CARTA 

Exma/o Representante da Universidade do Porto,


Nós, estudantes e membros da comunidade académica da Universidade do Porto (doravante referida como "U.Porto"), assim como trabalhadores e moradores da cidade do Porto e arredores, endereçamos esta carta à Reitoria da U.Porto e a todas as outras entidades responsáveis desta instituição para exigir que a U.Porto rompa imediatamente com todos os laços diretos e indiretos com o Estado de Israel, as suas instituições e empresas; e reconheça o atual genocídio em Gaza, defendendo o direito à autodeterminação da Palestina e o direito ao retorno. Exprimimos também com esta carta a nossa vontade de continuar a tomar ação, em solidariedade com a Resistência Palestina e a Intifada Estudantil Mundial que decorre nos Estados Unidos e no Mundo, para fazer ouvir a nossa voz e levarmos a que a U.Porto aceite as nossas reivindicações. A história julgará o vosso silêncio ou aplaudirá a vossa ação; chegou o momento de escolher um lado.

Não podemos ficar em silêncio diante do genocídio em curso na Palestina quando recebemos constantes relatos de pessoas massacradas à espera de ajuda alimentar, de hospitais invadidos, de valas comuns e de fuzilamentos sumários, entre muitas outras barbaridades. A cifra de 34 mil mortos é pensada por muitos como estando abaixo do número real de pessoas que pereceram neste genocídio. Mais de 70% das casas em Gaza também já se encontram em ruínas, obrigando 1,9 milhões de pessoas (85% da população total de Gaza) a sair das mesmas. Deste número, 1.5 milhões já se encontravam completamente cercadas em Rafah, uma cidade que contava com uma população de um pouco mais de 170,000 pessoas antes do intensificar do genocídio. Todas as universidades de Gaza foram destruídas, e os seus docentes e alunos são perseguidos e mortos pelas tropas sionistas, numa tentativa clara de destruir o futuro académico e intelectual da Palestina.

Sentimos a necessidade de tomar ação de qualquer forma. Como estudantes, sentimos a responsabilidade acrescida de usar a nossa influência. Especialmente no contexto português, onde nem com custos tão acrescidos com o ensino superior temos voz nem representação para denunciar este genocídio​​​​​​​. Assim, propomo-nos fazer o que tem sido feito por estudantes no resto do mundo, que em vez de baixarem os braços, agiram. Estes alunos descobriram as ligações, diretas ou indiretas, das suas universidades à maquinaria israelita e movimentaram-se para forçar o corte destas ligações. Nós propomo-nos a fazer o mesmo.

Depois de um processo de investigação, entendemos que a Universidade do Porto possui várias ligações alarmantes a entidades e empresas israelitas. Entendemos que a colaboração internacional é crucial para o desenvolvimento académico e científico e não questionamos os méritos de parcerias estratégicas. No entanto, a ciência não é um instrumento neutro, mas sim uma ferramenta que os estados e outros agentes políticos e económicos usam para avançar os seus objetivos. Não nos esquecemos do princípio da ética na Ciência - neste caso a pergunta que se faz é: quem é que o avanço tecnológico e científico deve servir? Podemos já estabelecer que "os responsáveis pela guerra, fome e genocídio" não devia ser a resposta, mas neste momento está a ser. Assim, a natureza destas colaborações com Israel e as consequências das mesmas merecem o máximo escrutínio e repúdio vindo da nossa parte.

Começando com uma ligação extremamente direta: as visitas de embaixadores e diplomatas israelitas a qualquer espaço pertencente à Universidade do Porto, com o exemplo mais recente sendo a visita do embaixador Dor Shapira, que recentemente disse à CNN Portugal:

“(O) genocídio é algo utilizado pela propaganda palestiniana, por forma a ganhar popularidade, principalmente em alguns meios académicos". 

Shapira visitou a Porto Business School menos de um mês antes do começo do atual genocídio na Palestina, que faz parte de uma política de eliminação do povo palestiniano que dura há décadas. Antes de assumir o papel de embaixador de Israel em Portugal, Shapira desempenhou diversas funções no Ministério de Negócios Estrangeiros de Israel, tendo até servido como diplomata israelita em Washington D.C.

Analisando os principais componentes da máquina de guerra israelita, rapidamente chegamos ao nome "Elbit Systems Ltd." que, de acordo com a DIMSE (Database of Israeli Military and Security Export), fornece até 85% do equipamento militar terrestre israelita e por volta de 85% dos seus drones. Na segunda metade de 2018, a CeiiA (Centro de Engenharia e Desenvolvimento de Produto), sediada em Matosinhos, assinou um contrato de 59,000,000€ com a Elbit para fornecimento do drone Hermes 900, usado extensamente nas operações militares israelitas. A Universidade do Porto possui várias parcerias com diversas iniciativas da CeiiA. 

Claro que a ligação da U.Porto à pesquisa e produção de drones não acaba aqui. O nosso próximo ponto de foco são as iniciativas ResponDrone e UnderSec: dois projetos da União Europeia que contam com a parceria do Ministério da Defesa de Israel, empresas estatais israelitas (como a Israel Aerospace Industries e a Rafael Advanced Defense Systems) e instituições de ensino superior israelitas (Universidade de Tel Aviv). Somando os apoios dados a estes projetos, chegamos a um valor de 14,000,000€ de fundos europeus. 

O Instituto de Biologia Molecular e Celular também faz parte de projetos, como o AgroServ e o ISIDORe, em que estão envolvidas a Universidade Hebraica de Jerusálem e o Instituto Weizmann para a ciência, ambas instituições que apoiam diretamente as forças militares de Israel. Além do mais, enquanto que o projeto AgroServ, virado para a agricultura, ramo da economia que em Israel está ligado à expropriação dos camponeses palestinianos, o projeto ISIDORe é virado para a pesquisa de doenças infeciosas, algo irónico dado que os ataques de Israel em Gaza têm levado a epidemias.

A Universidade do Porto também é uma das 22 entidades parceiras da InvestPorto, uma iniciativa de negócios da Câmara Municipal do Porto, que apoia as empresas israelitas (ou com grande investimento proveniente de Israel) Taga Urbanic, Fortera (envolvidos na Operação Babel), 33N Ventures (que investe na Panorays, empresa de cibersegurança israelita fundada por alumni da Mamram, unidade informática das IDF). 

Tendo tudo isto em conta, as nossas exigências são simples: em primeiro lugar, a Universidade do Porto deve cortar quaisquer parcerias (não só as mencionadas acima) diretas ou indiretas com Israel, as suas instituições e empresas. Entendemos que todas estas entidades ajudam, direta ou indiretamente, Israel a cometer as atrocidades que tem vindo a cometer. Quando dizemos "tem vindo a cometer", não nos referimos apenas aos últimos meses, mas a décadas e décadas de ocupação e apartheid. 

Em segundo lugar, a Universidade do Porto deve colocar-se firmemente contra o genocídio a decorrer na Palestina, que para além de ser a maior tragédia humanitária que atualmente vivemos, trata-se de um golpe fatal à comunidade académica na Palestina, que merece a solidariedade da comunidade académica internacional. A U.Porto deve usar os seus meios de comunicação e as suas infraestruturas para promover ações, campanhas, palestras e todas as atividades possíveis para chamar atenção ao que está atualmente a acontecer na Palestina, dando voz aos académicos palestinianos (que na sua maioria se encontram exilados) para partilharem as suas experiências e soluções. A U.Porto deve usar a sua influência para pressionar a Câmara Municipal do Porto, o Estado Português e a União Europeia quando estes mostram conivência com o estado de Israel - não existe problema em ter uma consciência e agir em consonância com a mesma - sendo que nós não devíamos estar a constatar o óbvio como se de algo polémico se tratasse.

Claro que, para concretizar as duas primeiras exigências, é necessário o reconhecimento do direito do povo palestiniano à autodeterminação. Dentro do universo universitário, isto também se demonstraria na criação de protocolos entre universidades portuguesas e universidades palestinianas com livre partilha de informação, programas de intercâmbio e várias iniciativas solidárias.

Se o primeiro pensamento depois de ler estas demandas é que tal não pode ser exigido de uma universidade, devido a esta não tomar posições políticas - basta pensarmos novamente (algo que devíamos fazer constantemente como estudantes e académicos), e perguntarmo-nos: "ao não fazer nada, não estamos também a tomar uma posição?"

Entendemos que as nossas demandas são justas e pretendemos mantê-las, sem quaisquer alterações ou concessões. A nossa luta não se resume apenas à U.Porto; no entanto, como a breve investigação apresentada nesta carta indica, tudo está interligado - e nós vamos marcar a nossa posição frente a qualquer nível de cumplicidade, começando pelo mundo académico. Lutamos em solidariedade com os estudantes nos Estados Unidos da América e em todo o mundo, que enfrentam violência e difamação constantes para lutar pelo que está certo: pela emancipação humana contra o genocídio e o militarismo rampante.

Chamamos todos os estudantes, por todo o país, a tomarem ação nos estabelecimentos de ensino e nas ruas. E por isso gritamos, à espera que ouçam o vosso dever e se juntem às nossas vozes: Palestina Livre!



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