TIPOLOGIA E GÊNEROS TEXTUAIS���Denise Mara Franco Amorim
Com Luiz A. Marcushi, entendemos tipologia e gêneros textuais da seguinte forma: “Usamos a expressão tipologia textual para designar uma espécie de seqüência teoricamente definida pela natureza lingüística de sua composição(...). Em geral, os tipos textuais abrangem cerca de meia dúzia de categorias conhecidas como: narração, argumentação, exposição, descrição, injunção.
Usamos a expressão gênero textual como uma noção propositalmente vaga para referir os textos materializados que encontramos em nossa vida diária e que apresentam características sociocomunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição característica. Se os tipos textuais são apenas meia dúzia, os gêneros são inúmeros. Alguns exemplos de gêneros textuais seriam: telefonema, sermão, carta pessoal, romance etc.” (MARCUSCHI, 2002).
GÊNEROS TEXTUAIS
MANUAL DE INSTRUÇÃO
RECEITA CULINÁRIA
CARTA
NOTÍCIA DE JORNAL
POESIA
FÁBULA
CHARGE OU CARTUM
RESENHA � (Sinopse ou Resenha crítica)
HISTÓRIA EM QUADRINHO
CRÔNICA
ANÚNCIO
ARTIGO DE OPINIÃO
ARTIGO DE OPINIÃO
ABAIXO - ASSINADO
REQUERIMENTO
PROPAGANDA
NARRAÇÃO
DESCRIÇÃO
DISSERTAÇÃO
DISSERTAÇÃO
RESUMO
Grupos de gêneros
Função básica comum
TEXTOS
“(...) o Brasil precisa de agricultura de transgênicos para suprir o mercado interno com alimentos saudáveis e baratos e, depois, vender os excedentes aos ricos mercados da Europa, Japão e China, que rejeitam OGMs (organismos geneticamente modificados). Eles pagam até 10% a mais para se ver livres do milho ‘frankenstein’. A soja certificada como não transgênica recebe dos europeus prêmio de até 8 dólares por tonelada(...).”
Flávia Londres (Revista Caros Amigos, agosto de 2001)
“(...) Na última safra, mais de 80% da soja plantada no Estado (RS) foi transgênica. Os agricultores gaúchos esperam a decisão do governo para saber se poderão utilizar sementes do organismo modificado geneticamente para a próxima safra ou não. Publicamente, já disseram que, mesmo que sem permissão, pretendem repetir o uso” (...).”
(Da sucursal de Brasília, Folha de S.Paulo, 18/9/2004)
O caboclo,o padre e o estudante
Um estudante e um padre viajaram pelo sertão, tendo como bagageiro um caboclo.
Deram-lhe numa casa um pequeno queijo de cabra. Não sabendo dividi-lo, mesmo porque chegaria um pequenino pedaço para cada um, o padre resolveu que todos dormissem e o queijo seria daquele que tivesse, durante a noite, o sonho mais bonito, pensando engabelar todos com seus recursos oratórios. Todos aceitaram e foram dormir. À noite, o caboclo acordou, foi ao queijo e comeu-o.
Pela manhã, os três sentaram-se à mesa para tomar café e cada qual teve de contar o seu sonho.O frade disse ter sonhado com a escada de Jacob e descreveu-a brilhantemente. Por ela, ele subia triunfalmente para o céu. O estudante, então, narrou que sonhara já dentro do céu à espera do padre que subia. O caboclo sorriu e falou:
-Eu sonhei que via seu padre subindo a escada e seu doutor lá dentro do céu, rodeado de amigos. Eu ficava na terra e gritava:
-Seu doutor, seu padre, o queijo! Vosmincês esqueceram o queijo. Então, Vosmincês respondiam de longe, do céu:
-Come o queijo, caboclo! Come o queijo, caboclo! Nós estamos no céu, não queremos queijo.
O sonho foi tão forte que eu pensei que era verdade, levantei-me enquanto vosmincês dormiam e comi o queijo...
CASCUDO, Luís da Câmara
“A política é necessária para que a sociedade funcione normalmente, para que o poder seja exercido em comum, sem o predomínio abusivo de um homem, de um grupo, de uma classe. Os governos totalitários e autoritários a primeira coisa que fazem é erradicar a vida política como planta daninha, a fim de melhor monopolizarem o poder. Da mesma forma,certa dose de religião é indispensável ao bom equilíbrio social.
O indivíduo isolado pode viver sem religião, os povos não.
A ponto de governos declaradamente ateus, como o da Rússia, não poderem evitar em seu meio a sacralização
do Estado, que ocupa o lugar antes tomado por Deus. Portanto, ações políticas são necessárias à organização social.”
Nada mais repousante do que a leitura das belas crônicas que compõem Boca de luar, o novo livro do grande poeta Carlos Drummond de Andrade (ed. Record). São escritos ligeiros, que poderiam facilmente ser acusados de pouca profundidade. Mas isso não é verdade. As crônicas de Drummond são verdadeiras fotografias do cotidiano, enfocando o que de mais simples, humano, cômico, dramático e terno existe na vida de todos os dias.
Nesses pequenos instantâneos, o poeta faz com que enxerguemos as pequenas coisas, mesmo que a princípio elas pareçam ter pouca importância, dando-lhes dimensão poética.
OS NAMORADOS DA FILHA
Quando a minha adolescente anunciou que ia dormir com o namorado, o pai não disse nada. Não a recriminou, não lembrou os rígidos padrões morais de sua juventude. Homem avançado, esperava que aquilo acontecesse um dia. Só não esperava que acontecesse tão cedo.
Mas tinha uma exigência, além das clássicas recomendações. A moça podia dormir com o namorado:
- Mas aqui em casa.
Ela, por sua vez, não protestou. Até ficou contente. Aquilo resultava em inesperada comodidade. Vida amorosa em domicílio, o que mais podia desejar Perfeito.
O namorado não se mostrou menos satisfeito. Entre outras razões, porque passaria a partilhar o abundante café da manhã da família. Aliás, seu apetite era espantoso: diante do olhar assombrado e melancólico do dono da casa, devorava toneladas do melhor requeijão, do mais fino presunto, tudo regado a litros de suco de laranja.
Um dia, o namorado sumiu. Brigamos, disse a filha, mas já estou saindo com outro. O pai pediu que ela trouxesse o rapaz. Veio, e era muito parecido com o anterior: magro, cabeludo, com apetite descomunal.
Breve, o homem descobriria que constância não era uma característica fundamental de sua filha.
Os namorados começaram a se suceder em ritmo acelerado. Cada manhã de domingo, era uma nova surpresa: este é o Rodrigo, este é o James, este é o Tato, este é o Cabeça. Lá pelas tantas, ele desistiu de memorizar nomes ou mesmo fisionomias. Se estava na mesa do café da manhã, era namorado. Ás vezes, também acontecia -ah, essa próstata, essa próstata – que ele levantava à noite para ir ao banheiro e cruzava com um dos galãs no corredor. Encontro insólito, mas os cumprimentos eram sempre gentis.
Uma noite, acordou, como de costume, e, no corredor, deu de cara com um rapaz que o olhou apavorado. Tranquilizou- o:
- Eu sou o pai da Melissa. Não se preocupe, fique à vontade. Faça de conta que a casa é sua.
E foi deitar.
Na manhã seguinte, a filha desceu para tomar café. Sozinha.
- E o rapaz? - perguntou o pai.
- Que rapaz? – disse ela.
Algo lhe ocorreu, e ele, nervoso, pôs-se de imediato a checar a casa. Faltava o CD player, faltava a máquina fotográfica, faltava a impressora do computador. O namorado não era namorado. Paixão poderia nutrir, mas era pela propriedade alheia.
Um único consolo restou ao perplexo pai: aquele, pelo menos, não fizera estrago no café da manhã.
Moacyr Scliar. Revista Zero Hora, 26 abr. 1998.
CLARINDA