A JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO E OS CÚMPLICES ECONÔMICOS DA DITADURA MILITAR: HISTÓRIA E DESAFIOS
Prof. Dr. Rodolfo Costa Machado
(COGEAE, PUC-SP, UniPinhal)
DA DITADURA MILITAR À DEMOCRACIA PÓS-1988:
Limites da “redemocratização” e desafios da Justiça de Transição no Brasil contemporâneo
DA TRANSIÇÃO TRANSADA À (IN)JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO�(HISTÓRIA DO DIREITO, HISTÓRIA TOTAL – PIERRE VILLAR)
CONSPIRAÇÃO, GOLPE DE ESTADO E DITADURA MILITAR
“Desestabilização” do governo do presidente da República João Goulart, herdeiro político do trabalhismo de Getúlio Vargas.
Entre 1962 e 1964
GENERAL OLYMPIO MOURÃO FILHO, AUTOINTITULADO “VACA FARDADA”
Ex-integralista, autor do Plano Cohen, “peça de ficção” anticomunista e antissemita que deflagrou o golpe do Estado Novo (1937), o deflagrador do golpe de 1964, assim reconstitui o que Costa e Silva lhe teria dito sobre o esboço de AI-5 de “Gaminha”:
Mourão, se você lesse o primeiro, você cairia duro no chão, aqui. Era uma barbaridade. Fechava-se o Congresso, modificava-se o Judiciário, além de várias outras medidas de caráter nazista feroz. Recusei assiná-lo. O segundo ear mais brando e, como quem toma um purgante ruim, assinei-o
Memórias: a verdade de um revolucionário. Porto Alegre, L&PM, 1978, p. 450
OS ATOS INSTITUCIONAIS E A CONSTITUCIONALIZAÇÃO DA DITADURA MILITAR
OS ATOS INSTITUCIONAIS E A CONSTITUCIONALIZAÇÃO DA DITADURA MILITAR
DOUTRINA DE SEGURANÇA NACIONAL E DESENVOLVIMENTO
O CASO VOLKSWAGEN VERSUS TRABALHADORES
O CASO VOLKSWAGEN VERSUS TRABALHADORES
O GENOCÍDIO INDÍGENA NA DITADURA MILITAR
A DITADURA EMPRESARIAL-MILITAR NO GENOCÍDIO DOS WAIMIRI-ATROARI – KIÑA OU KINJA
VIOLAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS DOS POVOS INDÍGENAS TEXTO 5 – RELATÓRIO FINAL DA CNV (IN MEMORIAM DE MARCELO ZELIC)
SYLVIO FROTA, MINISTRO DO EXÉRCITO
Tentativa de golpe de Estado em 12 de outubro de 1977
A “abertura política” de Geisel seria uma “campanha contra a Revolução”, motivada por um espírito “revanchista” contra as FFAA
O ÚLTIMO DITADOR MILITAR: JOÃO BAPTISTA FIGUEIREDO
A ULTRADIREITA BOMBISTA
A ULTRADIREITA BOMBISTA
O terrorismo da extrema-direita buscou durante toda a década de 1980 “desestabilizar” a autorreforma ditatorial
1º.05.1981: “acidente de trabalho” do terrorismo militar no Show de 1º de Maio (20 mil pessoas) no Riocentro, Barra da Tijuca
A ditadura militar, cevando o desmentido oficial, culpou as esquerdas pelo atentado terrorista fracassado
GENERAL NEWTON CRUZ, CHEFE DO SNI, SABIA DO PLANO
SEBASTIÃO CURIÓ
GENERAL AUGUSTO HELENO, O NEOFROTISTA DO BOLSONARISMO
A NOVA/VELHA REPÚBLICA NASCE COM O MASSACRE DE VOLTA REDONDA
Com o Exército assassinando metalúrgicos em greve na Companhia Siderúgica Nacional (CSN)
A NOVA/VELHA REPÚBLICA NASCE COM O MASSACRE DE VOLTA REDONDA
PROJETO BRASIL NUNCA MAIS
O PROJETO ORVIL
CRONOLOGIA: JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO
Lei de Anistia
(1979)
=
“autoanistia”?
Brasil Nunca Mais
(Cardeal dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns)
X
ORVRIL
(Operação do Exército Brasileiro)
CEMDP
(1995/Governo FHC)
Sentenção da CIDH do caso Gomes Lund e outros (Guerrilha do Araguaia) vs. Brasil
Comissão Nacional da Verdade (CNV/Governo Dilma Roussef, 2011-14)
Caso Volkswagen verus Trabalhadores
(2015-2020)
Comissão Nacional Indígena da Verdade (CNIV/2022)
JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO E CÚMPLICES ECONÔMICOS DA DITADURA MILITAR
O CASO VOLKSWAGEN VERSUS TRABALHADORES
As empresas que colaboraram com a ditadura�Por Maria Cristina Fernandes��Como reparar um dano sem admiti-lo? É esta a questão que aparece logo no segundo parágrafo do histórico acordo entre o Ministério Público Federal, de São Paulo e do Trabalho, com a Volkswagen do Brasil, fechado na semana passada. Nele, a empresa se exime de qualquer responsabilidade - sua e de seus dirigentes - pelos danos perpetrados pela ditadura militar contra seus ex-funcionários.��Os termos não impediram que a empresa se dispusesse a pagar R$ 36,5 milhões, divididos entre doações a projetos de promoção da memória e da verdade e pesquisas conduzidas pela Universidade Federal de São Paulo sobre o tema. Uma parte da indenização ainda será destinada às associações de ex-trabalhadores da empresa. Acordou-se também que a Volkswagen publicará nos jornais uma declaração sobre os fatos que foram alvo dos inquéritos iniciados em 2015.��O termo de ajustamento de conduta, formato tomado pelo acordo, comporta essa ambiguidade. O investigado assume obrigações desatreladas de um juízo de culpa. Para o órgão investigador, o TAC, muitas vezes, é a única maneira de se avançar com uma reparação. Esta pareceu ser a única saída para os procuradores, uma vez que o Supremo rejeitou a revisão da Lei da Anistia, em 2010, e o Judiciário passou a considerar prescritos os ilícitos da ditadura.��Muitas vezes, porém, os TACs assumem o encerramento das investigações sem explicitar a isenção de responsabilidade como o fez a redação do acordo com a Volkswagen. O resultado não mitiga seu ineditismo, mas explicita aquilo que os pesquisadores de justiça de transição têm alertado há décadas. O não reconhecimento daquilo que Elio Gaspari um dia chamou de “tortura da pessoa jurídica” impede a reconciliação moral com os valores da democracia e deixa aberto o flanco para que o arbítrio volte a se assentar sobre bases empresariais e financeiras.��O documentário produzido pelo jornal alemão “Deutsche Welle”, em 2017 (“Cúmplices? A Volkswagen e a ditadura militar no Brasil”), já deixava claro que o reconhecimento seria um desfecho provável. Indagado sobre seu conhecimento em relação à colaboração dos dirigentes locais com o regime, o ex-presidente da empresa na Alemanha, Carl Hanh, responde com outra pergunta: “Será que não há coisas mais importantes para nos preocuparmos do que com o passado do Brasil?”. Nesse passado, mais especificamente em 1975, auge da ditadura militar, a unidade brasileira da multinacional era a mais lucrativa do mundo.��Noutro momento do documentário, o ex-diretor jurídico e de recursos humanos da Volkswagen no Brasil, Jacy Mendonça, nega a existência da ditadura e contesta a colaboração da empresa com o Departamento de Ordem Política e Social (Dops). Contrapõe-se à farta comprovação por depoimentos e documentos levantados por historiadores brasileiros e alemães sobre a estreita relação da empresa que instalou na equipe de segurança da fábrica de São Bernardo do Campo um ex-comandante do campo de concentração de Treblinka.��As dificuldades de responsabilização da pessoa jurídica não são uma jabuticaba. Num ensaio publicado em maio deste ano (“Justiça de Transição Corporativa: A nova geração de estudos transicionais”), o professor da Faculdade de Direito da USP de Ribeirão Preto, Eduardo Saad-Diniz, diz que naquele que poderia ter sido o grande precedente histórico, a Alemanha nazista, a reparação corporativa foi contida pela necessidade de recuperar economicamente o país face ao avanço soviético.��A própria Volkswagen, que foi criada em 1937, sob o regime de Adolf Hitler, negou-se a pagar indenizações até a década de 1990, quando, pressionada pelo acordo entre os três maiores bancos suíços e entidades judaicas, acabou por constituir um fundo para indenizar a mão de obra escrava dos campos de concentração que trabalhou para a empresa.�
Seminário FDUSP
Abertura
Dr. Jorge Souto Maior: (...) A ditadura elaborou uma legislação que reduziu salário pela Justiça do trabalho. Redução de salário imposta pela Justiça. Um direito de greve interrompido. As empresas patrocinaram, apoiaram e lucracram com a ditadura. E a ausência dessa reparação, no mínimo dessa constatação e do registro histórico, faz com que elas estejam até aí reproduzindo essa lógica no regime democrático. Vide como exemplo o que se deu no golpe de 2016 e em sequência a reforma trabalhista, com aumento da repressão e com o aumento da taxa de lucros das grandes empresas. Do ponto de vista da organização da classe trabalhadora. Um ataque muito frontal aos direitos trabalhistas, à Justiça de Trabalho, novamente essas empresas estão lucrando com essa ruptura democrática. Contar essa história como ela precisa ser contada. Para apontar quem são os sujeitos dessa história. Quem fizeram? Por que fizeram? E que ainda estão fazendo. Os agentes violadores e as vítimas. Fala de abertura, de acolhimento. Espero que nosso evento seja proveitoso para virarmos essa história.
AS ARCADAS
A CASA DA DEMOCRACIA?