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Abordagem do texto como unidade de ensino e a diversidade de tipos textuais e de gêneros discursivos orais e escritos

TEMA

Célia Maria de Medeiros

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O TEXTO COMO UNIDADE DE ENSINO

  • O conceito de texto depende das concepções que se tenha de língua e de sujeito (KOCH, 2003).

  • LÍNGUA: representação do pensamento.

SUJEITO:

senhor absoluto de suas ações e de seu dizer.

TEXTO:

produto – lógico - do pensamento

3. LÍNGUA:

interação - dialogia

SUJEITO:

atores/construtores sociais

TEXTO:

o próprio lugar da interação

2. LÍNGUA:

código – mero instrumento da comunicação.

SUJEITO:

(pre)determinado pelo sistema.

TEXTO:

simples produto da codificação de um emissor a ser decodificado pelo leitor/ouvinte.

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O TEXTO COMO UNIDADE DE ENSINO

  • Hoje, reconhece-se que nos comunicamos através de textos e não por meio de sentenças ou palavras descontextualizadas;

  • Como estamos no nível da graduação, então vamos adotar a concepção de texto como interação, haja vista que nas práticas de leitura e de escrita dialogamos com o texto, portanto, com as ideias do autor.

  • A proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais, por exemplo, focaliza o texto como unidade para o desenvolvimento das práticas de leitura e escrita objetivando a construção da competência comunicativa do aluno, considerando que a língua não é homogênea, mas um somatório de possibilidades condicionadas pelo uso e pela situação discursiva, e, por isso, deve ser oferecida ao aluno numa diversidade de gêneros textuais.

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O QUE É UM TEXTO?

  • Ocorrência linguística falada ou escrita, de qualquer extensão, dotada de unidade sociocominicativa, semântica e formal. (COSTA VAL, 2004).

  • Unidade de produção verbal oral ou escrita, contextualizada, que veicula uma mensagem linguisticamente organizada e que tende a produzir um efeito de coerência no seu destinatário. (BRONCKART, 1999).

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O QUE SÃO GÊNEROS?

  • Todo texto se organiza dentro de determinado gênero em função das intenções comunicativas, como parte das condições de produção dos discursos, as quais geram usos sociais que os determinam.

  • Os gêneros são, portanto, determinados historicamente, constituindo formas relativamente estáveis de enunciados, disponíveis na cultura.

  • São caracterizados por três elementos:

a) conteúdo temático – o que é ou pode ser dizível por meio do gênero;

b) a construção composicional – estrutura particular dos textos pertencentes ao gênero;

c) o estilo: configuráveis específicas das unidades de linguagem derivadas, sobretudo, da posição enunciativa do locutor. (BAKHTIN, 2003).

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O QUE SÃO GÊNEROS?

  • São diferentes espécies de texto que apresentam características relativamente estáveis e que ficam disponíveis no intertexto como modelos indexados, para os contemporâneos e para as gerações posteriores.

  • INTERTEXTO: conjunto mais ou menos organizado de gêneros elaborados pelas gerações precedentes indexados às situações-tipo de comunicação. (BRONCKART, 1999).

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GÊNEROS TEXTUAIS/DISCURSIVOS E TIPOS TEXTUAIS

  • A riqueza e a diversidade dos gêneros do discurso são infinitas porque são inesgotáveis as possibilidades da multiforme atividade humana e porque em cada campo dessa atividade compreende um repertório de gêneros do discurso, que cresce e se diferencia à medida que se desenvolve e se complexifica num determinado campo. (BAKHTIN, 2003).

  • É impossível se comunicar verbalmente a não ser por algum gênero, assim como é se comunicar verbalmente a não ser por algum texto.
  • Assim, a comunicação verbal só possível por algum gênero textual (ideia defendida por Bakhtin e Bronckart.)

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TIPOS TEXTUAIS

GÊNEROS TEXTUAIS

1. constructos teóricos definidos por propriedades linguísticas intrínsecas;

1. realizações linguísticas concretas definidas por propriedades sócio-comunicativas;

2. constituem sequências linguísticas ou sequências de enunciados no interior dos gêneros e não são textos empíricos;

2. constituem textos empiricamente realizados cumprindo funções em situações comunicativas;

3. sua nomeação abrange um conjunto limitado de categorias teóricas determinadas por aspectos lexicais, sintáticos, relações lógicas, tempo verbal;

3. sua nomeação abrange um conjunto aberto e praticamente ilimitado de designações concretas determinadas pelo canal, estilo, conteúdo, composição e função;

4. designações teóricas dos tipos: narração, argumentação, descrição, injunção e exposição

4. exemplos de gêneros: telefonema, sermão, carta comercial, romance, bilhete, aula expositiva, reunião de condomínio, horóscopo, receita culinária etc.

Adam (1990) e Bronckart (1999) defendem, como Marcuschi (2005), uma posição similar sobre a diferença entre tipos textuais e gêneros textuais.

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TIPOS DE SUPORTE

CONVENCIONAIS

  • Livro
  • Livro didático
  • Jornal
  • Revista semanal ou mensal
  • Revista científica (boletins e anais)
  • Rádio
  • Televisão
  • Telefone
  • Quadro de avisos
  • Folder
  • Faixas etc

INCIDENTAIS

  • Embalagem
  • Pára-choques e pára lamas de caminhão
  • Roupas
  • Muros
  • Calçadas
  • Paradas de ônibus
  • Fachadas
  • Janelas de ônibus
  • Estações de Metrô
  • Corpo Humano etc

SERVIÇOS EM FUNÇÃO DA ATIVIDADE COMUNICATIVA

  • Correios
  • Programa de (e-mail)
  • Mala-direta
  • Internet
  • Homepage e Site

O suporte firma ou apresenta o texto para que se torne acessível. (MARCUSCHI, 2008).

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DOMÍNIOS DISCURSIVOS

MODALIDADES DE USO DA LÍNGUA

ESCRITA

ORALIDADE

INSTRUCIONAL (científico, acadêmico, educacional)

artigos científicos, resenhas relatórios, notas de aula, conferências, projetos, sumário etc.

debates, discussões, aulas participativas etc.

JORNALÍSTICO

editoriais, reportagens, nota social, cartas do leitor, entrevistas jornalísticas etc.

entrevistas jornalísticas, debates etc.

RELIGIOSO

orações, catecismo, bulas papais etc.

sermões, rezas, confissão etc.

SAÚDE

receita médica, bulas, receitas culinárias etc.

consulta, entrevista médica etc.

COMERCIAL

rótulo, classificados, nota fiscal, bilhete de ônibus etc.

publicidade e refrão de feira-livre etc.

INDUSTRIAL

instrução de montagem de equipamento, manuais de instrução, avisos etc.

ordens expressas em linha de produção etc.

GÊNEROS TEXTUAIS POR DOMÍNIOS DISCURSIVOS E MODALIDADES

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DOMÍNIOS DISCURSIVOS

MODALIDADES DE USO DA LÍNGUA

ESCRITA

ORALIDADE

JURÍDICO

contratos, leis, estatutos, certidões de batismo etc.

tomada de depoimento, exortações etc.

PUBLICITÁRIO

propagandas, anúncios, outdoors, endereço eletrônico, endereço de internet etc.

publicidade na TV e no rádio etc.

LAZER

histórias em quadrinhos, horóscopo, palavras cruzadas etc.

piadas, fofocas, adivinhas etc.

INTERPESSOAL

cartas pessoais, telegramas, lista de compras, diário pessoal etc.

conversações espontâneas, recados etc.

MILITAR

roteiro de cerimônia oficial, lista de tarefas etc.

ordem do dia, comandos de formatura etc.

FICCIONAL

contos, crônicas, roteiro de filme, romances etc.

fábulas, lendas, poemas etc.

GÊNEROS TEXTUAIS POR DOMÍNIOS DISCURSIVOS E MODALIDADES

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Jornalismo

(Domínio Discursivo)

Jornal Eletrônico

[Suporte]

Reportagem

Jornalística

[Gênero textual]

Divulgação de Eventos Sociais da Região do Seridó/RN

[Formação Discursiva]

Narração...

[Sequências

Tipológicas

Jornal

[Órgão, Instituição]

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COMO FORMULAR UMA PROPOSTA SIGNIFICATIVA PARA O ESTUDO DOS GÊNEROS TEXTUAIS/DISCURSIVOS E OS TIPOS TEXTUAIS?

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Agrupamento de gêneros

  • Dolz & Schneuwly (1996), citados por Rojo (2004), vislumbrando o processo ensino/aprendizagem, propuseram cinco agrupamentos de gêneros com base em três critérios:

- domínio social da comunicação a que pertencem;

- capacidades de linguagem envolvidas na produção e

- compreensão desses gêneros e sua tipologia geral. São eles:

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Agrupamento de gêneros

  • Agrupamento da ordem do narrar – envolve os gêneros cujo domínio é o da cultura literária ficcional, marcados pela manifestação estética e caracterizados pela mimesis da ação através da criação, da intriga no domínio do verossímil.

Exemplos:

contos de fada, fábulas, lendas, narrativas de aventura, de enigma, ficção científica, crônica literária, romance, entre outros.

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Agrupamento de gêneros

b) Agrupamento da ordem do relatar – comporta os gêneros pertencentes ao domínio social da memorização e documentação das experiências humanas, situando-as no tempo.

Exemplos: relato de experiências vividas, diários íntimos, diários de viagem, notícias, reportagens, crônicas jornalísticas, relatos históricos, biografias, autobiografias, testemunhos etc.

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Agrupamento de gêneros

c) Agrupamento da ordem do argumentar – inclui os gêneros relacionados ao domínio social da discussão de assuntos sociais controversos, objetivando um entendimento e um posicionamento frente a eles, exigindo para tanto, sustentação, refutação e negociação de tomadas de posição.

Exemplos: textos de opinião, diálogos argumentativos, cartas de leitor, cartas de reclamação, cartas de solicitação, debates regrados.

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Agrupamento de gêneros

d) Agrupamento da ordem do expor – engloba os gêneros relacionados ao domínio social de transmissão e construção de saberes, visando de forma sistemática possibilitar a apreensão dos conhecimentos científicos e afins, numa perspectiva menos assertiva e mais interpretativa, exigindo a apresentação textual de diferentes formas dos saberes.

Exemplos: textos expositivos, conferências, seminários, resenha, artigos, tomadas de notas, resumos de textos expositivos e explicativos, relatos de experiência científica.

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Agrupamento de gêneros

e) Agrupamento da ordem do descrever ações – reúne os gêneros cujo domínio social é o das instruções e prescrições, revisando a regulação ou normatização de comportamentos.

Exemplos: receitas, instruções de uso, instruções de montagens, bulas, regulamentos, regimentos, estatutos, constituições, regras de jogo, dentre outros.

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DIMENSÕES DE ANÁLISE

Visto que o estabelecimento de critérios adequados deve ser o primeiro passo para solucionar a questão da tipologia, Koch e Fávero (1987) propõem, como básicas para a comparação/diferenciação de textos, três dimensões interdependentes:

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DIMENSÃO PRAGMÁTICA

DIMENSÃO ESQUEMÁTICA

DIMENSÃO

LINGUÍSTICA

  • Diz respeito aos macroatos da fala que o texto realiza e aos diversos modos de atualização em situações comunicativas.

  • Atitude comunicativa – mundo narrado
  • Os modelos cognitivos ou esquemas formais, culturalmente adquiridos.

  • análise
  • síntese
  • ordenação lógica
  • As marcas sintático-semânticas (tempos verbais dentre outras formas) encontradas no texto que facilitam ao alocutário o esforço de compreensão, permitindo-lhe formular, a partir delas, hipóteses sobre o tipo de texto.

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ATIVIDADE PRÁTICA

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1º MOMENTO

  • a) Identificar o gênero e o agrupamento em que os textos se inserem;

  • b) Apontar o domínio discursivo em que circulam;

  • C) Indicar o suporte em que o texto é veiculado;

  • d) Destacar aspectos pragmáticos, esquemáticos e linguísticos presentes nos textos.

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2º MOMENTO

  • Produzir um gênero oral relativo a um dos agrupamentos propostos por Dolz & Schneuwly (1996). Feito isso, efetivar a socialização da referida produção, ressaltando aspectos como: domínio discursivo, suporte e tipo textual predominante.

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Gênero textual: orientação de uso

Tipo de agrupamento:

da ordem do descrever ações

Domínio discursivo:

Comercial

Suporte: embalagem

Dimensão pragmática:

“Adicione água fervente aos poucos”

(atitude comunicativa – fazer fazer)

Dimensão esquemática:

“Coloque..., ajuste..., adicione...”

(ordenação epácio-temporal)

Dimensão linguística:

“Coloque o pó do café...Não mexa a mistura”

(verbos no imperativo)

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REFERÊNCIAS

ANTUNES, I. Muito além da gramática: por um ensino de línguas sem pedras no caminho. São Paulo: Parábola, 2007.

 BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental – língua portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1998.

 BAGNO, M. A inevitável travessia: da prescrição gramatical à educação linguística. In: BAGNO, M. et al. Língua materna: letramento, variação e ensino. São Paulo: Parábola, 2002.

 ______. A língua de Eulália: a novela sociolingüística. 11. ed. São Paulo: Contexto, 2001.

 ______. Preconceito linguístico: o que é e como se faz. 2. ed. rev. ampl. São Paulo: Edições Loyola, 2000.

 BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad. do russo Paulo Bezerra. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

 FARACO, C. A. Norma culta brasileira: desatando alguns nós. São PAULO: PARÁBOLA Editorial, 2008.

 GAGNÉ, G. A norma e o ensino da língua materna. In: BAGNO, M. et al. Língua materna: letramento, variação e ensino. São Paulo: Parábola, 2002.

 

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REFERÊNCIAS

GERALDI, J. W. Portos de passagem. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

 KOCH, I. G. V.; ELIAS, V. M. Ler e compreender os sentidos do texto. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2006.

 MARCUSCHI, L. A. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.

 ______. Gêneros textuais: configuração, dinamicidade e circulação. In: KARWOSKI, A. M. et al . Gêneros textuais: reflexões e ensino. 2. ed. Rio de Janeiro: lucerna, 2006.

______. “Gêneros textuais: definição e funcionalidade” In: DIONÍSIO, A. P. et al. Gêneros textuais e ensino. 4. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.

______. Da fala para a escrita: atividade de retextualização. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2003.

PERINI, Mário A. Sofrendo a gramática. 3. ed. São Paulo: Ática, 2003.

TRAVAGLIA, L. C. Gramática: ensino plural. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2007.