Lançado em março de 2025, o manifesto Sementes da Esperança propôs a formação de “uma rede de Núcleos de Base, autônomos, auto-organizados, multipartidários e plurais” capaz de “reavivar os desejos de participação política social, de justiça, em compromisso com a vida, para transformar a sociedade”.

A iniciativa repercutiu em Belo Horizonte, no mês de julho, com a criação do Núcleo Popular Célio de Castro (ex-prefeito da capital mineira), unificado em torno da defesa da soberania nacional, da revisão da escala de trabalho 6X1, da justiça tributária, da denúncia da devastação ambiental autorizada pela maioria do Congresso e pela ampliação da presença de mulheres na política.

Cria-se agora, em São Paulo, o Núcleo Ulysses Guimarães. 

Suas bandeiras iniciais são:

– Soberania e democracia. A soberania brasileira sofre desde o início de julho agressões crescentes por parte do governo dos Estados Unidos. Elas alcançaram extrema gravidade com a entrada em vigor de tarifas abusivas de importação de produtos de exportação do país para o mercado americano. A motivação não é de natureza econômica, mas política. O presidente Donald Trump tenta chantagear o Judiciário e abalar os demais poderes da República, com o objetivo de evitar que sejam punidos os responsáveis pela tentativa de golpe de Estado culminada em 8 de janeiro de 2023. Obtido esse intento, estariam solapadas as bases do regime democrático, cuja constante ampliação, aprofundamento e consolidação são indispensáveis à construção, pelos brasileiros, de soluções fecundas e duradouras para seus problemas. 

– Combate à desigualdade e à injustiça tributária. O combate à desigualdade se desdobra numa série de terrenos, como emprego e renda, insegurança, criminalidade e violência policial, condições de saúde, educação, racismo e toda gama de preconceitos. No terreno político, uma das vertentes cruciais é a maior participação de mulheres. O combate às desigualdades tem hoje um front: pela isenção do IR para quem ganha até 5 mil reais por mês e a taxação de quem ganha  mais de 50 mil por mês. 

– Campanha pelo fim da escala 6X1. Capitaneada pelo movimento Vida Além do Trabalho (VAT), visa a melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores, evitar o adoecimento e a precariedade das vidas de quem trabalha seis dias por semana com apenas um de descanso. Reivindica uma mudança na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

– Combate à crise climática. Entre outras consequências nefastas, a elevação da temperatura do planeta provocada pela ação humana causa eventos extremos que já afetam seres vivos em todos os continentes. É imperioso tentar evitar, entre outras consequências, que milhões de pessoas sejam obrigadas a migrar devido a secas, enchentes, calor extremo e elevação do nível dos mares. A devastação ambiental rouba do Brasil um de seus atributos de grandeza e importância no mundo e ameaça a vida de seu povo.

A força dos núcleos, como indicado no manifesto Sementes da Esperança, estará, mais do que na ampliação do número de seus integrantes – sem restrições quanto a filiação partidária, religião, trajetória, desde que comprometidos com a dignidade humana e a emancipação social –, em sua multiplicação e articulação em torno das pautas que o movimento adote a cada etapa da caminhada.

Lembremos a frase pronunciada por Ulysses Guimarães ao promulgar a Constituição Cidadã de 1988: “Temos ódio e nojo à ditadura”. Lembremos, ainda, que sua concepção de democracia era indissociável da defesa de um desenvolvimento social que contemple a redução das desigualdades e a busca de melhores condições de vida para todos os brasileiros.

Em quase quatro décadas transcorridas desde então, muito se fez e muito mais precisa ser feito. Que este movimento mobilize brasileiros de todos os quadrantes. Mãos à obra.