Ao desenvolver trabalho de pesquisa para fins de doutoramento sobre a genealogia da noção jurídica de estupro no Brasil, pude verificar que o avanço da direita no Brasil, na América Latina e no mundo estava forjando novas justificativas para as violências sexuais perpetradas sobretudo contra vítimas que refugissem ao modelo bíblico e heteronormativo das matrizes familiares. Confirmada a hipótese de que os crimes de estupro são instrumentalizados como exercícios de controle e poder como ocorre de forma eloquente nos estupros de guerra, surgiu uma nova hipótese: a de que os crimes de estupro podem estar a serviço da propagação de uma ideologia e da consolidação de grupos a ela vinculados nas órbitas de poder. Notícias jornalísticas reiteradas sobre pastores de igrejas evangélicas, políticos e militantes políticos de direita, alguns confessos, que estariam estuprando lésbicas a fim de corrigirem as suas orientações sexuais e adequá-las ao modelo adâmico levou-me a pretender aprofundar-me nesse tema de pesquisa, qual seja, sobre a genealogia das violências sexuais praticadas por atores da direita contra lésbicas em um recorte latino-americano no qual as violências de gênero estão atreladas não apenas ao modelo patriarcal, mas ao modelo colonial de construção política dos Estados nacionais, como também das subjetividades dos seus integrantes, tudo isso alinhado ao recente avanço das direitas nesse espaço geográfico. Uma vez que, metodologicamente, para a abordagem desse problema se faz necessária a realização de um estudo qualitativo a partir de uma revisão documental e bibliográfica do contexto latino-americano, assim como o levantamento de casos exemplificadores advindos da análise dos relatos de violência sexual contra lésbicas apresentados
à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), além do estado da normatização e implementação de políticas públicas, integrar um grupo de pesquisa em direito internacional e direitos humanos será o espaço acadêmico ideal para o desenvolvimento desta pesquisa. *