Carta contra a construção da Ponte Poconé-Corumbá e do asfaltamento da Transpantaneira

Nós, pousadeiros, guias, motoristas e outros atores do ecoturismo, bem como instituições da sociedade civil, comunidade pantaneira e entidades de classe subassinadas, manifestamos, pelos motivos explicitados abaixo, nossa oposição à possível instalação da ponte sobre o Rio São Lourenço, que ligará Corumbá, no Estado de Mato Grosso do Sul, à Poconé, no Mato Grosso. 

Lembrando que não somos contra o desenvolvimento do Pantanal Mato-grossense, mas nos opomos fortemente à ponte, bem como ao asfaltamento da Transpantaneira, pois ambas as obras prejudicarão o ecoturismo, o meio ambiente e a economia local, visto que:

  • Estradas são os principais vetores de desmatamento e degradação ambiental em diversos biomas brasileiros;

  • No ano passado, o município de Corumbá foi o quinto município que mais desmatou no Brasil, fato que denota um modelo econômico de desenvolvimento antagônico ao praticado no Pantanal Poconeano, no qual a população se orgulha e ganha, financeiramente, com a proteção do Pantanal e com o ecoturismo praticado na região;

  • O ecoturismo na região é a principal fonte de renda de muitas famílias, que dependem da sua manutenção para o seu ganha-pão e para o seu bem-viver;

  • A região do Porto Jofre, onde está situado o Parque Estadual Encontro das Águas, é um importante destino para observação de onças-pintadas, atividade que movimenta, apenas nesta localidade, mais de 7 milhões de dólares por ano e que vem aumentando significativamente ano após ano, gerando empregos e renda; 

  • A intensificação do uso da Estrada Parque Transpantaneira por conta do trágefo interestadual trará consigo a pressão por pavimentação desta estrada, o que representaria, por si só, o fim de um atrativo turístico importante da região, para todos que visitam o local pela sua b5eleza cênica e realizam safáris em carros semi-abertos para observação de fauna;
  • A Estrada Parque Transpantaneira, como é, proporciona uma experiência singular para o turista que visita o Pantanal Mato-Grossense. Justamente pela sua condição rústica, por ser constituída de terra e cascalho, essa estrada que corta o Pantanal Norte, permite o avistamento de onças, tamanduás, antas, lontras e ariranhas. Além disso, suas características permitem a sensação de imersão na natureza selvagem, condição que seria completamente perdida diante da ligação interestadual e do seu possível asfaltamento;

  • A Estrada Parque Transpantaneira carrega um grande simbolismo e, o seu portal, que anuncia os 147 km de estrada de Poconé a Porto Jofre, é um dos locais mais fotografados pelos turistas na região;

  • Como mostram pesquisas em instituições de vários locais do mundo, o asfaltamento de estradas ocasiona um aumento significativo no atropelamento de fauna. Na Transpantaneira não seria diferente, possivelmente comprometendo a sobrevivência de espécies icônicas como antas, tamanduás-bandeiras e tamanduás-mirins e até mesmo da própria onça-pintada, espécies que, em outros locais do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, são vítimas constantes da colisão veicular com fauna  - problema que continua sem solução em ambos os estados, apesar dos inúmeros protestos da sociedade civil;

  • No melhor dos cenários, ainda que o asfaltamento fosse realizado seguindo todos os parâmetros necessários para mitigar as colisões entre fauna e veículos, a estrada precisaria ser praticamente toda cercada para evitar que os animais cruzassem a pista. As medidas de mitigação, por si só, só já desconfigurariam o símbolo de ambiente selvagem e livre que a Transpantaneira é hoje, impedindo a observação de fauna às margens da Estrada Parque;
  • O asfaltamento favoreceria o transporte de grãos, gado e outros produtos, se tornando uma estrada para transporte de commodities e passagem de veículos pesados, incompatíveis com a atividade turística e a sobrevivência da fauna que eventualmente atravessa e percorre a estrada parque;

  • O município de Corumbá também tem sido alvo de uma série de investigações e denúncias sobre prostituição e exploração sexual de menores, conforme uma série de reportagens e até mesmo artigos científicos, além do tráfico de drogas, alcoolismos e outras mazelas sociais;

  • Por fim, é sabido que o Pantanal enfrenta, atualmente, uma série de problemas socioambientais, tais quais secas severas e uma redução crônica da quantidade de água na planície e, conforme explicitado pelo atual Ministro da Agricultura e Pecuária (MAPA), Sr. Carlos Fávaro, o Pantanal corre o risco de desaparecer nas próximas décadas. O momento pede proteção e recuperação do Pantanal e não novos impactos e, está claro para a população Poconeana e todos aqueles que se importam com a sobrevivência do Pantanal que ele não conseguirá enfrentar a abertura de novas fronteiras que ameacem a sua sobrevivência, e o projeto de ligação entre os 2 estados através de uma ponte, abre uma nova ferida neste ambiente já muito machucado.

Além dos motivos enumerados acima, é importante salientar que, os 60 milhões de Reais anunciados pelos governos de ambos os estados, poderiam ser melhor investidos na gestão e incentivo do ecoturismo no Pantanal. Na região em questão, especificamente, ainda aguardamos investimentos para:

1. Criação e implantação dos Planos de Manejo da Estrada Parque Transpantaneira e do Parque Estadual Encontro das Águas;

2. Aumento da fiscalização na Estrada Parque e intermediações do Parque Estadual a fim de coibir práticas ilegais e crimes ambientais, como caça e pesca ilegal;

3. Implementação de medidas para diminuição da colisão veicular com fauna na Estrada Parque Transpantaneira;

4. Compra de veículos e barcos para monitoramento do Parque Estadual Encontro das Águas;

5. Compra de equipamentos e formação de brigadas voluntárias para combate a incêndios florestais na Estrada Parque, entre outras medidas de prevenção e combate aos incêndios, como investimento em maquinário;

6. Instalação de posto permanente da Polícia Militar Ambiental em ponto estratégico da Transpantaneira;

7. Cursos de capacitação de guias, piloteiros, camareiras e outros para formação de mão de obra qualificada, aumento na geração de emprego e renda na região e inserção no trade turístico;

8. E, ainda, criação de novos atrativos turísticos no município de Poconé que dialoguem com a experiência turística na região como a Casa da Onça-Pintada, Museu do Fogo, Museu do Homem Pantaneiro e outros empreendimentos que aumentem a estadia do turista na região, gerando mais empregos e renda.


Lembrem-se: Desenvolvimento não é apenas construir mais, mas cuidar do que já existe e encontrar o equilíbrio entre a geração de renda e um ambiente conservado. Essa ponte e o asfaltamento da Transpantaneira, não representam o desenvolvimento que queremos!



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