NUM BAIRRO MODERNO
Explorando a vida e a obra de Cesário Verde
BIOGRAFIA
Detalhes sobre sua vida, família, educação e eventos que moldaram sua abordagem poética
José Joaquim Cesário Verde (Lisboa, Madalena, 25 de Fevereiro de 1855 — Lisboa, Lumiar, 19 de Julho de 1886)
Rua dos Fanqueiros, em Lisboa, onde Cesário nasceu. No fundo, à esquerda, o prédio do Sr. José Anastácio Verde, seu pai
D. Maria da Piedade dos Santos Verde, mãe de Cesário
Antigo Convento de Jesus onde foi instalado o Curso Superior de Letras
A loja da Família Verde
O Livro de Cesário Verde
Edição póstuma da coletânea dos poemas de Cesário Verde, feita por seu amigo Silva Pinto em 1887
Silva Pinto
“A representação da Cidade nas obras de Cesário Verde”
Contexto Histórico (1834-1851)
1834-1851: Período Anterior à Regeneração
Década de 1840
1851: Pronunciamento de Saldanha
No Contexto Europeu (1848-1914)
Contexto Histórico (1834-1851)
Início em 1851 pela insurreição militar liderada por Saldanha.
Acto Adicional à Carta Constitucional (1852)
Período da Regeneração (1851-1910)
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Desenvolvimentos na Regeneração
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Realismo em Portugal (1860)
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OBRAS DE CESÁRIO VERDE
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ESTRUTURA DO POEMA
ANÁLISE DO POEMA
Podemos dividir o poema “Num bairro moderno” em quatro partes:
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Dez da manhã; os transparentes
Matizam uma casa apalaçada;
Pelos jardins estancam-se as nascentes,
E fere a vista, com brancuras quentes,
A larga rua macadamizada.
Como é saudável ter o seu conchego,
E a sua vida fácil! Eu descia,
Sem muita pressa, para o meu emprego,
Aonde agora quase sempre chego
Com as tonturas duma apoplexia.
E rota, pequenina, azafamada,
Notei de costas uma rapariga,
Que no xadrez marmóreo duma escada,
Como um retalho de horta aglomerada,
Pousara, ajoelhando, a sua giga.
E eu, apesar do sol, examinei-a:
Do patamar responde-lhe um criado:
«Se te convém, despacha; não converses.
Eu não dou mais.» E muito descansado,
Atira um cobre lívido, oxidado,
Que vem bater nas faces duns alperces.
NUM BAIRRO MODERNO
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Subitamente - que visão de artista! -
Se eu transformasse os simples vegetais,
À luz do Sol, o intenso colorista,
Num ser humano que se mova e exista
Cheio de belas proporções carnais?!
Eu acerquei-me dela, sem desprezo;
E, pelas duas asas a quebrar,
Nós levantámos todo aquele peso
Que ao chão de pedra resistia preso,
Com um enorme esforço muscular.
"Muito obrigada! Deus lhe dê Saúde!"
E recebi, naquela despedida,
As forças, a alegria, a plenitude,
Que brotam de um excesso de virtude
Ou duma digestão desconhecida.
E eu recompunha, por anatomia,
Um novo corpo orgânico, aos bocados.
Achava os tons e as formas. Descobria
Uma cabeça numa melancia,
E nuns repolhos seios injectados.
Não passa mais ninguém!.. Se me ajudasse?!..."
Chegam do gigo emanações sadias,
Oiço um canário - que infantil chilrada! -
As obras de Giuseppe Arcimboldo são um retrato alegórico do monarca Rudolfo II como o deus romano das metamorfoses da vida e da natureza -Vertumnus. A face de Rudolfo II é feita com flores e frutos, simbolizando o equilíbrio perfeito entre a natureza e a harmonia que o seu reinado representava.
Paralelamente, no poema de Cesário Verde, o corpo orgânico simboliza o equilíbrio perfeito entre a natureza, o ser humano e a modernidade.
Vertumnus
ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DO POEMA
ESTILO POÉTICO DE CESÁRIO VERDE
A poesia realista de Portugal divide-se em 4 movimentos:
1) A poesia “realista” identificada com o ideário revolucionário da geração de 1970, representada por Guerra Junqueira, Gomes Leal e Antero de Quental.
2) a poesia do cotidiano, que usava de temas até então considerados não poéticos; Cesário Verde é o representante dessa vertente.
3) poesia metafísica, representada pelos mesmos da poesia “realista”, Guerra Junqueira, Gomes Leal e Antero de Quental.
4) poesia de veleidades parnasianas, que caracterizava-se pela indefinição entre formalismo e lírica ou satírica, foi representada por João Penha, Antônio Feijó e Guilherme de Azevedo.
Estilo poético de Cesário Verde:
Rez-de-chaussée repousam sossegados,
Abriram-se, nalguns, as persianas,
E dum ou doutro, em quartos estucados,
Ou entre a rama dos papéis pintados,
Reluzem, num almoço, as porcelanas.
Como é saudável ter o seu aconchego,
E a sua vida fácil! Eu descia,
Sem muita pressa, para o meu emprego,
Aonde eu agora quase sempre chego
Com as tonturas duma apoplexia.”
A morbidez, exemplar da último verso da segunda estrofe, associa Cesário Verde ao lirismo oitocentista, que, como Baudelaire, fazia poesias com representações do horrendo.
Essa morbidez pode ser vista ainda na cena em que ajuda-se a mulher e ao final atribui-se a ela a força de uma “digestão desconhecida”, ou seja, o poeta revela a predileção por um processo biológico, o que é pouco comum à poesia anterior a Cesário Verde:
“«Muito obrigada! Deus lhe dê saúde!»
E recebi, naquela despedida,
As forças, a alegria, a plenitude,
Que brotam dos excessos de virtude
Ou duma digestão desconhecida.”
TEMAS RECORRENTES
“Segundo característico da objetividade poética é aquilo que podemos
chamar a plasticidade; e entendemos por plasticidade a fixação do visto ou
ouvido como exterior, não como sensação, mas como visão ou audição.
Plástica, nesse sentido, foi toda a poesia grega e romana, plástica a poesia
dos parnasianos, plástica (além de epigramática e mais) a de Victor Hugo,
plástica, de novo modo, a de Cesário Verde. A perfeição da poesia
plástica consiste em dar a impressão exata e nítida (sem ser exatamente
epigramática) do exterior como exterior, o que não impede de, ao
mesmo tempo, o dar como interior, como emocionado.”
(PESSOA, 1912, pp. 8/22).
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“Uma poesia minha, recente, publicada numa folha bem impressa limpa, comemorativa de Camões, não obteve um olhar, um sorriso, um desdém, uma observação! Ninguém escreveu, ninguém falou, nem num noticiário, nem numa conversa comigo; ninguém disse bem, ninguém disse mal!” (VERDE, 2006, p. 155)
“[...] literariamente parece que Cesário Verde não existe” (VERDE, 2006, p. 190)
LEGADO DA POÉTICA DE CESÁRIO VERDE
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“A morte de Cesário Verde passa quase que inteiramente despercebida nos meios literários e jornalísticos”
(DAUNT, 2004, p. 44)
“Houve em Portugal, no século dezanove, três poetas, e três somente, a quem legitimamente compete a designação de mestres. São eles, por ordem de idades, Antero de Quental, Cesário Verde e Camilo Pessanha."
(PESSOA, 2006, p.225).
(MELO NETO apud SANTOS, 1996, p. 29)
“[...] entre os portugueses, antigos e modernos, cito Cesário Verde. É o maior poeta lusitano, com quem mais me identifico, por causa daquela ausência de retórica, uma visão voltada para o mundo exterior”
A Félix de Athayde
Cesário Verde usava a tinta
de forma singular:
não para colorir,
apesar da cor que nele há.
Talvez que nem usasse tinta,
somente água clara,
aquela água de vidro
que se vê percorrer a Arcádia.
Certo, não escrevia com ela,
ou escrevia lavando:
relavava, enxaguava
seu mundo em sábado de banho.
Assim chegou aos tons opostos
das maçãs que contou:
rubras dentro da cesta
de quem no rosto as tem sem cor.
Augusto dos Anjos não tinha
dessa tinta água clara.
Se água, do Paraíba
nordestino, que ignora a Fábula.
Tais águas não são lavadeiras,
deixam tudo encardido:
o vermelho das chitas
ou o reluzente dos estilos.
E quando usadas como tinta
escrevem negro tudo:
dão um mundo velado
por véus de lama, véus de luto
Donde decerto o timbre fúnebre,
dureza da pisada,
geometria de enterro
de sua poesia enfileirada.
(MELO NETO, 2020 p. 290)
Bibliografia
BATALHA, Maria Cristina. “Num bairro moderno”: o olhar enviesado da periferia europeia. In: MATRAGA nº 11, 1999. Belo Horizonte. Disponível em: Biografia Cesário Verde (PT 1855-02-25). Disponível em: <https://www.escritas.org/pt/bio/cesario-verde>. Acesso em: 3 dez. 2023.
CARREIRO, José. “De tarde, naquele «pic-nic» de burguesas, Cesário Verde”. Portugal, Folha de Poesia, 08-09-2022. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2022/09/de-tarde-cesario-verde.html
Cesário Verde 1855-1886:: Na Vida e na Obra, Biblioteca Nacional de Portugal, 2011. Disponível em: <https://purl.pt/22529/1/index.html> . Acesso em: 25 de nov. de 2023
Contemporânea. in Revista Tamanha Poesia, volume 4, número 7, jan.-jun./2019,
CRUZ, Maria Aparecida Barros. A representação da cidade nas obras de Cesário Verde e Carlos Drummond de Andrade. Élisée, Rev. Geo. UEG - Goiânia, v.1, n.2, p.147-165, jul./dez. 2012.
DAUD, Robert. O livro de cesário verde: leituras e comparações. In: via atlântica n. 6 out. 2003.
“Deslumbramentos, Cesário Verde” in Folha de Poesia, José Carreiro. Portugal, 02-12-2022. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2022/12/deslumbramentos-cesario-verde.html
FERNANDES, Geraldo. Fernando Pessoa, Cesário Verde. Suas cidades. Revista Desassossego, São Paulo, v8, p.102-105, ago./2016.
FIGUEIREDO, João Pinto de. A Vida de Cesário Verde. Lisboa: Editorial Presença. 2. ed. 1986.
MASSAUD, Mosiés. A literatura portuguesa através dos textos. Cultrix. 2012.
MELO NETO, João Cabral de 1920-1999: Poesia completa: João Cabral de Melo Neto ; organização, estabelecimento de texto, prefácio e notas Antônio Carlos Secchin ; com a colaboração de Edneia R. Ribeiro. São Paulo, Alfaguara, 2020.
ROSA, Susana. Cesário Verde ou o poema sem assunto. Dissertação, doutoramento em estudos de literatura e cultura, Universidade de São Paulo, São Paulo, p.24, 2010.
SANTOS, Valcir Vieira dos. Vozes de Cesário Verde na Poesia Brasileira Contemporânea. in Revista Tamanha Poesia, volume 4, número 7, jan.-jun./2019, Belo Horizonte. Disponível em: https://tamanhapoesia.files.wordpress.com/2019/05/tamanhapoesia07poesiaportuguesaii.pdf. Acesso em 15 nov. 2023.
Secchin ; com a colaboração de Edneia R. Ribeiro. São Paulo Alfaguara 2020.
SENTIRPORTUGUÊS. Sentir Português: CESÁRIO VERDE: “CONTRARIEDADES”. Disponível em: <https://sentirportugus.blogspot.com/2012/05/analise-de-contrariedades.html>. Acesso em: 3 dez. 2023.
SERRÃO, Joel. O essencial sobre Cesário Verde. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1986.
Sobral. Livro do desassossego. Lisboa, Relógio D'Água, 2013.
SERRÃO, Joel (org). Obra Completa de Cesário Verde. 4. ed. Lisboa, Livros Horizonte, 1983. 240 p. Disponível em: https://moodle.ufsc.br/pluginfile.php/1939407/mod_resource/content/1/cesario%20verde.pdf. Acesso em 15 nov. 2023.
Camila Moreira da Silva (13649172)
Esthefani Cristiane Guedes Rosa (13276826)
Gabriel Coelho Pereira (9337774)
Gabriella Moura (12822020)
Giovanna Pacheco dos Santos Liviero (11775767)
Larissa Letícia Pereira Barella (10822399)
Lucas Oliveira Correa dos Santos (8516796)
Natacha Rissato Araujo (13822147)
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Rodrigo Cesar Guelere Madeira (13651842)
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