Somos estudantes do Instituto Politécnico do Porto, decidimos unir as nossas vozes às que, por todo o Mundo, se tem ouvido em oposição ao genocídio em curso na Palestina e em prol da paz e libertação dos povos colonizados. Apesar desta origem, a luta não se restringe aos estudantes e por isso convidamos as diversas camadas da sociedade que estejam solidárias com esta luta à mobilização conjunta. Do mesmo modo, também a nossa ação se estende para além do contexto académico, engloba reivindicações tornadas ao Estado português e suas instituições, como aos que apoiam e financiam o projeto de extermínio sionista onde quer que seja. O território palestino histórico está em regime de colonização há mais de um século pelo campo imperialista ocidental. Desde a criação do Mandato Britânico da Palestina, após a vitória dos aliados na Primeira Guerra Mundial, à criação do estado de Israel e consequentemente à ocupação da Palestina por colonos judeus de toda a Europa, o bloco capitalista do ocidente tem lucrado com a exploração dos recursos naturais e com o deslocamento e extermínio dos povos originários daquela região. Dessa maneira, compreendemos a existência de um estado de Israel como a afirmação da hegemonia das instituições burguesas imperialistas e do seu projeto de expansão. Paralelamente, a opressão à comunidade judaica em todo o mundo não se deve deixar justificar. Apesar do constante (e dotado de interesses) apoio militar e financeiro ao estado de Israel, o antissemitismo é parte integral da cultura ocidental. Ao contrário do que faz pensar, a manutenção do estado judeu serve como uma das principais ferramentas do antissemitismo desta era.
Por isso, não troquemos uma opressão pela outra, a solução para o antissemitismo não é a colonização da Palestina por judeus vindos do ocidente. Desde o dia 7 de outubro de 2023, com o escalar do conflito, verificam-se condições cada vez mais desumanas vividas pelos palestinos. O bombardear de escolas, hospitais, padarias, acampamentos de refugiados e rotas de fuga; o sabotar de fontes de luz, da eletricidade, da água e da ajuda humanitária não deixam dúvidas, o povo palestiniano está a ser alvo de um genocídio, de limpeza étnica embranquecida e normalizada pela grande midia sionista, burguesa e neoliberal. Israel perpetua uma política genocida, de punição coletiva e de violência paralela ao período da Nakba. A gravidade destas ações levou o Tribunal Internacional de Justiça, já por duas vezes, a decretar a aplicação de medidas preventivas que Israel se recusa a cumprir. Por isso afirmamos: Não há Palestina Livre sem o fim do projeto sionista e opressor do estado de Israel e das ofensivas imperialistas e colonialistas no Médio-Oriente. Lutamos, e somos solidários, com a resistência dos povos oprimidos de todo o mundo que lutam contra o capitalismo, o imperialismo e a ocupação colonial.
Temos vindo a assistir ao massacre do povo palestiniano, que, em nove meses, vitimizou já mais de 38 000 palestinianos, entre os quais cerca 14 000 crianças, de acordo com os dados oficiais do Ministério da Saúde da Palestina. A este número, somam-se os 87 mil feridos em bombardeamentos e ataques terrestres, dois milhões de deslocados dentro da Faixa de Gaza, e milhares que sofrem com a fome generalizada na região. Todos os dias somos confrontadas com imagens de bombardeamento, edifícios destruídos, corpos mutilados, queimados e violados, tanto que estas imagens se vão tornando parte do quotidiano, tornado normalidade. No entanto, não é normal nem aceitável presenciar um genocídio pelo telemóvel. Não é normal um povo ver-se obrigado a documentar a sua própria aniquilação para que possam existir provas, nem é normal a forma como o privilégio e supremacia europeia e branca compactuam com o silêncio e "não posicionamento" face ao genocídio. De facto, trata-se de um genocídio. A ONU alertou para os crimes de guerra praticados pelo estado sionista de Israel; África do Sul apresentou um processo contra Israel ao Tribunal Penal Internacional, considerando haver evidencias de um genocídio em curso e emitiu um mandato internacional para a detenção de Benjamin Natanyahu; 13 países juntaram-se a este processo e a ONU mesmo assim não tem conseguido travar os ataques de Israel que insiste em concluir o Nakba.
Acusamos, por todos estes motivos, o posicionamento “neutro” e “imparcial” de comportamento que o IPP tem tomado face a este assunto e ao reconhecimento da Palestina, atrasando e dando justificações nas quais não vemos fundamento. Acusamos a falta de reconhecimento e apoio que o IPP tem dado aos planos de ação e sensibilização pelo povo palestino que os alunos tentam levar avante. Não consideramos esta posição aceitável face às atrocidades humanitárias cometidas em Gaza desde o 7 de Outubro, e nos últimos 76 anos. Como instituição de ensino, o IPP deve perceber que nos seus estabelecimentos de forma, não só profissional, mas também pessoal, e por isso também nos valores que a mesma transmite e nos assuntos sobre os quais se debruça, devem ser (e são, muitas vezes) não só do foro académico, como também humanitário. Por isso, como grupo de estudantes do Instituto Politécnico do Porto, que contribuem para o funcionamento e manutenção do mesmo, repudiamos todos estes pontos.
As relações diretas mantidas com o estado israelita da parte de instituições portuguesas como o IPP, estão diretamente a proporcionar a Israel os meios para continuar o seu genocídio e limpeza étnica. Relações essas como as que o Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP) mantém com empresas como:
CEiiA - que mantém um acordo de 59 milhões de euros assinado com a Elbit Systems, que produz cerca de 85% do equipamento terrestre da IDF, tal como 85% dos drones usados pelas forças aéreas israelitas. Na segunda metade de 2018 - segundo informações da Comissão Europeia, é da responsabilidade do CeiiA a subcontratação com essa finalidade da empresa israelita Elbit Systems para o fornecimento do drone Hermes 900.
Faurecia - que gere uma plataforma tecnológica em Tel Aviv e mantém ligações a empresas israelitas, como a GuardKnox.
Ficosa - que está ligada a Karamba que por si tem ligações indiretas a IDF.
A visita de Dor Shapira, Embaixador de Israel em Portugal, às instituições do Politécnico do Porto, os protocolos de projetos de estágios propostos por empresas com ligações Israelitas que a ISEP-IPP propõe e promove aos seus estudantes e destacando também os planos de mobilidade de pessoal docente promovidos entre a ESS-IPP e a Universidade de Haifa, em Israel, entre 2019 e 2021, incentiva diretamente as relações económicas entre Portugal e Israel.
O IPP como instituição pública de educação deve bloquear todas as ligações israelitas que promovem a continuação deste genocidio.
Neste sentido, os alunos, docentes e trabalhadores do Instituto Politécnico do Porto exigem que a instituição:
- Reconheça o Estado da Palestina, pressionando juntamente com a comunidade estudantil e outras entidades a que o Estado Português o reconheça também;
- Condene o estado de Israel e o genocídio que este perpetua, afirmando a autodeterminação da Palestina;
- Corte de relações e boicote às instituições e organizações Israelitas de que são parceiros;
- Forneça e ceda espaços de acolho, integração e visibilidade a pessoas palestinianas e Árabes, permitindo o acesso às cantinas e lugares de estudo a estudantes e comunidade;
- Agilize a criação e desenvolvimento de espaços de partilha cultural e interligação para reforçar e incentivar a visibilidade dos povos, fomentando o diálogo e a consciencialização;
- E disponibilize apoio a todos os eventos, fóruns e manifestos que surjam em prol da paz e da humanidade;
Com tudo acima mencionado estas atrocidades humanitárias têm que ser condenadas e o reconhecimento do Estado da Palestina pelo Estado Português, mais do que necessário, é urgente.
Enquanto jovens e estudantes, reconhecemos um sentido de responsabilidade e solidariedade por todes os que em qualquer lado do mundo vejam as suas condições de vida e de dignidade num estado de precariedade e destruição.
Estudantes do IPP pela Palestina