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Do morro Jeriquaquara ao Rio Timonha.docx
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Do morro Jeriquaquara ao Rio Timonha

Ao O, na distancia de48 milhas do Morro Jeriquaquara, está a Barra do Rio Timonha, havendo nesse espaço: Rio Guriú, Morro das Cabaceiras, Morro das Moreias, Enseada das Imburunas, Rio do Feijão, Barra do Camocim, Morro do Trapiá, Morro do Tipuyú, Barra do Remedio, Morros do Paraná-meirim, Enseada das Almas e Barra do Rio Tomonha.

O Rio Guriú, que fica um pouco ao N da enseada de Jeriquaquara, tem duas boccas, e ambas tão seccas que na baixa-mar passam-sea vão; por elle sobem pequenas canôas, até próximo á Fazenda denominada – Tatajuba – uma legoa distante da costa.

O Morro das Cabaceiras, é formado por grandes dunas, junto ao qual despeja um riacho que traz sua origem de uma grande lagôa que lhe fica ao S, na qual fazem-se grandes pescarias no inverno. Aqui á beira-mar há algumas casas de nenhuma importância, e um sitio de coqueiros.

A Enseada das Imburunas, cujo terreno é igual, coberto de matto, com pequenas praias, tem a E grandes medões de areia, e só um pouco aproximado da costa se póde distinguir algumas casinhas, que ao longe parecem moutas. Esta enseada,não dá abrigo, por ser cheia de cabeços de pedra que se estendem para o N acompanhando a costa á distancia de 3 milhas, e começam desde o Morro das Moreias até o pontal do O desta enseada, onde terminam. Pelo centro apparecem trez serrotes Tiaia, Aratanhym e Arapuá.

O rio do Feijão, que despeja na enseada de que acima fallámos, é um braço do Camocim, o qual fórma uma pequena Ilha que vem a ser o pontal de leste da barra. Esta Ilha é terreno de areia, mas, bem empastada, pelo que torna-se apta para a criação de gados.

Em frente á barra deste rio encontra-se 4 e 6 metros d’água e alli offerece-se ancoradouro para esperar maré.

A Barra do rio Camocim, é toda circundada de bancos e recifes, sendo a entrada desta por entre os mesmos; aqui há duas bóias desiguaes em tamanhos. Nesta entram navios até12 pés de calado, apezar de ser ella mudável e o canal ser por cima dos referidos bancos, como dissemos; elles correm do NO ao SE por espaço de 3 milhas. Esta barra alguma vezes está mais ao N e outras mais ao S.

A povoação, que conserva o nome do rio, tem bastantes casas, e apresenta algum progresso; ella acha-se collocada á margem occidental do rio, ficando a leste da mesma o ancoradouro. Há dous armazéns pertencentes ás duas companhias de vapores costeiros que tocam nesse porto, nos quaes recolhem-se as cargas e carregamentos destinados á cidade do Granja, que está a 7 leguas acima.

Os navios costumam descarregar atracados aos trapiches, mas é necessário que tenham estes bons cabos para resistir ás fortes ventanias que alli se levantam nas epochas de verão, e a correnteza do rio no tempo das cheias. Por este podem subir navios de 15 pés de calado até o Porto Francez, 5 leguas distante da mesma; além desse lugar, porém, apenas admitte canôas pela estreiteza do canal, em razão das muitas cachoeiras que se encontram, sendo a peior a do Papagaio e desta para cima, donde só com o preamar podem subir grandes canôas.

Demandar a Barra do Camocim

Navegando de E, tendo montado os cabeços do pontal das Imburunas, procure-se aproximar ao Morro do Trapiá, que está em frente á entrada, donde avistará a boia, e também as trez moutas que estão no alto desse morro, e bem assim attenda-se a outras que se observam á beira-mar na raiz do referido morro: projectem-se estas com aquellas, as quaes ficam mais ao S, e com esta marca siga a passar pelo N da boia grande; feito isto avistará a menor, e quando a primeira mouta do lado S se achar em linha recta com o pequeno grupo de mangues que se vê á beira-mar junto áquelle morro, orce para o SE, passando pelo O da mencionada boia pequena.

Nesta posição achar-se-ha por dentro do banco, e pelo mar do recife que borda esta costa; vá seguindo ao SE, governando de maneira que a prôa se ache pela ponta de E da ilha formada pelo pontal da barra; attenda-se além disso a outra ilha de mangues que está em frente á povoação do Camocim e logo que a ponta oriental desta ilha se encoste ao pontal de areia da primeira, siga para EB, qualquer cousa e avistando-se as balizas que ficam desse lado navegue a passar por E dellas, a pequena distancia, e depois que passar a segunda, ande de novo para EB, aproando á ponta do sul da barreira que se avista nesta barra até o serrote do Aratanhym, que acima mencionamos, appareça todo pelo O do pontal de mangue que se descobre dentro do rio; feito isto,vá costeando a margem de EB, dando resguardo aos cabeços de pedra que se estendem da ponta sul da barreira acompanhando a margem desse lado, e quando passar o pontal de leste para dentro (junto ao qual existe uma grande corôa), vá costeando a praia desse lado, o mais proximo que puder, até em frente á povoação; achando-se aqui, siga um pouco para fóra e dê fundo em 7 metros d’água na baixa-mar.

(...)

Este porto é o melhor de toda costa do Ceará. As marés nesta barra elevam-se do preamar ao baixa-mar, nas aguas de lua 12 pés, e nas de quarto 8. O preamar em todas as barras desta costa é regularmente quase á mesma hora, com differença de minutos, sendo porém a deste porto ás 5 horas, mais cedo meia hora do que no da Fortaleza.

O Morro do Trapiá, de que temos fallado, é escalvado e de areia avermelhada, no que distingue-se dos demais; elle fórma o pontal de O da barra do Camocim e a esse mesmo rumo delle ha uma enseada toda pedrejada. 1

(...)

Resultado do trabalho do prático Felippe Francisco Pereira é a confecção de várias cartas náuticas inseridas no livro, compreendendo a costa norte do litoral brasileiro, além da descrição de vários lugares e acidentes geográficos. 

Carlos Augusto P. dos Santos - Historiador

FONTE: PEREIRA, Felippe Francisco. Roteiro da Costa Norte do Brazil. Desde Maceió até o Pará. Pernambuco. Typographia do Jornal do Recife. 1877, p. 100-03.