fazer fazer)
Dimensão esquemática:
“Coloque..., ajuste..., adicione...”
(ordenação epácio-temporal)
Dimensão linguística:
“Coloque o pó do café...Não mexa a mistura”
(verbos no imperativo)
REFERÊNCIAS
ANTUNES, I. Muito além da gramática: por um ensino de línguas sem pedras no caminho. São Paulo: Parábola, 2007.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental – língua portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1998.
BAGNO, M. A inevitável travessia: da prescrição gramatical à educação linguística. In: BAGNO, M. et al. Língua materna: letramento, variação e ensino. São Paulo: Parábola, 2002.
______. A língua de Eulália: a novela sociolingüística. 11. ed. São Paulo: Contexto, 2001.
______. Preconceito linguístico: o que é e como se faz. 2. ed. rev. ampl. São Paulo: Edições Loyola, 2000.
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad. do russo Paulo Bezerra. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
FARACO, C. A. Norma culta brasileira: desatando alguns nós. São PAULO: PARÁBOLA Editorial, 2008.
GAGNÉ, G. A norma e o ensino da língua materna. In: BAGNO, M. et al. Língua materna: letramento, variação e ensino. São Paulo: Parábola, 2002.
REFERÊNCIAS
GERALDI, J. W. Portos de passagem. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
KOCH, I. G. V.; ELIAS, V. M. Ler e compreender os sentidos do texto. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2006.
MARCUSCHI, L. A. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.
______. Gêneros textuais: configuração, dinamicidade e circulação. In: KARWOSKI, A. M. et al . Gêneros textuais: reflexões e ensino. 2. ed. Rio de Janeiro: lucerna, 2006.
______. “Gêneros textuais: definição e funcionalidade” In: DIONÍSIO, A. P. et al. Gêneros textuais e ensino. 4. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.
______. Da fala para a escrita: atividade de retextualização. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2003.
PERINI, Mário A. Sofrendo a gramática. 3. ed. São Paulo: Ática, 2003.
TRAVAGLIA, L. C. Gramática: ensino plural. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2007.