Leia o texto e responda às questões 05, 06 e 07. *Tati, a garota* (Aníbal Machado). Vendo que era mesmo impossível, Tati desistiu de pegar o raio de sol estendido no chão. Os dedos feriam a terra inutilmente: o reflexo não tinha espessura. Seu capricho agora era com a água. Queria ver se retirava ao menos um pedacinho do tanque, mas o líquido suspenso em suas mãos vira uma coisa diferente que se desmancha logo, cintilando entre os dedinhos. E na superfície do tanque não ficava a menor cicatriz!...É a primeira vez que Tati brinca na água com intenção de agarrá-la, de lhe sentir o mistério. Fica tão absorta, que os apelos “Anda, Tati! Larga isso, menina!”, que vêm da janela, nem chegam a ser ouvidos. Logo depois, começa a ventar. Mas, com o vento era diferente: Tati já sabia que ele nunca se deixa agarrar nem ver, embora viva sempre em toda parte dando demonstrações de sua presença. Esse vento!... Antes de subir, joga água em si mesma, apressadamente, borrifando-se no rosto, no vestido como mulher que se perfuma. Chegando a noite, Manuela atira-se à cama, sem responder a algumas perguntas que lhe faz a filha, sempre intrigada com a água. Debaixo das cobertas, Tati ainda balbucia os últimos pedidos: um carrinho e um patinho igual ao que viu nas mãos de outra criança. – Esse menino que tinha patinho, não sabe, mamãe? Comia cada bombom que só você vendo!... O papel era uma beleza! Aqui, eu acho que todo mundo come muita bala, também... – Dorme, Tati. – Aqui é bom. – Dorme... [...]MACHADO, Aníbal. A morte da porta-estandarte; Tati, a garota e outras histórias. São Paulo: José Olympio, 1997. (adaptado)