TEXTO "OS DESASTRES DE SOFIA" - Qualquer que tivesse sido o seu trabalho anterior, ele o abandonara, mudara de profissão e passara pesadamente a ensinar no curso primário: era tudo o que sabíamos dele. O professor era gordo, grande e silencioso, de ombros contraídos. em vez de nó na garganta, tinha ombros contraídos. Usava paletó curto demais, óculos sem aro, com um fio de ouro encimando o nariz grosso e romano. E eu era atraída por ele. Não amor, mas atraída pelo seu silêncio e pela controlada impaciência que ela tinha em nos ensinar e que, ofendida, eu adivinhara. Passei a me comportar mal na sala. Falava muito alto, mexia com os colegas, interrompia a lição com piadinhas, até que ele dizia, vermelho: - Cale-se ou expluso a senhor da sala. Ferida, triunfante, eu respondia em desafio: pode me mandar! Ele não mandava, senão estaria me obedecendo. Mas eu o exasperava tanto que se tornara doloroso para mim ser objeto do ódio daquele homem que de certo modo eu amava. Não o amava como a mulher que eu seria um dia, amava-o como uma criança que tenta desastradamente proteger um adulto, com a cólera de quem ainda não foi covarde e vê um homem forte de ombros tão curvos. [...] - Clarice Lispector *
1. "O professor [...] de ombros contraídos. Em vez de nós na garganta, tinha ombros contraídos". Tudo parece afirmar que esta característica do professor é de ordem moral, não física. Todas estas passagens confirmam. Confrontando a expressão "ombros caídos" com outras características atribuídas ao professor, não podemos concluir que indique uma qualidade física e sim psíquica. TODAS ESTAS PASSAGENS CONFIRMAM O QUE SE DIZ, EXCETO: