Subscrição ao Manifesto | 1ª Marcha do Orgulho LGBTQIA+ de Esposende

Hoje fizemos história. Hoje fizemos a Primeira Marcha do Orgulho LGBTQIA+ de Esposende. Hoje mostrámos as nossas cores, a nossa garra, a nossa vontade de lutar. 

Estamos aqui para mostrar que existimos, que o movimento LGBTI+ não acontece só nas grandes cidades, que Esposende também tem uma comunidade de pessoas lésbicas, gays, bissexuais, trans, intersexo e todas as pessoas que saiam das caixas limitadoras impostas por esta sociedade.

Nós estamos aqui e estamos aqui para ficar. Viemos para tornar assunto um não assunto. Viemos abraçar o elefante na sala. Viemos para quebrar o silêncio.

Em Portugal, a comunidade LGBTI+ tem vindo a conquistar vários direitos. Em 1982, vimos descriminalizada a homossexualidade. Em 2010, foi legalizado o casamento entre casais do mesmo sexo, e em 2016 passa a ser permitida a adoção homoparental. É aprovada, em 2018, a lei da autodeterminação de género e, mais recentemente, em 2021, foram removidas as discriminações legais que dificultavam a dádiva de sangue por homens que têm relações sexuais com homens.

Na Europa, com a ascensão da extrema-direita, vemos países como a Polónia, onde se instiga o ódio através da promoção de “zonas livres de pessoas LGBTI+”, com o propósito de excluir todes aqueles que não se enquadrem na norma de género ou orientação sexual.

Após mais de 50 anos das revoltas de Stonewall, da Primeira Marcha do Orgulho em Chicago e 22 anos depois da Primeira Marcha do Orgulho em Portugal, a luta pelos nossos direitos, nesta cidade, começa aqui. 

Em fevereiro deste ano, começámos a dar os primeiros passos na luta LGBTI+ em Esposende, com a abertura de um núcleo de jovens LGBTI e apoiantes, sendo o propósito deste, unir a juventude LGBTI+ de Esposende. Mas precisamos de chegar a muitas mais pessoas. 

Apesar de este espaço seguro ter sido criado, o medo da exposição ainda prevalece. É sempre mais difícil lutar pelos nossos direitos em meios mais pequenos, e a comunidade juvenil LGBTI+ de Esposende ainda tem medo de sair à rua, ainda se mantém reclusa, ainda não se atreve a ocupar o espaço que é seu por direito, nas ruas deste município que também é deles.

Existe uma invisibilidade e anulação da nossa existência que, há muito, perdura e que é inaceitável. Além disso, a pandemia veio agravar a situação de fragilidade, discriminação e violência sobre a comunidade LGBTI+, especialmente nos grupos mais vulneráveis ou em situação de dependência financeira. 

Ficar em casa, não sair de casa, conviver com a família. O que para alguns significa conforto, amor e proteção, infelizmente, para muitas pessoas LGBTI+ significa opressão, desproteção e até perigo. Foram, e continuam a ser, muitos os relatos de pessoas trans em situação de discriminação nas suas casas, ambiente escolar e laboral, ambientes estes que se recusam a aceitar e respeitar as suas existências e identidades.

Não é seguro caminhar pelas ruas de Esposende. Não podemos existir livremente no espaço público sem que tenhamos que anular, reduzir e dissimular a nossa verdadeira identidade. 

Somos alvo de comentários violentos e LGBTIfóbicos de pessoas que se sentem no direito de impôr a sua opinião inoportuna e impertinente quanto à forma como nos apresentarmos ao mundo, a confiança que demonstramos em sermos nós mesmes, a felicidade que irradiamos em vestirmos todas as nossas cores. Mas para essas pessoas, temos um recado: 

Eduquem-se. Melhorem-se. Sejam maiores do que isso. Saiam dessa bolha de ignorância e medo da diferença. Experimentem tentar conhecer outras formas da existência humana. O mundo é muito mais do que só preto e branco. O mundo é todas as cores do espectro.

Nós não cabemos em caixas convenientes e de fácil compreensão. A diversidade humana é bastante mais complexa e completa, está muito para além dos limites que a sociedade normatizadora impõe.

Vivemos num tempo e lugar onde ainda temos que ouvir frases como: “cada um faz o que entende, só não o façam à minha frente”, “está tudo bem, desde que não seja o meu filho”, “não tenho nada contra, mas”. Somos tratades como uma inconveniência, um incómodo. A sociedade espera que vivamos às escondidas, em reclusão. Que nos acomodemos às suas convenientes diretrizes e anulemos as nossas próprias identidades e vivências. A sociedade não hesita em exercer de um auto atribuído poder de julgamento, sempre que ousamos lutar pelos nossos direitos, e nos atrevemos a ocupar o espaço que nos pertence, ao invés de nos conformarmos com uma vivência reduzida e reprimida, imposta pelo sistema social atual.

A sociedade considera as nossas intervenções públicas um ato de rebeldia e exibicionismo.  Perguntam-nos porque marchamos? Perguntam-nos, à boca cheia: “que mais direitos é que vocês querem?” Pois nós respondemos, a bandeiras despregadas: não queremos, nem menos, nem mais, queremos direitos iguais! 

Já conquistámos muitos direitos, já temos várias leis que nos protegem, mas na sua vasta maioria, ainda só existem na teoria, ainda não se refletem na nossa vivência diária. Enquanto existir medo de sair à rua, o nosso trabalho não está feito. Enquanto existir um “mas” a condicionar uma aparente aceitação, enquanto a frase for “eu não sou LGBTIfóbico, mas”, nós faremos questão de erguer os punhos e ocupar as ruas. Faremos ecoar para que todes escutem: Se nos apoiam, façam-no por inteiro e incondicionalmente.

Para aquelas e aqueles que escolhem manter-se na neutralidade, quer sejam  pessoas LGBTI+ ou não, deixamos esta reflexão: o vosso silêncio é consentimento. O vosso silêncio é o perpetuar da nossa invisibilidade. A sociedade não se moverá em direção alguma, enquanto a nossa postura for neutra. Aquilo que a sociedade precisa é de pessoas com opinião. Aquilo que a sociedade precisa é de pessoas que se atrevem a defender todas as formas da existência humana. A neutralidade traduz-se em inércia. Não há espaço para a hesitação, quando o assunto é a defesa de direitos humanos. 

Todes nós carregamos uma responsabilidade social, pelo simples fato de sermos seres humanos. Como tal, todes devemos procurar praticar o ativismo no nosso dia-a-dia. O ativismo é uma tarefa tua, minha e de todes nós. Podemos praticá-lo em casa, na escola, no trabalho ou na rua. Podemos praticá-lo nos atos mais simples do nosso dia, seja pesquisarmos e informarmo-nos para as questões LGBTI+, seja utilizando os pronomes corretos daquela pessoa trans na nossa escola, seja corrigindo um colega no trabalho, quando faz um comentário LGBTIfóbico.

Seja de que forma for, esta cidade está a precisar destas e destes ativistas. O ambiente de Esposende é de preconceito, passividade agressiva e anulação da existência das pessoas LGBTI+. Das 35 000 pessoas que existem em Esposende, acham mesmo que não existe uma comunidade LGBTI+ a precisar do nosso apoio? A precisar, urgentemente, de representatividade e de ver os seus direitos assistidos?

Existe a ideia de que somos uma minoria social, que existimos dispersos e diluídos numa maioria normativa. Mas já alguma vez se questionaram: até que ponto é que somos, de facto, uma minoria? Até que ponto é que não somos apenas um grupo incontabilizável de pessoas silenciadas pelo preconceito e medo da diferença? Quantes de nós ainda estão no escuro armário? Quantes de nós nunca chegaram a sair dele e a entrar para os números? Só saberemos a dimensão desta comunidade, no dia em que ser LGBTI+ não for motivo de escrutínio, e todes se sintam acolhides e encorajades a saírem para a luz do dia.

Fazer ativismo em meios pequenos é assustador em dobro. A preocupação pela exposição social acentua-se, e o medo de nos assumirmos toma conta de nós. É mais fácil pensarmos que nunca nada vai mudar. É mais fácil pensar que tudo se vai manter como está, porque de maneira alguma vamos conseguir mudar a forma de pensar da comunidade destes ambientes pequenos e tendenciosos. Mas deixar de investir nestes é o mesmo que assumir que estes são desterro. É assumir que são de menor importância, que não merecem o nosso tempo, dinheiro e dedicação. A causa LGBTI+ nestes mesmos meios pequenos não é exceção.  

Precisamos de acreditar que uma mudança em Esposende é possível. Não podemos baixar os braços, por medo da opressão e julgamento, porque a causa não se vai lutar por ela mesma. Perpetuar este padrão de silêncio e repressão só levará as pessoas LGBTI+ que aqui habitam a abandonarem esta terra, não apenas em busca de melhores oportunidades, mas também em busca da aceitação que aqui não encontram. 

Comunidade LGBTI+ de Esposende: nós sabemos que esta luta é difícil e inglória. Sabemos que o medo é muito e que este é um peso que ninguém deveria, nunca, ter de carregar mas, se nos queremos sentir bem na nossa terra, então temos que acreditar nela. Nunca veremos os nossos direitos respeitados enquanto não nos atrevermos a lutar pelo nosso lugar aqui. A nossa luta está só a começar, e o caminho está todo por trilhar. Saiam à rua, marchem connosco, juntem-se ao movimento que se está a gerar, estendam os braços e apoiem estas reinvidicações. Sejam pilares desta luta. Sejam propulsores desta luta. A nossa luta só vai vingar quando formos tantos que já não cabemos. Quando o nosso ruído for maior do que as buzinadelas dos carros e os gritos dos opressores.

Lutamos pela representatividade nos estabelecimentos de ensino. Não faz sentido estarmos a formar pessoas para a vida e não incluirmos as questões LGBTI+ nos currículos. A verdadeira mudança nasce na educação, e as escolas deste concelho não estão a fazer o seu trabalho em educar as nossas crianças e jovens na aceitação e tolerância. Ao invés, estão a perpetuar comportamentos discriminatórios entre os pares, e a gerar um ambiente de insegurança e perigo para a juventude LGBTI+. É na escola que desenvolvemos carácter e formamos opiniões, é crucial que a educação para as questões LGBTI+ seja contemplada desde cedo, numa fase do nosso crescimento onde estamos receptives e existimos sem julgamentos.

Precisamos de formar as nossas pessoas docentes, auxiliares e outros profissionais da área da educação e ação social, para que estas estejam capacitadas a educar para a igualdade. Para que estejam preparadas para gerir situações de discriminação, ainda tão gravemente frequentes em ambiente escolar.

Lutamos por um Sistema Nacional de Saúde mais preparado para lidar com as pessoas LGBTI+. Lutamos por um atendimento médico digno e informado, que respeite a identidade individual de cada um. O acesso aos cuidados de saúde para pessoas trans, no Serviço Nacional de Saúde é labiríntico e moroso. As listas de espera são infindáveis, e o peso da espera espoleta frustração e uma necessidade acrescida de atendermos à saúde física e mental das pessoas trans que são sujeitas a estas condições precárias.

Esta manifestação existe para defender os direitos humanos dos munícipes LGBTI+ de Esposende, e funciona como um serviço à comunidade do município de Esposende, na defesa dos seus direitos. Esta não é uma iniciativa para ser tratada como um evento de caráter desportivo ou cultural. Trata-se de uma problemática urgente sobre direitos humanos básicos. Precisamos do apoio dos órgãos de autoridade deste Município, sem o qual se tornará ingrato para nós, algum dia, sermos ouvides e respeitades. Esta luta não deveria ter que ser marginal. Esta luta merece todo o apoio que o Município tem o poder de dar, e não temos escolha, senão erguer as nossas bandeiras, enquanto assim não o for. Os direitos das pessoas munícipes, devem, sempre, ser a prioridade de um município.

Pessoas LGBTI+ e apoiantes de Esposende: 

Já se começam a sentir os ventos da mudança. Abram as janelas, escancarem as portas, deixem os ares da maresia correr. Vento Norte, Orgulho Forte!


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