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Tomasz Alen Kopera

O Problema do Livre-Arbítrio

Filosofia 10 Professor Paulo Gomes

www.filosofarliberta.blogspot.pt

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Definição dos conceitos

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https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/livre-arbítrio

Definição dos conceitos

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Exploração preliminar dos conceitos de Liberdade e Livre-Arbítrio

Como forma de introdução ao problema do Livre-Arbítrio, começámos por ver dois filmes:

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Os dois filmes têm evidentes pontos de contacto que nos permitem estabelecer um paralelismo entre as duas histórias e as suas personagens:

  • Ambas as personagens principais têm percursos marcados pela força de vontade e a ambição de alcançar metas pessoais e profissionais importantes;
  • E nos dois casos, há um evento que leva a que as personagens fiquem paralisadas.

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Jean-Dominique Bauby conseguiu alcançar a realização profissional e pessoal, tornando-se um jornalista de sucesso, chegando ao cargo de diretor de uma das mais prestigidas revistas de moda do mundo.

Isso deveu-se ao seu esforço ao longo do tempo, à sua força de vontade…

Por isso ele, antes do AVC, saboreava com orgulho os frutos do seu trabalho.

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Podemos dizer que Jean-Dominique Bauby não é responsável pelo seu sucesso profissional?

Esse sucesso deve-se às suas escolhas ou a acontecimentos exteriores à sua vontade?

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Maggie lutou para conseguir ter uma carreira de sucesso no boxe, tendo, para isso, que vencer muitos obstáculos:

  • A sua idade já bastante avançada para uma atleta de alto rendimento;
  • as limitações económicas;
  • a falta de apoio da família;
  • a teimosia do treinador que recusava a ideia de treinar uma rapariga…

Pode dizer-se que a sua força de vontade era imensa...

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Podemos defender que Maggie não era livre?

Podemos negar que o seu percurso no boxe nasceu do seu livre-arbítrio?

Maggie assumiu-se como construtora da sua vida?

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As ações de Maggie resultaram sempre da sua vontade ou são provocadas por acontecimentos exteriores à sua vontade?

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Ela, escolhesse o que escolhesse, iria sempre ser bem sucedida no boxe?

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No entanto, ambos foram marcados por dois acontecimentos terríveis que não dependeram da sua vontade:

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Esses dois acontecimentos podem servir de prova de que a liberdade não existe?

Podemos, a partir deles, concluir que Maggie e Jean-Dominique Bauby nunca foram livres?

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Temos alguma razão para sustentar que o seu destino estava previamente ‘traçado’?

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Ambos os ‘acidentes’ foram causados por causas exteriores à vontade de cada um dos agentes.

No caso de Jean-Dominique Bauby, o derrame que sofreu no tronco cerebral deu-se porque um vaso sanguíneo rebentou.

Seja qual for a causa, não foi ele que provocou a ruptura, ela aconteceu-lhe, como a chuva nos acontece e nos apanha desprevenidos...

O acidente de Maggie foi o resultado de uma ação deliberada da sua maldosa adversária.

Pode discutir-se se esta queria que o seu ato tivesse aquelas consequências, mas ela é responsável por elas, pois foi ela que decidiu agredir Maggie.

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E podemos afirmar que estes acidentes anularam a liberdade de Maggie e Jean-Dominique Bauby?

Eles deixaram de ser livres depois dos acontecimentos que mudaram as suas vidas?

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Ambos mostraram-se capazes de tomar decisões depois de terem ficado paralisados...

Jean-Dominique Bauby, depois de ter conseguido comunicar, disse que queria morrer…

Mas depressa assumiu a vontade de dar sentido à sua vida, a partir da sua nova situação existencial.

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E resolve realizar um sonho anterior ao acidente:

a escrita de um livro...

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Já Maggie decide que não vale a pena continuar a viver...

E tenta o suicídio mordendo por duas vezes a língua...

Até que pede ao seu treinador que a ajude a morrer...

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A decisão de Frankie Dunn de ajudar Maggie a morrer não é fácil.

Ele queria que Maggie continuasse a viver e procura, uma resposta para a situação desesperada em que se encontrava: por um lado era-lhe insuportável o sofrimento de Maggie, por outro não queria que ela partisse…

E, ainda por cima, tinha que ser ele a acabar com a sua vida!

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Frankie age livremente quando ajuda Maggie a morrer?

Temos razões para acreditar que a sua ação resulta de uma causa exterior à sua vontade?

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Da análise destes dois filmes podemos registar as seguintes conclusões:

  1. O percurso de Maggie e de Jean-Dominique Bauby, antes dos respetivos acidentes, é determinado pelas suas escolhas (decisões);
  2. As suas ações são livres;

3. Os acidentes que sofreram são acontecimentos que não dependeram da sua vontade;

4. Depois dos respetivos acidentes ambos continuaram a tomar decisões, mesmo que tivessem ficado muito limitados nas suas possibilidades de ação.

5. Frankie Dunn age livremente quando decide ajudar Maggie a morrer: ele toma a decisão de o fazer de forma autónoma, seguindo a sua Razão.

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Vamos explorar o problema do Livre-Arbítrio tendo em conta estas conclusões.

Aparentemente não podemos pôr em causa a existência da liberdade, embora possamos discutir as suas condições de possibilidade e os seus limites.

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“O problema do livre-arbítrio é um dos mais antigos e complexos da filosofia. Ele diz respeito ao conflito existente entre a liberdade que temos ao agir e o determinismo causal.”

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“Podemos introduzi-lo considerando as três proposições seguintes:��Proposição 1. Todos os acontecimentos são causados [por acontecimentos anteriores].

Proposição 2. As nossas acções são livres.

Proposição 3. Acções livres não são causadas [por acontecimentos anteriores].”�

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“A proposição 1 parece geralmente verdadeira:

cremos que, no mundo em que vivemos, para todos os acontecimentos deve haver uma causa.”

(É isto que diz o Princípio da Razão Suficiente)

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“A proposição 2 também parece verdadeira:

quando nos observamos a nós mesmos, parece óbvio que as nossas decisões e acções são frequentemente livres.”

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“Também a proposição 3 parece verdadeira:

se as nossas acções fossem causalmente determinadas, elas não poderiam ser livres.”

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“O problema do livre-arbítrio surge quando percebemos que as três proposições acima formam um conjunto inconsistente, ou seja: não é possível que todas elas sejam verdadeiras!”

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Se admitimos que todos os acontecimentos são causados e que a acção livre não é causalmente determinada (que as proposições 1 e 3 são verdadeiras), então não somos livres, porque as nossas acções são acontecimentos (a proposição 2 é falsa).

1. Todos os acontecimentos são causados [por acontecimentos anteriores].�2. As nossas acções são livres.�3. Acções livres não são causadas [por acontecimentos anteriores].

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  • Se admitimos que as nossas acções são livres e que como tais elas não são causalmente determinadas (que 2 e 3 são proposições verdadeiras), então não é verdade que todo o acontecimento seja causado (a proposição 1 é falsa).

1. Todos os acontecimentos são causados [por acontecimentos anteriores].�2. As nossas acções são livres.�3. Acções livres não são causadas [por acontecimentos anteriores].

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  • “E se admitimos que todo o acontecimento é causado e que somos livres (que as proposições 1 e 2 são verdadeiras), então deve haver algo de errado com a ideia de liberdade expressa na proposição 3.”

1. Todos os acontecimentos são causados [por acontecimentos anteriores].2. As nossas acções são livres.�3. Acções livres não são causadas [por acontecimentos anteriores].

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“Cada uma destas alternativas possui um nome e foi classicamente defendida. ��A primeira delas é chamada de determinismo; ela consiste em negar a verdade da proposição 2, ou seja, que somos realmente livres.

Ela foi mantida por filósofos como Espinosa, Schopenhauer e Henri d'Holbach. ��

Segundo o Determinismo não somos livres��

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“A segunda alternativa chama-se libertismo: ela não tem problemas em admitir que o mundo ao nosso redor é causalmente determinado, mas abre uma excepção para muitas de nossas decisões e acções, que sendo livres escapam à determinação causal. Com isso o libertismo rejeita a validade universal do determinismo expressa pela proposição 1.

Essa é a posição de Santo Agostinho, Kant e Fichte.” ��

Segundo o libertismo:

As nossas acções são livres.�Acções livres não são causadas [por acontecimentos anteriores].O universo não segue uma causalidade rígida (indeterminismo).

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“Finalmente há o compatibilismo, ou determinismo moderado, que tenta mostrar que a liberdade de ação é perfeitamente compatível com o determinismo, rejeitando a ideia de liberdade expressa na proposição 3.

Historicamente, Hobbes, Hume e Stuart Mill foram famosos defensores do compatibilismo.”

O determinismo moderado (compatibilismo) defende que:

Todos os acontecimentos são causados [por acontecimentos anteriores].

As nossas acções são livres.

As nossas ações são causadas por acontecimentos externos e por causas internas.

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“A conclusão do filósofo determinista é a de que o livre-arbítrio na verdade não existe, posto que se a ação fosse realmente livre ela não seria determinada por outros factores independentes dela mesma.

A liberdade que parecemos ter ao tomarmos as nossas decisões é pura ilusão, produzida por uma insuficiente consciência das suas causas.

Mesmo quando pensamos que poderíamos ter agido de outro modo, o que queremos dizer não é que éramos realmente livres para agir de outro modo, mas simplesmente que teríamos agido de outro modo se o sentimento mais forte tivesse sido outro, se soubéssemos aquilo que agora sabemos etc.”

DETERMINISMO

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DETERMINISMO

“O argumento a favor do determinismo pode ser assim esquematizado:��1. Todos os acontecimentos são causados.�2. Todas as ações humanas são acontecimentos.�3. Nenhuma ação humana existe sem uma causa.�4. Logo, Nenhuma ação humana é livre.”��(Neste argumento está pressuposto que as ações humanas só seriam livres se não fossem causadas).

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Um argumento mais simples em defesa do determinismo:��1. Tudo o que fazemos é causado por forças que não controlamos.�2. Se as nossas ações são causadas por forças que não controlamos, então não agimos livremente.

______________________________�3. Logo, nunca agimos livremente.��(James Rachels)

DETERMINISMO

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Objeções à teoria determinista:

  1. Desvaloriza a convicção (o sentimento) de que somos livres, mas não é capaz de a eliminar (nós continuamos com essa convicção muito forte).
  2. O sentimento de arrependimento ou remorso parece perder o sentido, pois como se justifica que nós possamos arrepender-nos das nossas ações, se não formos livres para escolhê-las?
  3. Também a responsabilidade moral perde a validade. Se nas nossas ações somos tão determinados como uma pedra que cai ao ser solta no ar, faz tão pouco sentido responsabilizar uma pessoa pelos seus atos quanto faz sentido responsabilizar a pedra por ter caído.

DETERMINISMO

As conclusões a que chegámos sobre os filmes ‘O Escafandro e a Borboleta’ e ‘Million Dollar Baby’ são incompatíveis com o Determinismo.

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O libertista rejeita a primeira premissa do argumento determinista. ��O princípio da causalidade (o Princípio da Razão Suficiente), enunciável como "Todo o acontecimento tem uma causa", não parece ter a sua validade universal garantida. Há acontecimentos que podem não ter uma causa originada por um acontecimento anterior.

A isso o libertarista poderá acrescentar que nós simplesmente sabemos que somos livres. Há uma grande diferença entre um comportamento reflexo e um comportamento resultante da decisão da vontade.

Nós sentimos que no último caso somos livres, que podemos decidir sempre de outro modo.�

LIBERTISMO

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O argumento que conduz à teoria da ação libertista tem a forma:��1. Não é certo que todos os acontecimentos são causados por acontecimentos anteriores.�2. Sabemos que as nossas ações são frequentemente livres.�3. As ações humanas livres não podem ser causadas por acontecimentos anteriores.

__________________________

4. Logo, as ações humanas não precisam de ser causadas por acontecimentos anteriores.�

LIBERTISMO

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Este argumento resulta da síntese dos seguintes argumentos:

O argumento da experiência. = Nós temos a experiência de que somos livres

A experiência da liberdade gera em nós uma forte

convicção de que somos livres

Logo, somos livres

O argumento de que o universo não é um sistema determinista.

= A nível subatómico os componentes da matéria não seguem leis causais rígidas

O comportamento dos átomos e dos componentes subatómicos da matéria só pode ser explicado de acordo com leis probabilísticas

_____________________________

Logo, o universo não é um sistema determinista

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O argumento de que não podemos prever as nossas próprias decisões.

= Se o comportamento humano está causalmente determinado, então é previsível em princípio.� Mas uma previsão sobre o que alguém irá fazer pode ser contrariada se a pessoa cujo comportamento está a ser previsto souber qual é a previsão e escolher agir de outra forma.__________� Logo, nem todas as ações humanas são previsíveis em princípio.�(E, por isso, nem todas as ações humanas estão causalmente determinadas.)

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O argumento da responsabilidade

Não conseguimos deixar de admirar ou de censurar as pessoas pelo que fazem, nem conseguimos deixar de, por vezes, sentir orgulho ou vergonha pelo que fazemos.�� Estas reacções – admiração, censura, orgulho e vergonha – não seriam apropriadas se as pessoas não tivessem livre-arbítrio.� ___________________________________________________� Logo, temos de acreditar que as pessoas têm livre-arbítrio.

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Objeções à teoria libertista:

“Embora essa solução preserve a noção de livre arbítrio, ela tem o inconveniente de explicar o obscuro pelo que é mais obscuro ainda, que é um mistério a ser aceite sem questionamento. A pergunta que permanece é se não há uma solução mais satisfatória.”

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Objeções à teoria libertista:

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Compatibilismo

Segundo o compatibilismo, também chamado de determinismo moderado ou reconciliatório, nós permanecemos livres e responsáveis, mesmo sendo causalmente determinados nas nossas ações.

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Compatibilismo

O raciocínio que conduz ao compatibilismo tem a forma:��1. Todo o evento é causado.�2. As ações humanas são eventos.�3. Portanto, todas as ações humanas são causadas.�4. Sabemos que as nossas ações são às vezes livres.�5. Portanto, as ações livres são causadas.

o determinista acredita que a liberdade da vontade é o mesmo que a capacidade de produzir ações sem que elas sejam determinadas por causas. Mas isso é falso. Se assim fosse, uma pessoa que se comportasse arbitrariamente, mesmo que contra a sua própria vontade, seria um exemplo de pessoa livre. Mas o comportamento arbitrário não é visto como um comportamento livre. A diferença entre a vontade livre e a vontade não-livre não deve residir, pois, no facto de a segunda ser causalmente determinada e a primeira não.

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Compatibilismo

Tanto no caso de actos livres como no caso de actos não-livres, nós costumamos encontrar determinações causais, como mostram os seguintes exemplos:�

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Compatibilismo

A diferença entre as ações livres da coluna A e as não-livres da coluna B é que as primeiras são voluntárias, enquanto as segundas não.

Daí que a diferença entre a vontade livre e não-livre como resida no facto de que os actos derivados da vontade livre são voluntários, enquanto os actos que não são derivados da vontade livre são involuntários, no sentido de se oporem à nossa vontade ou de serem independentes dela.

Se Gandi passa fome para libertar a Índia, se alguém rouba um pão por estar com fome, estes actos são ações livres, posto que são actos voluntários; mas se uma pessoa assina uma confissão sob tortura ou toma uma dose de aguardente contra a sua vontade, esses são actos que se opõem à vontade dos agentes, por isso mesmo não são livres.