Um bocadinho de Inverno
Paul Stewart
e
Chris Riddell
– Vou ter saudades de ti – disse o Coelho.
– Vais ter saudades de mim?
– Não – disse o Ouriço.�– Eu vou ter saudades de ti – disse o Coelho.�– Já sei – disse o Ouriço – ainda agora mo disseste.
– És esquecido – disse o Ouriço.�– Esquecido? – disse o Coelho.�– Se não fosses esquecido – disse o Ouriço -, lembravas-te de por que é que eu não vou ter saudades de ti.
– Lembra-me – disse o Coelho.�– Vou estar a dormir – disse o Ouriço. – Quando estamos a dormir não temos saudades dos amigos.
O Ouriço pegou numa pedra bicuda e foi até à árvore. O Coelho comeu uma ervinha verde, e depois uma florinha, e depois um trevo.
O Ouriço escreveu uma mensagem na casca.
– Coelho - disse o Ouriço - , quero que me faças uma coisa. Vai ser difícil para um animal que é tão esquecido. Foi por isso que escrevi uma mensagem: para te lembrar. Quero que me guardes um bocadinho de Inverno.
– Mas porquê? – perguntou o Coelho.
– Quero saber como é o Inverno – disse o Ouriço.
– O Inverno é duro e branco – disse o Coelho.
– O Inverno é frio.
– Mas frio como? – disse o Ouriço.
– Agora tenho frio. Frio e s-o-o-o-n-o.
E bocejou.
O Coelho abanou o amigo.
– Ai! – gritou ele.
– Coelho – disse o Ouriço.
– Está na hora de eu encontrar um sítio quente para passar o Inverno.
O Coelho chupou a pata.
– Vou ter saudades de ti – disse ele.
Nesse ano o Inverno foi rigoroso.
Caiu neve.
O lago gelou.
O Coelho estava quentinho na toca, mas tinha fome.
– Isto é que é aborrecido no Inverno – disse o Coelho, enquanto saltava para fora. – Quanto mais frio está, mais comida eu quero.�Olhou em volta.�– E quanto mais frio está, menos comida encontro.��Não havia erva verde.�Não havia trevos verdes.��O Coelho teve de se contentar com coisas castanhas.
Folhas castanhas.
Casca castanha.
Uma bolota castanha.
Quando o Coelho viu as palavras na árvore, ficou tão surpreendido que deixou cair a bolota.
A bolota rolou.
Juntou neve.
Transformou-se numa bolinha de neve.
O Coelho leu a mensagem.
– Ai a minha cabeça – disse ele. – Um bocadinho de quê?
Soprava um vento gelado. O Coelho olhou para a bola de neve e lembrou-se.
– Um bocadinho de Inverno – disse ele.
O Coelho rolou a bola de neve na neve.
A bola ficou cada vez maior.
O Coelho embrulhou a bola de neve com folhas.
– Não vão deixar entrar o calor. Não vão deixar sair o frio – disse o Coelho.
– Depois guardo-a debaixo do chão.
Chegou a Primavera. O Sol brilhava. A neve derreteu-se e o lago voltou a ser de água.
O Ouriço acordou.
– Ouriço! – disse o Coelho.
– Coelho! – disse o Ouriço.
– Oh, Coelho – disse o Ouriço -, comeste o Inverno.
– Não – disse o Coelho.
– Comi foi a casca. O Inverno está guardado.
– Está na minha toca.
– Vou buscá-lo.
O Coelho tocou na bola castanha e macia.
Disseste-me que o Inverno era duro e branco – disse ele.
– E frio.
– Espera – disse o Coelho.
Retirou as folhas, uma a uma.
O Ouriço olhou para a bola de neve.
Tinha o aspecto de Inverno.
O Ouriço cheirou a bola de neve.
Cheirava a Inverno.
O Ouriço agarrou na bola de neve com as patas.
– Ai – gritou ele.
– Ela mordeu-me.
– É assim que é o Inverno – disse o Coelho.
– Obrigado por te teres lembrado – disse o ouriço.
– Lembrei-me porque tive saudades de ti – disse o coelho.
– E tu, tiveste saudades de mim?
O Ouriço deu um suspiro.
– Oh, Coelho – disse ele.
P. B. – 2009/2010
Agrupamento de Escolas Gonçalo Sampaio