Carta aberta de discentes, ex-discentes, professores e docentes de medicina da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da Universidade de São Paulo (USP) à sociedade pela defesa da saúde pública e pelo impeachment de Jair Bolsonaro
          Desde o início do atual governo do presidente Jair Bolsonaro, em janeiro de 2019, pilares extremamente valiosos à sociedade brasileira foram abertamente desvalorizados e subtraídos das pautas governamentais, como a saúde e a educação pública, a ciência e a democracia. Ao invés de legitimar princípios norteadores do desenvolvimento humano ao longo do tempo, como a razão e a ciência, o governo federal optou pelo negacionismo científico, pelo obscurantismo e pela propagação de inverdades que fomentam ignorância, além da promoção de discursos que atentem contra as instituições democráticas e o Estado social. Em lugar do fortalecimento e do investimento de recursos em infraestrutura e setores públicos que assegurem aos cidadãos brasileiros o acesso a estruturas básicas e fundamentais à vida previstas na Constituição Cidadã de 1988, houve um contínuo desmonte dos serviços públicos. Esse projeto que aprofunda desigualdades é evidente sobretudo na área da saúde, com o desmantelamento de uma das maiores conquistas da sociedade brasileira, o Sistema Único de Saúde (SUS).
          O descompromisso do governo federal para com o bem-estar e a vida de seus cidadãos foi acentuado profundamente com a pandemia causada pelo novo coronavírus. A contínua negligência, os equívocos sucessivos e inconsequentes, além da omissão dos entes federais no combate à pandemia mundial, conduziram o país à atual calamidade sanitária que vivemos.
          Desse modo, nós, discentes, ex-discentes, professores e docentes de medicina da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da Universidade de São Paulo (USP), enxergamos a necessidade de romper com o silêncio e nos posicionar contra a atual conduta irresponsável do presidente Jair Bolsonaro, o qual não somente se ausenta no enfrentamento à crise sanitária, bem como dificulta a contenção do vírus.
          Desde o início da pandemia, o atual presidente Jair Bolsonaro e as autarquias do governo federal mantiveram e disseminaram o menosprezo para com a gravidade e a urgência na coordenação de medidas para o combate à doença. Não obstante o relutante descompromisso com a saúde da população brasileira, assistimos a inúmeras e assombrosas incitações contrárias a todas as recomendações da Organização Mundial de Saúde e da comunidade científica internacional de distanciamento social, uso de máscara e higienização pessoal, além da negligência no estabelecimento de planejamentos estratégicos de testagem em massa, rastreio e isolamento a fim de conter o vírus.
          Ao contrário das condutas ideais que deveriam nortear o enfrentamento da pandemia de COVID-19 e do fortalecimento do conhecimento científico, da pesquisa e do Sistema Único Saúde (SUS), as entidades federais fomentaram, de forma inconsequente e criminosa, o descrédito de cientistas, pesquisadores e instituições sanitárias brasileiras  legítimas. Somado a essa postura imprudente, incitaram também o uso de tratamentos preventivos contra a COVID-19 através do uso de medicamentos cuja ineficácia é cientificamente comprovada, como a ivermectina e a hidroxicloroquina. Isso expõe a vida de milhões de brasileiros a possíveis efeitos colaterais e a riscos que poderiam ser evitados.
          Em um momento crítico para a mitigação da pandemia e suas consequências, a partir da corrida por vacinas contra a COVID-19, o governo federal manteve-se inerte na tarefa de obtenção de imunizantes e de organização de um plano nacional de imunização, além de promover sucessivos esforços contrários à imunização dos brasileiros e entraves diplomáticos que põem em risco o acesso a insumos elementares para a cadeia produtiva das vacinas. Nessa conjuntura, ainda, o desserviço em exercício praticado pelo presidente Jair Bolsonaro e pelo atual ministro da saúde Eduardo Pazuello, cuja falta de preparo e de experiência são preocupantes para tal cargo, atingiu seu auge no decurso de janeiro com a crítica situação vivida em Manaus, em que dezenas de vidas foram desnecessariamente perdidas em razão da falta de oxigênio.
          A conduta lamentável e irresponsável adotada pelo governo federal contribui para o desastroso cenário brasileiro em que se contabiliza mais de duzentas e dez mil mortes provocadas pela COVID-19, dentre as quais milhares poderiam ter sido evitadas não fosse o descaso em relação às medidas preconizadas pela comunidade científica e por órgãos internacionais legítimos. Essa improbidade para com a saúde, a medicina e a ciência sujeitou o país, dentre todas as demais nações, à uma das posições de liderança em número de óbitos.
          Diante da gravidade do exposto e dos crimes de responsabilidade continuamente consumados pelo atual Presidente da República, nós, integrantes da comunidade acadêmica e profissionais formados pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da Universidade de São Paulo (USP), que prezamos pelos pilares universitários, pela ciência, pesquisa e pelo ensino público, gratuito e de qualidade; que objetivamos o retorno à sociedade pelo investimento público em nossas formações profissionais; que nos comprometemos com o exercício da medicina de excelência, com a saúde e com a vida, entendemos a necessidade de exigir do Presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia a imediata abertura do processo de impeachment contra o Sr. Jair Messias Bolsonaro. Em favor da saúde pública, da ciência e da vida, é urgente dizer basta e interromper esse irremediável negacionismo.


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