Page 1 of 2
1
0
Este Boletim MarkEsalq está dividido em duas partes, apresentando informações gerais sobre
uma das commodities mais importantes do Brasil, a carne.
Nesta primeira parte o conteúdo está dividido em três itens; no primeiro alguns aspectos e
curiosidades sobre o produto; no segundo, informações e indicadores do comércio em nível
global; por fim, no terceiro item, algumas ações e cases de marketing, realizadas para essa
commodity. A segunda parte abordará curiosidades e informações sobre a produção mundial e
sobre as exportações brasileiras do produto em questão.
Sugestões e comentários são bem vindos e podem ser realizados pelo e-mail
grupo@markesalq.com.br e pelo blog do boletim boletimmarkesalq.blogspot.com.br
Boa leitura!
A carne bovina, até então tratada como commodity, é um produto
extraído do gado bovino e conta com inúmeros amantes, porém por
outro lado existem aqueles que repudiam seu consumo, seja devido à
sua religião, estilo de vida ou próprias convicções. Porém, por ser fonte
de ferro e de nutrientes, a carne bovina se revela importante na
alimentação principalmente nas regiões mais pobres do planeta.
No Brasil, a pecuária teve seus primeiros registros no século XVI,
período de colonização. Em uma das expedições de exploração do atual
território nacional os portugueses trouxeram os primeiros bovinos para
onde, hoje, se localiza o estado da Bahia, todos oriundos de Cabo Verde.
[3]
Segundo Furtado [4], o governo chegou a proibir a criação de gado na
faixa litorânea, onde se localizavam as unidades produtoras de açúcar.
Essa separação, entre a atividade açucareira e criatória, provocou o
surgimento de uma economia dependente no nordeste e,
posteriormente, no sul do Brasil. A pecuária contribuiu para demarcar
fronteiras no território brasileiro e para desenvolver o país, já que
gerava renda.
Neves [5] relata que o gado deixou de ter sua importância na força
motriz na década de 60, com a chegada da indústria de tratores. Até a
década de 70 a atividade permaneceu rentável com os incentivos
governamentais. Porém, nas duas décadas posteriores o custo da
produção sofreu um aumento devido às inserções de novas formas de
manejo e nutrição, isso possibilitou ao Brasil produzir carne bovina em
escala. No entanto, os investimentos na atividade tinham que ser cada
vez maiores. Neves também destaca que, entre o final da década de 90
e 2010, a produção triplicou, mudando o papel do país de importador
para exportador.
Comércio Mundial de carne bovina
De 2004 a 2008, a produção mundial teve um aumento de
5,21% e apresentou queda nos anos posteriores devido à crise
internacional. Desde então, a mesma se manteve relativamente
constante.
A exportação mundial de carne bovina cresceu 27,88% entre
os anos citados devido ao aumento da demanda mundial (Tabela 1).
Brasil e Índia merecem destaque como exportadores. A importação
também cresceu nesse período e tende continuar aumentando, reflexo
do aumento da população e renda dos países emergentes,
principalmente do sudeste asiático, do norte da África e do Oriente
Médio.
Essa discrepância entre a produção e o aumento do consumo
preocupam especialistas, segundo o Relatório da Pecuária Municipal do
IBGE (2010), fatores como o crescimento populacional; as adversidades
climáticas, com as secas ocorridas na China, Rússia e EUA; as oscilações
do preço do petróleo, agravadas com a crise na Síria; a utilização de
terras agricultáveis para a produção de biocombustíveis e a própria crise
econômica mundial.
No entanto, o Rabobank considera que, para o segundo
trimestre de 2013, as ofertas globais continuem próximas
ao ano anterior, com um pequeno crescimento que
será resultado da produção do Brasil, Argentina,
Uruguai, Austrália e Nova Zelândia.
Boletim MARKESALQ A CARNE Parte I
ANO 1 No4 Out. 2013
Produção Importação Consumo Exportação
2004 55.475 6.146 55.044 6.726
2005 56.041 6.782 55.525 7.375
2006 57.574 6.841 56.757 7.588
2007 58.451 7.104 57.847 7.635
2008 58.367 6.773 57.501 7.605
2009 57.180 6.550 56.209 7.458
2010 57.303 6.619 56.151 7.822
2011 57.058 6.421 55.367 8.090
2012* 57.257 6.674 55.759 8.134
2013** 57.527 7.077 56.044 8.601
Tabela 1.
(principais países comerciantes, mil toneladas equivalente carcaça).
Comércio de carne bovina mundial
*Preliminar **Previsão Fonte: Elaborado pela autora a partir de MAPA (2010), UNITED STATES (2013)
Produção Importação Consumo Exportação
A carne bovina sempre foi tratada como uma commodity, com pouca
distinção entre as marcas. Até então, a campanha de marketing mais
expressiva foi realizada no âmbito internacional pela Associação
Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC), o Brazilian
Beef/Apex, com o objetivo de melhorar a percepção da qualidade da
carne bovina brasileira, fortalecer sua imagem e, consequentemente,
aumentar a participação brasileira no mercado mundial de carne
bovina.
Foi no fim de 2010 que a JBS, maior empresa de processamento de
proteína animal do mundo, iniciou um movimento para construção
de marcas e lançamento de produtos cárneos com valor agregado no
Brasil. Assim, as trinta e cinco marcas que a empresa trabalhava nesse
segmento agregaram-se em duas: Friboi e Swift. Pesquisas com
consumidores concluíram que grande parte da população não
conhecia a origem da carne que compravam, pois priorizavam a
confiança no ponto de venda, seja nos açougues ou supermercados.
A partir desta e de outras constatações, a empresa decidiu realizar
uma campanha com várias fases de execução e objetivo de mudar o
comportamento de compra do brasileiro, fazendo com que o
consumidor escolha a marca da carne bovina, assim como acontece
com a suína. A primeira fase teve seu início no final de 2011, com o
título “Confiança é nossa história”, nessa fase um vídeo mostrava a
trajetória do Zé Mineiro, fundador da Friboi.
Page 2 of 2
2
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] ABREU, Kátia. Arquitetura do Monopólio. Folha de São Paulo online. 2013. Disponível em:<
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/124393-arquitetura-do-monopolio.shtml>. Acesso em: 16 de out. de 2013.
[2] DBO. JBS deixa Abrafrigo. Disponível em:
<http://www.portaldbo.com.br/portal/Conteudo/Noticias/7240,,JBS+deixa+Abrafrigo.aspx>. Acesso em: 16 out. 2013.
[3] FELIPOZZI, Luanna Barruffini ; GAMEIRO, A. H. . Os impactos de barreiras não-tarifárias nas exportações de carne
bovina brasileira. In: Augusto Hauber Gameiro. (Org.). Competitividade do agronegócio brasileiro: textos selecionados.
1 ed. Santa Cruz do Rio Pardo: Viena, 2006.
[4] FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, 2007.
[5] NEVES, M. F (Org.). Estratégias para a carne bovina no brasil. São Paulo, Atlas, 2012.
[6] PATURY, Felipe. Frigorífico JBS lucrou R$ 300 milhões com campanha da Friboi. Época online. 2013. Disponível
em: < http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/felipe-patury/noticia/2013/09/br-300-milhoesb.html>. Aceso em: 16 de
out. de 2013.
[7] SIMON, Cris. Friboi quer vender carne pela marca e não apenas pela aparência. Exame online. São Paulo, 2012.
Disponível em: <http://exame.abril.com.br/marketing/noticias/friboi-quer-vender-carne-pela-marca-e-nao-apenas-pela- aparencia>. Acesso em: 16 out. 2013.
A segunda fase da campanha ocorreu logo em seguida e incluía uma
promoção, na qual os produtos Friboi vinham com um selo e a cada
cinco selos juntados mais R$5,00, poderiam trocar por uma miniatura
de astros sertanejos – Luan Santana, Victor, Léo, Zezé Di Camargo ou
por Luciano. Um vídeo foi vinculado com esses cantores explicando o
mecanismo da promoção “Miniastros”, como ficou conhecida. O
objetivo da campanha foi fazer com que o brasileiro começasse a
pedir pela marca Friboi e teve, como resultado, um aumento de 20%
nas vendas de carne bovina entre outubro e dezembro de 2011 e, se
comparada ao mesmo período de 2010, as vendas subiram 57%. [7]
Em 2013, foi vez de Tony Ramos (Figura 1) estrelar mais uma etapa da
campanha da Friboi, ator conhecido que passa imagem de confiança.
Com as premissas de ter forte papel mobilizador, ser popular, didática
e ter uma celebridade com forte conexão com o público final, a
campanha teve, inicialmente, duas etapas.
A primeira foi o lançamento, com um vídeo no qual o ator Tony Ramos
falou sobre origem, procedência, higiene e qualidade do produto;
mostrando imagens de um dos frigoríficos Friboi.
Já a segunda etapa teve o objetivo de estimular o hábito de pedir pela
marca Friboi nos pontos de venda. Nos novos vídeos, Tony Ramos
aparecia no supermercado e, ao observar os consumidores
comprando carne sem olhar a marca, perguntava a eles se a carne era
Friboi. Ainda, quando esses consumidores pediam ao açougueiro um
pedaço de carne, o ator aparecia questionando se os mesmos
perguntaram se é Friboi, pois, segundo ele, “carne de qualidade tem
nome”. A mesma pergunta foi feita pelo ator em um vídeo no qual os
consumidores, em um restaurante, pediram por um prato que
contemplava carne bovina.
A campanha também teve grande impacto nas redes sociais e chegou
a virar “meme”, no qual os internautas ironizaram a pergunta “essa
carne é Friboi?”, ao fazerem analogias a outras situações,
principalmente, em relação à beleza, com diálogos como: “olha que
mulher linda, será que é Friboi?”. Esses “memes” se tornaram um
viral, aumentando a repercussão da campanha da Friboi e virou até
uma música sertaneja do cantor Léo Mendes, com nome “Garota
Friboi”.
O impacto? Um crescimento de 20% nas vendas e, com maior
demanda pela marca, os preços aumentaram 5%, o que refletiu um
aumento de R$300 milhões no lucro da empresa em cinco meses. [6]
Em outubro de 2013, uma nova etapa da campanha foi lançada, com
o objetivo de mostrar como as anteriores mudaram o hábito de
compra do brasileiro, fazendo com que os mesmos comprassem a
marca. Assim, os vídeos, também com o Tony Ramos, abordam como
os consumidores passaram a comprar carne. Além disso, essa etapa
da campanha também contou com um website, no qual o público
poderia fazer o download de um “RingTony”, um toque de celular com
a voz do ator falando os jargões da campanha.
No entanto, se essas campanhas trouxeram um lucro milionário por
um lado, por outro foram alvos de polêmica no setor. Primeiramente,
foi questionado o fato da primeira fase da campanha, que mostrava o
ator Tony Ramos falando sobre a origem e higiene dos frigoríficos, ter
sido lançada logo após a apresentação de uma reportagem, do
programa Fantástico, sobre frigoríficos clandestinos no horário nobre
de domingo, causando grande repercussão no público em geral.
O segundo ponto de polêmica ocorreu quando Kátia Abreu, Senadora
e Presidente da Confederação da agricultura e pecuária do Brasil
(CNA), considerou que a estratégia de marketing da JBS trabalha com
a intenção de que a empresa ganhe o monopólio do setor. Katia
também afirmou que centenas de médios e pequenos frigoríficos
concorrentes passam por dificuldades financeiras e foram
desqualificados pela campanha, enquanto a JBS só pode investir
nessa estratégia de marketing por causa dos R$ 7 bilhões que obteve
do BNDES. Kátia acredita que a campanha divulga a marca Friboi
como única a possuir atributos de qualidade. [1]
A polêmica continuou quando a Associação Brasileira de Frigoríficos
(Abrafrigo) emitiu uma nota que criticava a segunda etapa da
campanha, na qual o ator Tony Ramos surpreendia os consumidores
no ponto de venda os instruindo a comprar a carne Friboi por ser a
única que possui qualidade comprovada, com a frase “carne de
qualidade tem nome”, por desmerecer o trabalho do SIF (Selo de
Inspeção Municipal, Estadual e Federal) na visão da Abrafrigo. Após a
divulgação da nota, em julho de 2013, a JBS deixou de fazer parte
dessa Associação. [2]
Fonte: Blogspot
“ carne de qualidade tem nome ”
Pesquisas com consumidores concluíram que
grande parte da população não conhecia
a origem da carne que compravam