MARIA
I. A Flor
Pistilo e estame se casam numa flor.
Qualquer Maria se casa em uma mulher.
Depois a Maria lambe uma flor, cruza o pistilo e o estame, e do pólen nasce uma mulher. Depois a mulher se amamenta no néctar da Maria - a força para ser Rosa.
Ah! E rosas possuem espinhos, não só como defesa, mas como órgão quente veemente entranhado em seus escopos.
E flores possuem beleza e mistério e desabrocham em qualquer Maria.
II. O Sangue
Carmim derramado entre as pernas.
Vida nascendo entre os joelhos.
Lágrimas rubras em todos os janeiros.
Epifania nas noites extra-uterinas –
Onde se misturam placenta e escarlate
E onde não se sabe se a Maria é dor ou alegria
Sabe-se apenas que, inconfundivelmente, ela é mulher.
III. A Mãe
Fecham os olhos e vêem.
Silenciem e fustiguem as suas orações.
Há uma mãe virginal que pari os seus filhos pelos os corações.
Há uma senhora verde, com tetas grandes, aleitando o universo.
Há uma raiz gigante que fortifica o nosso pé e a nossa fé.
Mora lá dentro do nosso corpúsculo, a deusa primordial
Tão cheia de viço e natureza, que é a concentração do nosso natural
A Maria mãe que deu à luz aos deuses e as minúsculas partículas dos verbos.
Àquela que pariu o Gênese, e deu as suas próprias maçãs aos que tinham fome.
Àquela que não só nos coloca embaixo do seu sagrado manto, como nos aconchega em sua barriga, rasgando o seu umbigo e liquefazendo o seu íntimo ao nosso.
A Maria mãe que em seu sexo constrói todo o colosso.
IV. A Mandala
A roda de cura.
A barriga delicada e sedenta que gera os cernes e sementes
Filhos, pássaros, cachoeiras e serpentes.
A fragilidade e a força
Que permeiam o nosso motriz.
Colorida de flores - matizada de nuances rubra - em exaltação a uma grande mãe:
A Maria
fala, também, através da mandala.
Daniella Paula Oliveira