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NUM BAIRRO MODERNO

Explorando a vida e a obra de Cesário Verde

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BIOGRAFIA

Detalhes sobre sua vida, família, educação e eventos que moldaram sua abordagem poética

José Joaquim Cesário Verde (Lisboa, Madalena, 25 de Fevereiro de 1855 — Lisboa, Lumiar, 19 de Julho de 1886)

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Rua dos Fanqueiros, em Lisboa, onde Cesário nasceu. No fundo, à esquerda, o prédio do Sr. José Anastácio Verde, seu pai

D. Maria da Piedade dos Santos Verde, mãe de Cesário

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Antigo Convento de Jesus onde foi instalado o Curso Superior de Letras

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A loja da Família Verde

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O Livro de Cesário Verde

Edição póstuma da coletânea dos poemas de Cesário Verde, feita por seu amigo Silva Pinto em 1887

Silva Pinto

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“A representação da Cidade nas obras de Cesário Verde”

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Contexto Histórico (1834-1851)

1834-1851: Período Anterior à Regeneração

    • Convenção de Évoramonte encerra guerra civil.
    • Pós-1834: Vinganças pessoais geram instabilidade.

Década de 1840

    • Crises governativas, golpes de Estado, revoltas sociais.
    • Destaque para a Revolução de Setembro (1836) e Revolta da Maria da Fonte (1846).

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1851: Pronunciamento de Saldanha

    • Início da "Regeneração" após cooperação entre centro-esquerda e centro-direita.

No Contexto Europeu (1848-1914)

    • Primavera dos Povos (1848), Manifesto Comunista.
    • Segunda Revolução Industrial (1870-1914).

Contexto Histórico (1834-1851)

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Início em 1851 pela insurreição militar liderada por Saldanha.

    • Esforço de desenvolvimento econômico e modernização.

Acto Adicional à Carta Constitucional (1852)

    • Complemento jurídico ao Pronunciamento de Saldanha.
    • Conciliação política com eleições diretas, aprovação parlamentar de tratados, votação anual de impostos.

Período da Regeneração (1851-1910)

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    • Reformas e Modernizações
    • Reorganização administrativa.
    • Modernização de infraestruturas.
    • Desenvolvimento econômico e industrial.
    • Estabilidade política.
    • Intervenção na Questão Ultramarina.
    • Fortalecimento do controle e administração de colônias.
    • Tentativa de superar crises anteriores.

Desenvolvimentos na Regeneração

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    • Questão Coimbrã (1865-1866), Conferências do Casino (1871).
    • Principais Características:
    • Representação Fidedigna da Realidade.
    • Ênfase em Temas Sociais e Culturais.
    • Preocupação com a Psicologia das Personagens.
    • Estilo Narrativo Direto e Objetivo.
    • Contextualização Histórica e Social.
    • Crítica à Sociedade e aos Costumes.
    • Atenção à Linguagem e ao Estilo Literário.

Realismo em Portugal (1860)

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    • Deslumbramentos: Este poema é o que inaugura "O Livro de Cesário Verde" e é considerado uma das obras mais complexas do autor. Nessa narrativa, o sujeito lírico retrata “Milady” como uma mulher fatal que o assombra na mesma medida em que o atrai, e que o humilha ao tratá-lo com indiferença. As imagens presentes remetem ao aspecto físico dessa dama, que pode também ser interpretada como uma metáfora da cidade, enquanto sua relação com o sujeito lírico pode ser interpretada como uma alegoria da relação entre Portugal e a Europa Civilizada.

OBRAS DE CESÁRIO VERDE

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    • Contrariedades: O poema tem como tema a crítica a uma sociedade alienada e desumana, evidenciando a negligência aos doentes e aos poetas. Há o paralelismo entre a situação do poeta e da engomadeira (que representa os doentes), ressaltando suas semelhanças físicas e emocionais. Os limites da cidade são associados aos padrões sociais e artísticos impostos pela burguesia, representando um conjunto de normas rejeitadas pelo sujeito poético.

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    • O sentimento dum ocidental: A obra retrata Lisboa como um ambiente confinador e destrutivo, onde a ausência de amor é predominante. O sujeito lírico atravessa a cidade durante a noite, descrevendo um ambiente ruidoso e caótico, em contraste com a tranquilidade do campo. O poema faz uma crítica social às precárias condições de vida dos trabalhadores e à ausência de oportunidades de progresso para as classes mais baixas.

    • De Tarde: O poema "De Tarde" é uma lembrança de um piquenique. Ele se divide em partes lógicas que descrevem detalhes deste evento: a introdução do cenário como uma aguarela, a descrição minuciosa do piquenique e a reflexão sobre a singularidade do momento, especialmente quando uma mulher colhe papoilas para o seu decote. É um poema narrativo e descritivo, utilizando predominantemente tempos verbais passados para conferir dinamismo ao relato.

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ESTRUTURA DO POEMA

    • O poema é constituído por 20 estrofes;
    • Cada estrofe tem cinco versos (quintinha);
    • Versos decassílabos;
    • Esquema rítmico: ABAAB, com rimas ricas e diferentes a cada estrofe.

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ANÁLISE DO POEMA

Podemos dividir o poema “Num bairro moderno” em quatro partes:

  • A observação monótona e rotineira do bairro;
  • A visão da figura destoante;
  • A exclamação epifânica e a criação do corpo orgânico;
  • A consequente transformação do sujeito poético.

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Dez da manhã; os transparentes

Matizam uma casa apalaçada;

Pelos jardins estancam-se as nascentes,

E fere a vista, com brancuras quentes,

A larga rua macadamizada.

Como é saudável ter o seu conchego,

E a sua vida fácil! Eu descia,

Sem muita pressa, para o meu emprego,

Aonde agora quase sempre chego

Com as tonturas duma apoplexia.

E rota, pequenina, azafamada,

Notei de costas uma rapariga,

Que no xadrez marmóreo duma escada,

Como um retalho de horta aglomerada,

Pousara, ajoelhando, a sua giga.

E eu, apesar do sol, examinei-a:

Do patamar responde-lhe um criado:

«Se te convém, despacha; não converses.

Eu não dou mais.» E muito descansado,

Atira um cobre lívido, oxidado,

Que vem bater nas faces duns alperces.

NUM BAIRRO MODERNO

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Subitamente - que visão de artista! -

Se eu transformasse os simples vegetais,

À luz do Sol, o intenso colorista,

Num ser humano que se mova e exista

Cheio de belas proporções carnais?!

Eu acerquei-me dela, sem desprezo;

E, pelas duas asas a quebrar,

Nós levantámos todo aquele peso

Que ao chão de pedra resistia preso,

Com um enorme esforço muscular.

"Muito obrigada! Deus lhe dê Saúde!"

E recebi, naquela despedida,

As forças, a alegria, a plenitude,

Que brotam de um excesso de virtude

Ou duma digestão desconhecida.

E eu recompunha, por anatomia,

Um novo corpo orgânico, aos bocados.

Achava os tons e as formas. Descobria

Uma cabeça numa melancia,

E nuns repolhos seios injectados.

Não passa mais ninguém!.. Se me ajudasse?!..."

Chegam do gigo emanações sadias,

Oiço um canário - que infantil chilrada! -

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As obras de Giuseppe Arcimboldo são um retrato alegórico do monarca Rudolfo II como o deus romano das metamorfoses da vida e da natureza -Vertumnus. A face de Rudolfo II é feita com flores e frutos, simbolizando o equilíbrio perfeito entre a natureza e a harmonia que o seu reinado representava.

Paralelamente, no poema de Cesário Verde, o corpo orgânico simboliza o equilíbrio perfeito entre a natureza, o ser humano e a modernidade.

Vertumnus

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    • Caráter deambulatório do sujeito poético;
    • Aspecto cinético e imagético da obra;
    • Figuras de linguagem (sinestesias, ironias, hipérboles);
    • Binômio: cidade Vs. campo;
    • Intenção crítica e questão social;
    • Marcas impressionistas do poeta-pintor;
    • Elemento imaginativo e fantástico;
    • Representação pictórica dos ambientes e descrição plástica da realidade.

ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DO POEMA

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ESTILO POÉTICO DE CESÁRIO VERDE

A poesia realista de Portugal divide-se em 4 movimentos:

1) A poesia “realista” identificada com o ideário revolucionário da geração de 1970, representada por Guerra Junqueira, Gomes Leal e Antero de Quental.

2) a poesia do cotidiano, que usava de temas até então considerados não poéticos; Cesário Verde é o representante dessa vertente.

3) poesia metafísica, representada pelos mesmos da poesia “realista”, Guerra Junqueira, Gomes Leal e Antero de Quental.

4) poesia de veleidades parnasianas, que caracterizava-se pela indefinição entre formalismo e lírica ou satírica, foi representada por João Penha, Antônio Feijó e Guilherme de Azevedo.

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Estilo poético de Cesário Verde:

    • O lirismo distingue-se do usual, pois não é metafísico, amoroso ou panfletário, a emoção do poeta é condicionada pelo cotidiano;
    • Contudo, a realidade cotidiana simultaneamente seduz o eu lírico e o repele como em:

Rez-de-chaussée repousam sossegados,

Abriram-se, nalguns, as persianas,

E dum ou doutro, em quartos estucados,

Ou entre a rama dos papéis pintados,

Reluzem, num almoço, as porcelanas.

Como é saudável ter o seu aconchego,

E a sua vida fácil! Eu descia,

Sem muita pressa, para o meu emprego,

Aonde eu agora quase sempre chego

Com as tonturas duma apoplexia.”

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A morbidez, exemplar da último verso da segunda estrofe, associa Cesário Verde ao lirismo oitocentista, que, como Baudelaire, fazia poesias com representações do horrendo.

Essa morbidez pode ser vista ainda na cena em que ajuda-se a mulher e ao final atribui-se a ela a força de uma “digestão desconhecida”, ou seja, o poeta revela a predileção por um processo biológico, o que é pouco comum à poesia anterior a Cesário Verde:

“«Muito obrigada! Deus lhe dê saúde!»

E recebi, naquela despedida,

As forças, a alegria, a plenitude,

Que brotam dos excessos de virtude

Ou duma digestão desconhecida.”

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TEMAS RECORRENTES

    • Ainda a respeito do tema “cidade”, Cesário endossa o que o movimento acadêmico Geração de 70 também produziu: com o intuito de impulsionar Portugal a equiparar seu desenvolvimento ao que ocorria no restante da Europa na mesma época, alguns intelectuais usavam de suas obras críticas a respeito da vida nas cidades. Por conta dessa relação de proximidade que o poeta mantinha com a vida na cidade em suas obras, principalmente com Lisboa, alguns críticos o apelidaram de “o poeta da cidade” (CRUZ, 2012).
    • O poema aqui analisado nos apresenta logo no título, “Num Bairro Moderno”, um dos temas mais recorrentes na obra de Cesário Verde: a cidade. O autor é um deambulador e nos descreve o que vê ao andar pela cidade com o olhar que imita uma câmera, descrevendo cena a cena o que vê, de forma objetiva.

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“Segundo característico da objetividade poética é aquilo que podemos

chamar a plasticidade; e entendemos por plasticidade a fixação do visto ou

ouvido como exterior, não como sensação, mas como visão ou audição.

Plástica, nesse sentido, foi toda a poesia grega e romana, plástica a poesia

dos parnasianos, plástica (além de epigramática e mais) a de Victor Hugo,

plástica, de novo modo, a de Cesário Verde. A perfeição da poesia

plástica consiste em dar a impressão exata e nítida (sem ser exatamente

epigramática) do exterior como exterior, o que não impede de, ao

mesmo tempo, o dar como interior, como emocionado.”

(PESSOA, 1912, pp. 8/22).

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“Uma poesia minha, recente, publicada numa folha bem impressa limpa, comemorativa de Camões, não obteve um olhar, um sorriso, um desdém, uma observação! Ninguém escreveu, ninguém falou, nem num noticiário, nem numa conversa comigo; ninguém disse bem, ninguém disse mal!” (VERDE, 2006, p. 155)

“[...] literariamente parece que Cesário Verde não existe” (VERDE, 2006, p. 190)

LEGADO DA POÉTICA DE CESÁRIO VERDE

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“A morte de Cesário Verde passa quase que inteiramente despercebida nos meios literários e jornalísticos”

(DAUNT, 2004, p. 44)

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“Houve em Portugal, no século dezanove, três poetas, e três somente, a quem legitimamente compete a designação de mestres. São eles, por ordem de idades, Antero de Quental, Cesário Verde e Camilo Pessanha."

(PESSOA, 2006, p.225).

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(MELO NETO apud SANTOS, 1996, p. 29)

“[...] entre os portugueses, antigos e modernos, cito Cesário Verde. É o maior poeta lusitano, com quem mais me identifico, por causa daquela ausência de retórica, uma visão voltada para o mundo exterior”

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A Félix de Athayde

Cesário Verde usava a tinta

de forma singular:

não para colorir,

apesar da cor que nele há.

Talvez que nem usasse tinta,

somente água clara,

aquela água de vidro

que se vê percorrer a Arcádia.

Certo, não escrevia com ela,

ou escrevia lavando:

relavava, enxaguava

seu mundo em sábado de banho.

Assim chegou aos tons opostos

das maçãs que contou:

rubras dentro da cesta

de quem no rosto as tem sem cor.

Augusto dos Anjos não tinha

dessa tinta água clara.

Se água, do Paraíba

nordestino, que ignora a Fábula.

Tais águas não são lavadeiras,

deixam tudo encardido:

o vermelho das chitas

ou o reluzente dos estilos.

E quando usadas como tinta

escrevem negro tudo:

dão um mundo velado

por véus de lama, véus de luto

Donde decerto o timbre fúnebre,

dureza da pisada,

geometria de enterro

de sua poesia enfileirada.

(MELO NETO, 2020 p. 290)

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Bibliografia

BATALHA, Maria Cristina. “Num bairro moderno”: o olhar enviesado da periferia europeia. In: MATRAGA nº 11, 1999. Belo Horizonte. Disponível em: Biografia Cesário Verde (PT 1855-02-25). Disponível em: <https://www.escritas.org/pt/bio/cesario-verde>. Acesso em: 3 dez. 2023.

CARREIRO, José. “De tarde, naquele «pic-nic» de burguesas, Cesário Verde”. Portugal, Folha de Poesia, 08-09-2022. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2022/09/de-tarde-cesario-verde.html

Cesário Verde 1855-1886:: Na Vida e na Obra, Biblioteca Nacional de Portugal, 2011. Disponível em: <https://purl.pt/22529/1/index.html> . Acesso em: 25 de nov. de 2023

Contemporânea. in Revista Tamanha Poesia, volume 4, número 7, jan.-jun./2019,

CRUZ, Maria Aparecida Barros. A representação da cidade nas obras de Cesário Verde e Carlos Drummond de Andrade. Élisée, Rev. Geo. UEG - Goiânia, v.1, n.2, p.147-165, jul./dez. 2012.

DAUD, Robert. O livro de cesário verde: leituras e comparações. In: via atlântica n. 6 out. 2003.

Deslumbramentos, Cesário Verde” in Folha de Poesia, José Carreiro. Portugal, 02-12-2022. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2022/12/deslumbramentos-cesario-verde.html

FERNANDES, Geraldo. Fernando Pessoa, Cesário Verde. Suas cidades. Revista Desassossego, São Paulo, v8, p.102-105, ago./2016.

FIGUEIREDO, João Pinto de. A Vida de Cesário Verde. Lisboa: Editorial Presença. 2. ed. 1986.

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MASSAUD, Mosiés. A literatura portuguesa através dos textos. Cultrix. 2012.

MELO NETO, João Cabral de 1920-1999: Poesia completa: João Cabral de Melo Neto ; organização, estabelecimento de texto, prefácio e notas Antônio Carlos Secchin ; com a colaboração de Edneia R. Ribeiro. São Paulo, Alfaguara, 2020.

ROSA, Susana. Cesário Verde ou o poema sem assunto. Dissertação, doutoramento em estudos de literatura e cultura, Universidade de São Paulo, São Paulo, p.24, 2010.

SANTOS, Valcir Vieira dos. Vozes de Cesário Verde na Poesia Brasileira Contemporânea. in Revista Tamanha Poesia, volume 4, número 7, jan.-jun./2019, Belo Horizonte. Disponível em: https://tamanhapoesia.files.wordpress.com/2019/05/tamanhapoesia07poesiaportuguesaii.pdf. Acesso em 15 nov. 2023.

Secchin ; com a colaboração de Edneia R. Ribeiro. São Paulo Alfaguara 2020.

SENTIRPORTUGUÊS. Sentir Português: CESÁRIO VERDE: “CONTRARIEDADES”. Disponível em: <https://sentirportugus.blogspot.com/2012/05/analise-de-contrariedades.html>. Acesso em: 3 dez. 2023.

SERRÃO, Joel. O essencial sobre Cesário Verde. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1986.

Sobral. Livro do desassossego. Lisboa, Relógio D'Água, 2013.

SERRÃO, Joel (org). Obra Completa de Cesário Verde. 4. ed. Lisboa, Livros Horizonte, 1983. 240 p. Disponível em: https://moodle.ufsc.br/pluginfile.php/1939407/mod_resource/content/1/cesario%20verde.pdf. Acesso em 15 nov. 2023.

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Camila Moreira da Silva (13649172)

Esthefani Cristiane Guedes Rosa (13276826)

Gabriel Coelho Pereira (9337774)

Gabriella Moura (12822020)

Giovanna Pacheco dos Santos Liviero (11775767)

Larissa Letícia Pereira Barella (10822399)

Lucas Oliveira Correa dos Santos (8516796)

Natacha Rissato Araujo (13822147)

Rafaela Moraes da Conceição (13860901)

Rodrigo Cesar Guelere Madeira (13651842)

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