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Povos Indígenas do Rio Negro

Mito, Poder, Conflito e Práticas Associativistas.

Prof. Dr. Renato Athias[1]

Para citar:

ATHIAS, R. Pueblos Indígenas del Rio Negro. Mito, Poder, Conflicto y Practicas Asociativas. In: Angel B. Espina Barrio. (Org.). Conflicto y Cooperación. 1a ed. Salamanca: Imprenta Provincial/ Diputación de Salamanca, 2005.

Introdução

Desde os anos setenta os povos indígenas da região do Rio Negro convivem com o processo associativista em diferentes concepções e formas. Nesta última década, houve um crescimento importante do número de associações indígenas e cada uma delas referindo-se a uma área geográfica especifica, agrupando grupos indígenas de diferentes etnias, com interesses comuns. E com o propósito de coordenar esse movimento surge em 1987 a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), acumulando atualmente uma representatividade significativa, que a legitima como interlocutora privilegiada nas negociações em vários níveis de poder. Este trabalho pretende analisar o processo de criação das associações indígenas, que tem um caráter distinto do modo fazer política associativista, situar as especificidades do mito e narrativas indígenas sobre ocupação territorial possibilitando um maior entendimento sobre as associações no Rio Negro. É um texto exploratório no sentido de ampliar o debate sobre as formas organizativas dos índios dessa região possibilitando assim apresentar o discurso atual do movimento indígena com relação a suas expectativas e os interesses do particularizados de grupos indígenas da região.

A região do alto Rio Negro está situada no Noroeste Amazônico, em área fronteiriça do Brasil com a Colômbia e a Venezuela, compreendendo um território de 108.000 km2 de terras indígenas nos municípios de São Gabriel da Cachoeira e Santa Isabel do Rio Negro.  Nesta região convivem 22 grupos étnicos, que falam cerca de l5 línguas derivadas das famílias lingüísticas Tukano, Arawak e Maku, sendo a população indígena estimada em 30.000 pessoas representando cerca de l0% do total dos índios do Brasil, distribuídos em aproximadamente 600 aldeias situadas na Bacia do Rio Negro, ao longo de uma extensão de cerca de 3.000 km de rios.

Para desenvolver o tema ao qual nos propomos é de fundamental importância caracterizar a região, apresentando dados etnográficos, que nos darão evidências para analisar o discurso e a prática da política indígena em andamento no Rio Negro. Entendemos aqui como política indígena as manifestações internas do grupo indígena e sua forma de relacionar-se entre os demais grupos indígenas, tendo como base as suas formas próprias de organização social. Diferentemente da política indigenista, que faz parte das políticas públicas oficiais que por sua ver tem diferentes interesses, que as práticas provenientes de uma política Indígena.   E nos interessa nessa apresentação fazer um diálogo entre o modelo de ocupação da região, vista aqui através de uma narrativa mitológica e as relações interétnicas[2] entre os diversos grupos indígenas, que ali vivem hoje em um sistema hierarquizado. Aqui nesta abordagem os “modelos” de ocupação na região da Bacia do Uaupés têm uma profunda relação com as “formas” de organizar a política indígena. Por outro lado observa-se existência de um entendimento diferente sobre o processo associativista relacionado às relações de parentesco e as formas organizativas. Estas observações, apresentadas aqui neste texto, são resultados de observação direta em algumas comunidades indígenas desta região em diferentes momentos históricos e da análise da narrativa mitológica de um dos clãs Tukano instalado no Rio Tiquié.

Mito e Ocupação Indígena

As informações disponíveis sobre o movimento e mobilidade das populações indígenas da Amazônia ainda são escassas devido aos poucos trabalhos no campo da arqueologia. Explicar a diversidade cultural dos povos da Amazônia tem sido um desafio para antropólogos, arqueólogos e pré-historiadores. Diversidade que nos é muitas vezes inimaginável. Até o presente, os estudos arqueológicos na região do Rio Negro são poucos. Alguns sítios foram encontrados e assinalados no relatório de Nimuendajú (1927/1950). Outras abordagens arqueológicas são relatadas em Neves (1998). Os índios também reportam alguns lugares mitológicos, por onde estiveram seus ancestrais, tanto no Rio Uaupés como no Rio Içana e podem até lembrar de locais das guerras famosas, e lugares por onde passaram os ancestrais fundadores dos clãs originários, hoje no inconsciente coletivo das pessoas.

A evidência mais concreta, tanto para os Tukano como para os Baniwa (Arawak), moradores desses rios são os inúmeros petroglifos encontrados em lugares próximos as famosas cachoeiras Yauareté, Ipanoré, Aracapá, Caruru, Uapuí e Tunuí. Esses lugares, são apontados, como evidências de uma ocupação pré-histórica. Os desenhos das pedras, também estão relacionados nos relatos de viajantes e cronistas como os de Wallace (1853), Spruce (1908); Stradelli(1901) e Koch-Grünberg(1903-1907), cavados em granito são atribuídos pelos índios de hoje aos seus ancestrais. Afirmam que a Pa’miri-Masa, a canoa-anaconda[3], que representa a transformação para esse mundo e onde aparece os ancestrais dos atuais grupos étnicos para os locais em que se encontram hoje, passou por aqueles lugares também inventariados nos relatos mitológicos dos diversos grupos lingüísticos.

                

Vários modelos bio-geográficos têm sido formulados nestes últimos anos, numa tentativa de explicar este processo de fissionamento de culturas. Meggers(1971), Haffer(1969), Vanzolini(1973), Müller(1973), Brown(1977), Prance(1973/1978), defendem a hipótese que durante o Pleitocene a Amazônia passou por várias mudanças climáticas cíclicas diferenciadas, levando a uma fragmentação da floresta. A aplicação de tal modelo sobre a pré-história da Amazônia tem mostrado que a diversidade cultural é resultado de dois "refúgios" específicos, e durante estes períodos, as áreas de florestas tropicais reduziram-se a pequenas ilhas. Nos períodos posteriores de reflorescimento, aconteceram as principais migrações.

                

Coudreau (1887) acha que deveria ter existido uma época remota onde a bacia amazônica era ocupada por uma multidão primitiva, com uma tecnologia rudimentar, entre os quais estariam hoje os índios conhecidos como Maku. Posteriormente, a região teria sido invadida por outros povos tecnologicamente superiores, “evoluídos” na arte da guerra, cujos representantes hoje seriam os pertencentes aos grupos Tupi e Caribe e Arawak.

                

Koch-Grünberg (l906:878-882) afirma que os grupos Maku seriam remanescentes de um extrato povoado originário, composto de tribos falantes de línguas diferentes, reunidas e fissionadas após a chegada dos povos Arawak. Apoiando-se em Koch-Grünberg, Nimuendajú (1950) distingue três extratos culturais que foram ocupando sucessivamente a área do Rio Negro. Esta hipótese é conhecida, na literatura etnológica da região, como de Nimuendajú e aceita, com reservas até hoje por antropólogos (Wright, 1982; Reichel- Dolmatoff, 1989; Athias, 1995) que trabalham com estas populações e, apesar de ser a mais aceita, carece de uma análise mais profunda e na medida em que se desenvolvam estudos arqueológicos na região, poderemos ter mais certeza de sua validade e chegar-se-á a um melhor entendimento. Podemos encontrar na mitologia, evidências que podem corroborar com esta hipótese, e pode explicar o movimento dos povos na bacia hidrográfica do Rio Uaupés, um dos maiores afluentes do Rio Negro e onde se concentra a maioria da população indígena das famílias lingüísticas Tukano e Maku.

                

Para Nimuendajú, os grupos Maku são referidos como um primeiro extrato cultural e fazendo parte de uma cultura rudimentar não possuindo a lavoura, a cerâmica, a tecelagem, bem como a arte de navegar como sendo essenciais. O segundo extrato seria representado por grupos vindos do norte em sucessivas ondas migratórias, ocupando parte da região. Estes grupos de cultura Arawak, sedentários, agricultores, viviam às margens dos grandes rios e igarapés navegáveis, morando em grandes casas comunais (malocas) e usando redes para dormir, tendo uma organização social complexa. Esses Arawak são formados por grupos exogâmicos patrilineares e com complexos ritos funerais. Estes grupos, através de um processo de forte interação, conseguiram impor a sua cultura aos outros grupos, fazendo que a região, como um todo, absorvesse traços da cultura material Arawak. O terceiro extrato cultural é representado pelos grupos Tukano penetrando na região, vindos do oeste, estabelecendo contatos com os Arawak e grupos Maku. Através da história oral percebe-se que esses contatos não foram amistosos. Os grupos Arawak ganharam o Rio Negro através do canal de Cassiquiare e estabeleceram-se  praticamente até sua foz. O médio Rio Negro foi habitado pelos Baré e os Manao. Os Warequena dominavam grande parte do Rio Negro e hoje se encontram agrupados no Rio Xié, afluente da margem esquerda do Rio Negro, falando o Nheengatu. Os grupos Baniwa, Kuripako e Hohodene, todos Arawak, estenderam-se até a bacia do Rio Uaupés e  atualmente vivem na bacia hidrográfica dos rios Içana e Aiari. No Rio Uaupés encontram-se os Tariano, povo Arawak, falando a língua Tukano, estes possivelmente passaram para o Rio Uaupés vindos do Rio Aiari, afluente da margem esquerda do Rio Içana. As incursões sobre o Rio Uaupés de grupos Arawak fizeram alguns grupos Maku se arwakizarem. Ainda segundo a hipótese de Nimuendajú, podem-se encontrar no Rio Aiari os sibs Hohodene e Kadapolithana, que antes teriam sido Maku. Nimuendaju se refere aos Caboclos como sendo resultado da interação desses extratos culturais (Galvão, 1958).

Alguns destes dados são controversos, segundo R. Wright (1982:12) pois estes sibs (conjuntos de clãs de uma mesma etnia), não foram arawakizados, podendo sim, ter havido um mal-entendido sobre o termo Maku, que se presta igualmente para outros equívocos. Wright tentou comprovar esta hipótese perguntando aos Hohodene se eles eram anteriormente Maku. A resposta foi afirmativa, porém ele próprio acredita que o termo Maku, corrente hoje em toda a região, e tivemos oportunidade de comprovar, refere-se também a uma situação de vida onde não se tem acesso às tecnologias provenientes da civilização ocidental, seria "quase" sinônimo de selvagem ou "aquele que vive no mato".

                

Existem grupos pertencentes à família lingüística Tukano, vivendo na bacia hidrográfica do Rio Apaporis-Caqueta, na Colômbia, como os Makuna, Barasana, Bara, Yahuna e Tatuyo. Estes compõem juntamente com os Tukano que vivem no lado brasileiro a família lingüística Tukano Oriental. No entanto, os grupos Maku não são encontrados nessa região como na Bacia hidrográfica do Uaupés e esses grupos Tukano se referem aos Maku apesar de não conhecê-los. A tradição oral e os mitos dão conta de retratá-los.

Falamos do processo de arawakização onde os grupos Tukano, como também os grupos Maku, assumem grande parte da cultura material Arawak no início da ocupação, sucedendo a este o de tukanização, onde este grupo com expressão cultural própria impõe-se sobre os outros os modelos de organização política de um determinado povoado. Deixamos a entender, neste trabalho, que está em curso, um processo de uma nova acomodação territorial regulada pelas relações interétnicas e pela política indígena. Esse processo, que chamo provisoriamente de re-territorialização, está em curso atualmente no Rio Negro. É o resultado de um novo modelo de ocupação territorial, e de um reelaborado entendimento sobre as instituições políticas de um clã.  Portanto, faz-se necessário, para compreender o discurso político dos índios, uma melhor compreensão dos atuais processos de ocupação na região e um novo olhar sobre as formas organizativas presentes nas narrativas indígenas.

        

Os povos que habitam o Rio Negro mantêm entre eles diferentes tipos de troca e intercâmbio que permitem caracterizar esta área como sendo de uma interação intensa. Estas trocas também se dão no nível simbólico, quando se evidencia que todos os habitantes desta região conhecem os mitos e incorporam em sua prática ritual elementos comuns entre os diversos grupos lingüísticos. Por exemplo, a cerimônia de entrega de um nome (basése-wame) a um recém nascido tem os mesmos elementos rituais entre os grupos da família lingüística Tukano. Estes participam de um sistema integrado, onde cada uma das atividades de cada povo é importante para a dinâmica de funcionamento deste sistema que regula as relações de poder.

                        

Os dados estatísticos sobre a migração dos índios que desceram as cabeceiras dos rios para se estabelecerem no médio, baixo Rio Negro e São Gabriel da Cachoeira são escassos, porém desde os anos cinqüenta observa-se que os grupos Tukano e os grupos Arawak estão em processo de mobilização interna na área do município de São Gabriel e Santa Isabel. O movimento se dá em direção aos rios da bacia do Rio Negro e para o médio e baixo Rio negro. Outro movimento com menor intensidade se dá em direção a Manaus, já evidenciado e documentado[4].

No final do século passado, os grupos Tukano se encontravam principalmente no Rio Uaupés e afluentes (Nimuendaju, 1927). A presença de um comerciante na Boca do Rio Uaupés, até meados de 1920, conhecido como Manduca Albuquerque, exercia um exagerado poder na região. A  maioria dos índios preferiam não se mostrar, com medo de serem escravizados. O sistema de exploração exercido por Manduca parecia ser muito eficiente, pois até hoje os índios, mesmo aqueles que não o conheceram, fazem referência e este momento de sua história recente.

Na realidade, uma das viagens de migração entre os Tukano, que estes lembram, através das histórias orais, se realiza do Rio Papuri em direção ao Rio Tiquié É a história de migração do clã Tukano conhecido com o nome de Buu-ponã. O registro dessa viagem migratória foi feito durante minha pesquisa de campo em 1984. Os motivos principais desta migração, de acordo com os depoimentos colhidos foram i) a procura de novas terras, uma vez que as terras agricultáveis no Papuri estavam desaparecendo e as ii) conflitos, brigas e disputas internas e iii) doenças. A entrada no Rio Tiquié se dá através da cabeceira do igarapé Umari de baixo, (abaixo de Pari Cachoeira) atualmente este rio é habitado principalmente pelos Desana, enquanto o Rio Umari de cima encontra-se o principal grupo dos Tuyuka na região. Existe uma narrativa indígena (Athias, 2000) que relata o processo de migração do clã Buu-ponã do Rio Papuri para o Rio Tiquié utilizando-se de uma passagem que o Rio Umari de baixo possibilita.

Em 1994 realizei uma enquête entre a população Tukana, Tuyuka e Desana do povoado conhecido como Balaio, sobre os motivos da saída destes de seus lugares de origem. Interessava-me saber a história da criação desta aldeia nas margens do igarapé Balaio, no Km 100, da estrada que liga São Gabriel a Cucuí. Os Dessana começam a se estabelecer na região em 1979/80. A primeira família a estabelecer-se, na área, é originária de uma aldeia Dessana, conhecida pelo nome de Abacate no Turi igarapé afluente da margem direita do Rio Papuri. Esta família chegou ao Balaio depois de passar pelo Macucú Igarapé e Cucuí, com seus quatro filhos homens. O restante da população instala-se no Igarapé Balaio a partir dos anos de 1983, a maioria vinda do Rio Tiquié. O Balaio, como vai sendo conhecido, aos poucos vai deixando de ser um povoado onde se concentrava principalmente membros de um clã Desana para se tornar um povoado misto com outros clãs Tukano. A narrativa desse processo envolve relações com os diversos mitos de origem, um processo conflituoso de definir os processos de autonomia políticas e, sobretudo um intenso processo de negociação entre os diversos clãs dando origem a formação da Associação Indígena do Balaio (AINBAL) que representa os interesses do grupo como um todo.

A experiência da formação de um novo povoado, vivida pela atual população do Balaio, tem paralelos significativos com a formação do bairro Santa Inês na cidade de Santa Isabel, no médio Rio Negro, hoje o bairro é o principal bairro indígena[5] da cidade. E essas experiências de re-territorialização, de acordo com narrativa fornecida pela história dos Buu-ponã, que nos finais do século XIX, se deslocam em massa do Rio Papuri em direção ao Rio Tiquié são basicamente, o que se encontra entre os relatos sobre os principais motivos de mobilidade e migração. Ou seja, a busca de recursos renováveis e, conseqüentemente terras boas para praticar uma agricultura de subsistência com melhores possibilidades de pesca e recursos naturais. Esse relato relembra as relações de conflitos existentes com os outros clãs e o processo de negociação de instalação no novo território

Não se levando em conta, as diferenças e aspectos acessórios, a homogeneidade cultural dessa região é manifestada entre os diferentes grupos étnicos, em si mesma uma resultante da interação existente que chega a ser um fator positivo, como enfatiza Eduardo Galvão (1959:34) falando sobre a “caboclização” no Rio Negro. A língua geral, o Nheengatú, identifica o índio e o caboclo em oposição ao português do urbano, e é esse talvez, um dos elementos psicológicos mais positivos nesse processo adaptativo. A maloca e o centro urbano sofreram um processo de reformulação e conseqüente emergência do que se pode considerar um ethos regional.

                

A característica marcante das relações entre os diversos grupos étnicos na bacia do Uaupés/Rio Negro é o fato de existir um número significativo de trocas e intercâmbios culturais dentro de um mesmo espaço geográfico. Os grupos Arawak, mais antigos habitantes, que os grupos Tukano, na área, conseguiram impor elementos da cultural material aos outros grupos não Arawak. Podemos perceber entre todos os grupos indígenas, desta área, traços da cultura Arawak, como, por exemplo, o acervo musical, e todos os utensílios provenientes do uso da mandioca. E entre os produtos artesanais, utilizados nas trocas, e que se encontram em toda região, tidos como sendo exclusivo de fabricação dos grupos Arawak encontra-se justamente o ralador de mandioca.

As relações interétnicas na região obedecem a critérios mitológicos reelaborados  a partir do Mito de Jurupari. Essas relações se desenvolvem no atual espaço onde se localizam os diversos grupos lingüísticos. Esse espaço está totalmente delimitado e cada um dos grupos étnicos conhece as suas fronteiras em base às histórias de mobilidade de cada clã. Esta mobilização e migração que se efetua na região há anos obedecem de certa forma, uma lógica indígena que o relato do clã dos Buu-ponã nos permitiu ressaltar. Esses movimentos são feitos em conjunto e são de conhecimentos de todos. Com isso quero insistir que a ordem estabelecida entre os diversos clãs dos diversos grupos lingüísticos tem uma lógica que pode ser vista nas histórias migratórias e que correspondem a uma interpretação do mito de origem e onde se manifesta o conflito entre os diversos clãs.

Não existe entre os clãs que formam o povo Tukano uma pessoa (uma espécie de chefe geral), ou mesmo uma instituição, que concentre um poder político sobre todos os clãs Tukano. Cada clã é autônomo e o sistema hierárquico existente entre os diversos clãs e grupos étnicos Tukano determinam as relações entre eles. Portanto, é importante compreender que o movimento de associações indígenas na região como um todo é alheio ao sistema hierárquico que determina as relações. Daí uma contradição que convive com movimento indígena no Rio Negro: se de um lado as relações hierárquicas que determinam o movimento e a mobilidade dos grupos é um fator determinante, qual então é o papel dessas associações?

Poder e Processos Associativistas

O movimento das associações indígenas no Rio Negro nasce no início dos anos setenta e a primeira associação de caráter mais amplo, ou seja, incluindo vários grupos étnicos do Rio Tiquié, surgem em 1974, em Pari-Cachoeira, conhecida como UFAC (União Familiar Animadora Cristã). Essa associação com o apoio dos missionários salesianos agrupava vários “clubes de mães” do rio Tiquié. Um dos objetivos primeiros desta associação foi a venda de produtos locais e a compra de bens de primeira necessidade para os associados. Essa operação era realizada no estilo de cooperativas de compra e venda. Buscava-se uma substituição das atividades dos regatões por iniciativas de locais que os substituiriam como forma de diminuir a dependência. Questão até hoje colocada como um probelma na região.

A UFAC como pioneira, não teve o grupo étnico como base organizativa, a associação agrupava indígenas de várias etnias dentro de uma mesma área geográfica, desde que estivessem dispostos a antecipar parte de suas produções. No discurso dos próprios índios de Pari Cachoeira a UFAC vem substituir os Clubes de Mães que segundo eles (os homens) estavam dando certo[6] e que poderia ser ampliado através da UFAC. Se por um lado, nascia uma organização que pretendia resolver o problema do abastecimento de produtos de primeira necessidade para a região do Tiquié, por outro, o aspecto político da organização não estava bem definido e delimitado. Mas o que era importante: foi de fato a primeira associação indígena independente dos padres. Nos anos seguintes a UFAC iria lidar com questões políticas que envolvia todo o Rio Negro como a questão da demarcação das áreas indígenas.

A cooperativa indígena, criada em Iauareté (Rio Uaupés) em 1976, também com o apoio dos missionários tem entre seus objetivos os mesmos que aqueles já indicados para a UFAC, ou seja, garantir que os produtos de primeiras necessidades cheguem à região a preços menores que os regatões praticavam. A organização é incentivada pelos missionários desde que não interfira na estrutura vigente. Estas duas primeiras iniciativas, que chamo de “assistidas”, partem de necessidades bem concretas que mobilizam os índios a participarem dessas organizações. O tipo de organização é baseada no modelo de  cooperativas que vão aparecer em várias regiões do Brasil durante todo esse período. Este modelo necessitava de um capital inicial para serem efetuadas as primeiras compras e a Igreja oferecia capital inicial bem como a compra das embarcações para o transporte fluvial dos produtos. Tais modelos, apesar de serem eficientes em áreas com menos problemas de transporte e uma economia de mercado menos abalada pela inflação foram difíceis de serem mantidas na região do Uaupés. Na área do Rio Negro, com graves problemas de abastecimento e um custo altíssimo do transporte faz com que estas iniciativas entram em colapso deixando algumas lideranças em descrédito.

O modelo de transação praticada por estas cooperativas não vai ser diferente do sistema de aviamento já em uso pelos comerciantes locais (regatões) e de conhecimento geral na região. Esse modelo consiste na entrega da produção, em troca de outros bens industrializados de primeira necessidade a receber após a venda dos produtos na cidade. A diferença situa-se, na entrega antecipada de produtos indígenas, para a cooperativa. Enquanto que com os regatões a entrega do produto indígena correspondia ao recebimento imediato dos bens em troca. O outro modelo em uso pelos regatões era a entrega antecipada dos bens industrializados e o posteriormente o recebimento dos produtos. Esse modelo operacional já era praticado na região desde o início do século.

A motivação das comunidades indígenas do rio Uaupés em participar nessas cooperativas estava na busca de uma solução local para resolver o problema do abastecimento e o interesse em uma autonomia nas relações comerciais na região. Esse processo que se inicia na década de setenta ainda está longe de ser resolvido. Em Iauareté (rio Uaupés), por exemplo, desde 2000, depois de um intenso conflito na região, os comerciantes não indígenas foram substituídos pelos comerciantes indígenas e estes estão agrupados em uma associação de comerciantes indígenas, no entanto, o que se percebe que houve  apenas a transferência da situação para os comerciantes indígenas. E os preços dos produtos continuam altos da mesma forma.

A criação de novas associações, principalmente na área do Rio Tiquié, nos anos oitenta foi acrescida de outras motivações, além daqueles já apontados. A UFAC deixará de existir, dando lugar a UCIRT (União das Comunidades Indígenas do Rio Tiquié) com um caráter mais abrangente e com um papel político mais definido tendo também o caráter de comercializar os produtos indígenas como uma atribuição importante.  Se a UFAC nasceu com o apoio direto e o incentivo dos missionários, a criação da UCIRT não terá esse apoio direto. A iniciativa é totalmente das lideranças indígenas de um clã específico de Pari Cachoeira. E surge com esse propósito de estar independente e autônoma de outros agentes da sociedade nacional.

As iniciativas das associações baseadas no modelo de cooperativas não prosperam e nem se desenvolveram. Talvez o modelo econômico brasileiro não permitisse o crescimento e autonomia dessas iniciativas nos anos oitenta. As lideranças indígenas perceberam que não podia reverter toda uma situação econômica regional e isoladamente não teriam condições de autonomia a estavam almejando. Era preciso buscar aliados. Aliados poderosos que pudessem substituir os missionários que provaram não serem tão poderosos quanto diziam. A aliança FAB/Missões instalada na região desde os anos cinqüenta  havia terminado. E os missionários estavam sendo questionados a nível nacional com uma avaliação intensa realizada pela SUDAM e internacional com as repercussões do IV Tribunal Russell. Portanto, as iniciativas de caráter coletivo, associativistas na região do Uaupés principalmente se darão em várias direções.

Uma dessas iniciativas terá o movimento indigenista e indígena nacional como aliado principal. Daí surge a UNIRT (União das Nações Indígenas do Rio Tiquié) também com uma base social englobando vários clãs de uma mesma etnia e diferentes grupos étnicos. Esta não está tão interessada na questão da troca de produtos e garantir a entrada de produtos industrializados a custo menor na região. Tem um caráter político mais definido. Fala em nome dos povos indígenas da região. Busca apoio para a demarcação das terras indígenas da região e está envolvida no âmbito mais global do movimento indígena no Brasil. E, sobretudo está procurando trabalhar as questões culturais que demarcam a identidade étnica dos diversos grupos lingüísticos. As lideranças da UNIRT participam amplamente das reuniões nacionais falando em nome das populações indígenas da região do Rio Negro como um todo.

A UCIRT (União das Comunidades Indígenas do Rio Tiquié), também criada na região do Tiquié, com a mesma base social da UNIRT representa uma outra ala do movimento indígena local nos anos oitenta. Busca alianças em outros setores que considera poderoso e que poderiam resolver os problemas de abastecimento, da demarcação das terras e de melhorar as condições de vida da população do Rio Negro. E essa aliança é realizada com o militares do Conselho de Segurança Nacional, que promete as lideranças indígenas resolver todas as questões. Também as lideranças da UCIRT viajam pelo país. Os militares entram na área indígena com mais segurança e vários acordos são realizados. O Calha Norte se instala na região com apoio dessas lideranças e o projeto da Colônias Indígenas prospera na região durante esse período. A questão da demarcação das terras indígenas encontra um impasse entre as diversas lideranças. De um lado parte das lideranças indígenas (aquelas associadas) buscava a demarcação das terras indígenas de forma contínua e outra parte das lideranças estava apoiando as colônias indígenas na região, que desmembrariam as terras indígenas e uma forma descontínua.

Quando o grito de ouro surge na região do Tiquié (Rio Traíra / Castanho) em 1984 o movimento indígena buscará uma outra via no processo interno organizativo e nas proposições de melhora na qualidade de vida. Grande parte da população parte para o garimpo. O ouro daria a resposta para autonomia da região, como muitas lideranças estavam buscando. O ouro torna-se então o aliado principal de grande parte da população, um trabalho individual por famílias e coordenados pela UCIRT. As associações terão que lidar com essa questão e a UCIRT passa a administrar o garimpo indígena. As discussões e a ação do movimento indígena na região têm a questão da garimpagem como elemento importante na definição das linhas de ação.

A entrada de garimpeiros não indígenas na área do rio Traíra, em 1985 vai de certa forma unir os diversos interesses do movimento indígena na região. A questão da demarcação da terra passa a ser a prioridade nas agenda das associações e ponto número um nas pautas de reuniões regionais do movimento indígena. Duas grandes assembléias indígenas são realizadas em São Gabriel. A primeira com apoio do Movimento Indigenista e a Segunda com o apoio dos Militares do CSN. E nas duas Assembléias a proposta da demarcação contínua das terras indígenas recebe o apoio geral. Nessa ocasião (1987) surge a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN) como a interlocutora principal do movimento indígena no Rio Negro.

Conflito e Associações Indígenas

Esse relato, apresentado resumidamente, sobre surgimento das associações indígenas no Rio Negro, tendo como ponto de partida o Rio Tiquié e a região do Uaupés, indica os caminhos que as lideranças e o movimento indígena vêm tomando nos processo internos de negociação entre os diversos grupos étnicos. Em um primeiro momento, as associações surgem no âmbito da Igreja local, aparecem timidamente com possibilidades próprias de organização.  Aflora a existência de uma dificuldade “natural” para unir diversos grupos étnicos e diferentes clãs em uma mesma associação. Em seguida, o rompimento tático com a Igreja missionária e a busca de novos modelos de organização com novos aliados, sem, no entanto, ter um projeto político unificado entre as organizações. Aí, neste momento, surgem várias outras associações e vai ampliando os territórios de abrangência dessas associações. Atualmente, em 2004 o número de associações indígenas filiadas à FOIRN chega a 50 e ainda estão sendo formadas outras associações. A FOIRN torna-se a principal articuladora e executora de políticas públicas para os povos indígenas do Rio Negro baseada no sistema de democracia representativa. Todas as associações estão registradas no Cadastro Nacional de Personalidade Jurídica (CNPJ) com suas regras explicitas de operação a nível nacional, sem distinguir a origem étnica dessas associações.

O sistema político dos grupos indígenas do Rio Negro não reconhece a existência de um chefe “geral” de todos os clãs de um determinado grupo étnico. Por exemplo, um chefe para todos os Tukano. A instituição do chefe é reconhecida apenas a nível de cada um dos clãs. Em última instância, isso significa que apenas no espaço político de uma aldeia, um chefe (capitão termo usado na região) é reconhecido e a organização social dessa aldeia está baseada na história própria do clã nos processos de relações internas de uma determinada área geográfica. A narrativa de ocupação dos Buu-ponã no Rio Tiquié, apresenta com detalhes todo o processo de negociação espacial, que estes foram obrigados a fazer com os outros clãs que posteriormente chegaram como os Yupuri-Parensins, Dipé-ponã, Búbera-ponã.  E aí, se apresenta uma das questões primordiais desse sistema político, onde a hierarquia e o conflito interno é parte essencial, para a manutenção de um equilíbrio entre os diversos clãs de um mesmo grupo étnico. E essa ordem ou lógica do sistema político da região está essencialmente vinculada com as questões de território. A nível de um clã, portanto, o chefe existe, é reconhecido e determina, como também exerce um poder sobre o uso de um determinado espaço cujas fronteiras são os limites territoriais de um determinado clã, diferentemente das regras democracia representativa.

A hierarquia entre os clãs é parte do modelo operacional que estabelece as regras internas de um determinado grupo étnico no espaço territorial e político da região como um todo. Aliás, esse espaço é fragmentado, pois, não existe um território contínuo, de um mesmo grupo étnico e sim territórios clânicos.  Ou seja, os clãs Tukano, por exemplo, estão espalhados em diversos pontos da bacia do rio Uaupés, através dos territórios dos diversos clãs, não existindo um território contínuo onde todos os Tukano possam identificar como pertencente ao grupo étnico. E aí, situa-se o âmago das questões, no que diz respeito a um sistema político. A definição mais clara de um sistema político situa-se no interior de um clã. As características, as músicas os conhecimentos de um clã ( uma maloca antigamente) são ritualizadas e celebradas numa festa de Dabucuri (troca de bens) com as flautas de Jurupari (a música).

Neste sentido, a associação indígena, tal como estão sendo criadas no rio Uaupés, congrega vários clãs de um grupo étnico e diversos grupos étnicos de uma mesma área (Rio) de um mesmo território. Daí todos os nomes das associações se referirem a um território específico, ou seja, a Rio (União das Comunidades Indígenas do Rio Tiquié ou Associação das Comunidades Indígenas do Rio Castanho). A identidade é então vista como incorporando elementos de um território específico. Esse território compartilhado passa a ser essencial na discussão dos interesses da associação.

O agrupamento em torno de uma associação para resolver questões pertinentes a um território comum surge com a necessidade de se ter uma chefia regional. Neste sentido, a Associação Indígena faz parte da organização política, na região como um todo, dentro de um vazio que é justamente aquele de uma chefia regional, sem, no entanto interferir na organização própria de cada clã. As associações criadas mais recentemente estão agrupando clãs de uma região mais restrita.  A tendência neste momento seria a criação de associações em uma área geográfica menores diminuindo assim o número de clãs que participam da associação, ou seja, diminuindo os possíveis conflitos de interesses. No Rio Tiquié,  surge em 1997, uma associação que tem base territorial em um só povoado (Bela Vista, no Rio Tiquié) e acredita-se que esta será a tendência na formação de próximas associações. E isso provocará o desenvolvimento de práticas bem localizadas respondendo a demandas bem mais específicas com possibilidades de um maior controle sobre as atividades da associação e, sobretudo menos conflito.

Para os índios participar de uma associação significa a possibilidade de entrada de novos recursos para as comunidades que ela represente, respondendo a demandas, bem específicas locais e a maioria dessas necessidades situam-se no âmbito da organização da produção local e a busca de recursos para investimentos em projetos locais. Como não existe um plano regional de desenvolvimento as associações criam esses espaços de discussão. No caso da região do Uaupés/Papuri essa questão da regionalização foi resolvida com a criação de uma estrutura organizativa que congrega as associações locais e a realização de assembléias reunindo as associações da área.

No discurso mais geral dos índios é apresentada a “migração” para outros lugares como a resposta mais adequada para solucionar os problemas de recursos. E, como nas histórias orais de cada clã existem imensos depoimentos sobre as mudanças de lugar e formas como esses se mudam de uma área para outra sempre numa forma positiva. E, essa prática não é vista como “desestruturadora” de um clã.  E essa migração para outros lugares tornou-se a prática cada vez mais usada na atualidade. De fato, está acontecendo, pois cada vez os bairros indígenas da cidade de São Gabriel estão recebendo novos moradores dando uma outra conformação nos espaços da cidade. E a principal justificativa para essa migração continua a ser a busca de alternativas para a sobrevivência e ajuntando-se a essa a procura de “educação” para os filhos torna-se a outra principal razão da mudança de famílias inteiras para outros centros.

Nas palavras dos índios sobre uma política indígena na região observam-se a existência de uma argumentação em torno da formação e educação como elementos centrais para o desenvolvimento da região. O projeto educativo missionário construiu uma forte ação, no sentido de criar na região centros de educação formal que daria respostas às questões relacionadas a sobrevivência e a organização da produção local. Então, de um lado procura-se encontrar uma solução via a um projeto educativo mais regionalizado e esse discurso não é unânime, e por outro lado, as associações procuram apresentar demandas mais localizadas e relacionadas ao desenvolvimento local. Pode ser observado também, quando se participa das assembléias de associações, nas diversas áreas, que as soluções e alternativas são apresentadas que elas mereceriam uma maior discussão. Esse espaço de maior de discussão sobre essas alternativa não existe, pois as necessidades mais imediatas estão sendo respondidas em detrimento as demandas de mais longo prazo sobre um desenvolvimento mais amplo. E isso cria nos representantes dessas associações um desânimo, uma vez que, as respostas a essas demandas não aparecem, e nem a Federação consegue agrupar iniciativas que dão respostas satisfatórias a essa questão.

Há um discurso lógico entre as lideranças, porém não tão organizado, e sim centrado nas alternativas para a organização da produção local e a entrada de novos recursos. Aqui, poderíamos dizer que todas as associações estão nesta perspectiva, encontram-se dispostas a viabilizar essas alternativas e existe um interesse muito grande das associações indígenas, uma vez que os lugares de possível migração já não são vistos como sendo uma das alternativas viáveis e disponíveis (a não ser a mudança para a cidade). O outro lado desse mesmo discurso, é que a soluções deveriam vir de fora. Neste sentido, as alianças com outros setores e organizações tornam-se uma importante parte da discussão interna mais ampla ainda em processo de definições por via política.

Uma compreensão mais ampla do modelo indígena de ocupação e da organização social dos grupos étnicos dará uma possível pista para uma atuação mais efetiva no que se refere a organização da produção local e as alternativas econômicas para essa região. Este modelo, de acordo com os dados que dispomos, não está dissociado dos discursos indígenas e torna-se uma referência importante na elaboração de uma política de desenvolvimento regional.   E nesse aspecto, os estudos que vão nesta direção terão um terreno já preparado, pois existe toda uma discussão interna acumulada sobre esse modelo de ocupação. Observamos que o modelo indígena de ocupação territorial (com referência na mitologia e no sistema político tradicional) continua em andamento, compartilhando modelos associativista nos moldes da democracia representativa, possibilitando assim uma nova “territorialização” na região como um todo. Resta, a saber, se as associações terão um papel mais importante ou os  sistemas políticos dos clãs indígenas continuarão a ser um referencial neste processo político em curso na bacia do rio Uaupés.

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[1] Doutor em Antropologia (Université de Paris X - Nanterre), atualmente é Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Antropologia,  e membro do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre etnicidade (NEPE) da Universidade Federal de Pernambuco.  rathias@ufpe.br 

[2] Relações interétnicas entendidas como o resultado de interação entre dois grupos ou mais etnicamente diferenciada que mantém identidades próprias e se vêem entre eles como diferentes. Diferente da noção apresentada por Cardoso de Oliveira (1976) quando faz referências distinguindo as relações intertribais e as relações interétnicas. O autor define como relações interétnicas como sendo a o resultado do contato entre “Índios” e “Brancos”.

[3] As versões mitológicas dos grupos Tukano insistem que toda a chegou na bacia  do Rio Uaupés após uma longa viagem no interior de uma cobra. Cada grupo étnico sai de dentro da cobra para o “pátio da transformação”, ou seja, passam a ser humanos.

[4] Como referência ver Athias,R. e Novais C. (1978) Os Índios Destribilizados em Manaus – Relatório para o CIMI (mimeo) e Figoli, L. (1985)  () in Anuário Antropológico, Brasília, Tempo Brasileiro

[5] Percebem-se também certas similaridades no processo de territorialização do bairro Dabaru na cidade de São Gabriel da Cachoeira.

[6]Troca de produtos artesanais com as missões, neste sentido estava dando certo, pois a missão transportava esses produtos nos aviões da FAB, portanto sem custos de transporte.