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Técnicas de Apuração e Entrevista no Jornalismo� Professor mestre Artur Araujo �(artur.araujo@puc-campinas.edu.br)

A observação como

tática de investigação

jornalística

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A observação como tática investigativa

  • A observação, do mesmo modo que a entrevista e a pesquisa documental, é um importante recurso para a investigação jornalística.
  • Ver e relatar são, das táticas de trabalho jornalístico, as mais difíceis, mas são também as ideais para uma investigação apropriada.

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O que dizia �Tobias Peucer (1690)

  • “Cabe ao intelecto o conhecimento das coisas que serão registradas nos relatos públicos. Estas são obtidas por inspeção própria (autopsia) quando o sujeito é espectador (autóptes) dos acontecimentos, ou por transmissão, quando uns explicam aos outros os fatos que presenciaram. E nisso qualquer pessoa concordará sem nenhum problema que é merecedor de mais credibilidade o testemunho ‘presencial’ (autóptes) que o receptor de uma transmissão de outro.”

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Definindo conceitos

  • A observação, certamente, se constitui em um desafio para o profissional de imprensa.
  • Não basta, contudo, “ver”: é preciso captar, naquilo que se manifesta exteriormente, indícios de sentido, de transcendência da simples aparência.
  • Não basta também “ver” e empreender um esforço de interpretação: é preciso definir os recursos apropriados para a investigação.

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O que diz o Manual da Folha

  • Antes de tudo, o repórter deve procurar se informar sobre o assunto que vai cobrir. No local, deve observar e registrar detalhes do ambiente e dos personagens e ter especial atenção ao anotar números e nomes. A qualidade do texto final depende em larga medida do rigor na apuração dos fatos e da elaboração de um roteiro que divida os temas e os encadeie ao longo do texto.
    • Fonte: Manual da Folha de S. Paulo

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O que diz o Manual do Estadão - 1

  • Preocupe-se em incluir no texto detalhes adicionais que ajudem o leitor a compreender melhor o fato e a situá-lo: local, ambiente, antecedentes, situações semelhantes, previsões que se confirmem, advertências anteriores, etc.

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O que diz o Manual do Estadão - 2

  • Informações paralelas a um fato contribuem para enriquecer a sua descrição. Se o presidente dorme durante uma conferência, isso é notícia; idem se ele tira o sapato, se fica conversando enquanto alguém discursa, se faz trejeitos, etc. Trata-se de detalhes que quebram a monotonia de coberturas muito áridas, como as oficiais, especialmente. Registre no texto as atitudes ou reações das pessoas, desde que significativas: mostre se elas estão nervosas, agitadas, fumando um cigarro atrás do outro ou calmas em excesso, não se deixando abalar por nada. Em matéria de ambiente, essas indicações permitem que o leitor saiba como os personagens se comportavam no momento da entrevista ou do acontecimento.

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Para além da própria visualidade

  • Para compreender além da pura exterioridade, é preciso ao repórter:
    • Formação (treinamento)
    • Contexto
    • Estranhamento

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Formação (treinamento)

  • A observação implica uma certa capacitação do repórter, que pode ser sintetizada nos seguintes itens:
    • Problematização da pauta
    • Sistematização do apurado
    • Checagens extras

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Problematização – 1

  • A problematização é, como o próprio nome sinaliza, a questão da pauta.
    • Nesse caso, a pauta deve conter algo que tenha uma manifestação externa evidente, uma manifestação externa que, por si só, explique ou ajude a explicar o que será contado.

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O que diz o Manual do Estado

  • Os sentimentos e emoções das pessoas devem ser registrados com a devida cautela para que o texto não se torne piegas. À exceção dos estados mais aparentes (choro acesso de loucura e outros), procure traduzir agitação, calma ou nervosismo da pessoa descrevendo só atitudes.
    • Agitando sem cessar as mãos
    • Fumando um cigarro atrás do outro
    • Piscando ininterruptamente
    • Fazendo gestos de impaciência
    • Mexendo-se incessantemente na cadeira
    • Falando de forma pausada
    • Cruzando e descruzando as pernas
    • Olhando a todo momento no relógio

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A descrição nos poupa de interpretações forçadas

  • Enfim, mostre como a pessoa se comportava em vez de procurar definir suas atitudes com palavras. Nada, por exemplo, autoriza a frase o jogador, nervoso, errou o chute. Pode ter errado simplesmente porque tocou mal na bola. Ou encerrando a entrevista mais cedo porque aparentemente não gostou das perguntas. Quem garante que foi por isso?
    • Fonte: Manual do Estadão

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Problematização – 2

  • Uma problematização bem construída, por exemplo, pode, de acordo com o contexto, eliminar o emprego da observação.
    • Uma pauta sobre maus-tratos à população tem grande chance de lançar mão dos recursos da observação para a apuração.
    • Uma pauta sobre o aumento da inflação, porém, tem menos chance de permitir observação (a não ser que o repórter apure, por dias ou semanas, a evolução dos preços, o que seria pouco viável nos dias de hoje).

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Sistematização do apurado

  • Definida a pauta, o problema a ser investigado, cabe ao profissional reunir o maior número possível de indícios observáveis.
  • Cabe a ele também o esforço de fazer com que esses indícios tenham um contexto que permitam uma interpretação, senão conclusiva, que pelo menos ajudem a apontar informações que estejam além do óbvio daquilo que é “visto”.

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O que diz o Manual da Folha

  • Um entrevistado pode fazer declaração a jornalista por brincadeira, que se for reveladora da personalidade do entrevistado deve ser relatada ao leitor. Nesse caso, o texto deve explicar o contexto da declaração, deixando claro que se trata de afirmação jocosa. O procedimento também se aplica a lapsos do entrevistado e a declarações irônicas.

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Outra recomendação da Folha

  • Se o entrevistado comete um lapso significativo, o jornalista pode registrá-lo no texto. Isso pode ajudar o leitor a entender melhor a notícia ou a personalidade do entrevistado. Um ato falho pode ser mais revelador que uma declaração pensada. Se o entrevistado pedir retificação de um lapso revelador, esse pedido pode ser registrado. Lapsos inexpressivos não merecem divulgação.

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Checagens extras

  • Nem tudo parece o que é.
  • O profissional de imprensa deve sempre verificar, por mais de um canal, por mais de um método de investigação, os dados que apurou.
  • São necessárias também entrevistas – inclusive se for o caso com os observados – e uma pesquisa documental para se certificar da validade do material apurado, principalmente se os indícios apontarem algo grave.

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Técnicas possíveis

  • Observação simples – ficar alerta em uma entrevista, ou perceber alguma coisa (notar, por exemplo, que há uma situação de relevância jornalística se desenrolando).
  • Observação sistemática – acompanhar durante um determinado período algo ou alguém, de modo que aquilo se torne uma informação relevante.
  • Observação participativa (infiltração) – vivenciar na própria pele um determinado drama.

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Observação simples

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Observação sistemática

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Observação participativa

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O risco das fake news

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Uma fake news local

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Técnicas para investigar

  • Há mais de uma maneira de registrar o objeto de suas investigações. Vamos ver cada uma e discutir brevemente suas características e problemas.
    • Gravação, filmagem e foto
    • Anotação
    • Memória - Vivência

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Como reduzir margem de erro?

  • Checagem extra.
  • Contextualização – aquilo que você viu tem o mesmo significado para os outros?
  • Ouvindo os protagonistas após a apuração.

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Ressalva

  • Às vezes, a observação antecede, pelas circunstâncias e a própria dinâmica dos acontecimentos, método e problematização.
  • Cabe ao profissional, identificando o valor-notícia do que presencia, registrar, com os meios que tiver (gravador, câmera, bloco de notas ou, ao menos, a memória) a cena para contribuir no posterior trabalho de investigação jornalística.
  • A mesma recomendação vale para materiais disponibilizados na internet ou enviados para a redação.