As linhas com que se cose a memória
O processo de recomposição das classes dominantes a partir da maioria absoluta da Aliança Democrática nos anos 1980 conduziu não só ao aniquilamento de todas as conquistas revolucionárias como a um discurso de legitimação da direita tornada de novo poder.
O revisionismo, como atenta Alberto Reig Tapia, é na sua essência político, mesmo quando tem ramificações ou pretensões académicas. Assim, a demonização da mobilização popular no período revolucionário anda de mãos dadas com a relativização e o branqueamento do Estado Novo. Este não é apenas um fenómeno português, como o demonstra o negacionismo do Holocausto, a relativização feita em Itália do fascismo ou em Espanha o panegírico do franquismo feito com ampla difusão e mediatização por Pio Moa.
A Oficina está dividida em dois momentos. O primeiro pretende, através de uma perspectiva interdisciplinar, pôr em debate as políticas de memória em relação ao Estado Novo através de três eixos temáticos: discursos, História Local e políticas institucionais. Procura-se, deste modo, perceber a representação da memória do Estado Novo não só a nível institucional, através do diálogo entre museólogos, arquivistas e investigadores, como a partir da perspectiva dos sujeitos subalternizados, como no caso do colonialismo. O segundo momento, por seu turno, centra-se nas políticas da memória no presente através da apresentação de um projeto expositivo e de um filme.
A aproximação do cinquentenário do 25 de Abril torna mais premente esta discussão, num momento em que a direita radical, surgida como resposta à crise do neoliberalismo, tem assento parlamentar e recupera para si os argumentos em torno do Estado Novo e do processo revolucionário já usados pela direita conservadora para se legitimar politicamente.
Organização
Joana Beato Ribeiro (IHC, NOVA-FCSH / IN2PAST)
Joana Matias (IHC, NOVA-FCSH / IN2PAST)
Paulo Jorge (IHC, NOVA-FCSH / IN2PAST)
Sofia Victorino (IHC, NOVA-FCSH / IN2PAST)
Comissão Organizadora
Lee Douglas (IHC, NOVA-FCSH / IN2PAST)
Victor Barros (IHC, NOVA-FCSH / IN2PAST)
6 de dezembro 2022
Padrão dos Descobrimentos, Lisboa
14h30 – Filipa Lowndes Vicente (ICS,
ULisboa), Álbuns de Família. Fotografias da Diáspora Africana em Portugal: Um
projeto de exposição
Apresentação do projeto expositivo
“Álbuns de Família. Fotografias da Diáspora Africana em Portugal”, a realizar
em 2023 no Padrão dos Descobrimentos. Este projeto, da autoria de Filipa
Lowndes Vicente e Inocência Mata, é uma cartografia do quotidiano e da vida da
diáspora africana no presente - reunindo álbuns, autoimagens e autobiografias
fotográficas. Uma autorrepresentação da vida, em imagens. A exposição está em
sintonia com os caminhos de reflexão e pensamento crítico que têm tido lugar um
pouco por todo mundo em esferas culturais, intelectuais, artísticas e
políticas. Surge de um processo de dar voz e visibilidade à diáspora africana,
e também de um processo de reconhecimento da violência e opressão do
colonialismo e da escravatura que deve ser deve ser interrogado e
problematizado. Uma das formas de o fazer é a de mostrar uma contranarrativa ao
vastíssimo arquivo visual de uma representação histórica imposta pela violência
colonial, onde aparecem pessoas sem nome, sem biografia e sem o direito à posse
da imagem. Uma contranarrativa de quem escolhe ser fotografado, fotografar e
aqui partilhar as suas imagens.
15h00 – Debate
15h20 – Intervalo
15h30 – Catarina Simão (Arquiteta
e investigadora independente), Apresentação do filme “Sala Colonial”
Duração do filme: 1:12'
O filme “Sala Colonial”, da autoria
de Catarina Simão, resultou de um projeto artístico e educativo desenvolvido
pelo Museu de Lamego e o Agrupamento de Escolas de Latino Coelho.
Tendo como ponto de partida a coleção
de artefactos de origem africana que integrava o acervo de uma "Sala
Colonial" existente no antigo Liceu Nacional de Latino Coelho, hoje em
depósito no Museu de Lamego, este projeto investiga os instrumentos de
exaltação propagandística e de promoção do Império que integravam os institutos
e liceus públicos durante o Estado Novo. Na sequência de uma residência
artística de Catarina Simão em Lamego (2021-22), o filme reflete o processo de
trabalho com um grupo de alunos do 10o ano, no âmbito da disciplina de
Cidadania e Desenvolvimento, bem como de uma comunidade alargada de docentes da
Escola e da comunidade Lamecense em geral. Entendido como um projeto
pedagógico-reflexivo, “Sala Colonial” mobiliza uma visão crítica em relação aos
usos e representações do passado colonial, no sentido de trabalhar novas
interpretações para a coleção, desvinculando-a da ficção propagandística do
Estado Novo.
16h40 - Conversa com Catarina Simão seguida
de debate (Moderação de Sofia
Victorino)
17h30
– Encerramento
MODALIDADE DE PARTICIPAÇÃO:
Presencial