Todos Juntos Podemos Ler
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Todos juntos Podemos Ler
A Sr.ª Gage levantou-se e sacudiu-se o melhor que pôde, e continuou a arrastar-se. Parecia-lhe estar a andar há horas. Já estava escuro como breu e ela já não via nada à frente
-Valha-me Deus!
Como é que vou dar com o caminho
de volta? Se houver maré cheia,
hei de perder o pé e ser levada
para o mar num instantinho!
Já muitos casais se afogaram aqui,
para não falar de cavalos,
carroças, manadas inteiras
e fardos de palha!
Por outro lado, se tentasse atravessar o rio, era quase certo morrer afogada.
Sentia-se tão desgraçada, que alegremente trocaria de lugar com uma das vacas que pastavam no campo. Não haveria velha mais desgraçada em todo o condado de Sussex; ali, de pé na margem do rio, sem saber se havia de sentar-se ou de nadar, ou simplesmente espojar-se na relva, por mais molhada que estivesse, ou dormir e morrer congelada, conforme o destino decidisse.
Nesse momento, aconteceu uma coisa maravilhosa. Uma luz enorme surgiu no céu, como um archote gigantesco, alumiando cada folha de erva e mostrando-lhe que o vau ficava a menos de vinte metros de distância.
Estava maré baixa, e a travessia seria fácil, se a luz não se apagasse antes de ela chegar ao outro lado.
Deve ser um cometa, ou qualquer outra monstruosidade maravilhosa-disse ela, começando a coxear. À sua frente, avistava a aldeia de Rodmell toda iluminada.
-Deus seja louvado!-exclamou ela. - Está uma casa a arder, graças a Deus! A Sr.ª Gage calculou que demoraria pelo menos alguns minutos para a casa arder por inteiro e, nessa altura, já ela estaria a caminho da aldeia.
-Venham ver a casa do
velho Joseph Brand a arder!
Não`tá casa!
Não`tá casa!
Assim, continuaram a tirar tijolos à luz do luar até deixarem a descoberto um espaço com cerca de dois metro por metro e meio, que o papagaio parecia achar suficiente. O que fazer a seguir?
A Sr.ª Gage parara para descansar e decidira orientar-se inteiramente pelo comportamento do papagaio James. Não lhe foi permitido grande descanso. Depois de escarafunchar os alicerces arenosos durante os minuto, qual galinha a esgravatar areia com as garras, desenterrou o que em princípio parecia ser um bocado redondo de pedra amarelada.
Para seu assombro, viu que o espaço que haviam destapado estava repleto de rolos de pedras amarelas redondas, tão bem assentes que era muito trabalhoso deslocá-las. Mas o que poderiam ser? E por que motivo ali tinham sido escondidas? Só depois de retirarem toda a camada de cima, e depois o pedaço de oleado que se interpunha, é que depararam com uma visão milagrosa
(…) todos encarreirados, ricamente polidos e a cintilarem ao luar, estavam milhares de soberanos novinhos em folha!
Era então aquele o esconderijo do avarento; com duas precauções extraordinárias ele assegurara-se de que ninguém o encontraria. Em primeiro lugar, como mais tarde se comprovou, construíra a cozinha por cima do local onde escondera o tesouro, de modo a que, não fora a destruição do fogo, ninguém daria pela sua existência; segundo, cobrira a camada superior de soberanos com uma substância pegajosa, depois enrolara-os na terra de modo a que, se porventura algum deles fosse exposto, nunca ninguém desconfiaria que fosse mais do que um seixo como aqueles que se veem nos jardins. Por conseguinte, foi apenas pela extraordinária coincidência do fogo e da sagacidade do papagaio que a manha do velho Joseph fora derrotada.
Fim