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ELLESMERA 

 

 Sob a neblina da manhã,

Quatro jovens ali esperam.

Por seus bravos cavaleiros,

Que retornam da batalha. 

         Naquela manhã, as cores da batalha podiam ser vistas mais claramente do que nunca. O sol avermelhado indicava que muito sangue havia sido derramado no campo de batalha. Du Vollar Eldrvarya, a Campina Ardente, podia ser vista claramente daquele ponto de Ellesmera. Luzes indicavam que ali se travava uma grande batalha, e a angústia crescia cada vez mais nos corações das jovens elfas.

                Nessa Helyanwë, a mais velha das elfas se mostrava ansiosa. Seus cabelos loiros como o ouro brilhava ao nascer do sol. Rubezahl seu marido se encontrava na batalha e, para maior desespero, Balder seu amado também. Ela fora forçada a se casar com Rubezahl graças às antigas tradições, mas seu coração pertencia ao seu jovem escudeiro: Balder. Rubezahl era mais velho que Lif, como assim era chamada pelas irmãs, possuía uma aparência forte e robusta, e uma personalidade agressiva. Por seu comportamento rude, Rubezahl também era conhecido como Knürlnien, ou coração de pedra. Parecia que somente Lif era capaz de fazer com que ele deixasse sua agressividade de lado.

                Lúthien Ringëril e Nessa Anwamanë tinham idades quase iguais, e aparências totalmente diferentes. Duas personalidades distintas com a mesma preocupação em suas mentes: o matrimônio. Assim que a batalha se finalizasse, as tradições fariam com que as duas irmãs fossem concedidas ao matrimônio, assim como acontecera com Lif. Preocupadas e angustiadas, não sabiam o que pensar. Desejavam que a guerra logo terminasse para que pudessem ver novamente o pai, mas temiam pela vida que teriam dali para frente. Nessa, tinha a delicada aparência de uma jovem elfa, seus longos cabelos ondulados cor de cobre contrastavam com sua branca pele como a neve. Geralmente era chamada de Juwidia, e sempre era acompanhada por sua linda fênix dourada Fenrir.

                Lúthien Ringëril possuía longos cabelos negros e uma leve aparência oriental. Era muito ligada a natureza, e sempre andava acompanhada por seu lobo cinzento, Thor. Era filha de Alifader e irmã de criação de Lif e Juwidia. A mais jovem das elfas era Lawfey, que tinha uma aparência quase igual à de Lúthien, cabelos negros como a noite, e uma personalidade discreta e delicada. Sempre andava acompanhada pela loba cinzenta Hlorridi que tinha a pelagem mais clara que a de Thor, e um corpo menos robusto que o normal. Era prima de Lúthien e filha de Holnir.

                As quatro jovens todo dia amanheciam naquele ponto de Ellesmera, onde podiam observar as luzes da batalha com a esperança de verem os bravos cavaleiros retornarem finalmente. Irmãs de criação, as quatro jovens viviam juntas. Compartilhavam seus segredos e dividiam suas angústias. Apesar de diferentes aparências e personalidades, as quatro jovens tinham o mesmo gosto pela natureza. Lúthien e Lawfey eram sempre acompanhadas pelos lobos cinzentos que ganharam em seus nascimentos. Thor era um jovem macho de pelagem quase negra. Tinha uma personalidade ativa e dominante, sempre estava disposto a proteger e ajudar Lúthien. Já Hlorridi, tinha uma aparência mais delicada. Fêmea de pelos claros e personalidade carinhosa estava sempre disposta a acompanhar Lawfey onde quer que fosse.

                Juwidia sempre era acompanhada pela fênix dourada Fenrir. Muito fiel e companheira, Fenrir tinha uma bela cauda avermelhada que se contrastava com o corpo dourado. Sempre voava ao lado de Juwidia e, sempre que possível pousava em seu pulso. Lif adorava animais menores e menos agitados. Sempre carregava seu pequeno coelho branco Nolfravrell em seu colo. Delicada e carinhosa sempre estava a acariciar seu lindo pelo branco e macio.

                Ali ficaram até o sol nascer por completo, e então decidiram voltar a Ellesmera. Montaram em seus cavalos e se colocaram a cavalgar por entre as árvores da floresta Du Weldenvarden, também conhecida como a floresta protetora, que se situava na fronteira de Ellesmera. Lif montada em sua linda égua branca Braggi dirigiu-se a sua casa, onde morava com Rubezahl e seu pequeno tesouro: sua filha de seis anos, loira como a mãe e de nome Lara. Provavelmente Lara estaria para acordar, e se percebesse a falta da mãe se assustaria.

Lawfey, Lúthien e Juwidia se encaminharam para o castelo onde viviam com seus pais, onde esperariam por Lif e Lara. Lúthien, em seu cavalo marrom de patas brancas chamado Cadoc ia à frente, seguida por Thor. Logo após, vinha Juwidia montada em sua égua marrom Räg que possuía uma pequena marca em forma de estrela na testa, com Fenrir em seu braço. E atrás, calmamente, Lawfey vinha montada em seu corcel negro, Asa-Loke, acompanhada de Hlorridi.

                Chegando ao castelo, as três jovens elfas soltaram seus cavalos no campo e foram conversar na fonte onde esperariam por Lif.

                - Será que a guerra vai demorar muito para acabar? – perguntou Lúthien enquanto tocava a água cristalina da fonte com uma das mãos e acariciava Thor que estava sentado ao seu lado.

                - Espero que não... – respondeu Lawfey enquanto acariciava a cabeça de Hlorridi que agora estava apoiada em seu colo. – Assim poderemos ver logo nossos pais.

                - Eu não sei se quero que essa guerra acabe – comentou Juwidia enquanto brincava com Fenrir. E, ao ver a cara de espanto de Lúthien e Lawfey, completou: – Eu não quero ter que me casar com a pessoa errada assim como Lif foi forçada. E além do que, acho que já sei quem eu amo.

                Com essa revelação, Lúthien e Lawfey pularam para o lado da irmã e perguntaram em coro com uma imensa curiosidade: – QUEM?

                Com um simples sorriso Juwidia falou: – Ulfgar Harvagar!

                A surpresa pôde ser vista claramente na reação das irmãs, que juntas começaram a falar causando uma grande confusão de perguntas, comentários e risadas. Em meio de toda essa confusão, Lif chegou com Lara e perguntou: – O que aconteceu? Porque toda essa gritaria?

                As jovens, ainda achando graça do acontecido, cumprimentaram Lif e Lara e então responderam: – Juwidia está gostando de Ulfgar Harvagar!

                Nesse instante, Lif mandou Lara ir brincar com Nolfravrell no campo, para que então pudesse dizer com uma cara de espanto: – Mas ele é casado!

                Juwidia, que observava calada até aquele instante, então falou: – Eu não me importo. Eu não conseguiria explicar exatamente o meu sentimento por ele, mas posso dizer que é tão grande que só de vê-lo feliz já fico satisfeita. Só não gostaria de ser obrigada a me casar com alguém que eu não amo, assim como você foi.

                - Eu gosto de Rubezahl! – protestou Lif. Mas de nada adiantara, pois todas ali sabiam que na verdade Lif amava Balder mesmo antes do casamento, mas que graças às tradições não pudera se casar com ele.

                As quatro jovens ficaram ali a conversar a manhã inteira, sentadas na fonte no centro do jardim. Quando se aproximava a hora do almoço, entraram no castelo.

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Capitulo 01 – A primeira batalha

 

                Longe dali, em meio da violenta batalha que as quatro jovens observaram durante toda a manhã, estava um elfo de ar respeitoso e aparência agradável gritando comandos aos cavaleiros ao seu lado. Era um elfo de idade não muito avançada, cabelos longos e castanhos, com a pele e a roupa todas ensangüentadas.

                Estava ali para proteger sua terra, seu orgulho, sua honra... Mas principalmente, seu bem mais precioso: as quatro jovens que deixara na segurança de seu lar. Era o elfo mais respeitado de toda a Ellesmera: Alifader. Fora ele quem criara as jovens, e considerava todas como filhas.

                Aquela batalha já durava mais que o esperado, muitos de seus guerreiros estavam feridos e exaustos, mas Alifader ainda tinha a esperança de vencer. Seus guerreiros já haviam conseguido ferir a maior parte do exército inimigo e agora ele tinha a esperança de que com este último ataque, conseguiriam acabar com essa guerra que já durava mais de três dias.

                Com todo o ar de seus pulmões gritou para seus companheiros: - Pela vida e pela honra! Pela nossa Ellesmera! Ataquem homens! Acabaremos de vez com essa guerra!

                E como em um grito de guerra, todos os guerreiros correram em direção do exército inimigo gritando: - À NOSSA ELLESMERA!

                Alifader podia ver ao seu lado que Rubezahl lutava com todas as suas forças e sua força parecia dez vezes maior que a de qualquer outro ali naquele campo. Por onde ele passava vários cavaleiros inimigos tombavam e um grande estrago era causado no exército inimigo. Rubezahl, aquele homem que o salvara da morte uma vez em meio de uma batalha. E que se casara com Lif e ganhara um grande respeito seu. Balder, seu escudeiro o acompanhava. Mesmo jovem, lutava bem como qualquer outro, e matava com a bravura de um lobo selvagem.

                Todos os seus companheiros ali, numa batalha que custara muitas mortes. Quantos cavaleiros já tombaram, e quantos ainda estavam para tombar? Pensando nisso, Alifader juntou toda a sua força restante e lutou mais bravamente do que nunca, matava a todos que entravam em seu caminho e pensava cada vez mais em como estariam suas queridas. A cada golpe, a certeza de que estava cada vez mais perto de voltar as sua terra querida.

                De repente, em suas costas surge um guerreiro a atacá-lo. Até tentara se virar, mas o cansaço de três dias de batalha agora cobrava seu preço, e Alifader foi atingido em seu ombro. A espada inimiga atravessara seu corpo, e quando já não tinha mais esperanças de sobreviver para rever suas queridas, um estranho surge e o protege do golpe final.

                Mas quem era aquele desconhecido? Alifader não se lembrava de tê-lo visto em Ellesmera antes... Quem era aquele estranho que o protegia com tanta força e coragem? Não lhe parecia um elfo, mas também não era de todo um humano. Anão não poderia ser, pois parecia ser da estatura de Alifader ou talvez até mais alto. Seria um gigante? Não... Muito baixo para um gigante. Mas então... Quem seria?

                De repente uma lembrança... É claro! Como ele não reconhecera antes? Era óbvio que era Donnerstag! O único mestiço de elfos e humanos existente no mundo! Filho de um grande elfo rei e uma jovem humana! Era ele com certeza! Donnerstag era o único meio elfo existente no mundo todo. E estava ali, à sua frente, batalhando ao seu lado, e o mais importante: salvando a sua vida...

                Após algum tempo, o exército inimigo fora aniquilado e os poucos que restaram bateram em retirada. Os elfos venceram! A batalha estava terminada! Pelo menos por enquanto... Todos gritaram vitória e saíram à procura de feridos sobreviventes. Rapidamente, Holnir, o irmão de Alifader, chegou para socorrê-lo. E com uma cara preocupada olhou para a ferida em seu ombro, que com certeza fora feito com uma lâmina envenenada ao julgar pela aparência.

                Logo, todos os sobreviventes foram reunidos e começaram a marcha de volta para casa, para a querida Ellesmera. Somente com a ajuda de Holnir e Donnerstag foi possível que Alifader se levantasse, e com muito custo prosseguiram por entre os corpos caídos naquele chão amaldiçoado, onde tanto sangue havia sido derramado. Do céu escuro começou a cair uma leve chuva, que molhava os rostos vitoriosos daqueles guerreiros, que agora caminhavam finalmente para casa.

                Quando já estavam quase a entrar em meio as grandes fendas de Du Fells Nangoröth, as montanhas malditas, os cavaleiros ouviram uma voz que vinha do outro lado do campo de batalha. Essa voz, muito conhecida por todos ali dizia: - Ù i vethed... na i onnad! Isso não é o fim... É o início!

                Aquela voz... Era Menglod. Um humano que obtera a confiança de todos em Ellesmera, mas deixou que a ganância tomasse conta de seu coração, e agora batalhava e matava seus amigos, querendo as terras de Ellesmera para si. Os cavaleiros continuaram a andar, e em poucos minutos adentraram em Du Fells Nangoröth, as montanhas malditas. Aquele conjunto de montanhas se tornava escuro em meio às fendas em que os cavaleiros caminhavam. E seu solo rochoso e desigual fazia com que a caminhada fosse lenta e desconfortável. Todos muito cansados de batalhar por três dias seguidos não viam a hora de chegarem em seus lares e finalmente descansar. Mas já anoitecia, e eles ainda não haviam chegado ao fim de Du Fells Nangoröth. Quando já haviam perdido as esperanças de chegar naquele mesmo dia em Ellesmera, e procuravam um lugar para passar a noite, um grande grupo de cavaleiros se aproximou. Quando chegaram perto o suficiente, Alifader teve a certeza: eram os anões! Seus fiéis amigos anões, que avisados somente agora da batalha que acontecia, marchavam rapidamente para socorrer os amigos elfos.

                Geirendur, o chefe dos anões cumprimentou a todos e obteve um breve relato do que ocorrera com Alifader. Tinha ombros largos e uma estatura grande para um anão. Escutou o relato da batalha calado, sem interromper o amigo. E quando informado, falou com sua voz alta e grave: - Me parece que vocês batalharam duro e tiveram muitas perdas. Uma desgraça eu só saber do que se passava agora! Marchávamos nesse mesmo instante na maior velocidade possível para lá, na esperança de chegarmos a tempo de ajudá-los a acabar com aquele traiçoeiro. Mas vejo que os cavaleiros de Ellesmera continuam os mesmos de sempre e conseguiram a vitória. Todos devem estar famintos e cansados, por isso convido você, Alifader, e todos os bravos cavaleiros que o acompanham a passar a noite em meus domínios, para livrarem-se do cansaço e da fome que carregam. Espero que aceite este convite e meu pedido de desculpas de não chegar a tempo de poupar-lhe mais cavaleiros. Grandes perdas aconteceram. Ah sim aconteceram! Mas agora os convido aos meus domínios, onde teremos um grande banquete e camas confortáveis onde poderão descansar!

                Cansado e fraco, Alifader respondeu ao amigo à sua frente, aliviado de encontrá-lo: - Não me peça desculpas querido amigo, que todos sabemos que se o aviso fosse entregue a você antes, você sairia para nos socorrer como faria agora caso não nos encontrasse. Toda a Ellesmera agradece a amizade e a fidelidade que vocês anões vem nos oferecendo. É com grande alívio e felicidade que aceito o seu convite. Não imagina o fardo que nos tira das costas!

                Com um grande sorriso, Geirendur então fez sinal para que seus cavaleiros ajudassem os feridos. Um dos anões, puxando um enorme cavalo negro se aproximou de Donnerstag, fez um sinal de respeito e entregou-lhe o cavalo. Parecia que Donnerstag já conhecia os anões!

                Aproximando-se de Alifader novamente, Donnerstag entregou as rédeas de seu cavalo a Holnir e disse:

                - Use meu cavalo para que Alifader não tenha que fazer mais esforços. Seu nome é Gondir e vai obedecê-lo até a hora em que nos encontrar-mos nas terras dos anões.

                Dizendo algumas palavras para Gondir em uma língua desconhecida, Donnerstag se afastou, correndo rapidamente. Com a ajuda de Holnir, Alifader subiu no dorso de Gondir e seguiram acompanhando o restante do grupo, em direção ao domínio dos anões, onde passariam a noite.

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                Uma fina chuva começara a cair um pouco antes de as jovens irmãs entrarem no castelo. Sentadas a mesa, agora se saciavam com uma farta refeição que lhes era servida. Lawfey ficara quieta desde a hora em que começaram a servir a refeição, e agora tinha um olhar triste e um ar bastante preocupado. Percebendo o estranho comportamento da jovem, rapidamente Lúthien perguntou: - O que aconteceu Lawfey que do nada ficou quieta? O que é esse ar de preocupação e esse olhar triste? Aconteceu alguma coisa?

                Como que despertando de um sonho, Lawfey soltou um leve sorriso na tentativa de disfarçar sua tristeza, respondeu: - Não é nada... Eu só estava pensando em como estariam nossos pais. Quando penso que eles podem estar passando fome em meio aquela interminável guerra, me pesa no coração. Gostaria que eles estivessem aqui conosco nesta farta mesa ao invés de metidos em meio àquela guerra...

                Entendendo o sofrimento de Lawfey, as mais velhas tentaram lhe acalmar dizendo que logo tudo aquilo acabaria e então estariam a comer e a festejar com os pais. Parece que com aquilo Lawfey se tranqüilizara então mudaram de assunto e conversaram durante horas sentadas à mesa.

                A chuva aumentava cada vez mais, e muitos ao verem aquela forte chuva diriam que o céu estava a desabar. Aquela era uma noite escura e fria, e todos estavam recolhidos em suas casas.

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                Em meio da fenda Du Fells Nangoröth, a pesada chuva que agora caía dificultava ainda mais a marcha daqueles cansados cavaleiros. Assim como lavava a campina ardente, aquela água gélida tirava grande parte do sangue nos corpos cansados dos cavaleiros, que já não viam a hora de chegar ao aquecido salão da moradia dos anões. Seus corpos cansados cobravam o preço daqueles três dias de guerra e todos ali guardariam ao menos uma pequena cicatriz para recordarem-se daquela batalha.

                Alifader conseguia ver os pequenos cortes e arranhões no braço de Holnir, que caminhava a sua frente guiando Gondir. Rubezahl andava ao seu lado com a ajuda de Balder, que tinha um corte no rosto. Rubezahl estava com um corte no tórax e andava com o apoio de Balder. Observando as marcas de guerra que cada um havia ganhado, Alifader sentiu sua visão se tornar turva repentinamente, e ele sentia suas forças irem embora até cair do tronco de Gondir. Caiu ali, estirado no enlameado solo de Du Fells Nagoröth.

                Holnir, com a ajuda de alguns anões agora montara em Gondir para segurar o corpo inconsciente de seu irmão, pelos quilômetros que se seguiriam até avistarem a entrada das cavernas subterrâneas onde Donnerstag esperava com um grupo de anões. Assim que se aproximaram, Donnerstag e os outros anões colocaram o corpo de Alifader em uma maca que dois anões levaram às pressas para dentro da caverna. E assim que Holnir desceu do dorso de Gondir, disse a Donnerstag: - Me desculpe por montar em seu cavalo sem sua autorização, mas foi a única maneira que encontrei de trazer Alifader até aqui.

                Colocando a mão no focinho de Gondir, Donnerstag respondeu: - Não me peça desculpas, foi para isso que deixei Gondir em suas mãos. – E dizendo algumas palavras ao cavalo, completou – Venha, vamos entrar...

                Assim que colocou os pés dentro da caverna, Holnir sentiu a grande diferença entre o solo firme e seco da caverna com o enlameado e desigual da fenda. Andaram alguns poucos metros e então adentraram em um grande e iluminado salão. O cavalo de Donnerstag havia partido na fenda após entrarem, mostrando-se majestoso ao galopar em direção a um lugar que Holnir não sabia qual era.

                Logo que chegaram Geirendur aproximou-se com um pequeno anão e disse: - Este é meu filho Alois, ele lhe mostrará um lugar onde você poderá se livrar destas roupas sujas e tomar um banho quente. Logo o banquete será servido. Livre-se destas roupas e então Alois o levara na área médica para tratar seus ferimentos.

                Holnir saiu atrás de Alois por um largo corredor até chegarem a uma imensa porta, que o garoto empurrou com facilidade e esperou que Holnir entrasse para logo após fechá-la. Assim que a porta se fechou, Holnir percebeu que logo à sua frente havia uma espécie de lago com as águas cristalinas. Mesmo com a porta fechada o local era bem iluminado, pois uma faixa de luz entrava por uma fina fenda no teto e se espalhava por todos os lados. Onde a luz tocava a água, tinha-se um efeito muito bonito, que passaria paz a qualquer um que o visse. Holnir despiu-se e entrou rapidamente na água, surpreendendo-se com a temperatur, que misteriosamente estava um pouco aquecida. Talvez Holnir estivesse com tanto frio até aquele momento que até mesmo a água mais gelada lhe pareceria quente, mas isso sempre iria permanecer um mistério para aquele elfo.

Com a temperatura agradável da água, Holnir começou a lavar-se tirando todo o sangue e as impurezas que estavam aderidas à seu corpo. Aquela água lhe trazia um grande alívio, como se limpasse até mesmo a sua alma. Caminhando para longe da margem, Holnir percebeu que após alguns metros havia um aprofundamento brusco no lago, tão fundo que nem mesmo se conseguia medir o quão profundo ele seria. Com os pés no último local de terra em que poderia encostar, Holnir mergulhou para o fundo do lago após puxar uma grande quantidade de ar para seus pulmões. Em baixo da água o elfo passou a refletir sobre várias coisas, e nem mesmo viu o tempo passar. Quando seus pulmões não agüentavam mais ficar sem oxigênio, Holnir foi até a superfície e caminhou até a margem do lago novamente. Quando saiu, viu que havia uma muda de roupas limpas para vestir. Assim que colocou aquela roupa improvisada pelos anões foi até a porta, e percebeu que ela não era tão leve como parecia. Com um pouco de esforço abriu a porta, e assim que saiu viu Alois sentado no corredor a sua espera. Nesse momento Holnir arrependeu-se de demorar tanto tempo para sair.

O pequeno anão guiou Holnir até a área medica, onde quase todos os cavaleiros estavam. Com misturas de ervas, os anões cuidavam das feridas de todos ali naquela pequena sala aquecida pelo fogo de uma lareira. Assim que cuidou de suas feridas, Holnir foi se juntar a Alifader, que ainda estava inconsciente. Uma anã de corpo robusto, ao vê-lo se aproximar, comentou: - Nossos tratamentos não trarão efeitos tão grandes como os de Ellesmera, mas faremos o possível para que o veneno não se espalhe tão rapidamente até que cheguem em Ellesmera. Este é um veneno poderoso, ah sim é! Ele terá de ser muito forte, sim terá... - E com um ar pesaroso, concentrou-se novamente na ferida de Alifader. Seria difícil curá-la, e mais difícil ainda combater os efeitos do veneno.

                Ao ver o irmão ali, desacordado, Holnir sentiu um grande peso no coração. Sentou-se em um canto isolado e começou a refletir todas as mortes que aquela guerra resultara. Após algum tempo todos caminharam a um grande salão que exalava um forte cheiro de comida. Lá festejaram por toda a noite ou até a hora em que seus cansados corpos permitiam. Holnir preferiu ir descansar logo após o banquete, decidido a partir para Ellesmera o mais cedo possível. Quando caminhava lentamente por um grande corredor, avistou ali parado em frente a uma das portas Donnerstag. Encostado à parede ao lado da porta, braços cruzados e cabeça baixa parecia aguardar algo, ou alguém.

                Quando passou em sua frente, Holnir pode escutar o cavaleiro perguntar-lhe: - Gostaria de saber de teria o consentimento de Alifader para acompanhá-los a Ellesmera. Sempre procurei por Ellesmera, mas nunca consegui encontrá-la. Era muito pequeno quando parti de lá e gostaria de reavivar minha memória. Se quiserem podem vendar-me para que eu não saiba o caminho, só precisarei de alguém para me guiar.

                Surpreso com o fato de Donnerstag não lembrar-se de Ellesmera, Holnir respondeu com o maior respeito que poderia representar: - Eu conheço meu irmão e lhe garanto que se não estivesse no estado em que se encontra ele faria questão de levá-lo a Ellesmera. Você tem mais que o direito de saber a localização de Ellesmera, afinal, em seu corpo corre sangue élfico! E, além disso, você salvou a vida de Alifader! É graças a você que ele tem a chance de sobreviver!

                Dito isso, Donnerstag fez um sinal de agradecimento a Holnir e saiu caminhando pelo escuro corredor. Holnir entrou em seu quarto e descansou durante toda a noite.

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                Estava escuro em Ellesmera, e Lif decidira passar aquela noite no castelo com suas irmãs. Lara já dormira há horas e Lif ainda se encontrava sentada na cama macia do quarto de Lúthien. Ela trocava segredos e conversava sobre os mais variados assuntos fazia horas com as outras jovens. Já estava muito tarde, mas as jovens não percebiam o tempo passar. Divertiram-se ao dividir pensamentos e revelações como não faziam juntas desde que Lif se casara.

                - Acho que já é tarde, nem percebi o tempo passar! É uma pena, mas acho que devemos descansar... – disse Lif quando olhou pela janela e viu a noite negra que estava lá fora.

                - Sim acho que devemos mesmo! – concordou Lawfey, que estava animada com a conversa, mas já sentia o cansaço em seu corpo.

                Lúthien e Juwidia também concordaram e levantaram-se em um único movimento. Lúthien acompanhou as irmãs até a porta, onde trocaram desejos de boa noite e então, cada uma seguiu para seus quartos e foram descansar.

                Assim que amanheceu, as quatro jovens saíram para aquele ponto de Ellesmera que haviam descoberto há algum tempo, de onde podiam ver claramente a campina ardente. Em seus cavalos e cobertas por capas que as protegiam do frio daquela manhã, correram para lá na esperança de verem a tão esperada chegada dos cavaleiros.

Chegando lá, viram que a batalha já havia se finalizado, mas não havia nem um sinal dos cavaleiros. Quando se deu conta disso, Lif disse: - Posso ver que a batalha terminou, mas onde estão nossos cavaleiros? Será que estão todos mortos?

Ouvindo o comentário da irmã, Juwidia então disse: - Não diga uma coisa dessas! Os cavaleiros de Ellesmera são muito fortes! Fiquem calmas, tenho certeza de que eles já estão a caminho!

Com uma expressão de dúvida, Lif respondeu: - Nunca se sabe, de repente eles foram vencidos e... Não gosto nem de pensar na possibilidade!

Com uma cara de indignada, Lúthien então falou: - Pare com esses pensamentos negativos! Acho que Juwidia está certa! Eles venceram e já estão a caminho!

Lawfey estava quieta, angustiada. Em seus pensamentos concordava com Lúthien: Juwidia estava certa. Tinha que estar!

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Não muito longe dali, nos domínios dos anões, Holnir fazia os últimos preparativos para partir. Tomara novamente o cavalo de Donnerstag emprestado para que ele puxasse o meio de transporte improvisado para Alifader.

Assim que os últimos detalhes foram arrumados, Holnir agradeceu novamente a hospitalidade dos anões e colocou-se ao lado da carroça de Alifader, puxada por Gondir, que por vez era guiado por Donnerstag. Andaram durante toda a manhã, e então adentraram em Du Weldenvarden. Agora faltava pouco para chegar a Ellesmera. Ansiosos, os cavaleiros andavam cada vez mais rápido. Quando já estavam quase em Ellesmera, os cavaleiros começaram a escutar vozes que vinham de sua frente. Logo avistaram quatro jovens, que ao verem os cavaleiros correram com uma imensa felicidade ao seu encontro.

Lúthien, Lawfey, Lif e Juwidia correram em encontro dos cavaleiros, e quando estavam quase entre eles, saltaram de seus cavalos e correram na direção das pessoas que conheciam. Lif saltou em cima de Rubezahl com uma imensa felicidade. Com o tórax ferido, Rubezahl não conseguiu se equilibrar e os dois caíram em meio de todos. Abraçados, seus lábios se tocaram em um longo beijo, um beijo de saudades, de felicidade. Lúthien, Lawfey e Juwidia, ao verem a felicidade de Lif sorriram entre si e foram em direção ao tio Holnir.

- Onde está nosso pai? Estamos com saudades dele! – disse Juwidia ao se aproximar para abraçar o tio. Mas a resposta veio em seguida, quando viu o pai desacordado, e com um grito de horror a jovem se afastou. Será então que Lif estava certa? Seu pai estava de fato morto?

Com o grito de horror de Juwidia, Lif correu até onde a irmã estava e viu seu pai ali, desacordado como Juwidia havia visto. Lúthien acariciava o branco rosto do pai e Lawfey estava abraçada ao seu pai Holnir. Lif horrorizada gritou bem mais alto que Juwidia e pôs-se a chorar. Holnir tentava acalmá-las abraçando a sua filha, e ao conseguir acalmá-las explicou o que ocorrera. Assim que ele terminou, a expressão de Lif mudou completamente, e em segundos ela correu até Braggi gritando que deveriam procurar uma erva de nome difícil que as irmãs não sabiam qual era. A galope, Lif se afastava rapidamente do grupo.

Quando já se encontrava muito distante, Lif voltou correndo em direção das irmãs, e ao se aproximar suficientemente, gritou: – VAMOS!

As irmãs, assustadas e confusas com a repentina mudança de comportamento de Lif, apressaram-se para segui-la. Sobre seus cavalos afastaram-se rapidamente do grupo de cavaleiros, que não entenderam nada. Lawfey decidira ficar com seu pai e o grupo de cavaleiros, para levar Thor, Fenrir e Nolfravrell para o castelo, pois confusos os animais não seguiram as jovens.

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Lúthien e Juwidia demoraram a alcançar Lif, que agora corria após deixar Braggi em meio à clareira. Lif corria rápido, as irmãs nunca a haviam visto de tal maneira. Não poderiam ajudá-la, e mesmo que avistassem a erva procurada, não saberiam, pois não sabiam do que se tratava.

Correram durante algum tempo e então, finalmente encontraram Lif recolhendo algumas ervas. Assim que chegaram, as irmãs sentiam seus corações disparados e sua respiração forte. Não se passou nem um minuto e então Lif se levantou em um pulo dizendo – Pronto! – e logo após saiu correndo novamente em direção dos cavalos.

Cavalgaram até o castelo na maior velocidade que conseguiram, e quando chegaram ao jardim, Lawfey estava com Thor e Fenrir à espera delas. Thor, confuso e agitado com tudo o que ocorrera, correu em direção de Lúthien que o abraçou tentando acalmá-lo. Fenrir voou para o pulso de Juwidia, que acariciou seu corpo para acalmá-la também. Lif, sem dar atenção às irmãs, correu para dentro mesmo antes de libertar Braggi, que se mostrava exausta.

Juwidia desmontou de Räg com Fenrir pousada em seu braço, enquanto libertava a égua. Lúthien libertou Cadoc e Lawfey libertou Braggi que correram em direção aos campos, onde Asa-Loke estaria. Quando os cavalos já estavam longe, as jovens adentraram no castelo, à procura de Lif e de seus pais. Em um dos grandes corredores do castelo, elas passaram por um desconhecido, que tinha cabelos negros e ondulados na altura dos ombros. Nos olhos de Lúthien, era um belo rapaz, que apesar de diferente dos outros elfos de Ellesmera, despertava interesse em seu coração.

Encontraram Lif preparando uma mistura com ervas que colhera ajoelhada ao lado da cama de Alifader, que ardia em febre. Com suas ágeis mãos preparou um curativo no ferimento e deu um pouco do chá que preparara para ele. As jovens passaram a noite se revezando para cuidar de Alifader, e acabaram adormecendo ali, sentadas ao chão recostadas a cama. Uma chuva fina caía lá fora, e a noite foi se passando rapidamente.

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Alifader acordou em meio a uma noite fria. A última coisa que conseguia se lembrar era a marcha em direção à moradia dos anões, juntamente com os cavaleiros cansados e feridos. Sentia sua ferida queimando, e um leve peso sobre a coberta que estava sobre seu corpo. Estava em sua casa, disso ele tinha certeza. Mas o que acontecera no tempo em que estivera desacordado?

Com certo esforço Alifader ergueu seu corpo o suficiente para que visse as quatro jovens adormecidas sob a sua cama. Com seu movimento, ele despertara Lif que segurava a sua mão direita. Vendo que o pai despertara, Lif sentiu um grande alívio em seu coração e quando ia acordar Lúthien  que estava ao seu lado, sentiu uma mão em seu ombro. Era seu pai, que pedia para que ela não acordasse a irmã.

Mais tarde, quando todos despertaram, Alifader soube de tudo o que ocorrera a partir de Holnir, que contou-lhe todos os detalhes. Seu corpo ainda estava fraco, e sua ferida não apresentava melhoras. Alifader sabia que o veneno da lâmina ainda corria por seu corpo, mas sabia que precisaria ser forte para resolver alguns últimos assuntos. Ele sabia que mesmo com os esforços de Lif, aquele veneno não poderia ser mais combatido e lhe restava pouco tempo. Primeiramente conversou com Donnerstag, e agradeceu-lhe por ter salvado a sua vida entre os outros favores que ele lhe concedeu. Depois, conversou com Holnir e passou-lhe a tarefa de cuidar das  jovens filhas que infelizmente não poderiam contar com a sua proteção por muito mais tempo. Pediu-lhe que cuidasse dos casamentos das filhas, entre outros assuntos que ainda faltavam resolução.

Por fim, Alifader pediu para que pudesse conversar separadamente com Lif, para que pudesse lhe pedir um último favor. Lif entrou no quarto minutos depois que Alifader havia pedido para chamarem-na. Entrou silenciosa, e ajoelhou-se ao lado da cama de Alifader.

- Lif minha querida, pedi para que pudesse conversar a sós com você porque já sei que meu corpo não agüentará por muito tempo mais.

- Não diga isso pai! O senhor vai se recuperar, você verá! – interrompeu Lif, que tomada pelo desespero agora chorava.

- Minha querida acalme-se, ambos sabemos que isso que eu lhe disse infelizmente é verdade, e eu lhe peço que, por favor, escute o meu pedido. Eu lhe peço que cuide de suas irmãs, e que ao menos tente colocar juízo na cabeça delas, principalmente na de Juwidia. Faça com que todas cumpram as tradições e casem-se como o combinado. Você será a única que conseguirá fazer com que elas não aprontem nenhuma besteira. Peço-lhe que ajude seu tio Holnir a preparar este casamento, e também o de Lawfey, que virá no futuro. Você pode fazer isso por mim minha querida?

Lif chorava desesperadamente, e não acreditava que aquilo estava a acontecer. Mas respondeu à Alifader entre lágrimas: - Sim meu querido pai, fique tranqüilo. Não deixarei que nenhuma das três deixe de cumprir as tradições. Farei com que tenham juízo e casem-se como o combinado. Isso é uma promessa!

Bem mais tranqüilo com a promessa de Lif, Alifader pediu para que as outras filhas entrassem em seu quarto. Assim que as jovens entraram, colocaram-se de joelhos ao lado da cama onde o pai estava deitado e esperaram que alguém explicasse o que ocorrera. Lawfey também entrara no quarto, por pedido de Alifader.

Quando todas estavam acomodadas, Alifader então começou a falar: - Minhas queridas chamei vocês aqui, pois quero lhes contar algo que já deveria ter contado há muito tempo. É algo muito importante, e que eu quero que vocês saibam a partir de mim. Eu acho que vocês já têm idade o suficiente para saberem sobre as suas mães.

As garotas se assustaram ao saber que iriam ouvir falar de suas mães, pois sempre que perguntavam algo sobre elas, todos sempre mudavam de assunto. Percebendo o interesse das jovens, Alifader então continuou: - Eu nunca lhes contei nada sobre suas mães, pois sempre quis protegê-las. Mas acho que agora já é a hora de vocês saberem de toda a verdade. Eu não sei se você se lembra Lif, mas sua mãe me deixou com você quando você ainda era pequena. Com certeza ela não queria fazê-lo, mas teria de partir em uma viagem longa, e não poderia levá-la. Era uma viagem perigosa, e como era minha amiga ela confiou a sua guarda a mim. Infelizmente, sua mãe faleceu nessa viagem que eu nunca soube qual era o motivo, e desde então você esteve conosco.

Lif atenta a tudo o que Alifader dissera falou: - Eu tenho poucas recordações disso, mas me lembro de minha mãe o suficiente para saber que ela não me abandonaria sem motivos. Mas sempre quis saber o motivo dessa viagem que ela fez!

Alifader com uma grande tristeza no olhar continuou: - Essa pergunta infelizmente não poderei responder Lif, mas peço-lhe que nunca deixe que nada distorça essa imagem que você tem de sua mãe. Ela era uma ótima mulher, e tenho certeza de que tivera um motivo muito forte para sair sem você. Quanto ao seu pai...

- Ele me abandonou... Eu me lembro. – disse Lif interrompendo Alifader.

- Ele foi um grande homem Lif, mas não estava pronto para assumir a responsabilidade de ser pai naquela época. – disse Alifader em vão tentando explicar a Lif.

- Não me importa, quem me criou foi você, e é você quem eu considero como pai... Isso nunca vai mudar!

Com ar de pesar e percebendo que não faria Lif mudar de idéia em relação ao pai, Alifader então continuou agora se referindo a Juwidia: - Sua mãe Juwidia, infelizmente faleceu ao lhe dar a luz. Como Lúthien nasceu alguns meses depois, nós decidimos criá-la e desde então vocês são tratadas como gêmeas. Vivemos durante alguns anos como uma família comum, eu não sei se vocês se lembram, mas minha esposa sempre cuidou de vocês como irmãs, sem nunca diferenciá-las. Infelizmente após algum tempo ela faleceu em um acidente, e desde então moro aqui com vocês e tento educá-las dentro das tradições com a ajuda de Holnir, que também perdeu a esposa nesse mesmo acidente. Provavelmente vocês já devem saber algo sobre isso não?

Angustiadas, Lúthien e Lawfey afirmaram com a cabeça. Alifader, que se sentia cada vez mais cansado então continuou: - Eu nunca gostei de falar sobre esse assunto com vocês, pois não gostava que vocês se lembrassem que não são realmente irmãs. Eu tenho um carinho paternal igual por todas vocês, até mesmo por você Lawfey, minha pequena sobrinha. E espero que vocês sempre tenham uma relação de irmãs como sempre foi até aqui.

Agora que sabiam de tudo sobre as suas mães, as jovens então começaram a fazer perguntas a Alifader, questionando a aparência de suas mães e outros pequenos detalhes. Continuaram a conversar ali até caírem no sono, apoiadas na cama do pai.

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Capítulo 2 – O funeral de Alifader

 

Na manhã seguinte, quando Lif acordou pode ver que o rosto de Alifader estava pálido. Ao colocar a mão em seu rosto, sentiu sua pele gélida, e assustada, soltou um grito, que ecoou no silêncio do castelo.

Lúthien, Lawfey e Juwidia, acordaram confusas e assustadas, e procuravam entender o que ocorrera. Lawfey foi a primeira a ver a imagem de Alifader, sob a cama onde conversavam há algumas horas. Levantou-se rapidamente, e sentiu lágrimas correrem por seu rosto e uma terrível sensação de tristeza tomar conta de seu coração. Juwidia, quando viu Lawfey levantar-se bruscamente ao seu lado, levantou-se e abraçou-a, dizendo palavras de apoio e disfarçando a enorme tristeza que sentia por dentro. Apesar de Juwidia usar todas as suas forças para conter os seus sentimentos, não conseguia impedir que lágrimas corressem por seu rosto. Tamanha era a dor que sentia que não poderia ser inteiramente contida dentro de si.

Lúthien estava paralisada. Ela não queria acreditar que tudo aquilo era realidade. Aquilo só poderia ser um terrível pesadelo, da qual ela estava prestes a acordar. Ouvia vagamente os lamentos de Lif, o choro de Lawfey e as palavras de consolo de Juwidia. Sentia seu coração disparado, e um enorme sentimento de desespero tomou conta de sua mente. Saiu correndo, como se fugisse da tristeza. E, em meio ao corredor, trombou com alguém que lhe transmitiu segurança e conforto, naquela hora de dor e de sofrimento. Abraçou aquele estranho, e chorou. Chorou de desespero, de tristeza... Chorou de dor.

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Donnerstag, ao ouvir aquele grito de horror, apressou-se a pegar sua espada e se encaminhar para a fonte daquele som. Quando estava quase a chegar ao cômodo de onde saíra aquele grito, foi surpreendido por um abrir repentino de portas e o impacto de alguém trombar em seu corpo. A jovem elfa, que saíra repentinamente daquele quarto agora o abraçava, e lágrimas corriam por seu rosto. Confuso, deixou cair a sua espada e abraçou aquela jovem, transmitindo-lhe o máximo de conforto e segurança que poderia. Holnir passou ao seu lado correndo e entrou no cômodo de onde a jovem havia saído. Da vaga imagem que tinha daquele ponto do corredor, via que aquele cômodo seria um quarto, e conseguia ouvir vozes vindo de lá.

Agora Donnerstag entendia claramente o que ocorrera: Alifader falecera durante a noite, e aquela jovem que ele estava a abraçar era uma de suas filhas, que chorava pela perda de seu pai.

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O funeral de Alifader foi um dos mais belos de toda a Ellesmera. Seu corpo foi colocado em uma embarcação rodeado de flores. E sobre seu peito, por baixo de suas mãos cruzadas, fora colocada a sua espada. Empurraram o barco por sobre o mar que naquela praia era calmo como um rio ou lago, e quando ele já havia se distanciado das margens, flechas com suas pontas em chamas foram lançadas no barco. As flechas foram lançadas de um penhasco mais alto, que estava ao lado da praia. O fogo, agora libertava aquela alma guerreira, que se dirigia a um novo mundo, onde festejaria sua força e coragem durante todas as guerras enfrentadas durante sua vida na terra.

Todos na praia lamentavam a perda daquele grande guerreiro, que batalhara tantas vezes para proteger Ellesmera. Holnir abraçava sua filha Lawfey, que sofria muito com a perda de seu tio. Suas lágrimas discretas e seu choro silencioso nunca representariam o sofrimento que agora corroia sua alma. Lif estava abraçada a Rubezahl e lágrimas também corriam sob seu rosto. Lembrava-se de cada momento da conversa que tivera com seu pai e agora sentia-se decidida a fazer com que as irmãs cumprissem as tradições.

Lúthien sentia um grande apoio vindo daquele cavaleiro com quem trombara nos corredores do castelo. Não sabia quem era ele, mas seus braços a envolviam de tal forma que lhe transmitia uma segurança e um conforto como ela jamais sentira. Suas lágrimas agora eram contidas, assim como os seus sentimentos. Juwidia não chorava, e assim como Lúthien guardava seus sentimentos dentro de si. As duas irmãs desde pequenas tinham essa característica em comum: quase nunca demonstravam seus sentimentos. Em seus pensamentos elas agora deveriam ser fortes, para ajudarem as irmãs naquele momento difícil. Observava calada, longe de todos, sentada em uma pedra na borda da praia. Sentia claramente a presença de alguém à suas costas, mas não tivera a curiosidade de olhar quem era.

Quando o sol já descia no horizonte, deixando a praia com cores avermelhadas, Juwidia ouviu passos se aproximarem de suas costas e então ouviu alguém dizer-lhe: - Encontre-me hoje na cachoeira, quero conversar com você! Por favor, não se esqueça!

Aquela voz, Juwidia podia reconhecer claramente. Com certeza era Ulfgar Harvagar!

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Anoitecia, e uma fogueira agora queimava na areia da praia. O mar distante dali debatia-se fortemente contra as rochas, produzindo um dos únicos sons que se ouvia naquela praia. Todos os moradores de Ellesmera já haviam partido para suas casas, e Holnir, Donnerstag e Rubezahl haviam partido para resolverem alguns assuntos urgentes. Já era quase noite, e as estrelas brilhavam no céu. Lif então se colocou de pé e disse: - Vamos, já é noite e devemos retornar ao castelo!

Lawfey, que parara de chorar e observava o mar, levantou-se para ir, mas Juwidia nem ao menos se moveu. Lúthien ao observar a irmã, percebeu que algo acontecera e continuou em seu lugar também. Lif, ao ver que somente Lawfey havia se levantado, então começou a gritar: - Andem logo! Eu estou com frio e já não agüento mais ficar aqui! Levantem-se!

Ao ouvir os gritos de Lif, Juwidia falou: - Podem ir à frente... Quero observar o mar por mais um tempo.

Lif, que não gostava quando as irmãs não seguiam as suas ordens, então gritou mais alto: - Nada disso! Você não vai ficar aqui sozinha em uma noite escura como essa! Levante-se agora e vamos voltar para o castelo!

Lúthien, percebendo que aquilo se transformaria em uma grande discussão, então falou: - Eu vou ficar aqui com ela! Quero observar as estrelas durante algum tempo, e depois nós iremos!

Lif vendo-se contrariada pelas duas irmãs, saiu resmungando. Odiava quando elas não a obedeciam. Balder saiu com uma expressão preocupada atrás de Lif, e tentava acalmá-la. Lawfey decidiu ficar com Lúthien, já que compartilhava um grande amor pelas estrelas também. Assim que Lif saíra de vista, Juwidia então falou: - Tenho que me encontrar com Ulfgar na cachoeira. Juro-lhes que será rápido, não irei demorar. Encontrem-me no campo, e então iremos para o castelo!

Lúthien e Lawfey, que já esperavam algo do gênero, então afirmaram com a cabeça e saíram em direção aos campos, de onde costumavam observar as estrelas. Lá podiam observa-las claramente sem nenhum obstáculo. A alguns metros dali, Lif andava rapidamente com uma expressão nada amigável. Estava muito irritada com o fato de as irmãs não lhe respeitarem, e pensava que elas faziam isso somente para irritá-la. Balder tentava acompanhá-la com uma expressão preocupada, tentava acalmar Lif, mas ela não parecia escutar.

Cansado de correr ao lado de Lif e ser ignorado, Balder segurou-a pelo braço. Lif parou, e ao encontrar Balder a observá-la, aproximou-se e roubou-lhe um beijo, que foi correspondido imediatamente. Seus corpos colados agora faziam com que toda a irritação e o frio de Lif sumissem, e uma grande felicidade apossou-se da jovem elfa. Sentia um estranho revirar no estômago, como se várias borboletas estivessem ali. Após se beijarem intensamente, Lif percebeu que não deveria tê-lo feito, que ela deveria cumprir as tradições. E como que despertando, empurrou Balder e saiu correndo em direção do castelo.

Enquanto corria, percebia que o sentimento que sentia por Balder não era amor verdadeiro, e como havia sido tola de trair Rubezahl daquela maneira. Todo o sentimento que um dia sentira por Balder se fora, e agora se sentia vazia por dentro. Decidiu então que nunca contaria a ninguém, e deixaria aquele momento esquecido em sua memória.

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Lawfey e Lúthien caminhavam calmamente até o campo. Sentiam uma leve brisa tocar seus rostos, como o carinho da natureza. O céu estava cheio de estrelas e a lua se encontrava enorme naquela noite, iluminando todos os cantos de Ellesmera. Quando chegaram ao topo da colina de onde costumavam se deitar para ver as estrelas, puderam avistar claramente dois corpos caminhando rapidamente em direção do castelo. Sentaram-se ali e continuaram a observar de longe os dois corpos que se moviam muito abaixo na planície. E de repente, puderam observar um longo beijo, e então entenderam: eram Lif e Balder que estavam a se beijar!

Trocaram olhares, e então começaram a rir da situação antes de se deitarem para observar as estrelas. O céu estava lindo naquela noite, cheio de estrelas para serem observadas. Lúthien e Lawfey com certeza poderiam ficar ali por horas, somente observando aquele céu estrelado sem nem ao menos perceber o tempo passando à sua volta.

Longe dali, Juwidia corria em direção da cachoeira e já conseguia ouvir um leve som, diferente de qualquer outro que já ouvira. Uma linda melodia, que a guiava ao lugar certo. Atravessou o rio por uma pequena ponte formada por rochas, e seguiu em direção da entrada atrás da cachoeira que havia descoberto por acaso quando caminhava pelo bosque há um tempo atrás. Somente ela conhecia aquele lugar, e adorava ficar ali quando precisava pensar ou refletir. Por aquela passagem, conseguiria entrar em uma espécie de caverna, e de dentro da caverna podia se escutar uma doce melodia de flauta, tocando uma música doce, que trazia felicidade no coração de Juwidia. Pequenas gotículas de água iam ao encontro do branco rosto da jovem elfa, que agora sorria. Dentro da caverna Juwidia pôde avistar Ulfgar sentado em uma pedra.

Ulfgar era um jovem de estatura grande. Possuía longos cabelos negros e ondulados e uma personalidade forte. Sempre dizia que a honra era tudo, e era um grande amigo de Juwidia. Logo que entrou na caverna, Juwidia pôde ver uma grande preocupação no olhar de seu amigo, que agora parara de tocar e vinha em sua direção com os braços abertos.

Abraçando o amigo, Juwidia falou: - Não posso ficar aqui por muito tempo, pois podem vir me procurar. Devemos ser rápidos para que não sintam a minha falta.

- Tudo bem Juwi não iremos demorar, mas me diga uma coisa: é verdade que irá se casar?

- Infelizmente sim querido amigo, devo cumprir as tradições. Não sei de quem se trata, mas meu casamento acontecerá logo. – respondeu Juwidia com uma expressão de tristeza.

Com uma expressão desconhecida, Ulfgar então falou: - Quando souber dos detalhes, dia e hora do casamento, precisamos conversar. Quando isso acontecer, amarre um lenço verde na janela e venha me encontrar.

Dito isso, os dois se abraçaram novamente e então Ulfgar colocou-se a caminhar. Quando já estava a sair, disse: - Aguarde cinco minutos após a minha saída, para que ninguém possa desconfiar.

Foram os cinco minutos mais longos da vida de Juwidia, que agora refletia sobre todas as mudanças que ocorreram em sua vida. Assim que o tempo determinado acabou, Juwidia correu em direção aos campos, onde se deitou com as irmãs para observar as estrelas. Em poucos minutos tudo o que ocorrera foi contado às irmãs, que atentas escutavam animadas. Assim que Juwidia terminou, Lúthien então falou: - Também temos uma novidade para contar! Nós vimos Lif aos beijos com Balder lá em baixo, perto do castelo.

Sentando-se rapidamente, Juwidia não conseguia acreditar no que acabara de ouvir. Vendo o espanto da irmã, Lúthien sorriu, e então as jovens começaram a conversar. Logo o assunto já havia mudado completamente de rumo, e já não tinha mais nada a ver com os acontecimentos daquele dia. Uma paz reinava nos corações das jovens elfas, e agora elas tinham certeza de que o pai estava feliz a festejar pela coragem em sua vida.

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Já era tarde quando Holnir, Rubezahl e Donnerstag chegaram ao castelo. Logo souberam que Lif havia retornado, mas Lúthien, Lawfey e Juwidia ainda estavam fora do castelo. Encontraram Lif ao lado de uma lareira, acariciando os cabelos de Lara que dormia em seu colo segurando Nolfravrell. Assim que avistou Lif, Rubezahl foi ao seu encontro e beijou-lhe na testa. Com cuidado, pegou Lara do colo da mãe, para levá-la para casa. Lif levantou-se e seguia Rubezahl levando Nolfravrell, que agora estava em seu colo. Assim que se aproximou de seu tio para se despedir, escutou a pergunta que já esperava: - Onde estão as suas irmãs? Porque não vieram com você?

Em voz baixa Lif respondeu: - Eu chamei-as para que viessem comigo, mas aquelas teimosas nem sequer me escutaram. Disseram-me que iriam observar as estrelas, mas eu não sei... – e cumprimentando o tio, Lif saiu atrás de Rubezahl, que provavelmente já estaria a sair do castelo.

Holnir, preocupado com a resposta de Lif, agora se encontrava pensativo. Ainda possuía alguns assuntos para resolver, mas estava preocupado com as jovens elfas. Percebendo a inquietação de Holnir, Donnerstag então de ofereceu para sair em busca das jovens, enquanto Holnir terminava seus assuntos tranquilamente. Grato, Holnir pediu para que Donnerstag  fizesse-lhe esse favor, agradecendo-o pela ajuda. E então o cavaleiro apressou-se para o estábulo, onde Gondir estava, e montado em seu cavalo, saiu à procura das três jovens. Quando já saía do castelo, pode avistar Lif puxando os dois cavalos ao lado de Rubezahl, caminhando para casa.

Após algum tempo, Donnerstag já havia procurado as jovens por quase toda Ellesmera, e pensava onde mais poderia procurá-las. Concentrava-se para lembrar-se se havia deixado de passar em algum lugar, até que escutou escutou vozes e risadas vindas de um dos lados do bosque onde se encontrava. Seguiu esse som até chegar aos campos, onde encontrou as três jovens deitadas na grama abaixo do céu estrelado.

A felicidade era tão grande no coração das três irmãs, que elas perderam noção do horário. Entretidas com a conversa que agora abordava os mais variados assuntos, nem sequer perceberam o quanto já estava tarde. Enquanto conversavam animadamente, escutaram sons de cascos de cavalo aproximando-se, e alguns minutos depois conseguiram ver a sombra de alguém que parara acima de suas cabeças.

Levantando-se, Juwidia viu que se tratava do cavaleiro misterioso com quem Lúthien havia trombado aquela manhã no castelo. Um cavaleiro que ajudara seu pai na batalha, pelo o que ouvira dizer. Desmontando do cavalo, o cavaleiro curvou-se em sinal de respeito e então disse: - Holnir pediu para que eu as encontrasse e pedisse que retornassem para o castelo, pois já é tarde.

Lúthien que agora já estava de pé estendeu a mão para o cavaleiro, para que esse se levantasse. Ele era alto, e Lúthien batia na altura de seus ombros, talvez um pouco abaixo. Quando o cavaleiro já estava de pé, a jovem disse: - Nossa, já é tarde! Desculpe-nos pelo incômodo de sair a nossa procura a esta hora, perdemos a noção do horário!

Com um pequeno sorriso, o cavaleiro respondeu educadamente: - É uma honra acompanhá-las até o castelo. Entendo perfeitamente a distração em relação ao horário, afinal, o céu está lindo esta noite...

Sorrindo, Lúthien, Lawfey e Juwidia colocaram-se a caminhar em direção ao castelo acompanhadas de Donnerstag. Chegando ao castelo, dirigiram-se ao cômodo onde Holnir estava, atrás de uma pilha de papéis. Ele, ao ver as jovens entrarem, ficou aliviado a abraçou-as com um imenso carinho. O sorriso no rosto de Lawfey trazia uma grande felicidade a todos, que agora percebiam o bem que aquela noite observando as estrelas fizera à jovem.

Sentindo-se cansadas, as jovens decidiram ir descansar. Lúthien e Juwidia desejaram boa noite ao tio e a Donnerstag e encaminharam-se para o corredor. Lawfey abraçando fortemente o pai desejou-lhe boa noite e saiu após beijar-lhe a face. Encontrou com as primas no corredor, e então as três jovens cansadas com tudo o que ocorrera aquele dia encaminharam-se para seus quartos, onde descansaram durante toda a noite.

Assim que as jovens saíram, Holnir agradeceu a Donnerstag por trazê-las de volta e então voltou aos seus afazeres, acompanhado pelo cavaleiro. Ainda tinha muito o que fazer, e sabia que precisaria começar os preparativos para o casamento das sobrinhas. Passou praticamente toda a noite no escritório, e quando se dirigiu ao seu quarto já era quase dia.

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Na manhã seguinte, Lúthien sentia-se leve como se houvessem tirado um grande peso de dentro do seu corpo. Uma grande felicidade apossava-se de sua mente, e esperava conseguir falar com as outras sobre algo que havia pensado durante a noite anterior, antes de adormecer. Abriu as cortinas de sua sacada, e saiu inspirando aquele ar puro de Ellesmera. Apoiou-se na proteção da sacada e dali, conseguiu ver aquele forte cavaleiro que a ajudara tanto. Ele estava sentado em baixo de uma árvore em frente a sua janela, afiando a lâmina de sua espada.

Lúthien sentiu um leve acelerar em seu coração e ficou ali, a observá-lo durante um longo tempo. Quase uma hora depois que Lúthien havia saído à sacada, ela escutou a porta da sacada do quarto de Lawfey, que era ao lado do seu, se abrir e logo depois um animado desejar de bom dia às suas costas. Lúthien virou-se lentamente, sem tirar os olhos daquele cavaleiro e desejou bom dia para a prima. Conversaram ali durante algum tempo, e então ouviram um leve bater na porta do quarto de Lúthien. Sorrindo, a jovem correu para abrir a porta, onde Juwidia esperava com um grande sorriso no rosto. Parecia que todas se sentiam revigoradas após aquela noite, e que a mesma felicidade que Lúthien sentia naquela manhã aplicava-se a todas.

Logo as três estavam reunidas nas sacadas, e então Lúthien revelou um segredo que descobrira na noite anterior: - Acho que estou gostando do amigo do tio Holnir, aquele cavaleiro com quem trombei ontem de manhã!

As jovens agitaram-se e quiseram detalhes daquela revelação. Lúthien começou a explicar seus sentimentos em relação ao cavaleiro, e Lawfey e Juwidia escutavam tudo atentas e fazendo pequenos comentários. As jovens conversaram ali durante quase toda a manhã animadas e felizes, sem saber ao certo o motivo de tanta felicidade. Quando o sol já brilhava no céu, ouviram batidas na porta do quarto de Lawfey e a voz de Holnir dizendo: - Lawfey? Você está ai?

Lawfey respondeu da sacada: - Estou sim pai! Pode entrar!

Ouviu-se um clique na porta, e logo Holnir estava na sacada, feliz ao ver a felicidade das três jovens. Virando-se para Lúthien perguntou: - Lif não veio para o castelo ainda... O que será que aconteceu?

- Não sei... Acho que logo ela estará aqui! – respondeu Lúthien indecisa.

Holnir animado com a felicidade das jovens, convidou-as para cavalgar pelas terras de Ellesmera, para que pudessem aproveitar aquele lindo dia. As jovens logo aceitaram, e então todos saíram para cavalgar. Passaram pela casa de Lif para convidá-la a ir também, mas Rubezahl falou que ela saíra muito cedo para reabastecer o seu estoque de ervas e ainda não voltara. As irmãs estranharam um pouco o fato de que as ervas de Lif já se encontrassem no fim, pois haviam a acompanhado na colheita de ervas há menos de duas semanas. Mas logo deixaram o pensamento de lado, e saíram para cavalgar nos campos com o tio e Lawfey.

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Em meio à floresta, Lif encontrava-se mergulhada em pensamentos. Andava sem rumo pela floresta lembrando-se dos acontecimentos da noite anterior. Tudo o que ocorrera não saia de sua cabeça, e ela não conseguira dormir durante toda a noite graças a isso. A lembrança daquele beijo lhe trazia angústia, e uma grande confusão estava formada em sua mente. Encontrava-se confusa do por que se sentia tão vazia por dentro, afinal ela finalmente havia feito o que mais desejara por anos. Começava a pensar se em algum momento amara Balder realmente, ou se todo aquele sentimento não se passava de uma ilusão criada graças ao fato de Rubezahl ser tão rude. Pensou durante toda a manhã enquanto andava pela floresta sem rumo, e então decidiu que não pensaria mais no assunto e se esqueceria do que ocorrera na noite anterior. Decidira que a partir daquele momento iria se preocupar somente com o casamento das irmãs, que deveria ocorrer logo.

Abaixou-se perto de uma pequena planta ressecada e delicadamente tocou a terra onde se encontrava a sua raiz. Fechou os olhos para que pudesse se concentrar melhor, e então a planta que se encontrava quase morta transformou-se em uma planta muito bela e viçosa. Lif abriu lentamente os olhos, e vendo o resultado soltou um leve sorriso e pôs-se a caminhar em direção de sua casa.

Chegando lá Rubezahl informou-lhe que as irmãs haviam passado por lá há aproximadamente duas horas procurando-a, e então Lif carinhosamente agradeceu ao marido que agora se preparava para sair. Quando estavam à porta, Lif disse: - Assim que terminar os seus negócios vá para o castelo, pois irei com Lara até lá para resolver os detalhes do casamento de minhas irmãs com meu tio Holnir. Almoçaremos por lá...

Rubezahl, com uma cara de espanto respondeu: - Mas já? Não era melhor esperar um tempo até que elas se recuperem da morte do seu pai? Ouvi dizer que nem Lúthien nem Juwidia querem se casar e...

Silenciando Rubezahl com um beijo Lif falou: - Tem que ser assim meu querido, isso não pode demorar.

Com uma cara de quem não mostrava plena satisfação, Rubezahl então respondeu: - Bom, faça o que achar melhor.

Com um leve sorriso, Lif beijou Rubezahl e disse-lhe para que se apressasse, para que pudesse almoçar com todos. Rubezahl retribuiu-lhe o beijo e abraçou a pequena Lara que estava agarrada ao seu vestido de Lif. Montando em seu cavalo, ele saiu à galope para resolver seus problemas o mais rápido possível. Lif pegou a mão de Lara e levou-a para dentro, onde a trocou rapidamente para irem ao castelo. Pegou Nolfravrell em sua cama, e saiu rumo ao castelo segurando firmemente a mão da filha, decidida que naquele mesmo dia iria iniciar os preparativos.

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Lúthien, Lawfey, Juwidia e Holnir cavalgaram durante toda a manhã. Passaram por lindas paisagens e divertiram-se muito com aquele passeio. Voltaram quando já se passava um pouco da hora do almoço, pois perceberam que os cavalos já se impacientavam com a fome que sentiam. Chegando à frente do castelo, puderam escutar passos apressados que vinham em direção da porta principal. E enquanto desamarravam seus cavalos e lhes acariciavam agradecendo o bom passeio que eles lhes haviam proporcionado, Lif chegou ao topo dos poucos degraus à frente da porta e começou a falar em um tom alto e bastante agressivo: - Até que enfim vocês chegaram! Estou esperando vocês faz horas! Não há tempo para que vocês fiquem aí passeando a cavalo! Temos que nos apressar para os preparativos do casamento! Tudo ainda tem de ser arrumado! E eu quero que esse casamento ocorra no primeiro dia da primavera! Temos menos de um mês para fazer todos os preparativos, então devemos nos apressar. Logo após o almoço podemos começar!

Com as palavras de Lif, todos ficaram surpresos. Holnir desculpou-se com Lif explicando que a idéia do passeio fora dele. Lif com uma expressão desagradável começou novamente a dizer que havia muito pouco tempo para a quantidade de coisas que deveriam providenciar para o casamento e que eles não deveriam desperdiçar esse pouco tempo. Juwidia e Lúthien sentiam-se paralisadas ao ouvirem falar de seus casamentos, e Holnir mostrava-se envergonhado das acusações de Lif sobre a sua falta de responsabilidade. Lawfey então disse com a sua forma tímida e meiga de falar: - Lif acalme-se, nós não queríamos aborrecer você, só queríamos aproveitar essa bela manhã para cavalgar um pouco.

Lif com um tom de voz furioso começou a falar: - Não temos tempo para cavalgadas! Temos que preparar esse casamento antes do primeiro dia de primavera! Se não nos apressarmos não conseguiremos nunca terminar de fazer todos os preparativos da festa!

Lawfey surpresa com a reação de Lif, abaixou a cabeça e sentiu seu rosto corar. Lúthien que esteve paralisada até aquele momento, então disse: - Lif acalme-se! Ele é seu tio e você não deveria falar assim com ele e...

Abruptamente Lif interrompeu Lúthien com seus gritos: - Você fique quieta que o assunto não tem nada a ver com você!

Juwidia então começou a gritar: - Lúthien está mais do que certa! Você não tem o DIREITO de falar dessa forma com o tio Holnir e com mais ninguém! Somente ele tem o direito de dar alguma ordem nesse castelo! Se você é mal-humorada e não sabe apreciar um belo dia como esse, o problema é seu! Só não venha estragar o dia de todos os outros com esse seu mal-humor!

Lif logo começou a discutir com Juwidia e os gritos das garotas tornavam-se cada vez mais altos. Holnir tentava em vão fazer com que aquela briga terminasse, mas as jovens não ouviam sequer uma palavra do que o tio dizia. Foi então que Lif disse: - Papai me deu o direito sobre você, então fique quieta que isso também não lhe diz respeito!

- Não me diz respeito? Essa é boa! É o meu casamento que você vai resolver! Mais do que isso, é a minha vida que estará em jogo hoje! Se você não é feliz com Rubezahl e tem que ficar traindo ele com Balder no jardim a culpa não é minha!

Lif respondeu furiosa perguntando a Juwidia como ela conseguia ser tão infantil de inventar uma história daquelas, e a discussão continuou por um longo tempo, até que Lúthien se cansou de toda aquela confusão e gritou: – FIQUEM QUIETAS! As duas! Porque vocês sempre têm de discutir dessa forma? Será que ao menos UMA vez na vida podemos conversar civilizadamente? Parem com isso as duas! Eu estou cansada disso tudo! Você quer preparar o nosso casamente Lif? ÓTIMO! Mas você podia ao menos nos consultar se estamos prontas ou não, você não acha? Ter ao menos um pouco de consideração conosco, afinal somo as suas irmãs! E não se atreva a dizer que você manda em nós, porque as únicas pessoas que têm esse direito são papai e o tio Holnir! E agora que perdemos o nosso pai, espero que você use a educação que ele nos deu e respeite o tio Holnir! Chega dessa confusão, parem com essa gritaria toda e acalmem-se por favor!

Depois que Lúthien falou, todos pararam por alguns instantes surpresos com a reação da elfa, que não costumava fazer coisas assim. Então Juwidia passou enfurecida por Lif, esbarrando propositalmente em seu ombro. Lúthien e Lawfey foram atrás da jovem quase correndo para que pudessem alcançá-la, e quando a alcançaram, disseram: - Fique calma Juwidia, vai ficar tudo bem! Não se esqueça que em parte ela está certa nós temos que cumprir as tradições!

Juwidia não falava, somente andava apressada na direção do seu quarto. Ao chegar lá, abriu algumas gavetas como se procurasse algo, e então pegou uma fita verde que às vezes usava para prender os cabelos e correu até a sacada, onde amarrou a fita que logo começou a se debater com o vento que passava. Entrou novamente e amarrou sua capa de viajem no pescoço. Pegando Fenrir em sua gaiola, saiu apressada do quarto seguida por Lúthien e Lawfey, que não haviam compreendido nada do que Juwidia fizera. Logo estavam novamente fora do castelo e Juwidia saiu a galope montada em sua égua Räg. Lúthien e Lawfey até pensaram em ir atrás, mas acharam melhor que dessem a ela um tempo para pensar. Depois do almoço sairiam atrás dela.

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Capitulo 3 – O casamento

 

Lúthien sentia um grande número de pensamentos tomarem conta de sua mente, em uma grande confusão. Sentia-se tão furiosa como Juwidia com relação a esse casamento, mas nunca conseguiria expressar esse sentimento. Ela sabia claramente que as tradições deveriam ser cumpridas, mas ao mesmo tempo tinha medo de sua vida após o casamento. Acompanhada por Lawfey entrou no castelo e se encaminhou para seu quarto onde poderiam conversar tranquilamente. Quando lá chegaram, Lúthien estava tão perturbada pelos inúmeros pensamentos embaralhados que ocupavam sua mente que já não conseguia mais ver o que acontecia a sua volta.

Lawfey conhecia muito bem a prima, e sempre fora muito unida a ela, então conseguia entender claramente seus sentimentos. Sentadas na cama as duas começaram a conversar: - Lúthien acalme-se! Vai dar tudo certo... – disse Lawfey com uma expressão preocupada ao ver a prima tão perturbada. Nunca havia visto Lúthien daquela forma, e sabia que aquilo que conseguia ver não mostrava nem um décimo do que a prima sentia naquele momento.

Uma pausa foi feita até que Lúthien conseguiu responder com o olhar distante, como se não estivesse ali realmente: - Eu sei que devo cumprir as tradições, mas tenho medo de ter um futuro casada com alguém a quem não amo de verdade, e de nunca conseguir amá-lo como mandam as tradições. Não posso mandar em meu coração Lawfey, e não acho que conseguirei amar de verdade ninguém mais além daquele cavaleiro misterioso.

Com uma expressão triste, Lawfey respondeu: - Então fuja, não se case! E então poderá ter o futuro...

Lúthien interrompeu a prima de modo delicado dizendo: - Não Lawfey, prometi ao meu pai que realizaria as tradições como ele desejava. Tenho que cumprir com a minha palavra.

Lawfey não conseguindo pensar em nada para falar, calou-se e ficou observando o rosto da prima por um tempo, até que viessem chamá-las para a refeição. Lawfey levantou-se delicadamente e convidou Lúthien: - Vamos almoçar Lúthien, venha...

Lúthien olhou para Lawfey, seus olhos não pareciam ter o mesmo brilho de sempre. Ficaram ali se olhando por alguns segundos, até que a jovem respondeu: - Não estou com fome... Vá você e depois sairemos em busca de Juwidia.

Lawfey saiu então deixando Lúthien sozinha no quarto, somente com seus pensamentos. A jovem deitou-se na cama e começou a refletir sobre tudo o que ocorrera nesses últimos dias, e uma lágrima escorreu em seu rosto ao se lembrar do pai. Thor percebendo a tristeza da jovem, subiu na cama e deitou-se ao lado dela. Lúthien abraçou-o e agradeceu por sempre estar ao seu lado.

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Juwidia estava sozinha na caverna atrás da cachoeira. Lembrava-se do que ocorrera desde que saíra do castelo: galopara até a cachoeira, onde libertou Räg e entrou na caverna. Quando entrou na caverna, Ulfgar já estava ali, impaciente para saber o que ocorrera. Quando viu o amigo, Juwidia correu em seu encontro e abraçou-o,  e explicou-lhe tudo o que ocorrera naquela manhã e disse que seu casamento iria acontecer no primeiro dia de primavera. Preocupado com a felicidade de Juwidia, Ulfgar então lhe propôs que ela fugisse, e Juwidia concordou assim que a proposta foi feita. Combinaram então de se encontrar na noite anterior do casamento naquele ponto, de onde iriam partir em sua fuga. E após algum tempo que todos os detalhes foram combinados, Ulfgar saiu para resolver seus problemas e pediu que Juwidia não o procurasse para mais nada, a não ser que fosse urgente. Assim as chances de desconfiarem de algo seriam mínimas.

Após a saída do amigo, Juwidia sentou-se na pedra que mais parecia um banco no meio da caverna. Ficou ali a pensar o quanto aquele plano era perfeito, e como ele resolveria todos os seus problemas. Com um leve sorriso levantou-se e saiu da caverna, decidiu ir até um dos pontos mais belos de Ellesmera: o penhasco onde se conseguia ver o mar claramente.

No castelo, a refeição foi silenciosa e só se ouviam o barulho dos talheres batendo nos pratos. Assim que terminou sua refeição, Lawfey se encaminhou à cozinha para pegar alguma comida para levar para Lúthien. Com o conhecimento que tinha da prima, sabia que ela não queria comer para não encontrar Lif, com quem estava chateada mesmo que negasse a aceitar. Levou a comida que separou até o quarto de Lúthien, que estava deitada na cama abraçada à Thor. Lúthien assim que viu a prima, levantou-se e começou a se preparar para ir atrás de Juwidia e Thor com seu faro apurado, já se aproximara de Lawfey esperando por comida.

Lawfey se aproximou delicadamente de Lúthien e pediu: - Coma isso, por favor. Não quero que você fique sem comer!

Lúthien que sabia que a prima não desistiria tão fácil de entregar-lhe aquele prato, falou: - Guarde essa comida para Juwidia. Antes de sairmos eu passo pela cozinha e pego qualquer coisa para mim. Vá vestir a sua capa para sairmos, pois pode ser que anoiteça antes de a encontrarmos.

Dito isso, Lawfey foi até seu quarto e vestiu sua capa de viagem azul e seguida por Hlorridi andou apressada atrás de Lúthien, que se dirigia à entrada do castelo. Quando lá chegaram viram Lif de saída ao lado do tio. E então pararam em meio ao grande salão. Assim que avistou as irmãs vestidas com as capas de viagem, Lif disse: - Nem pensem em sair. Já basta Juwidia que sumiu antes do almoço!

Lúthien ao ouvir aquelas palavras, pegou Lawfey pelo pulso e saiu a arrastá-la novamente pelo corredor. Lif ao ver a reação da irmã, sentiu-se satisfeita pensando que aos poucos estava ganhando o respeito das mais jovens, e orgulhosa, saiu com o tio para o jardim. Lúthien ainda andava apressada pelos corredores segurando o pulso de Lawfey, já haviam passado por vários cômodos do castelo e logo chegaram à cozinha.

Ao passar pelas mesas, Lúthien pegou um pedaço de carne e um pão grande que estava no cesto. Em uma jarra, colocou a água e então abriu silenciosamente a porta que dava nos fundos do castelo. Seguida por Lawfey se dirigiu até o estábulo, onde pegou mais algumas coisas no caminho. Chegando ao local onde Cadoc e Asa-Loke estavam, colocou tudo o que segurava no chão e abraçou seu cavalo. Acariciando seu pescoço disse-lhe algumas palavras em voz tão baixa, que ninguém mais além de Cadoc conseguiria ouvir. Virou-se para Lawfey, e então disse: - Bom tudo está aqui. Assim que arrumarmos tudo, poderemos partir.

Assustada, Lawfey ficou a observar a prima. Não entendera porque Lúthien havia pego muitos dos objetos  que estavam no chão à sua frente. Porque ela havia pegado carne, se elas não comeriam? E o que era aquilo tudo que estava a sua frente? A resposta veio logo, quando Lúthien pegou um pedaço do pão, colocou-o na boca e começou a remexer as coisas. Deu um pedaço de carne para cada um dos lobos e embrulhou o que sobrara em um pedaço de pano. Logo após, colocou algo que parecia a Lawfey um pedaço de pano sobre o dorso de Cadoc e começou a selá-lo. Lawfey selou Asa-Loke e então começou a observar novamente Lúthien, que agora colocava os outros objetos divididos entre as duas bolsas que estavam abaixo da sela de Cadoc.

Ao perceber a curiosidade de Lawfey, Lúthien começou a explicar: - Vi os cavaleiros usarem essa coisa – tocando o pano abaixo da sela de Cadoc – quando vão viajar. São bolsas que ficam dos dois lados do cavalo para que o peso fique equilibrado e então mais peso possa ser carregado. Dito isso, montou em Cadoc que agora estava pronto para partir e saiu lentamente em direção à porta. Lawfey montando em Asa-Loke, seguiu-a e saíram à procura de Juwidia.

Passaram por inúmeros lugares de Ellesmera procurando a jovem, e quando o sol já começava a se pôr encontraram a irmã a observar o mar do penhasco de onde as flechas em chamas haviam sido lançadas sobre o barco de Alifader. Aproximando-se da irmã calmamente, Lúthien sentou-se e começou a conversar. Lawfey sentou-se ao lado de Lúthien e entregou a comida que havia trago para Juwidia. Agradecida, a jovem pegou a comida e logo começou a saciar-se, revelando que estava com fome. Lúthien partiu o que sobrara da carne e entregou aos lobos enquanto Lawfey desembrulhava algumas frutas e aveia oferecendo a Fenrir, que agradeceu com um baixo canto. As três jovens ficaram ali até depois do pôr do sol, e então voltaram ao castelo. Räg que havia recebido um pouco de aveia e algumas maçãs de Lúthien, ainda mostrava sinais de fome apressando-se para chegar logo ao castelo.

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Lif que após algum tempo percebeu a falta das irmãs, encontrava-se aflita no saguão do castelo. Ela passara a tarde resolvendo os assuntos do casamento e sentia o cansaço tomar conta de seu corpo. Durante o tempo em que estava preparando as coisas do casamento, refletiu sobre as palavras que Lúthien lhe dissera. Isso fez com que ela percebesse o quanto estava sendo desagradável com as pessoas à sua volta, e fez com que sua atitude mudasse. Ao ouvir barulho de cascos de cavalo se aproximando, apressou-se para chegar a seu quarto antes de as irmãs entrassem. Sentia-se culpada por ver a aflição das irmãs sobre o casamento, mas sabia que aquilo era o certo a se fazer. Correu para seu quarto e começou a fingir que não percebera a falta delas, e que estava arrumando suas coisas para voltar para casa. Lara brincava com Nolfravrell sentada na cama, soltando algumas gargalhadas quando ele saltitava pela cama.

Alguns minutos depois, Lif sentiu claramente suas irmãs passarem às suas costas. Sorrindo continuou a arrumar as suas coisas, como se não houvesse percebido nada. Lara que olhara em direção da porta bem na hora que Juwidia passava, achou graça do fato de ela andar nas pontas dos pés. Mas com o sinal de pedido de silêncio que Juwidia fizera, Lara abaixou a cabeça novamente e concentrou-se em Nolfravrell que agora estava em seu colo. Quando Lif terminou de arrumar suas coisas, chamou Lara e foi se despedir das irmãs que estavam agora no quarto de Juwidia. Bateu de leve na porta, e em seguida entrou. Lara, que carregava Nolfravrell no colo, despediu-se animadamente de cada uma, enquanto Lif apenas fez um sinal discreto com a mão. Assim que saiu do castelo, Lif encaminhou-se para sua casa onde combinara de se encontrar com Rubezahl.

Chegando a sua casa, Lif deparou-se com algo inesperado: Rubezahl havia convidado Balder para comer lá, e Lif espantou-se com isso. Deixando suas coisas no quarto, começou a preparar o jantar. A cada instante lembrava-se do que ocorrera na noite do funeral de seu pai e sentia-se culpada por enganar Rubezahl daquela forma. Após o jantar, quando arrumava as coisas na cozinha, Lif foi surpreendida por Balder que apareceu na cozinha com a desculpa de trazer os pratos sujos e tentou beijá-la. Lif empurrou-o com todas as suas forças e disse: - O que pensa que está fazendo?

Balder, surpreendido com a reação de Lif, olhou-a com um pequeno sorriso no rosto e disse: - Tudo bem... Rubezahl não está vendo, estamos seguros aqui!

Lif indignada com a resposta pediu: - Por favor, esqueça tudo o que houve aquela noite. Eu não estava em meu estado normal, vamos esquecer tudo e fingir que nada aconteceu. Tudo aquilo não passou de um grande mal entendido! De agora em diante, me respeite por favor!

Balder com uma cara de desgosto voltou para a sala, onde conversou com Rubezahl durante quase toda a noite fingindo que nada havia acontecido. Lif tentara ficar o maior tempo possível distante deles com a desculpa de colocar Lara para dormir ou arrumar algo na cozinha. No castelo, Lúthien, Lawfey e Juwidia conversavam sobre o que ocorrera naquele dia. Juwidia contara as irmãs à idéia que teve com Ulfgar e elas encontravam-se espantadas. Após algum tempo de discussão perceberam que aquilo seria o melhor a fazer, e prometeram que ajudariam Juwidia no dia combinado. Sentiam seus corpos cansados, mas estavam decididas a não irem descansar até que tudo fosse esclarecido. Conversaram durantes horas, e quando já estava bem tarde, escutaram batidas na porta. As três jovens se entreolharam para então dizerem juntas: - Pode entrar!

Com um clique a porta de abriu lentamente e então Holnir entrou. Estava com uma expressão diferente, de insegurança. As irmãs cumprimentaram o tio, e Lawfey foi abraçar o pai, que acariciou seus cabelos e aproximou-se com uma expressão preocupada dizendo: - Já está tarde, vocês não vão descansar?

As três jovens se entreolharam novamente e então Juwidia respondeu: - Logo nós iremos tio, só queremos terminar de conversar antes.

Holnir que demonstrava um grande cansaço, então desejou boa noite às sobrinhas, beijou a testa de Lawfey e saiu em direção ao seu quarto, encostando novamente a porta ao sair. As jovens elfas conversaram por mais algum tempo e então foram dormir. Cada uma em seu quarto, pensaram bem sobre tudo o que conversaram antes de adormecer.

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Os dias seguintes passaram rapidamente em Ellesmera e Lúthien e Juwidia ficavam cada vez mais ansiosas e preocupadas com o que estaria por vir. Lif andava muito ocupada com os preparativos do casamento, preocupada para que tudo ficasse perfeito. Holnir ajudava Lif com os preparativos, mas sentia um grande pesar no coração com tudo isso.

Todos em Ellesmera estavam agitados para a chegada do casamento, e estavam ansiosos para saber com quem as jovens se casariam. Quando faltavam somente alguns dias para o casamento, Lúthien estava mais ansiosa e aflita do que nunca estivera em sua vida até aquele dia. Juwidia também estava ansiosa, mas seus pensamentos estavam na fuga planejada com Ulfgar.

No dia anterior ao casamento, Lúthien encontrava-se com um olhar triste. Aquele cavaleiro com quem trombara no dia da morte de seu pai não saía de seus pensamentos, e a jovem estava totalmente desligada de tudo o que acontecia a sua volta. Juwidia estava ansiosa, e sempre que podia, ia ao seu quarto e adicionava algo que havia esquecido nas malas que já preparara para a fuga. A sua ansiedade crescia a cada instante, e a cada prova de vestido ela sentia o seu coração se apertar. Quando a noite já caia e todas as provas dos vestidos já haviam sido feitos, Juwidia se encaminhou ao seu quarto, onde encontrou Lawfey e Lúthien que a aguardavam com um pacote nas mãos. Lawfey aproximou-se de Juwidia e encostando a porta, disse: - Conseguimos um pouco de comida para você levar.

Juwidia pegou o pacote e colocou-o em cima da cama junto com as coisas que já havia separado para levar. Lúthien aproximou-se da irmã, e entregando-lhe algo, disse: - Juwidia, eu e Lawfey fizemos isso com todo o carinho para você. Use-a para se proteger, e nunca se esqueça que nós a amamos demais!

Juwidia abriu o embrulho e surpreendeu-se com a linda capa que estava no embrulho. Era uma capa verde escuro, feita em um tecido semelhante ao veludo e coberta de cetim em sua parte interior, com a costura feita em preto e com pequenos detalhes dourados nas bordas. Onde se fechava no pescoço, tinha um pequeno broche em formato de folha de cor dourada. Emocionada com o carinho das irmãs, Juwidia abraçou-as dizendo a falta que elas lhe fariam. E após algum tempo, quando tudo já havia sido separado e conferido inúmeras vezes, Lúthien saiu do castelo e foi preparar os cavalos para saírem. Colocou uma das bolsas em baixo da sela de Räg e guiou a égua até a área que dava em baixo da janela do quarto de Juwidia com o cuidado de não ser vista. Quando chegou lá, Lawfey e Juwidia baixaram tudo o que haviam preparado para que Lúthien coloca-se nas bolsas abaixo da sela de Räg. Lúthien deixou os cavalos amarrados abaixo da janela de Juwidia, e entrou novamente no castelo o mais discretamente que pôde.

As três jovens irmãs esperaram impacientes até a meia noite, quando saíram pela janela deixando a porta do quarto trancada. Montaram em seus cavalos e saíram silenciosamente em direção à floresta. Quando chegaram à cachoeira, ficaram a aguardar por alguns instantes até que Ulfgar apareceu com uma expressão de espanto e disse-lhes: - Voltem para o castelo! Descobriram nosso plano e com certeza irão procurar por vocês agora! Nossa honra está em jogo, portanto corram o máximo que puderem!

Assustadas, as jovens galoparam até o estábulo, onde deixaram os cavalos selados e se encaminharam para a janela do quarto de Juwidia. Logo começaram a escalar até a janela, com medo de que já fosse tarde demais.

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Lif passara o dia resolvendo os assuntos do casamento. Supervisionou cada detalhe, pois queria que aquele casamento saísse perfeito. Já se passara da meia noite, quando retornava para o castelo e foi informada dos planos de Juwidia. Furiosa, correu para o castelo, onde deixou Braggi na porta principal e correu para o quarto da irmã, onde encontrou a porta trancada. Ela batia na porta e gritava como louca do lado de fora para que as irmãs abrissem a porta, e sem resposta, correu para o escritório do tio, onde pegaria o molho de todas as chaves do castelo. Holnir levou Braggi até o estábulo, onde encontrou Cadoc, Asa-Loke e Räg ainda selados. Com isso começou a rir sozinho, e passou a libertar todos os cavalos.

Tudo o que estava nas bolsas abaixo da sela de Räg, Holnir deixou em um canto escondido, onde Juwidia pudesse pegar mais tarde. Quando já havia libertado todos os cavalos, incluindo Braggi, Holnir começou a libertar seu cavalo quando Lif chegou correndo gritando que precisava das chaves. Como não conseguira encontrar, Lif correu até o estábulo, para pedir ajuda ao tio. Com a demora do tio, Lif ajudou o tio a libertar o cavalo com agressividade e depois o arrastou até o castelo o mais rápido possível. Assim que conseguiu as chaves, correu em disparada até o quarto e abriu bruscamente a porta, onde deu de cara com Lawfey, Lúthien e Juwidia sentadas na cama conversando normalmente. Assustadas, as irmãs perguntaram a Lif o que ocorrera, e ela, confusa saiu correndo do quarto batendo a porta ao sair.

Assim que Lif saiu, as jovens se entreolharam e começaram a rir. As três haviam corrido até a janela de Juwidia e subido às pressas até a sacada. Assim que chegaram ao quarto ouviram passos apressados no corredor e então entraram no quarto rapidamente encostando a porta da sacada para que não se pudesse ver as capas que ali deixaram. Assim que entraram pularam na cama segundos antes de a porta se abrir bruscamente e as irmãs olharam assustadas para Lif, torcendo para que tudo desse certo. Com a cara de espanto de Lif ao ver as jovens ali, elas se fizeram de desentendidas, e perguntaram o que havia acontecido.

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No dia seguinte pela manhã, Juwidia correu até o estábulo onde encontrou Lúthien e Lawfey com expressões assustadas no rosto. Quando se aproximou, soube que os cavalos não estavam mais selados quando as jovens haviam chegado ali, e as coisas estavam todas em um canto do estábulo, cobertas pela capa do tio Holnir. Assustadas as três jovens voltaram ao castelo, deixando a capa do tio no escritório. Encaminharam-se para seus quartos e lá se deitaram até serem chamadas pela irmã, que começava a mostrar ansiedade pelo o que aconteceria naquele dia.

O dia estava lindo, com um céu sem nuvens e uma leve brisa para refrescar o calor. Os pássaros cantavam mais do que nunca, e flores surgiam no topo das árvores: um típico dia de primavera. O casamento aconteceu ao pôr-do-sol, quando a luz do sol dava um ar celestial à praia, que estava toda enfeitada para o casamento.

Lúthien vestia um lindo vestido de seda frente única de tom roxo escuro com as alças trançadas e com um pequeno pedaço de ferro prateado em cada uma delas. Juwidia vestia um vestido de modelo parecido com o da irmã, mas em tom verde escuro, sem o detalhe prata nas alças. O detalhe de seu vestido encontrava-se no busto, onde se encontrava o broche de folha da capa que ganhara das irmãs na noite anterior. As duas jovens estavam lindas, mas seus olhares estavam tristes e sem vida. Quando chegou a hora, as irmãs se encaminharam ao altar, uma ao lado da outra, seguidas de Lawfey que carregava as alianças. Chegando ao altar, Lúthien teve uma grande surpresa: quem a esperava ali era Donnerstag! Tio Holnir, ao perceber que a sobrinha sentia algo pelo cavalheiro, fez com que a infelicidade de casar sua sobrinha fosse recompensada, fazendo com que ela se casasse com alguém com quem seria feliz.

Juwidia se casaria com Mardoll, que era um companheiro de guerra de Alifader e que havia pedido a mão dela em casamento há algum tempo. Apesar de Holnir não gostar da idéia, providenciou tudo, já que Alifader já havia escolhido Mardoll como o pretendente de Juwidia. Quando a cerimônia terminou, uma grande festa começou a acontecer no castelo. Holnir podia observar a felicidade de Lúthien em seus passos de dança, e ao lado o desconforto de Juwidia. Após algum tempo de dança, Holnir foi tomar Juwidia para dançar, e enquanto dançavam, Holnir disse a sobrinha: - Minha querida, como se sente? Desculpe-me por não arranjar-lhe um pretendente como o de Lúthien, mas não achei saída a não ser casar-lhe com Mardoll, como era a vontade de seu pai. Espero que não se zangue comigo, e muito menos com o seu pai.

Juwidia que até aquele momento parecia distante, falou: - Fique calmo meu querido tio não há com o que eu me zangar. Se papai e você escolheram Mardoll como meu marido, tenho certeza de que será o melhor para mim! E também que eu me sinto feliz por ver Lúthien com aquele cavalheiro. Espero que um dia eu seja tão feliz como ela é com Donnerstag em relação à Mardoll.

Com as palavras da sobrinha, Holnir sentiu-se aliviado ao saber que Juwidia não guardava ressentimentos, e então a deixou e foi puxar Lúthien para dançar. Logo Juwidia e Ulfgar começaram a dançar animadamente, e Lúthien sorria com um lindo brilho no olhar. Dançando com o tio, agradecia a ele por casá-la com Donnerstag, e Holnir ao ver a felicidade da sobrinha, contentou-se, afinal havia acertado ao escolher Donnerstag para Lúthien. Após alguns minutos de dança, Lúthien juntou-se novamente a Donnerstag com quem dançou animadamente por um longo tempo. Juwidia chamava a atenção de todos em sua dança com Ulfgar, e Lawfey, que agora dançava com o pai, achava graça da dança da irmã. Lif que dançava com Rubezahl não gostava da idéia de Juwidia dançar com Ulfgar, mas por insistência do marido não disse nada.

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Capítulo 4 – A invasão

 

A festa estava animada, e todos dançavam alegremente quando um enorme barulho de cascos de cavalo começou a se aproximar.  Ellesmera estava sendo invadida! Todos os cavalheiros apressaram-se para se prepararem para o combate, e as mulheres e crianças corriam para o fundo do salão. A porta do saguão do castelo agora estava trancada, e os cavaleiros estavam todos a espera do outro lado do salão. Lúthien que agora abraçava Donnerstag estava assustada. Juwidia correu para puxar a irmã, já arrastando Lawfey com a outra mão. Com Juwidia puxando seu braço, Lúthien sentia um enorme peso de deixar Donnerstag ali, e com uma lágrima no rosto, soltou a mão do marido que segurava até aquele instante.

As irmãs correram para se juntar a Lif, que agora guiava as mulheres e crianças pelos corredores do castelo desorientadamente. Lúthien ao perceber que precisavam sair dali o mais rápido possível guiou todas as mulheres até o porão, onde ficariam até a batalha se finalizar. Quando todas as mulheres e crianças já haviam se acomodado no escuro porão, iluminadas somente por algumas poucas velas que haviam conseguido acender, as quatro irmãs se reuniram em um canto para conversar. Lawfey abraçava Lúthien, que tinha lágrimas escorrendo pelo rosto por medo de perder Donnerstag. Juwidia tentava consolar a irmã, percebendo a angústia em seu coração e Lif tomava providências para que todas ali naquele porão ficassem aquecidas, distribuindo cobertas para todas.

Quando voltou a sentar perto das irmãs, Lif viu que Lúthien já estava calma, mas com o olhar distante. Acomodando a pequena Lara em seu colo, começou a tentar escutar o que acontecia acima de sua cabeça, no grande salão. Um grande silêncio tomou conta do porão, e o único som que se escutava ali era o da batalha que acontecia no saguão do castelo. Podiam-se ouvir gritos e o barulho das espadas se enfrentando. Um longo tempo se passou, até que o barulho das espadas se cessou completamente.

De repente, a porta do porão de abriu, e todas as mulheres se encolheram com medo de que fossem os cavaleiros inimigos, que haviam achado seu esconderijo. Felizmente, a voz que veio a seguir era uma voz conhecida, era a voz de Holnir. Todas as mulheres correram em direção à porta e abraçaram seus cavaleiros. Lif logo que saiu do porão encontrou Rubezahl e abraçou-o, juntamente com Lara que estava assustada com todos os acontecimentos. Lawfey abraçou o pai que estava com um corte na boca, e Lúthien encontrou Donnerstag sentado em um canto do saguão, e percebeu que ele estava ferido exatamente no mesmo local que seu pai fora ferido na guerra. Juwidia encontrou Ulfgar, que tinha um grande corte no braço e enquanto observava a ferida do amigo, foi bruscamente puxada por alguém.

Mardoll que não possuía nenhuma ferida além de pequenos cortes puxara Juwidia, e agora olhava fixamente para Ulfgar. Logo, saiu arrastando a jovem para o outro lado do salão, para longe de Ulfgar. Haviam muitos cavaleiros feridos e muitos estavam mortos também. As mulheres de Ellesmera ocuparam-se durante um longo tempo cuidando das feridas dos cavaleiros e tentando limpar toda a bagunça do castelo. Muitas casas haviam sido destruídas, e tudo estava um caos. Várias famílias abrigaram-se no castelo até suas casas serem reconstruídas, e um longo tempo se passou até que tudo voltasse ao normal.

Holnir e os outros cavaleiros planejavam um ataque, e vários jovens eram treinados todos os dias para batalhar. Lúthien sentia-se feliz ao lado de Donnerstag, e há alguns dias começara a sentir enjôos. Quando contou às irmãs, um grande alvoroço começou, e todas ficaram muito felizes. Mas Lúthien preferiu manter isso em segredo até que a gravidez se confirmasse.

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Os dias se passavam rapidamente, e já haviam se passado praticamente três meses desde o ataque. Ellesmera já estava quase reconstruída e os enjôos de Lúthien tornavam-se cada vez mais freqüentes agora geralmente acompanhados de tonturas. A suspeita de Lúthien ainda não fora revelada, e era com a ajuda das irmãs que Lúthien conseguia ocultar seus enjôos.  Todos os cavaleiros estavam empenhados no contra ataque, planejado com muito cuidado durante todo esse tempo. Jovens eram treinados todos os dias, e cada vez mais o número de cavaleiros em Ellesmera ganhava reforços vindos de fora. Os anões já haviam prometido ajudar os elfos, como sempre o faziam, e também já se preparavam para a batalha.

Certo dia, Donnerstag soube que deveria fazer uma longa viagem até sua terra, onde recrutaria cavaleiros dispostos a ajudar Ellesmera. Com a notícia, Lúthien sentiu-se triste por separar-se do marido por tanto tempo, mas sabia que era necessário. Quando o dia da partida de Donnerstag chegou, Lúthien sentia-se triste por não poder ir com o marido, mas sentiu-se consolada por suas belas palavras antes de partir: - Gostaria de levá-la comigo nessa jornada, para que assim você conhecesse minha mãe. É uma pena deixá-la aqui, mas suas irmãs cuidarão de você por mim. Deixo-lhe aqui com uma enorme tristeza, e prometo-lhe de após a batalha nunca mais irei me separar de você. Se eu pudesse levaria você comigo, para conhecer a minha cidade, mas de lá irei direto para a batalha, e não quero que você entre no meio disso. Eu te amo minha querida, nunca se esqueça disso.

Lúthien abraçou fortemente o marido, com medo de que esse fosse o último dos abraços que daria em seu amado. Suas bocas de colaram em um longo beijo, que Lúthien guardaria para sempre em sua memória. Logo Donnerstag partiu, deixando para trás uma parte de seu coração. Lúthien abraçada a Lawfey, ficou ali até não conseguir mais avistar o cavaleiro, e com uma enorme dor no peito, onde ficava seu coração, voltou para o castelo. Enquanto retornavam para o castelo, Lúthien lembrou-se da última batalha, momentos antes de o pai sair para Du Vollar Eldrvarya em sua última batalha. Uma grande tristeza tomou conta de seu coração, e o medo que sentia era tão grande que se tornava visível a todos.

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Após a partida de Donnerstag, os dias se passaram mais rapidamente do que nunca em Ellesmera, que após cinco meses do ataque já estava completamente reconstruída. O casamento de Juwidia nos primeiros meses havia se resolvido, mas agora não estava bem, e quase todos os dias a jovem ainda retornava ao castelo graças às brigas que tivera com o marido. Ela sempre brigava com Mardoll, e quase todas às vezes por assuntos fúteis e pelo ciúmes doentio que ele tinha sobre Juwidia.

Lif concentrava-se agora principalmente em fazer roupas para os guerreiros, todas as tardes, reunia as mulheres de Ellesmera no saguão do castelo para costurarem roupas para seus cavaleiros. Lara sua pequena filha, ajudava a mãe ou brincava com as outras crianças durante todo o dia. Lawfey sempre que podia unia-se à irmã para a fabricação de roupas, mas como não levava jeito na costura, sempre estava a cuidar de Lúthien, que agora já mostrava sinais claros de sua gravidez. A barriga de Lúthien começara a crescer, e a jovem estava muito entusiasmada com esse acontecimento. Andava sempre acompanhada de Lawfey, e mais do que nunca era guardada por Thor. O lobo agora não deixava Lúthien sozinha por nenhum instante: sentava-se ao lado da jovem toda vez que ela estava a costurar e montava guarda quando Lúthien ia descansar.

Um dia, quando Lúthien, Lawfey e Juwidia conversavam, Juwidia falou: - Quase esqueci de contar para vocês! Ontem quando eu estava brigando com Mardoll, uma coisa muito estranha aconteceu comigo. Eu me senti com tanta raiva que senti como se minha alma pegasse fogo, e quando eu estava no auge da minha raiva, um vaso que estava atrás de Mardoll estourou sozinho! E depois, quando fui recolher os cacos, percebi que neles haviam algumas partes derretidas, como se algo muito quente houvesse encostado-se a ele.

Lúthien e Lawfey ao escutarem essa revelação da irmã então falaram: - Conosco também já aconteceu uma coisa estranha! Já faz um tempo, mas nós estávamos correndo pelo bosque apostando uma corrida e quando olhamos para baixo, estávamos caminhando sobre a água! Ficamos muito assustadas com aquilo, e decidimos não contar para ninguém, mas agora que você falou...

Lúthien com um ar pensativo então disse: - Vamos falar com o tio Holnir! Ele deve saber alguma coisa sobre isso!

Lawfey olhou para Lúthien com uma expressão assustada, mas concordando com as primas levantou-se, e caminharam até o escritório onde Holnir estava conversando com alguns cavalheiros. Quando viu as jovens na porta, Holnir encaminhou-se até elas e perguntou: - O que foi minhas queridas?

- Queremos conversar com você papai! – disse Lawfey olhando com um ar sério para ele.

Holnir estranhando o comportamento da filha, apressou-se a dar ordens para os cavaleiros que encostaram a porta ao saírem. Logo que estavam a sós, Holnir perguntou: - O que foi? Aconteceu alguma coisa?

Juwidia logo contou sobre a conversa que acabaram de ter, e durante a explicação da sobrinha, a expressão preocupada de Holnir sumiu e deu lugar a um leve sorriso. Assim que a sobrinha terminou, Holnir disse: - Então é isso... Já estava em dúvida se vocês iriam vir falar comigo sobre isso.

As jovens confusas se entreolharam e então disseram em coro: - Sobre isso o que?

Holnir soltando um sorriso fez um gesto com a mão e um livro que se encontrava na última prateleira da estante que estava à suas costas veio flutuando até a sua mão. Surpresas, as jovens olhavam pasmas para Holnir, que finalmente disse: - É de família! Quase todos os elfos de nossa família apresentaram poderes até hoje. O meu poder, assim como o de seu pai – olhando para Lúthien – é o do ar. Podemos controlar os ventos e usá-los a nosso favor!

Com expressão de surpresa, as três jovens continuaram a olhar para Holnir, que achando graça do fato, começou a explicar: - Algumas famílias de elfos podem apresentar poderes de controlar algum elemento da natureza. Eu e meu irmão conseguíamos controlar o ar e Lif consegue controlar a terra.

- A Lif consegue controlar a terra? A nossa Lif? – interrompeu Juwidia que agora tinha uma expressão de mais surpresa que antes.

- Sim, a nossa Lif. Como você acha que ela consegue tantas ervas? Ela pode controlar a terra a seu favor. Assim como a mãe dela o fazia e a ensinou.

- As nossas mães também tinham poderes especiais? – perguntou Lúthien com uma grande curiosidade.

- Não, as suas mães não possuíam esses poderes. A única que possuía esses poderes era a mãe de Lif, que a ensinou desde pequena a também controlar a terra. A sua mãe Juwidia, eu não sei, mas se você apresentou poderes provavelmente ela também os possuía. Talvez até mesmo ela não sabia disso, mas agora sabemos. E eu e meu irmão controlamos o ar desde jovens. – esclareceu Holnir percebendo a curiosidade das jovens.

- E porque vocês não nos contaram isso como a mãe de Lif? Porque não nos ensinaram a usar esses poderes? – perguntou Juwidia que se mostrava impaciente.

- Não queríamos influenciar vocês. Nós queríamos que vocês descobrissem esses poderes por si só. – respondeu Holnir calmamente.

- Mas porque pai? Vocês não queriam nos ensinar porque daria muito trabalho? É isso? – perguntou Lawfey abrindo a boca pela primeira vez desde que começaram a conversar.

- Não é isso minha querida! Teríamos o maior prazer de ensiná-las a controlar o ar, mas aí vocês só saberiam controlar o ar, assim como nós. Se ensinássemos vocês desde pequenas a controlar o ar, estaríamos impedindo que os seus verdadeiros poderes se manifestassem.

- Então se vocês tivessem nos ensinado, nós conseguiríamos controlar o ar ao invés de fazer o que fazemos? – perguntou Juwidia que se mostrava cada vez mais ansiosa.

- É mais ou menos isso Juwidia, pelo o que entendi, você controla o fogo, enquanto Lawfey e Lúthien controlam a água. Se tivéssemos ensinado vocês a usarem o ar, vocês não controlariam esses outros elementos!

- Mas e como nós controlamos isso? Eu e Lawfey tentamos depois andar sobre a água, mas nunca mais conseguimos fazer aquilo. – disse Lúthien mostrando-se apreensiva e então acrescentou: - Será que nos perdemos os nossos poderes?

- Com toda certeza não Lúthien. Vocês só têm que aprender a controlar seus poderes de uma forma mais aprimorada. Vocês podem procurar Osthato Chetowa, o sábio, que ele ajudará vocês a controlarem os seus poderes.

Ainda confusas com tudo, as jovens saíram em direção à cabana de Osthato Chetowa, e a partir daquele dia começaram a ter aulas para controlar seus os poderes. Em alguns meses, Lawfey e Lúthien já conseguiam mudar o estado da água, e Juwidia conseguia fazer pequenos lançamentos de fogo com a sua mão. Mesmo controlando seus poderes de forma aceitável, as jovens não podiam usá-los em qualquer lugar, então prometeram ao sábio e a Holnir que não usariam esses poderes em público.

Os dias se passaram rapidamente, e quando já haviam se passado cinco meses desde a invasão, todos os cavaleiros marcharam para Du Vollar Eldrvarya, onde batalhariam pela paz em Ellesmera. No dia da partida, todas as mulheres reuniram-se para a despedida de seus familiares e amigos. Lif abraçava Rubezahl, e Lara choramingava no colo do pai. Juwidia despedia-se de Ulfgar, com Mardoll em sua cola como já era de costume, e Lawfey abraçava Holnir com um ar triste, desejando-lhe sorte na batalha.

Lúthien que agora estava em plena gravidez, aproximou-se do tio e então lhe pediu: - Diga a Donnerstag que eu o amo, e assim que possível entregue isto a ele por favor.

Com o pequeno pacote nas mãos, Holnir abraçou a sobrinha carinhosamente, desejando poder retornar logo para que Lúthien não tivesse que ficar por muito mais tempo sem o seu marido. Beijando-lhe a testa e abraçando novamente Lawfey fortemente, Holnir saiu guiando todos os cavaleiros em direção de Du Vollar Eldrvarya, a Campina Ardente. Todas as mulheres e crianças ficaram ali observando os cavaleiros irem para a batalha com um ar triste. Lara chorava no colo da mãe, que tentava acalmá-la acariciando os seus cabelos. Agora com sete anos Lara já quase não cabia no colo de Lif, que tinha que fazer muito esforço para segura-la como fazia com facilidade há alguns meses atrás.

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Após a partida dos cavaleiros, todas as mulheres passaram a freqüentar mais o castelo, e aos poucos todas iam lá para passarem as noites. Todos os dias, as jovens elfas se encaminhavam para o ponto de Ellesmera que descobriram durante a última batalha, de onde observavam aflitas todas as luzes e movimentos da campina ardente. Lúthien esperava ansiosamente pela volta dos cavaleiros, rezando para que a batalha não demorasse a se finalizar. Acompanhada por Thor, todos os dias ia caminhar perto do lago, e algumas vezes também tinha a companhia de Lawfey. As duas irmãs adoravam caminhar por entre as árvores do bosque perto da cachoeira, onde o ar era mais úmido tornando o ambiente mais agradável.

Em uma de suas caminhadas, Lúthien parou para descansar no lago enquanto Lawfey saía para colher frutos nas proximidades. Lúthien sentou-se nas margens do lago onde a cachoeira desembocava, e colocou os pés na água. Thor, como já era de costume, estava ao seu lado feliz, refrescando-se no lago e atento a qualquer movimento a sua volta. Lúthien brincava um pouco com a água do lago, fazendo pequenas quantidades subirem e ficarem rodando à sua frente. Durante alguns minutos, Lúthien esperou Lawfey retornar, mas após algum tempo começou a se preocupar com a demora da elfa. Levantando-se lentamente, começou a observar o bosque ao seu redor, e percebeu algo que não havia percebido antes: o bosque estava diferente. Os animais estavam mais agitados, e até mesmo o ar estava com algo diferente do normal.

De repente, Lawfey apareceu correndo, com uma expressão totalmente diferente. Puxando a irmã, Lawfey andava cada vez mais para dentro do bosque. Lúthien, sem entender, andava o mais rápido que conseguia, debilitada por sua gravidez. Quando as árvores já estavam bem próximas umas das outras, Lawfey correu alguns metros à frente e abaixou-se, sorrindo para a prima. Ao se aproximar, Lúthien percebeu que o que Lawfey queria lhe mostrar tratava-se de um jovem humano, que estava todo  ferido e desacordado em meio às folhas da floresta. Pasma, Lúthien olhava para aquele estranho rosto, que Lawfey acariciava.

O jovem humano tinha traços orientais assim como Lawfey e poderia se dizer  que ele parecia-se um pouco elfo. Seus cabelos eram negros, lisos e levemente compridos. Após algum tempo de silêncio, Lawfey então falou: - Precisamos ajudá-lo Lúthien!

Assustada com o que acabara de ouvir, Lúthien disse: - Lawfey! Nos não sabemos quem ele é, e não sabemos se ele é inimigo!

Lawfey, ainda acariciando levemente o rosto do jovem disse: - Lúthien, por favor, nós precisamos ajudá-lo! Ele provavelmente não é um cavaleiro, pois não está de armadura... Por favor, vamos ajudá-lo!

- Mas não podemos levá-lo ao castelo! Como faremos? Precisamos de algum lugar protegido para escondê-lo! O que podemos fazer? – respondeu Lúthien confusa.

Pensativas, as irmãs então tiveram a mesma idéia: chamar Juwidia. Com o pedido das jovens, Thor e Hlorridi correram em direção a Ellesmera à procura da elfa. A jovem estava no castelo quando os lobos entraram, e com a forma que eles agiam, Juwidia seguiu-os, com medo de algo grave tivesse acontecido com as irmãs. Quando chegou ao local onde Lúthien e Lawfey estavam, e soube o que havia ocorrido, Juwidia lembrou-se de um local perfeito para levarem aquele jovem. Com a ajuda de Lawfey, Juwidia levantou o corpo do jovem e começou a carregá-lo em direção ao lago. As duas jovens tiveram um pouco de dificuldade para carregá-lo sozinhas, mas Lúthien não podia ajudá-las, com medo de que pudesse fazer mal para o bebê. Ao chegarem ao lago, Juwidia disse: - Eu esqueci de contar para vocês, mas eu achei um esconderijo perfeito. Logo atrás da cachoeira há uma passagem para uma espécie de caverna, onde podemos deixá-lo!

Quando entraram na caverna, Lúthien e Lawfey ficaram felizes ao perceber que de fato aquele seria o esconderijo perfeito. Lá havia uma espécie de degrau ao fundo da caverna, que parecia ser feito sob medida para uma cama, onde as jovens deitaram o rapaz. Juwidia lançou um pouco de fogo em uma pilha de madeira, que logo começou a queimar e esquentar o local.

Durante toda a tarde as três irmãs providenciaram para que tudo ficasse arrumado na caverna. Com a ajuda dos cavalos as jovens levaram cobertas, comidas e outros mantimentos para lá. E no final da tarde, quando Lif finalmente chegou de sua colheita de ervas, as irmãs levaram-na até a caverna. Chegando lá, Lif disse com uma expressão indignada: - Vocês estão loucas! Como me pedem para curar um desconhecido que nós não sabemos nem ao menos se é inimigo?

- Por favor, Lif, nós precisamos ajudá-lo! – disse Lawfey enquanto a abraçava.

Com o pedido de Lawfey, Lif não conseguiu dizer não, mas afastando-a de si avisou: - Tudo bem... Mas eu não estou mais sabendo de nada assim que por os pés para fora da caverna está bem? Toda a responsabilidade será de vocês!

Com um enorme sorriso no rosto, Lawfey pulou em cima de Lif novamente, dizendo: - Eu sabia que podia contar com você!

Sorrindo, Lif abaixou-se perto daquele jovem desconhecido e pode perceber que as feridas eram recentes, e provavelmente foram feitas por armas que não eram de Ellesmera. Havia um grande corte na parte esquerda do tórax, bem no local das costelas e também alguns cortes nos braços e pernas. Com a ajuda das irmãs Lif cuidou dos ferimentos e assim que terminou, disse: - Bom, agora está feito. Esse curativo terá que ser trocado todos os dias, mas agora que já aprenderam como se faz, deixo em suas mãos. Já está tarde, vamos voltar para o castelo.

Feliz com a ajuda de Lif, Lawfey agora tinha certeza de que aquele jovem iria se recuperar, e estava decidida a cuidar dele até que ele estivesse totalmente bem. Quando já estava saindo da caverna, Lawfey parou novamente para olhar aquela imagem, que ficaria para sempre em sua memória. As quatro irmãs caminharam tranquilamente até o castelo, onde Lif foi recebida por Lara com uma enorme felicidade. A pequena havia brincado o dia todo no castelo, e agora estava cansada. Todas se encaminharam para seus quartos, estavam cansadas e seus corpos pediam descanso. Após colocar Lara na cama, Lif percebeu que Lawfey a observava da porta. Aproximando-se da irmã, Lif falou: - Não deixe que ninguém saiba sobre aquele jovem está bem? Para a própria segurança dele...

Com um grande sorriso, Lawfey respondeu: - Pode deixar ninguém saberá sobre ele! Muito obrigada Lif, obrigada por toda a ajuda que me deu hoje, e por estar sempre se preocupando tanto comigo!

Com um abraço, Lif falou: - O que eu não faço por minha priminha?

E então desejando boa noite à Lif, Lawfey retirou-se do quarto e foi descansar para que pudesse voltar na caverna no dia seguinte. A felicidade que sentia naquele momento era tão grande, que Lawfey demorou a pegar no sono.

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No dia seguinte, ao sair de seu quarto, Lúthien percebeu que Lawfey já acordara e não estava mais em seu quarto. Quando chegou ao saguão, encontrou Lif e Juwidia conversando animadamente enquanto costuravam. Juntando-se às irmãs, Lúthien perguntou: - Lawfey saiu do castelo?

- Quando acordei, ela já não estava mais aqui – disse Juwidia concentrada na costura. Sorrindo, Lúthien percebeu que fizera a pergunta à toa, já que sabia exatamente onde Lawfey estaria naquele exato momento. Feliz pela prima, Lúthien juntou-se à Lif e Juwidia começando a costurar.

As jovens conversaram animadamente durante toda a manhã enquanto costuravam, quando o sol já anunciava o meio dia, Juwidia levantou o seu trabalho olhando feliz para ele. Era um pequeno macacão azul para bebê. Sorrindo, disse: - Aqui está, um macacão para meu sobrinho querido.

Levantando o vestido rosa que havia feito, Lif falou: - Não vai ser um sobrinho! Vai ser uma linda menina que usará esse lindo vestido que eu costurei.

Achando graça das opiniões opostas das irmãs, Lúthien falou: - Só saberemos disso quando o bebê nascer... Mas menino ou menina, o importante é que ele tenha saúde.

Concordando com Lúthien, mas ainda mantendo suas opiniões, as irmãs ainda observavam seus trabalhos, imaginando como seria o seu novo sobrinho.

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Lawfey acordara antes de todos no castelo, e com alguns suprimentos se encaminhara para a caverna atrás da cachoeira. Ficou lá durante toda a manhã, cuidando daquele desconhecido. Às vezes pensava se não o conhecia de algum lugar, e esperava que ele logo acordasse para descobrir quem era ele. Cuidou dele durante toda a manhã, trocou seus curativos e tentou dar-lhe comida. Às vezes ficava somente a observá-lo, imaginado quem ele seria e de onde vinha. Quando se aproximava do meio dia, Lawfey decidiu ir ao castelo e retornar depois do almoço. Cobrindo-o com a capa que usara de manhã para ir até a caverna, deixou tudo preparado para caso ele acordasse e saiu.

Quando chegou ao castelo, encontrou as três irmãs conversando enquanto costuravam no saguão. Quando viu Lawfey se aproximar, Lúthien perguntou: - Como ele está?

Lawfey, sem jeito, perguntou: - Quem?

- O jovem humano oras! Você estava com ele não é? – falou Juwidia

- Ah... Ele está bem... – respondeu Lawfey em voz baixa e rosto corado.

Sorrindo, Lif levantou-se rapidamente e falou: - Bom, vamos preparar algo para comer! Já está na hora não acham?

Todas se levantaram e foram para a cozinha, para prepararem algo para comer. Após comerem, Lif saiu com Lara para sua casa, e Lawfey saiu novamente para a cachoeira. Lúthien e Juwidia ficaram no castelo conversando animadamente. Durante toda a tarde as jovens se ocuparam com suas tarefas, e logo o céu já estava escuro. Quando Lawfey chegou ao castelo, encontrou Lúthien entrando em seu quarto com algo na mão.

Assim que Lawfey entrou no quarto, Lúthien falou enquanto pegava novamente o pacote que acabara de colocar na cama: - Oh você chegou... Separei algumas roupas de Donnerstag que ele quase nunca usa para você levar para o garoto que encontramos ontem. Quando ele acordar ele poderá usar essas roupas até providenciarmos outras.

Com o pacote nas mãos, Lawfey falou: - Oh! Obrigada Lúthien... Vai ser muito útil, obrigada. Eu estava pensando em costurar algumas roupas para ele. Mas como você sabe não sou muito boa na costura ainda... Será que você poderia me ajudar?

- Claro Lawfey! Você não quer fazer agora? Vamos para o meu quarto, e então lhe ajudarei... – disse Lúthien puxando a jovem pelo pulso.

Deixando o pacote em cima da cama, Lawfey seguiu Lúthien até o quarto, onde se sentaram na cama para costurar. No início Lawfey teve um pouco de dificuldade, mas logo pegou o jeito. Juwidia chegou mais tarde, havia saído para cavalgar um pouco, pois já havia tempos que não o fazia. Quando chegou, foi direto para o quarto de Lúthien, onde ela e Lawfey conversavam animadamente. Juntando-se as duas, Juwidia falou: - Nossa eu me atrasei um pouco... Mas já fazia tempos que eu não cavalgava assim com Räg então acabei me empolgando!

Sorrindo, Lúthien falou: - É faz tempo que não monto também... Mas com a gravidez não poderei ir. Cadoc deve estar entediado... Bem que você podia dar uma volta com ele para mim Juwidia. Ele precisa correr um pouco!

- Claro Lúthien! Amanhã sairei com ele para você... – falou Juwidia animada.

As jovens ficaram a conversar por horas, até que Lif chegou, pedindo desculpas pela demora: - Desculpem a demora, aproveitei para arrumar a minha casa.

- Claro Lif! Não se preocupe, nós a entendemos! – falou Juwidia que estava deitada na cama.

Lif então disse com uma expressão preocupada: - Agora que vocês já sabem controlar perfeitamente seus poderes, acho melhor que não os use mais.

Inconformada com o que acabara de ouvir, Juwidia falou: - Mas porque Lif? Qual o problema de usarmos os nossos poderes? Eles são muito úteis de vez em quando sabia?

- Eu sei Juwidia. Mas acho melhor que vocês parem de usá-los com coisas que podem fazer sem eles. Use-os somente em caso de emergência está bem?

Todas as jovens concordaram no final que seria melhor deixarem os poderes de lado por algum tempo, pois já estavam se tornando dependentes deles para quase tudo.

Naquela noite as jovens saíram para observar as estrelas, já que o céu estava totalmente limpo. Ficaram Observando o céu por um longo tempo, até decidirem que estava na hora de voltar. Lawfey antes de voltar ao castelo, correu até a caverna, onde teve uma grande surpresa.

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Capítulo 5 – O cavaleiro humano

 

Durante o tempo em que Lawfey estava ausente, o jovem humano havia despertado, e procurava entender onde estava, e quem cuidara de suas feridas. Quando Lawfey entrou, o jovem estava sentado, olhando a sua volta. Cautelosamente a jovem elfa se aproximou, e ficou a observá-lo. Para seu espanto, ele falava sua língua e perguntou-lhe quem era ela e onde estavam. Apresentando-se, Lawfey contou tudo o que ocorrera, e perguntou: - Quem é você? E como veio parar nas terras de Ellesmera?

Ainda confuso, e com uma expressão de quem tentava lembrar de algo, o jovem respondeu: - Meu nome é Fyorgin, sou um humano que sempre foi fascinado pela cultura élfica e sempre procurei por suas terras. A última coisa que me lembro é de quando encontrei com alguns cavaleiros, e eles me disseram que poderiam me guiar até Ellesmera. Mas não me lembro de mais nada depois disso.

Surpreendida com a notícia, Lawfey sentou-se ao lado de Fyorgin e começou a trocar seus curativos. Suas feridas estavam bem melhores, e Lawfey preocupava-se que o jovem decidisse partir. Como já era noite Lawfey sabia que não poderia ficar ali por muito tempo. Logo que acabou de trocar os curativos de Fyorgin, falou: - Pronto seus curativos estão trocados e logo as feridas estarão curadas! Aqui têm um pouco de comida, você esta com fome? Eu posso ajudá-lo a comer, já que está com os braços machucados...

Olhando profundamente para Lawfey, Fyorgin aceitou a sua ajuda e agradeceu a preocupação da jovem. Assim que terminou de ajudar Fyorgin em sua refeição, Lawfey falou para que ele deitasse, para descansar.

- Amanhã de manhã eu voltarei, e trarei algumas roupas para você! Descanse agora e amanhã nos falaremos está bem?

Deitado e coberto com a capa de Lawfey, o jovem humano agradeceu-lhe pelo cuidado e carinho e observou-a sair da caverna. Lawfey correu para o castelo com um grande sentimento de felicidade tomando conta de seu coração, quando chegou lá foi direto contar para Lúthien, que feliz respondeu: - Que ótima notícia Lawfey! Precisamos nos apressar na costura das roupas para ele então! Amanhã quando acordar me chame, e ajudarei você a preparar um ensopado para levar para ele!

Com um sorriso enorme no rosto Lawfey abraçou a prima enquanto a agradecia e foi para seu quarto. Demorou um tempo até cair no sono, pois ficara refletindo sobre todos os acontecimentos recentes. Foi uma noite tranqüila em Ellesmera, com uma boa temperatura e o céu estrelado. Lif descansava calmamente abraçada a Lara, Lúthien sentia uma grande falta de Donnerstag e torcia para que ele logo retornasse, e Juwidia descansava calmamente em seu quarto, que parecia ser o mais aquecido de todos.

Na manhã seguinte o céu estava azulado acompanhado do canto dos pássaros o que causava uma grande sensação de paz, em um típico dia de primavera. Quando Lawfey acordou, Juwidia já havia saído para cavalgar com Cadoc, Lif saíra com Lara e Lúthien estava a costurar perto da lareira. Quando avistou Lawfey, Lúthien levantou-se e levou-a a cozinha, onde prepararam um ensopado que Lawfey levaria a Fyorgin.

Lawfey chegou à caverna por volta da hora o almoço, e encontrou o cavaleiro observando a paisagem à sua volta na entrada da caverna. Quando avistou Lawfey, sorriu e disse: - Estava pensando se poderia me lavar nessa cachoeira... O que você acha?

Surpresa com a idéia, Lawfey concordou com o jovem, que pulou assim que teve o consentimento de Lawfey. Sorrindo, a jovem elfa entrou na caverna, deixando uma toalha e umas das mudas de roupas que estava trazendo em suas mãos na entrada. Após alguns minutos que Lawfey havia entrado, Fyorgin entrou ainda sem a camisa, secando os cabelos com a toalha. Sentou-se na cama improvisada e permitiu que Lawfey trocasse seus curativos, que agora estavam totalmente molhados.

Quando terminou de fazer os curativos, Lawfey ajudou Fyorgin a vestir a camisa branca que ele segurava e a tomar o ensopado. Os dois ficaram ali durante toda a manhã conversando, até que ouviram barulhos de cascos de cavalo fora da caverna. Quando saíram, viram Juwidia montada em Cadoc olhando para a entrada da caverna. Sorrindo, falou: - Lúthien está chamando vocês no castelo! Parece que vai cair uma tempestade! É melhor vocês irem para lá, mas não deixem que ninguém os veja!

- Estamos indo agora mesmo Juwi! Obrigada por avisar! – respondeu Lawfey quase gritando para que a irmã pudesse escutar, mesmo com o barulho da cachoeira.

À galope, Juwidia saiu para o meio da floresta, e logo Lawfey e Fyorgin também saíram em direção ao castelo. Com o tórax ferido, Fyorgin precisou da ajuda de Lawfey para caminhar até o castelo e os dois demoraram um pouco para chegarem até lá, pois tiveram que passar pelo bosque que daria nos fundos do castelo, onde não seriam vistos. Logo que entraram pela porta da cozinha, o som de vozes invadiu seus ouvidos. Lawfey, indecisa sobre o que fazer ficou ali parada à porta. Lif apareceu após alguns segundos, e ao ver Lawfey parada na porta, assustou-se. Pegando a mão dela, disse: - O que você esta fazendo aqui? Alguém pode te ver!

- Mas Juwidia falou que Lúthien disse para que nós viéssemos... E com as vozes no saguão eu fiquei em dúvida do que fazer!

- Ela os chamou sim, mas não pensamos que chegariam tão rápido! Infelizmente não poderemos abrigar ele aqui no castelo! Muitas mulheres vieram com seus filhos para se abrigar aqui esta noite, e não há como ele ficar aqui sem que alguém o veja! – disse Lif apontando para Fyorgin discretamente.

Lawfey indecisa, perguntou: - Então o que faremos?

- Ele terá que ficar no estábulo! – respondeu Lif com um tom de impaciência.

- Isso não é justo! – disse Lawfey enfurecida.

- Não temos escolha Lawfey! Várias mulheres irão se abrigar aqui por causa da chuva! Vá para lá com ele e então daremos um jeito!

Lawfey ainda inconformada, levou Fyorgin até o estábulo, e mostrou a ele todos os cavalos enquanto esperavam por alguém. Enquanto mostrava os cavalos, Lawfey pôde perceber que um dos cavalos mostrava um maior interesse maior por Fyorgin. Era um cavalo preto como Asa-Loke, com corpo robusto e aparência forte.

Após algum tempo, Lúthien entrou no estábulo acompanhada por Juwidia, que chegara da cavalgada há pouco tempo. Guiando Cadoc, Juwidia foi libertar o cavalo que se mostrava satisfeito após a cavalgada. Lúthien aproximou-se de Lawfey e falou em tom alto para que Fyorgin também pudesse escutar: - Infelizmente não poderemos abrigá-lo no castelo como imaginei, mas trouxe algumas coisas para que possa se abrigar aqui.

Entregando as coisas para Lawfey, completou: - Trouxe algumas a mais, para o caso de você decidir ficar aqui também. Amanhã bem cedo iremos ver como anda a batalha, se quiser ir junto, esteja pronta!

Logo uma chuva fina começou a cair, e Lúthien saiu do estábulo acompanhada de Juwidia. Ficara decidido que Lawfey e Fyorgin iriam para o castelo mais tarde, quando todos já estivessem dormindo para que pusessem lavarem-se e comerem alguma coisa. Assim que as irmãs saíram, Lawfey começou a arrumar o estábulo para que se tivessem condições de dormirem lá. Fyorgin a ajudava o máximo possível, e logo tudo estava pronto. Quando já era bem noite, uma chuva grossa caia do lado de fora do estábulo, e Lawfey olhava impaciente para a porta do castelo, onde Lúthien apareceria quando todos estivessem dormindo.

Não demorou muito para que Lawfey avistasse a prima, que abriu a porta do castelo e fez um sinal para que Lawfey fosse até lá. Lawfey e Fyorgin foram para o castelo o mais rápido que conseguiram, mas chegaram ao castelo totalmente ensopados. Comeram rapidamente o ensopado que os esperava na cozinha, e então subiram silenciosamente para o quarto de Lawfey, onde Hlorridi esperava impaciente pela dona. Acariciando a loba, Lawfey sentiu-se um pouco culpada por deixá-la sozinha o dia todo, e depois foi tomar um banho.

Após sair do banho, Lawfey deitou-se na cama enquanto esperava por Fyorgin, que agora tomava banho. Abraçada a Hlorridi e acariciando o seu pêlo macio, Lawfey acabou adormecendo.

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No dia seguinte, ao acordar, Lawfey percebeu o que havia acontecido e saiu pelo castelo à procura de Fyorgin ou de alguma explicação do que ocorrera após ter adormecido. Na cozinha, encontrou Lúthien, que ao avista-la arrastou-a até o saguão, pois na cozinha havia muita gente.

- Lawfey você está procurando Fyorgin não está?

Com um aceno positivo com a cabeça, Lawfey respondeu a pergunta, e depois ficou atenta ao que Lúthien iria dizer, esperando que ela pudesse lhe falar o que ocorrera na noite anterior.

- Ontem, quando passava perto de seu quarto, vi que você havia adormecido e que Fyorgin a observava. Ele pediu que eu não a acordasse, pois você deveria estar cansada. Eu até o convidei para ficar no castelo, mas ele não quis. Hoje bem cedo fui ao estábulo, para levar um café da manhã para ele, e ele disse estar se sentindo bem melhor. Disse que sua ferida do tórax não está mais tão dolorida como estava ontem, e decidiu que queria ajudar. Ele está no estábulo ainda, cuidando dos cavalos. Mas Lawfey, acho melhor que você fique aqui por um tempo pelo menos, pois já começaram a comentar que você anda distante... É melhor que você fique aqui conosco ou vão desconfiar de algo!

Entendendo o que ela  dizia, Lawfey ficou no castelo durante toda a parte da manhã, e até mesmo ajudou a preparar o almoço. Depois da refeição, conseguiu sair disfarçadamente com a ajuda de Juwidia e foi ver como Fyorgin estava. Chegando ao estábulo, viu que tudo lá estava mais organizado do que nunca, e que Fyorgin estava escovando um dos cavalos. Logo começou a ajudá-lo, e ficaram ali conversando por um longo tempo. Quando já entardecia, Lawfey escutou vozes aproximando-se do estábulo. Fyorgin, rapidamente escondeu-se, e Lawfey sentindo o coração quase saindo pela boca, viu Lúthien entrar acompanhada por Donnerstag. Assustada, Lawfey cumprimentou os dois, e logo viu seu pai entrando no estábulo também. A batalha havia terminado há dois dias, pois novamente o exército inimigo havia recuado.

Abraçando o pai, Lawfey cumprimentou-o, e decidiu que deveria apresentar Fyorgin. O pai, ao ver o humano assustou-se, mas depois que escutou a explicação de Lawfey falou: - Não sei quem é você, e não sei de onde veio. Mas confiarei na intuição de minha filha que até hoje nunca falhou. Espero que não nos decepcione.

- Com certeza não senhor. Farei qualquer coisa que me ordenar, e posso trabalhar aqui para pagar a sua generosidade.

- Disso trataremos depois. Já percebi que Groover apresentou um grande interesse por você – disse Holnir apontando para o cavalo negro, que não parara de pedir carinho à Fyorgin durante o tempo em que conversaram.

- Ah sim... Acabei fazendo amizade com ele. Espero que não se importe. – Respondeu Fyorgin acariciando o focinho do animal.

- Com toda certeza não, Groover era o cavalo de um grande companheiro meu, que perdemos durante a invasão de Ellesmera. Após a morte de seu dono, ninguém mais conseguiu montá-lo, e muitas vezes não podíamos nem nos aproximar dele. Se conseguir montá-lo, ele será seu.

Com um aceno de cabeça, Fyorgin selou o animal e, observado por todos ali, montou no cavalo que saiu a galope para fora do estábulo. Da porta só se enxergava a sombra de Fyorgin galopando a distância, e aproveitando a oportunidade, Holnir disse a Lawfey: - Fique de olho nele para mim está bem?

Lawfey surpresa pelo comentário sentiu seu rosto corar, e então acenou positivamente com a cabeça de uma forma tão discreta que Holnir quase não percebera. Lúthien estava abraçada à Donnerstag, e via-se a felicidade do casal por estarem juntos novamente. Com certeza logo chegaria a hora do nascimento, e a ansiedade do casal era visível. Donnerstag segurava um pequeno pedaço de lã, que observado mais atentamente podia-se ver que aquilo era na verdade um pequeno par de sapatos. Havia recebido-os durante a batalha, enviados por Lúthien em um pequeno pacote que foi entregue por Holnir. Aqueles eram os sapatos que deram forças à Donnerstag para lutar bravamente com a ansiedade de retornar logo para casa crescendo a cada instante.

Alguns minutos se passaram ate que Fyorgin parou o cavalo à frente do estábulo, e feliz, levou-o para dentro. Acabara de ganhar não somente um cavalo, mas um companheiro e amigo que o ajudaria em muitos momentos em sua vida.

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Durante a refeição daquela noite, pela primeira vez Fyorgin sentou-se à mesa, o que causou um grande alvoroço. Apresentado a todos, brindaram a vitória de Ellesmera e deliciaram-se com o grande banquete que fora servido. Lif e Rubezahl divertiam-se brincando com Lara, que animada com a volta do pai não dormiria tão cedo. Balder que observara de longe até aquele instante, aproximou-se e chamou Lara para dançar. Animada com o convite, a garota foi para o meio do salão e chamou a atenção de todos com os seus passos improvisados. Lúthien, Lawfey, Donnerstag e Fyorgin divertiam-se observando toda aquela animação à sua volta. E Juwidia dançava animadamente em meio ao salão observada por Mardoll, que após algum tempo puxou-a para o jardim onde os dois discutiram mais uma vez.

A festa continuou animada até o dia seguinte, e conforme o sol nascia as pessoas começavam a se retirar para as suas casas. Cansados, os moradores do castelo logo foram se deitar e descansaram por um longo tempo até o dia seguinte. Juwidia também dormira no castelo, pois novamente havia brigado com Mardoll. No dia seguinte, durante toda à tarde, nuvens escuras formaram-se no céu de Ellesmera e com toda certeza a noite seria chuvosa. Quase no fim da tarde, Valquíria, mulher de Alfrodul apareceu no castelo pedindo para se abrigar ali aquela noite. Seu marido havia morrido na última batalha, e como todos sabiam, batalhara bravamente até o fim. Valquíria que estava grávida, veio ao castelo pedir abrigo, pois temia que seu filho nascesse durante aquela noite chuvosa e não resistisse.

Quando o sol já havia se posto e a escuridão predominava fora do castelo, uma forte chuva começou a cair. E foi nessa noite de muita chuva e muito frio que Valquíria começou a sentir as dores do parto assim como prevera. Com a ajuda de Lif, o parto fora bem sucedido e uma linda menina nasceu naquela noite sombria. Não passara da meia noite então, quando Lúthien começou a sentir as dores do parto também. Ninguém esperava que Luthien já tivesse o seu bebê, pois pelos cálculos que haviam feito, ainda faltavam três semanas para que o bebê nascesse.

Foi uma feliz coincidência os bebês nascerem na mesma noite. O parto de Lúthien fora mais difícil, e todos temiam que aquele frágil bebê não sobrevivesse. Já era madrugada quando finalmente a criança nasceu. Era um menino saudável, muito parecido com Donnerstag e com somente os olhos de Lúthien. Todos no castelo ficaram extremamente felizes com os dois partos bem sucedidos, mas antes que pudessem festejar, Juwidia apareceu chamando por Lif. A pele de seu rosto parecia mais branca que o normal, e tinha um olhar desesperado. Ela era muito amiga de Alfrodul, e era quem mais conhecia Valquíria ali. Às pressas, arrastou Lif até o quarto onde Valquíria estava e mostrou à irmã o que a assustara tanto: ela estava morta.

Após a confirmação de Lif, Juwidia então falou: - Ela se entregou, não queria mais viver. Não conseguia suportar a falta que Alfrodul fazia... Mas e a criança? O que faremos com ela?

- Suponho que não terá mais jeito... Essa frágil menina não agüentará muito tempo sem a mãe Juwi... Lamento muito. – respondeu Lif com olhar de pesar para a criança que chorava nos braços da mãe.

Horrorizada com o que Lif acabara de dizer, Juwidia pegou a pequena menina e levou-a até o quarto de Lúthien, que concordou que amamentaria as duas crianças com o intuito de salvar aquele pequeno bebê. Todo o resto da noite foi tranqüilo, os recém chegados dormiam tranquilamente com Lúthien e todos puderam descansar no castelo. Ficara decidido que Juwidia é quem criaria a menina, e que Lúthien só a amamentaria.

As semanas se passavam rapidamente, e Luke – nome dado por Lúthien ao menino graças à sorte de sobreviver àquela noite de seu nascimento – e Hlodin – a pequena menina que Juwidia criava como se fosse sua própria filha – ficavam cada vez mais fortes e saudáveis. As roupas que Lif costurara para Lúthien antes do nascimento de Luke foram passadas à Hlodin, e foi com elas e com um pouco do poder de Juwidia que a pequena menina sobreviveu ao inverno que chegara.

As crianças desmamaram cedo, pois Lúthien parara de dar leite amamentando as duas crianças ao mesmo tempo. E por volta dos dois anos de idade, Luke e Hlodin já eram inseparáveis. Luke cada vez mais parecia com o seu pai, e se não fossem pelos olhos que herdara da mãe, poderia se dizer que ele não se parecia em nada com ela. Ele crescia saudável e começara a andar muito cedo, porém sua fala era preocupante, pois ainda não fora despertada. Já Hlodin era uma menina mais frágil, e demorara bem mais para começar a andar. Mas suas primeiras palavras vieram cedo, e com um ano e meio já tinha um vocabulário bem avançado para a sua idade. Possuía cabelos ruivos, e parecia-se muito com Juwidia apesar de não possuir nenhum parentesco com ela. Todos os dias os pequenos recebiam visitas de Lara, que agora com 8 anos adorava passar as tardes cuidando dos bebês.

Lawfey se tornava cada vez mais próxima a Fyorgin, e aflingia-se ao se lembrar que naquela primavera seria o seu casamento. Ela e o jovem passavam o dia ajudando Holnir nos campos de treinamento, e Fyorgin mostrara-se muito habilidoso com a espada, o que fizera merecer uma grande admiração de Holnir. Quando montava em Groover, parecia até que eles formavam um só ser, de tamanha sincronia que apresentavam. Apesar de ser algo anormal com um cavalo que já tivera um dono anteriormente, Fyorgin tornava-se cada vez mais ligado àquele cavalo.

Quase todas as tardes Fyorgin e Lawfey saíam para cavalgar, e Lawfey mostrava-se cada vez mais habilidosa. Quando apostavam corridas, Lawfey passara a vencer sempre e muitas vezes passava por lugares que nem mesmo Fyorgin se atreveria a passar. Lúthien que observava o progresso da irmã, uma noite disse: - Quando eu puder montar novamente apostaremos uma corrida está bem?

Animada, Lawfey aceitou a proposta da irmã. Sempre que apostavam corridas ela era a última a chegar, será que agora seria diferente?

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O fim do inverno se aproximava-se, e Lawfey tornava-se cada vez mais aflita. Todo o dia saía para cavalgar, procurando se acalmar e treinando para a corrida que teria com Lúthien. Hlorridi sempre estava ao seu lado, consolando a jovem. E cada vez mais Lawfey se dava conta do quanto gostava de Fyorgin. Um dia, quando a neve caia pesadamente sobre Ellesmera, Holnir apressou-se para alcançar a filha antes que ela saísse para cavalgar. Chamando-a e galopando em sua direção, Holnir pediu para que ela o acompanhasse até o castelo, pois precisavam conversar.

O estômago de Lawfey parecia revirar-se, pois ela sabia do que se tratava. O pai queria falar-lhe do casamento há dias, e Lawfey sempre conseguia afastar-se. Passava os dias fora e quando voltava à noite, geralmente ficava trancada em seu quarto ou saía para a casa de Lúthien ou Juwidia com a desculpa de ajudá-las a cuidar dos bebês. Sem escapatória, Lawfey fez com que Asa-Loke desse a meia volta e foi em direção ao estábulo com o pai. Ao chegar, deixou Asa-Loke ainda selado, para que pudesse sair assim que a conversa terminasse. O cavalo mostrava-se impaciente, pois gostava muito de sair com Lawfey. Acalmando-o, a jovem abraçou-lhe e saiu atrás do pai com uma grande aflição crescendo em seu peito. No caminho do castelo, Fyorgin aproximou-se e falou: - Senhor, eu poderia falar com você por favor?

Holnir, surpreso, pediu para que Lawfey o esperasse no castelo, pois não iria demorar. Quando saíram, Fyorgin olhou preocupado para Lawfey. A jovem se encaminhou para o castelo pensativa e preocupada com o que iria acontecer. Quando chegou ao escritório ficou andando em círculos sentindo como se estivesse faltando oxigênio no ambiente. Sentia um grande desespero tomar conta de seu peito, e temia que não conseguisse conter as lágrimas. Procurando se acalmar, ela procurava em vão uma forma de escapar daquela conversa e adiá-la por mais um dia.

Os minutos que se seguiram pareceram horas para Lawfey, que quando vu o pai entrar no escritório percebeu que não haveria escapatória. Sem conseguir conter as lágrimas, Lawfey começou a chorar desesperadamente. Holnir ao ver a filha chorar, aproximou-se e tentou acalmá-la perguntando o que estava acontecendo. Lawfey não conseguia falar, todos os pensamentos que ela evitara durante esses dias, agora tomavam conta de sua mente e faziam com que ela chorasse cada vez mais. Confusa, não conseguia decidir se contava ou não ao seu pai o que estava acontecendo e chorava sem parar. Quando conseguiu se acalmar, Lawfey falou: - Eu não quero me casar papai! Estou com medo da vida que terei depois do casamento, e me apavoro de pensar em uma vida como a de Juwidia! Eu gosto de Fyorgin, essa é a realidade. Gostei dele desde o primeiro momento em que o vi, e não acho que conseguirei ser feliz em um casamento com ele por perto. Eu deveria ter escutado Lif, deveria ter mandado-o embora na hora em que ele melhorou, seria menos doloroso para nós dois.

Assustado com as palavras de sua filha, Holnir começou a explicar para a filha: - Mas você não precisará se casar de acordo com as tradições Lawfey! E eu venho tentando lhe contar isso há dias, mas nunca tinha a oportunidade.

Olhando fixamente para o pai, Lawfey não conseguia acreditar no que escutava. As tradições haviam feito com que todas as primas casassem-se com os pretendentes escolhidos pelo pai. E se ela não se cassasse dessa forma, de acordo com as tradições, todos iriam comentar de sua vida e seu pai não seria mais respeitado por ninguém.

Percebendo a confusão na mente da filha, Holnir começou a explicar: - Eu conversei com o conselho. Todos concordaram que as tradições não faziam mais sentido, pois já estavam ultrapassadas. Não haverão mais casamentos como o de Juwidia minha filha. Todos perceberam que foi um grande erro fazer Juwidia casar-se com Mardoll. Você pode escolher com quem se casar! E a partir de seu casamento, todas também poderão.

Aliviada com o que acabara de escutar, Lawfey abraçou o pai. As lágrimas ainda corriam por seu rosto, mas agora não eram de tristeza, e sim de felicidade. Um grande sorriso começou a se formar em seu rosto, e ela agradecia repetidamente ao pai sentindo-se mais feliz do que nunca. Feliz com a reação da filha, Holnir disse olhando fixamente para a filha: - Mas eu quero que escolha bem Lawfey, não quero vê-la sofrer depois está bem?

Lawfey confirmou com a cabeça, e disse: - Sim papai, pensarei muito eu prometo! Não vou te decepcionar!

Sorrindo, Holnir falou: - Mas se fosse para eu escolher com quem você se casaria, eu saberia com certeza com quem iria casá-la.

Espantada e curiosa, Lawfey perguntou: - Com quem papai?

- Com Fyorgin! Ele é esforçado e com certeza é confiável. Se ele fosse alguém com um coração impuro com certeza não conseguiria montar Groover daquela forma. Os cavalos só respeitam daquela forma quem tem um espírito bom. Você sabia disso? Para que Groover deixe que Fyorgin monte-o daquela forma, o jovem deve ter um espírito muito bom. Ele conquistou minha confiança durante esse tempo em que esteve aqui, e também me fez um grande favor.

Olhando para o pai fixamente, a jovem estava curiosa para saber que favor era esse, e procurava em sua memória algum feito de Fyorgin ao seu pai. Sem achar nada, Lawfey perguntou: - Que favor foi esse? Você pode me contar?

- Fez com que meu maior desejo se tornasse realidade Lawfey! Fez meu tesouro mais precioso tornar-se mais belo que nunca. Ele fez com que você ficasse feliz minha querida. E não há nada no mundo que possa substituir a felicidade que eu sinto ao vê-la feliz dessa forma.

Emocionada com as palavras do pai, Lawfey pulou para abraçá-lo novamente, e disse entre lágrimas: - Então vou seguir a sua vontade meu querido pai... É com Fyorgin que eu irei me casar!

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Capitulo 6 – O casamento de Lawfey

 

O casamento de Lawfey foi preparado rapidamente com a ajuda de Lif. Com todas as flores que decoravam o local, um agradável perfume tomou conta do ar. Durante os dias que antecederam o casamento, Lawfey emanava felicidade como o sol emana seus raios de luz. A jovem parecia iluminada, e imaginava como seria o seu casamento. Andava sempre acompanhada de Hlorridi, e saía todas as tardes para cavalgar com Asa-Loke, tornando-se cada vez mais próxima de seu cavalo. Com a ajuda de Lúthien costurou seu vestido, e com a ajuda de Lif preparou a decoração da festa.

No dia do casamento, Lawfey acordou bem cedo, antes mesmo de o sol nascer e saiu para cavalgar com Asa-Loke. Enquanto cavalgava pela floresta, sentia o ar puro enchendo seus pulmões, e quando se deu conta, ela havia cavalgado até o ponto onde havia encontrado Fyorgin. Desmontando de seu cavalo, ajoelhou-se naquele local e tocou a terra delicadamente. Hlorridi mostrava-se agitada e aproximou-se da dona lambendo sua mão que tocava a terra. Sorrindo, Lawfey falou: - Você se lembra Hlorridi? Foi aqui que nós o encontramos!

Agitada, Hlorridi começou a farejar o local, observada por Lawfey. Ficaram ali durante alguns instantes, até que Lawfey sentiu o sol tocar sua pele e decidiu retornar para o castelo. Mas antes de retornar, decidiu correr um pouco com Asa-Loke em uma das estradas de Ellesmera. Cavalgando o mais rápido que Lawfey conseguia agüentar, o cavalo mostrava-se contente. Lawfey sentia-se feliz e começava a entender o que Lúthien sempre dizia: como era bom sentir o vento tocando em seu rosto quando o cavalo corria! Pela primeira vez, Lawfey entendia o que Lúthien dizia toda vez que cavalgavam juntas quando mais novas. Sentia o vento bater em seu rosto, e sentia como se estivesse a acariciá-la. O vento estava frio, mas estava puro e isso fazia com que Lawfey se sentisse cada vez mais leve, e por um instante, poderia jurar que estava voando.

Chegando ao castelo, encontrou com seu pai na cozinha. Sentindo uma felicidade tão grande que mal lhe cabia no peito, Lawfey falou um animado “Bom Dia” para o pai e foi para seu quarto, tomar um banho. Quando desceu para tomar o café da manhã, encontrou-se com Fyorgin, que também parecia muito feliz. Durante todo o dia Lawfey ocupou-se para tentar controlar sua ansiedade. Quando faltavam algumas horas para o casamento, Lúthien chegou apressada e disse: - Nem acredito que será hoje o seu casamento Lawfey! Eu estou tão feliz por você!

Com um grande sorriso, Lawfey respondeu: - Eu também não acredito que isso está para acontecer Lúthien! E também nunca imaginei que eu iria me sentir tão feliz com isso! Eu tinha tanto medo desse dia, mas agora tudo parece tão perfeito que às vezes eu me pergunto se não é só um sonho!

- Isso não é um sonho Lawfey! É tudo real, você vai se casar com Fyorgin daqui a algumas horas! Como você se sente com isso? Esta feliz não está? Será que você está sentindo o mesmo que eu senti quando descobri que iria me casar com Donnerstag? – respondeu Lúthien animada.

- Eu não sei Lúthien, a única coisa que eu sei é que eu nunca me senti tão bem em toda a minha vida! Nunca me senti tão feliz em toda a minha existência...

Enquanto as jovens conversavam, Lif aproximou-se e disse com expressão indignada: - O que você ainda está fazendo aqui? Você deveria estar se arrumando!

- Acalme-se Lif! Ainda faltam mais de quatro horas para o casamento. – respondeu Lúthien.

- É verdade, ainda dá tempo de eu dar uma volta com Asa-Loke! – falou Lawfey virando-se em direção a porta.

- Nem pense nisso Lawfey! Vá para seu quarto e comece e se aprontar! Se não quiser se aprontar, ao menos vá descansar ou fazer qualquer coisa calma. Você não pode ficar cavalgando algumas horas antes de seu casamento! – disse Lif horrorizada com o que acabara de ouvir.

- Cavalgar vai me deixar mais calma Lif! Eu já volto! – disse Lawfey, e saiu correndo em direção ao estábulo deixando Lif e Lúthien para trás.

Chegando ao estábulo, correu para onde Asa-Loke estava e falou: - Vamos sair um pouco Asa-Loke. Você vai me acalmar um pouco!

Enquanto selava o cavalo, ele mostrava-se impaciente para sair. Em instantes Lawfey saiu galopando do estábulo e passou por todos os cantos de Ellesmera. Passou pela praia, pela floresta, pelo campo de treinamento, e por todos os outros lugares que lhe traziam lembranças. Quando voltou, faltavam menos de duas horas para o casamento, e Lif estava apavorada dizendo que não iria dar tempo, e que ela iria se atrasar. Sem dar ouvidos aos exageros de Lif, Lawfey correu até seu quarto e tomou um caprichado banho. Poucos minutos depois que saiu do banho, Lúthien chegou para ajudá-la a se aprontar. Quando Lawfey já estava vestida e praticamente pronta, Lúthien entregou-lhe algo: uma pequena caixa de veludo azul.

Abrindo delicadamente a pequena caixa, Lawfey viu um lindo colar de pedras azuis e os brincos formando um conjunto perfeito. Maravilhada, Lawfey colocou com a ajuda de Lúthien e olhou no espelho o resultado. O colar pendia em perfeita harmonia com seu vestido, e completava o visual da jovem. Com as pedras azuis, formavam um ramo de flores contornando seu pescoço. Olhando para Lúthien através do espelho, a jovem sorriu e agradeceu.

Lúthien mostrando-se orgulhosa do resultado, falou: - Esse colar foi de sua mãe Lawfey, seu pai pediu para que eu o guardasse depois do meu casamento. Ele é de direito seu, e ficou perfeito em você.

Emocionada, Lawfey abraçou Lúthien com todas as suas forças. Depois, continuou a se arrumar, sempre observando a beleza daquele colar em seu pescoço. O casamento foi lindo. O vestido azul de Lawfey fazia com que ela se parecesse com uma princesa, e a jóia que usava chamava a atenção de todos. Lawfey não conseguiu parar de sorrir por nenhum instante, e Fyorgin e ela montavam um casal perfeito.

A festa foi animada e durou a noite toda. Quando faltavam menos de meia hora para o nascer do sol, Fyorgin convidou Lawfey discretamente: - Vamos ver o nascer do sol?

Feliz com o convite, Lawfey concordou e então os dois saíram discretamente até o estábulo. Aprontaram rapidamente seus cavalos, e então galoparam até a praia, onde viram o nascer do sol mais feliz de suas vidas.

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Os anos se passaram em Ellesmera, e logo Luke e Hlodin estavam com cinco anos e corriam sem parar pelo castelo durante todo o dia. Estavam sempre juntos e sempre se protegiam. Luke continuava calado. Falava pouco desde sua primeira palavra aos dois anos e meio e quase sempre respondia as perguntas com acenos de cabeça ou deixava que Hlodin respondesse por ele. Ele ainda tinha os olhos da mãe e a aparência do pai. Era um garoto saudável e forte, e sempre protegia e ajudava Hlodin. A garota tornara-se mais forte com o tempo, mas ainda era frágil e delicada. Com cabelos ruivos e ondulados sempre estava a conversar com todos à sua volta.

Lara que agora era uma jovem de treze anos, tinha a aparência parecida com a da mãe. Seus cabelos loiros e bem cuidados sempre estavam muito bem arrumados e cada vez mais a garota se tornava vaidosa. Ajudava muito a mãe com suas ervas, e apresentava grande interesse e aptidão no assunto. Sempre estava disposta a aprender truques com a mãe, e sempre que podia cuidava dos primos pequenos para que Lúthien e Juwidia pudessem descansar. Certo dia, Lúthien decidiu dar uma volta com Cadoc e pediu para que Lara cuidasse de seu pequeno filho, já que Donnerstag estava fora. Ultimamente suas cavalgadas tornaram-se raras, e quase sempre eram interrompidas por alguma urgência com Luke. Quando já estava montada em Cadoc e já se encaminhava para fora do castelo, Lúthien viu Lawfey correndo em sua direção e pedindo para que a esperasse. Logo Juwidia também se juntou as duas e então as três saíram para cavalgar pelas terras de Ellesmera.

Quando já estavam em uma estrada que normalmente estava deserta, as jovens decidiram apostar uma corrida, como há tempos não faziam. À galope, as três jovens saíram correndo pela estrada deixando somente um rastro de poeira para trás. Lawfey que geralmente ficava para trás logo no começo das corridas que apostavam há tempos atrás, agora conseguia acompanhar Lúthien e Juwidia facilmente. Durante um longo tempo as três jovens elfas cavalgaram em grande velocidade pela estrada de terra, e após alguns quilômetros Juwidia acabou ficando para trás.

Lawfey e Lúthien continuaram galopando cada vez mais rápido sentindo o vento batendo no rosto. Há tempos Lúthien não tinha aquela sensação de liberdade que sentia ao correr com Cadoc; desde que Luke nascera ela nunca conseguia ficar mais de meia hora longe do pequeno antes que ele sentisse sua falta e fizesse Lúthien retornar. As duas jovens correram por mais algum tempo, mas logo Asa-Loke e Lawfey ficaram para trás.

Apesar dos treinos diários de Lawfey com Fyorgin, seria quase impossível que a jovem pudesse ganhar aquela corrida contra Lúthien. Cadoc era muito orgulhoso, e mesmo que tivesse que utilizar todas as suas forças não deixaria que Asa-Loke o deixasse para trás. Vendo que Lawfey ficara para trás, Lúthien fez com que Cadoc diminuísse sua velocidade aos poucos e então deu a meia volta e andou até que estivesse ao lado de Lawfey. Com um grande sorriso no rosto, Lúthien disse: - Você melhorou bastante! Acho que se Cadoc não fosse tão orgulhoso como ele é você teria vencido essa corrida facilmente! Foi uma corrida e tanto não? Estava com saudades de cavalgar assim!

Lawfey que parecia um pouco cansada, respondeu: - Sim, e que corrida! Mas vejo que ainda terei que treinar mais um pouco para conseguir chegar ao nível de ganhar alguma corrida de Cadoc. Asa-Loke teria continuado, com seu físico com certeza ele correria por mais alguns quilômetros, mas eu já não agüentava mais... Preciso treinar mais um pouco para não me cansar tão rápido...

Felizes, as jovens primas retornaram para o castelo onde encontraram com Juwidia, que acariciava o focinho de Räg que demonstrava grande cansaço.

- Räg não agüentou acompanhar vocês, ficou muito cansada e eu não queria forçá-la... Acho que ela está fora de forma! – batendo no pescoço da égua, Juwidia ofereceu-lhe um pouco de aveia.

- É normal que Räg sinta-se cansada mais rápido Juwi, afinal ela era a única fêmea competindo entre dois machos! E Räg nunca foi muito de correr... Ela só corria para agradá-la não é? – disse Lúthien que desmontara de Cadoc retirando a sua sela.

Com uma expressão de indiferença, Juwidia voltou-se novamente a Räg que mostrava-se exausta. Logo, Cadoc e Asa-Loke estavam livres e saíram correndo em direção aos campos e como Räg não apresentava nenhuma iniciativa de ir atrás dos outros Juwidia achou melhor colocá-la para descansar no estábulo. Depois de fazer com que Räg se sentisse confortável, Juwidia foi com Lúthien e Lawfey para dentro do castelo, onde encontraram Lara observando os pequenos primos brincar.

Hlodin, ao avistar Juwidia correu em sua direção para abraçá-la. Pegando a pequenina no colo, Juwidia perguntou: - O que esteve aprontando enquanto eu estive fora?

Hlodin faladeira como sempre, logo começou a contar tudo o que ela e Luke haviam feito durante a ausência das mães. Enquanto ela contava detalhadamente o que haviam feito, Luke chegou discretamente até onde Lúthien estava e sentou-se em seu colo, abraçando a mãe. Lawfey logo saiu à procura de Fyorgin dirigindo-se ao campo de treinamento onde o jovem ficava quase o dia todo. Hlodin ainda falava sem parar e Luke ainda estava abraçado à mãe quando Lara decidiu ir para a sua casa. Antes que a jovem saísse, Lúthien chamou-a e pediu para que a acompanha-se até seu quarto.

Com Luke no colo, Lúthien guiou Lara até seu quarto onde abriu a gaveta da penteadeira de madeira e retirou um pequeno colar prateado com um pequeno pingente de borboleta e entregou-o a garota. O colar era um fino e delicado cordão de prata com um pequeno pingente em forma de borboleta. A borboleta tinha pequenas pedras alaranjadas em cada parte de suas asas e parecia muito real.

Lúthien, ao ver que Lara olhava atentamente o colar falou: - Este colar eu ganhei dos anões quando era mais jovem. Vi seu interesse nele desde quando era pequena, mas nunca dei a você por medo que perdesse-o caso eu lhe desse. Agora você já esta grandinha, e como tem cuidado muito de Luke durante a minha ausência quero que fique com ele. Tome muito cuidado com ele está bem?

Surpresa com o que a tia havia acabado de lhe oferecer, Lara falou: - Não posso aceitar tia, minha mãe me contou que você sempre gostou muito desse colar e...

Interrompendo a sobrinha de forma delicada, Lúthien falou: - Eu quero que fique com ele minha querida. Eu tenho muitas outras jóias que ganhei de Donnerstag e quase não uso mais esse colar. Tenho certeza de que você irá aproveitá-lo bem mais que eu. E além disso, quero que aceite este colar como um presente para lhe agradecer por cuidar tão bem de Luke quando eu saio por alguns momentos.

Com um grande sorriso no rosto, Lara abraçou a tia e agradeceu pelo presente que ganhara. E quando já saia do quarto, acrescentou: - Sempre que precisar que eu cuide dele é só me avisar!

Lúthien observou a sobrinha sair feliz pelo corredor e então sentou-se na cama onde Thor se deitou ao seu lado. Luke acariciou Thor imitando a mãe, que mesmo sem perceber acariciava o pescoço do lobo. Logo começou a escurecer em Ellesmera, e Lúthien foi para a cozinha ajudar a preparar a refeição. Luke e Hlodin brincavam no saguão vigiados por Donnerstag, Fyorgin e Rubezahl que conversavam animadamente. Quando terminaram de preparar a refeição, Lúthien foi com Donnerstag e Luke para sua casa que não era muito longe dali. Lúthien sentiu a falta de seu lobo, mas deixou o pensamento de lado pensando que ele provavelmente havia saído para caçar como fazia algumas vezes.

Lúthien foi até sua casa e vestiu Luke com uma camisa branca que ele mesmo escolhera para ficar parecido com o pai. Donnerstag se arrumou rapidamente e ficou brincando com o pequeno para que Lúthien pudesse se arrumar. Lúthien colocou um lindo vestido roxo escuro e prendeu seus longos cabelos com uma presilha enfeitada. Quando já saia do quarto, Lúthien voltou e colocou uma das jóias que havia ganhado de Donnerstag: era um colar com pedras arroxeadas e um lindo brinco que fazia conjunto com o colar. Um dos favoritos de Lúthien.

Logo os três já estavam na trilha voltando para o castelo. Donnerstag com o pequeno Luke em seu colo e Lúthien ao seu lado caminhando calmamente. Quando já estavam quase no castelo, encontraram-se com Juwidia que carregava Hlodin no colo. A jovem estava muito bonita vestindo um lindo vestido cor de vinho e com os cabelos presos em um dos penteados que ela mesma havia inventado. Hlodin estava com um pequeno macacão azul escuro que ia abaixo dos joelhos e uma blusa amarela por baixo.

Juwidia desistira de colocar vestidos na pequena há algum tempo, pois a menina nunca parava quieta e sempre estragava ou sujava os vestidos que lhe eram colocados. Ultimamente a menina só era vestida com macacões ou calças de cores escuras. Ao avistar Luke, Hlodin logo desceu do colo da mãe e chamou Luke para uma corrida. Os dois pequenos saíram em disparada até o castelo, onde logo que entraram começaram a brincar entre as pessoas que estavam no saguão. Lúthien ao perceber a falta de Fenrir ao lado de Juwidia, perguntou: - Onde está Fenrir Juwi? Faz algum tempo que não a vejo.

Juwidia mostrando-se feliz e orgulhosa respondeu: - Fenrir botou um ovo e o está chocando. Acho que ela percebeu que Hlodin agora é a minha filha e resolveu botar um ovo para que ela tenha a sua própria Fênix!

Curiosa Lúthien sorriu, e então começou a pensar que também deveria procurar algum animal para Luke. Com toda a preocupação de cuidar do filho, Lúthien havia se esquecido desse detalhe, e somente agora com o comentário de Juwidia se lembrou da possibilidade de arrumar um animal para o pequeno.

Quando entraram no saguão do castelo, o pensamento de Lúthien deu atenção à outra coisa. Assim que avistou Lara, o pensamento de arrumar um animal para Luke deu espaço para admirar a beleza da sobrinha. Ela estava linda, com um vestido cor de abóbora combinando com o colar que ganhara aquela tarde. Seus cabelos estavam puxados para trás e presos com uma pequena presilha em forma de borboleta em um penteado muito usado por Lúthien quando era mais jovem.

Lara estava com a aparência de uma princesa e seu lindo rosto delicado se destacava em meio à multidão. Aproximando-se, Lara mostrou a Lúthien o que segurava orgulhosamente: um pequeno filhote de coelho castanho. Com um grande sorriso, a garota disse: - Ganhei hoje dos meus pais! O nome dela é Iarl e ela é filha de Nolfravrell!

Feliz pela sobrinha, Lúthien acariciou a pequena coelha que estava aninhada nos braços de Lara e foi sentar-se ao lado de Lif e Rubezahl que observavam com orgulho a filha. Logo a refeição foi servida, e após comerem Lúthien e Donnerstag ficaram conversando com Lif, Rubezahl, Lawfey, Fyorgin e Juwidia em um canto do salão.

Lawfey uma hora perguntou a Lúthien: - Você por um acaso não viu Hlorridi? Ela está sumida desde manhã! Pensei que voltaria agora à noite, mas até agora ela não apareceu!

Surpresa com o que a irmã acabara de dizer, Lúthien respondeu: - Thor também sumiu agora de noite... Será que eles estão juntos? Pensei que ele havia saído somente para caçar, mas ele geralmente não demora tanto para voltar!

Conversaram por mais algum tempo, e logo mudaram de assunto novamente. Quando já era quase meia noite, Luke veio e sentou-se no colo da mãe, onde adormeceu em poucos instantes. Hlodin também adormecera no colo de Juwidia, que logo resolveu que estava na hora de ir para casa. Com dificuldade, Juwidia colocou-se de pé com a menina nos braços e despedindo-se, foi em direção à porta de saída.

No meio do salão, Ulfgar correu ao seu encontro e pegando Hlodin dos braços de Juwidia, saiu acompanhando a amiga até a sua casa. Juwidia descobrira há alguns anos que o que sentia por Ulfgar nunca fora amor verdadeiro, mas sim o sentimento de carinho que teria por um irmão. Alguns dias após o casamento, há muito tempo atrás, Juwidia havia descoberto que os planos que Ulfgar nunca fora de fugir com ela, pois tinha sua mulher. E com isso eles haviam perdido contato por um tempo, mas assim que Juwidia percebeu seus verdadeiros sentimentos, Ulfgar sempre ajudava Juwidia com a pequena Hlodin carregando a menina sempre que podia.

Observando a cena de longe, Donnerstag comentou: - Ouvi alguns cavaleiros comentarem que Mardoll desapareceu de Ellesmera após uma briga com Juwidia... Será que é verdade?

Todos fizeram expressões de dúvida e o mesmo pensamento chegou à mente de todos: Fazia algum tempo que não viam mais Mardoll grudado em Juwidia o tempo todo, mas há poucos dias não o viam nem em Ellesmera. Rubezahl após alguns minutos de silêncio,  disse: - Acho que já é hora de irmos... Onde está Lara?

Levantando-se, saiu em busca da filha, e após algum tempo retornou com Lara seguindo-o. Rubezahl estava com a cara fechada e Lara estava com a cabeça baixa acariciando o pequeno coelho em seu colo. Chamando Lif, Rubezahl dirigiu-se à porta apressado arrastando Lara atrás de si. Com um ar preocupado, Lif levantou-se apressadamente e esclareceu aos demais: - Lara provavelmente estava conversando com Seylfe, filho de Odensberge. Rubezahl sente um grande ciúmes pelo rapaz e toda vez que vê Lara com o jovem fica furioso. Boa noite para vocês, tenho que ir lá acalmar Rubezahl um pouco antes que ele faça alguma besteira!

Apressada, Lif saiu do castelo atrás de Rubezahl e Lara, deixando para trás Lúthien, Lawfey, Donnerstag e Fyorgin se entreolhado confusos. Após algum tempo da partida de Lif, foi à vez de Lúthien e Donnerstag decidirem partir também. Com todo o cuidado, Donnerstag pegou Luke dos braços de Lúthien e saiu na frente com o pequeno. Lúthien despedindo-se de Lawfey e Fyorgin seguiu Donnerstag e foi para a sua casa, que ficava a menos de 200 metros dali.

A festa no castelo durou mais algum tempo, e então todos foram para seus quartos e adormeceram. Lawfey sentia a falta de sua loba, e perguntava-se se ela havia partido. Demorou algum tempo até adormecer, e então caiu em um sono profundo com muitos sonhos confusos e embaralhados.

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Capítulo 7 – A festa

 

A manhã seguinte estava calma em Ellesmera. Lif caminhava sem rumo pelo bosque havia horas, e pensava na discussão que tivera com Rubezahl na noite anterior. Seu marido não queria que Lara ficasse tão próxima de Seylfe, graças à sua inimizade com o pai do garoto.

Rubezahl e Odensberge tiveram uma grande briga há alguns anos, e desde então uma grande inimizade crescera entre os dois. Mesmo sem compreender essa briga, Lif não achava correto que o marido proibisse Lara de ver o amigo graças às suas brigas e desavenças. Lif tivera uma grande discussão na noite anterior com Rubezahl graças a isso, mas no final não surgiram resultados. E agora, durante a manhã, Lif andava pelo bosque procurando uma forma de mostrar a Rubezahl que o que ele estava fazendo não estava certo. Sem conseguir pensar em nada, a jovem elfa continuou a andar sem rumo pela floresta.

Não muito longe dali, Lúthien andava calmamente rumo à casa de Juwidia com Luke em seu colo. Donnerstag havia saído para resolver alguns assuntos com Holnir e então a jovem decidira ir até a casa da irmã, para conversarem. Chegando à casa da irmã, logo foi recebida por Hlodin, que agitada como sempre logo puxou Luke em direção ao seu quarto para brincarem. Juwidia e Lúthien sentaram-se na sala, perto da fogueira, onde Fenrir estava sobre um grande ninho. Lúthien apreciou aquela imagem majestosa ainda imaginando onde estaria Thor. Percebendo a preocupação da irmã, Juwidia perguntou: - O que a está preocupando Lúthien?

- Não sei Juwi... Thor desapareceu ontem à noite e não voltou até agora. Nunca fiquei tanto tempo longe dele! Às vezes fico me perguntando se ele não foi embora. Depois que Luke nasceu eu quase não tenho tempo para lhe dar atenção e...

Lágrimas correram pelo rosto de Lúthien que se esforçava ao máximo para contê-las. Juwidia ao ver a aflição da irmã, segurou suas mãos e falou: - Com certeza não é isso Lúthien. Thor entende que você tem de proteger Luke, e até mesmo a estava ajudando a fazer isso ultimamente. Ele deve estar caçando na floresta, e logo retornará. Ele não ficaria longe de você por muito tempo a não ser que fosse realmente necessário. Com certeza ele logo irá retornar você verá.

Agradecida pelo apoio que Juwidia havia lhe dado, Lúthien falou: - Acho que você esta certa Juwi... Obrigada por me ajudar.

Sorrindo, Juwidia colocou-se de pé e convidou a irmã a ajudá-la a preparar algo para comerem. As duas se encaminharam até a cozinha, onde começaram a preparar a refeição. Enquanto preparavam, Juwidia perguntou: - E Donnerstag Lúthien? Não seria bom que você o avisasse para vir aqui comer?

- Ele não voltará antes do anoitecer Juwi, teve que ir até a morada dos anões com o tio Holnir para resolverem alguns assuntos. – respondeu Lúthien enquanto cortava alguns legumes para a refeição. Por alguns instantes o único som que se podia ouvir era a comida sendo preparada e algumas risadas de Luke e Hlodin que brincavam no quarto.

Lembrando-se do que Donnerstag havia comentado na noite anterior, Lúthien perguntou: - Onde está Mardoll Juwi? Faz tempo que não o vejo.

Sem desviar os olhos do que estava fazendo, Juwidia falou em tom sério: - Ele foi embora faz algum tempo. Brigamos porque ele não queria que eu criasse Hlodin, e depois ele se foi. Antes de sair ele disse que voltaria e então com certeza eu deixaria a idéia de criar Hlodin de lado. “Seja por bem ou por mal”, foi o que ele disse, e também disse que a partir desse dia eu iria aceitá-lo como marido e lhe apresentaria o respeito que merece. Logo que ele saiu eu queimei todas as suas coisas e esqueci que ele existiu. O tio Holnir mandou que alguns cavaleiros ficassem de guarda por algum tempo, mas aquele covarde nunca mais voltou. E também espero que nunca volte, pois se voltar eu não vou controlar os meus poderes, irei usá-los contra ele.

Achando graça do ódio da irmã, Lúthien entendia o que ela provavelmente sentia. Desde que se casara com Mardoll, Juwidia não podia fazer nada, mas agora ela estava livre novamente. Logo o cheiro da comida se espalhava pela casa, o que atraiu os pequenos até a cozinha. Juwidia foi lavar as mãos das crianças para que pudessem comer, já que estavam totalmente imundas. Os pequenos haviam se aproveitado da distração das mães enquanto elas cozinhavam, e saíram para a frente da casa, onde brincaram com a terra do jardim.

Lúthien continuou a aprontar a comida, quando Lawfey chegou e chamou pelas irmãs na sala. Com o chamado de Lúthien, a jovem foi até a cozinha e começou a ajudar a irmã a arrumar tudo para a refeição. Em poucos segundos Luke e Hlodin chegaram correndo e cumprimentaram Lawfey com um grande abraço. Juwidia convidando Lawfey para comer também, sentou-se à mesa, mas Lawfey recusou educadamente, pois já havia se alimentado no castelo com Fyorgin. Luke e Hlodin comiam com entusiasmo, fazendo uma pequena confusão. Após algum tempo, Fyorgin bateu a porta, e ao entrar disse à Lúthien: - Ah, você esta aqui! Acabei de passar em sua casa.

Abraçando Lawfey, que estava sentada em uma das pontas da mesa, perguntou: - E então?

Lawfey que somente agora se lembrara do que viera fazer ali, perguntou: - Vocês viram Hlorridi? Ela ainda não apareceu!

Lúthien respondeu rapidamente: - Thor também não apareceu! Estou ficando preocupada com a ausência dele, por isso vim até aqui.

- Estamos pensando em sair para procurá-los na floresta, os dois provavelmente devem estar juntos! – disse Fyorgin de repente.

- Sim, também acho que eles estejam juntos, será que estão na floresta caçando? Eu até iria com vocês procurá-los, mas amanhã será a festa de Luke e Hlodin, e eu e Juwidia precisamos fazer os preparativos. – disse Lúthien mostrando-se indecisa.

- Não se preocupe Lúthien, eu e Fyorgin iremos procurá-los. Fique aqui e prepare a festa, assim que retornarmos avisarei você de tudo o que descobrirmos está bem? – disse Lawfey calmamente.

Com um pequeno sorriso, Lúthien agradeceu aos dois que logo partiram para a floresta.

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Durante toda a tarde Lúthien e Juwidia ficaram ocupadas com os preparativos da festa, Lif que chegara momentos depois de começarem, dava idéias para a festa. Lara cuidava dos pequenos primos com um ar distante e olhar triste. Luke e Hlodin brincavam correndo animados e soltando várias gargalhadas. Observando o comportamento quieto de Lara, Lúthien preocupou-se com a sobrinha, que normalmente sempre estava sorrindo. Apoximando-se de Lif, que pendurava alguns enfeites nas paredes disse: - Lara está quieta Lif, aconteceu alguma coisa?

Após uma pequena olhada em direção a filha, Lif respondeu: - Rubezahl a proibiu de ver ou falar com Seylfe.

Espantada com o que acabara de escutar, Lúthien falou: - Mas Lif! Lara gosta muito de Seylfe, e o rapaz sente o mesmo por Lara. Os dois são muito amigos, Rubezahl não deveria fazer isso!

- Eu sei Lúthien, eu estou tentando convencê-lo de que ele esta errado, mas está complicado. Ontem nós discutimos por causa disso, mas ainda não consegui convencê-lo de parar com essa bobagem toda. Hoje eu vou tentar conversar com ele de novo assim que retornar, mas ele é cabeça dura e não entende que não pode fazer isso! – disse Lif com ar pesaroso.

Enquanto as duas irmãs conversavam sobre o que Rubezahl estava fazendo, e como achavam aquilo incorreto, um jovem entrou no castelo. Assim que o avistou, Luke correu para cumprimentá-lo seguido por Hlodin. Abraçando os pequenos amigos, o jovem se encaminhou a Lara, que estava sentada em um canto do salão abraçada a Iarl. O jovem possuía uma estatura média, cabelos ondulados na altura dos ombros e a pele bem clara. Seus olhos verdes se contratavam com o tom escuro de seus cabelos, e ele era bem magro. Assim que ele se aproximou, Lara levantou-se apressadamente e disse algumas palavras ao jovem. Pegando a pequena mão de Lara, ele respondeu calmamente e começou a caminhar em direção a porta, convidando a jovem para seguí-lo. Lara soltou sua mão do rapaz, e saiu correndo para os fundos do castelo com a cabeça baixa, deixando o rapaz para trás e levando consigo Luke e Hlodin.

Animados com a idéia de poderem brincar ao ar livre, os dois pequenos correm rapidamente para fora, e Lara apressou-se sem olhar para trás. O rapaz observou até que Lara saísse, e então saiu do castelo e montado em seu cavalo, saiu galopando levando o outro lindo cavalo que trouxera consigo.

Nos fundos do castelo, Lara chorava silenciosamente abraçada à pequena Iarl. Luke e Hlodin brincavam de luta com as pequenas espadas de madeira que Donnerstag havia feito para Luke dias atrás. Juwidia logo saiu atrás de Lara, pois fora a única que havia visto o que acontecera. Quando Juwidia se aproximou, Lara secou rapidamente as lágrimas em seu rosto e ficou olhando para a grama em seus pés.

Sentando-se ao lado da sobrinha, Juwidia perguntou: - O que ele queria Lara? Era Seylfe não era? O que ele queria minha querida?

Soltando Iarl na grama, Lara respondeu: - Não sei, eu estou proibida de falar com ele. Meu pai proibiu ontem à noite que eu o visse ou tivesse qualquer contato com ele.

Enquanto falava, uma lágrima escorreu por seu rosto delicado. Secando-a rapidamente, Lara continuou a olhar para a grama. Colocando a mão sobre o ombro de Lara, Juwidia perguntou: - Mas é isso o que você quer?

- Eu não quero nada tia. Estou seguindo as ordens de meu pai, como deve ser. Eu prometi a ele que iria me afastar de Seylfe, e é o que eu estou fazendo agora. – respondeu Lara secando as lágrimas que teimavam em cair.

Cruzando as pernas e sentando-se em frente a Lara, Juwidia falou: - Não foi isso que eu perguntei querida. Esqueça seu pai e essa promessa estúpida que ele a forçou a fazer e me diga: é isso o que você quer? Você quer realmente se afastar de Seylfe querida?

Olhando fixamente para Juwidia, Lara apertou os lábios. Seus olhos azuis brilhavam com as lágrimas que escorriam, e mostravam a grande tristeza que estava corroendo a garota por dentro. Jogando-se em cima da tia e abraçando-a, Lara respondeu chorando: - Não tia, eu não quero me afastar de Seylfe! Eu gosto muito dele, mas meu pai quer que eu me afaste dele e... Eu queria tanto que tudo isso não passasse de um pesadelo e que eu pudesse acordar!

Abraçando delicadamente a sobrinha, que agora chorava desesperadamente, Juwidia falou: - Então vá falar com Seylfe Lara!

Levantando-se rapidamente, Lara ficou encarando Juwidia com uma expressão assustada. Juwidia a observava calmamente, como se o que acabara de dizer fosse a coisa mais óbvia do mundo. Lara secando suas lágrimas repetiu, pensando que talvez a tia ainda não houvesse entendido: - Meu pai me proibiu de vê-lo tia... Proibiu!

Então Lara começou a chorar olhando para baixo. Juwidia vendo o sofrimento de Lara, falou: - Não importa que ele seja seu pai Lara! Ele não tem o direito de proibí-la de ver Seylfe. Olhe para mim Lara, eu fiz tudo o que mandaram que eu fizesse. Na minha época os casamentos ainda não eram livres, e eu tive de me casar com Mardoll. Agora ela foi embora e eu estou cuidando de Hlodin sozinha. Eu não reclamo disso, pois eu nunca gostei realmente de Mardoll e eu estou muito feliz com Hlodin. Mas nem sempre os pais estão certos em tudo! Eles também cometem erros, assim como todos. E seu pai esta cometendo um grande erro em controlar a sua vida dessa forma! Ele não pode proibí-la de ver Seylfe dessa forma só por causa das brigas dele. Você gosta dele Lara, não está certo que você não possa ficar com quem você ama por algo que seu pai fez! Não está certo você não poder mais falar com ele por causa das brigas de seus pais!

Juwidia ficou observando Lara durante mais algum tempo, que agora chorava muito olhando para o chão e arrancando pequenos tufos de grama. Após algum tempo, Juwidia levantou-se e decidiu que era melhor deixar que Lara um pouco sozinha, e foi novamente para o saguão, terminar os preparativos para a festa. Lara ficou refletindo sobre tudo o que a tia havia acabado de lhe dizer, e agora se arrependia por ter falado a Seylfe que não a procurasse mais. Luke e Hlodin ainda brincavam com as espadas, e Iarl pulava inocentemente ao redor de Lara. O dia estava ensolarado, e uma raja de vento chacoalhou a grama e as copas das árvores da floresta.

Já era quase noite quando Lawfey e Fyorgin retornaram da floresta. Não haviam encontrado nada além de algumas poucas pegadas. Com certeza Thor e Hlorridi estavam na floresta, mas porque não retornavam para o lado das donas? Quando chegaram ao castelo, todos os preparativos já haviam sido feitos, e Lúthien estava retornando para casa. Após conversar com Lawfey, voltou para casa apressada, onde encontrou Donnerstag preparando a comida. Assim que chegou, tomou um banho para tirar o cansaço do corpo e então assumiu o controle da cozinha, enquanto Donnerstag dava banho em Luke.

Não muito distante dali, Juwidia estava em sua casa dando banho em Hlodin. Fenrir estava em seu ninho com o pequeno filhote que havia nascido um pouco antes de Juwidia partir para o castelo. O filhote era pequeno e muito alaranjado. Fenrir mostrava-se orgulhosa, e às vezes ia até onde Juwidia estava aproveitando para esticar as asas já que não o fazia há tempos. Agora que o pequeno filhote nascera, Fenrir podia sair por alguns minutos, deixando o pequeno filhote no ninho.

No castelo, Lawfey e Fyorgin preparavam a comida juntos e logo estavam sentados na mesa com Holnir, que chegara há poucos minutos. Após comerem, Lawfey subiu para seu quarto e tomou um demorado banho, tentando livrar-se de todo o cansaço e preocupação. Quando se deitaram, Fyorgin abraçou Lawfey preocupado. A jovem não conseguia parar de pensar em Hlorridi, estava preocupada e sentia muita falta de sua loba. Lúthien também estava muito inquieta com o fato de não encontrarem Thor. Ela sentia a falta de seu lobo e queria que ele voltasse logo para o seu lado. Ela havia decidido que se acaso ele não aparecesse no dia seguinte, ela sairia para procurá-lo e não voltaria sem ele.

Na casa de Lif, Lara estava trancada em seu quarto desde que chegara. Lif e Rubezahl novamente estavam discutindo sobre a proibição que ele fizera a Lara. Rubezahl não mudava de idéia em relação à Seylfe e Lif ficava inconformada com o fato de ele julgar o rapaz a partir das ações do pai. Eles brigavam em voz alta, e suas vozes podiam ser ouvidas claramente no quarto de Lara, mas a jovem nem prestava atenção no que diziam. Ela ainda refletia sobre o que Juwidia havia lhe dito aquela tarde, e confusa, pensava no que fazer.

A noite estava calma em Ellesmera, e logo todos adormeceram profundamente. Fortes rajadas de vento começaram a passar pela cidade, chacoalhando as copas das árvores e levantando muita poeira nas estradas. Com certeza haveriam muitas mudanças no dia seguinte.

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No dia seguinte, a festa de Luke e Hlodin estava muito animada. Ela estava ocorrendo do lado de fora do castelo, pois amanhecera um dia tão bonito em Ellesmera, que Lúthien e Juwidia acharam que seria desperdício fazer a festa dentro do castelo em um dia tão belo. Com a ajuda de Lawfey, haviam colocado todos os enfeites do lado de fora durante a manhã e agora tudo estava ocorrendo perfeitamente. Luke estava com uma blusa de algodão nova e uma calça escura que Lúthien havia costurado para a ocasião. Hlodin estava com um vestido azul claro e laços no cabelo. Juwidia decidira fazer uma última tentativa de fazer com que Hlodin usasse vestidos sem estragá-los totalmente. E os dois brincavam correndo entre as mesas felizes com tudo.

Lúthien estava com um vestido vinho, e um colar que Donnerstag havia lhe trago na noite anterior: um colar feito pelos anões, que possuía uma pedra que mudava de cor de acordo com o seu humor. Naquele momento a pedra estava em um tom marrom, mostrando que Lúthien estava preocupada com alguma coisa. Ela estava pensando em Thor, que sumira há mais de dois dias, o que não era normal que o lobo fizesse. Apesar de tentar esconder sua preocupação, a pedra e seu comportamento mostravam que ela estava muito preocupada e ansiosa. Donnerstag percebia a ansiedade de Lúthien, e sempre que podia aproximava-se e tentava acalmá-la. Ele vestia uma camisa branca costurada por Lúthien há poucos dias, e estava muito parecido com Luke. Ele andava pela festa conversando com os convidados, mas sempre procurava ficar o mais próximo de Lúthien, para acalmá-la.

Lawfey também estava agitada e ansiosa com a ausência de sua loba, e assim como Lúthien, estava inquieta e andava sem rumo pela festa. Com seu vestido cinza, foi puxada por Fyorgin e sentou-se ao lado do marido inquieta. Juwidia estava com um vestido azul e os cabelos presos em um coque desarrumado para amenizar o calor. Conversava animadamente com Ulfgar, que às vezes tocava um pouco de flauta chamando a atenção das crianças da festa. Lif andava distraidamente pela festa, mantendo distância de Rubezahl. Estava chateada com o comportamento do marido, era a primeira vez que ele não lhe dava ouvidos e fazia suas vontades. Com seu vestido verde claro, conferia se tudo estava organizado de acordo com os seus planos.

Lara usava um lindo vestido cor-de-rosa e o colar que havia ganhado de Seylfe em seu aniversário. Era uma corrente delicada, com um pequeno pingente em forma de coração feito de cristal transparente. Ela amava aquele colar, e agora mais do que nunca o usava lembrando-se do amigo. Tentando manter distância dos pais, Lara estava isolada em um dos cantos da festa.

A festa continuou por mais algumas horas, e então Hlorridi apareceu repentinamente. Saindo por meio dos arbustos da floresta rapidamente e correu até Lawfey, que a abraçou fortemente. Após alguns segundos, os arbustos moveram-se novamente, e então Thor saiu segurando algo na boca. Lúthien foi rapidamente até o lobo para cumprimentá-lo, que rapidamente lhe entregou o que estava segurando delicadamente: um filhote recém-nascido. Ao pegar o pequeno filhote, Lúthien rapidamente entendeu o que aquilo queria dizer. Emocionada, abraçou Thor com todas as forças e agradeceu-lhe por lhe arranjar um animal para Luke.

Com a ajuda de Donnerstag, Lúthien levantou-se e colocou o filhote junto de Hlorridi em um canto tranqüilo. Thor deitou-se ao lado da loba, e ficou observando a festa ao seu redor. Lúthien observava-o sorrindo, e aliviada, agora tinha uma pedra amarela no pescoço mostrando a felicidade e o orgulho que sentia naquele momento. A festa continuou ainda mais animada após a aparição dos lobos, e Lúthien providenciou carne para dar a Thor e Hlorridi em meio à agitada festa. Luke e Hlodin brincavam com as outras crianças enquanto os pais conversavam animadamente.

A única que estava quieta era Lara, que sentada em um canto da festa pensava em Seylfe. Apesar de tentar disfarçar, a tristeza da jovem era visível para qualquer um que realmente a conhecia. Estava quieta, acariciando delicadamente os pelos de Iarl que dormia tranquilamente no colo da dona. Assim a festa continuou até o entardecer. Quando o céu já começava a ficar alaranjado graças ao sol que começava a se pôr, um jovem apareceu puxando dois cavalos atrás de si e aproximando-se de Lara, que correu ao seu encontro e abraçou-o fortemente.

Assustada e ao mesmo tempo aliviada por ver o rapaz na sua frente, Lara pergunta: - O que está fazendo aqui Seylfe? Se meu pai o vê aqui ele te mata!

Sorrindo, o rapaz responde calmamente como se não houvesse escutado a segunda parte do que Lara havia dito: - Vim convidá-la para cavalgar! Vamos ver o pôr-do-sol juntos?

Antes que Lara pudesse responder, Rubezahl chegou empurrando-a para trás. Ele só havia visto agora que Seylfe estava ali, e foi rapidamente até onde ele estava. Com sua voz grave e de forma muito agressiva, perguntou: - O que está fazendo aqui moleque? Já não mandei que ficasse longe de minha filha?

Calmamente, e de forma respeitosa, Seylfe respondeu: - Vim convidar sua filha para cavalgar senhor.

- Lara não sabe cavalgar! E eu quero você longe da minha filha, eu já disse! Saia daqui, você não foi convidado para esta festa! – respondeu Rubezahl aumentando o tom da voz.

- Senhor com todo o respeito, eu e sua filha não temos nada a ver com as suas brigas e de meu pai. Eu gosto de Lara, e não vou me afastar dela por causa dessa briga, que em minha opinião não teve nenhum motivo para começar. – falou Seylfe calmamente, sem alterar nem um pouco seu tom de voz.

Nesse momento, todos na festa já haviam parado para observar o que estava acontecendo. As crianças olhavam assustadas para onde Seylfe e Rubezahl conversavam, e Lif olhava preocupada de longe. Após alguns segundos de silêncio, Seylfe estendeu a mão para Lara e convidou novamente: - Vamos cavalgar Lara?

Rubezahl então atingiu o rapaz repentinamente. Com o soco de Rubezahl, Seylfe caiu para trás, e seus cavalos agitados afastaram-se um pouco. Levantando-se, Seylfe convidou novamente Lara para cavalgar, ignorando o que acabara de ocorrer. Rubezahl vendo aquilo partiu para cima do jovem. Luke correu para o colo de Lúthien assustado, mas Hlodin ficara observando a cena petrificada, a menos de meio metro da briga. Juwidia correu para pegar a filha e afastou-se rapidamente dali. As outras crianças correm e gritaram agitadas com a confusão e Seylfe tentava proteger-se dos golpes de Rubezahl. Tomando o máximo de cuidado para não machucar Rubezahl, o jovem procura somente se esquivar dos violentos golpes que o atacavam.

Sem conseguir acertar o rapaz, Rubezahl jogou uma das mesas em contra ele, que caiu atordoado na grama. Aproveitando-se da oportunidade, Rubezahl começou a chutar e socar Seylfe violentamente até que Lara o empurrou e se colocou na frente do amigo. Irritado com a intervenção de sua filha, Rubezahl gritou: - Saia da minha frente Lara! Não se meta nisso!

Lara que somente agora se dava conta do que havia feito, hesitou. Ela esteve paralisada até aquele momento, em dúvida do que fazer e confusa demais para tomar qualquer atitude. Sem sair do lugar, ela encarou o pai. Podia-se ver claramente o ódio nos olhos dele, que olhava fixamente para Seylfe atrás de Lara. Rubezahl ainda mais irritado com a desobediência de sua filha gritou novamente: - Saia da minha frente agora ou eu... – mas não terminou a frase, pois foi subitamente interrompido por Lara, que agora tinha lágrimas escorrendo em seu rosto e sentia seu corpo tremer.

- Você o quê? Ele está certo! Você não tem o direito de me proibir de vê-lo só por causa de suas brigas! Eu gosto dele papai, e nada vai mudar isso! – ajudando Seylfe a se levantar e subindo no dorso de um dos cavalos que o jovem havia trago, olha para o pai e completou: - E eu sei andar a cavalo papai! Seylfe me ensinou, coisa que você não quis fazer! - E a galope, Lara partiu deixando somente um rastro de poeira atrás de si. Rapidamente, Selyfe correu até Lúthien e entregou dois pequenos embrulhos: os presentes de Luke e Hlodin. Depois montou em seu cavalo e saiu à galope atrás de Lara que já estava muito distante.

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Capitulo 8 – Seylfe e Lara

 

Já era noite, e Lara ainda não havia retornado. A festa terminara logo após a sua partida, e todos já estavam em suas casas. Lawfey transferira Hlorridi e seu pequeno filhote para seu quarto. Thor continuava deitado ao lado da fêmea, levantando-se somente algumas vezes em que achava que Lúthien iria sair do castelo. Luke e Hlodin brincavam no saguão, vigiados por Lawfey. Lúthien, Juwidia, Donnerstag, Fyorgin e Holnir arrumavam os vestígios da festa ainda pensando em Lara. Lif havia partido para sua casa, para tentar acalmar Rubezahl que estava furioso com a atitude da filha.

Quando tudo já estava arrumado, e todos já estavam no saguão há algum tempo conversando, Juwidia foi para sua casa buscar Fenrir, pois passaria a noite no castelo. Lawfey foi para seu quarto, pois sentia-se enjoada e Lúthien vigiava Luke e Hlodin, que agitados corriam pelo saguão.

Após alguns minutos do retorno de Juwidia, Lif chegou ao castelo perguntando por Lara: - Lara passou por aqui? Ela voltou para cá depois da festa?

Preocupada, Lúthien respondeu: - Não Lif, ela não passou por aqui... Pensamos que ela já estava em sua casa! Ela não voltou?

- Não, ela não voltou até agora... Está tarde, e eu tive a esperança de que ela havia retornado ao castelo. Eu consegui acalmar um pouco Rubezahl, e só agora consegui escapar um pouco para procurá-la no castelo. Passei na casa de Odensberge, mas ele me disse que Seylfe também não apareceu ainda! Estou ficando preocupada com a demora deles!

- Nós vamos procurá-la Lif. Não se preocupe, vamos encontrá-la. – disse Lúthien tentando acalmar a irmã.

Concordando com a idéia de Lúthien, Lif decidiu voltar para casa, antes que Rubezahl percebesse a sua falta. Donnerstag, Holnir e Fyorgin saíram para prepararem seus cavalos para sair. Juwidia que havia retornado há pouco tempo, disse para Lúthien: - Vá você também. Você conhece muitos dos pontos de Ellesmera em que Lara gosta de ir, eu cuido de Luke enquanto você estiver fora.

Aceitando o conselho da irmã, Lúthien subiu até seu quarto para pegar a sua capa de viagem. Entrando no quarto de Lawfey, foi até a cama onde ela estava deitada e falou: - Esta melhor Lawfey? Eu vou procurar Lara na floresta, Juwidia esta no saguão com Luke e Hlodin, caso precise de algo é só chamá-la está bem?

- Está bem Lúthien, obrigada... – respondeu Lawfey com a voz um pouco abatida. Pegando dois cobertores emprestados do armário de Lawfey, Lúthien saiu. Thor acompanhou-a, pois ao ver a capa nos braços da jovem, decidiu seguí-la.

Quando Lúthien estava saindo em direção ao estábulo, Luke veio correndo chamando pela mãe. Abaixando-se, Lúhtien explicou ao filho: - Meu querido vou procurar Lara e logo estarei voltando. Fique aqui com a Juwi que logo eu volto está bem?

Com uma expressão triste, Luke voltou para o castelo e Lúthien continuou apressada até o estábulo. Chegando lá, preparou rapidamente Cadoc para sair e logo estava galopando em direção a floresta, com Thor correndo ao seu lado. Quando entrou na floresta, Lúthien ficou atenta a todos os sons na floresta, esperando ouvir algo que a guiasse até Lara ou até Donnerstag e os outros cavaleiros. A noite estava escura e fria, e Lúthien entrava cada vez mais na floresta. Passou por todos os lugares em que imaginou que Lara poderia estar porem só achava alguns vestígios de que ela estivera ali há um tempo atrás. Thor seguia um pouco a pista que achara em um dos locais, porém infelizmente em pouco tempo a perdia novamente.

Algum tempo depois, Lúthien decidiu desmontar de Cadoc, pois o terreno estava muito acidentado e ela não queria forçar muito o cavalo. Andando pela floresta com Thor ao seu lado farejando em busca de pistas, Lúthien começava a imaginar se Lara não havia retornado para casa. De repente, Thor começou a se agitar, e saiu correndo em disparada. Lúthien surpresa com a atitude do lobo, montou novamente em Cadoc e saiu galopando atrás dele.

Em alguns minutos chegaram a uma estrada de terra, que ficava depois da floresta. Seguiram por muitos quilômetros, com Thor sempre correndo à frente, sempre se certificando de que Lúthien o estava seguindo. Cadoc apreciava poder correr novamente com a jovem, coisa que havia se tornado raro desde o nascimento de Luke. Ela sentia seu coração disparado, torcendo para que encontrasse Lara logo. A noite tornava-se cada vez mais fria, e no céu não se via nenhuma estrela. Após algum tempo correndo muito, Lúthien avistou algo a sua frente. Acelerando Cadoc, que sem algum esforço ultrapassou Thor, em segundos estava ao lado de Lara. Lúthien desmontou rapidamente e correu em direção à jovem sobrinha. Ela estava sentada na estrada de terra ao lado de Seylfe, que estava deitado. Uma grande quantidade de lágrimas escorria em seu rosto, e ela não dizia uma palavra sequer.

Abaixando-se perto do jovem, Lúthien viu sua pulsação. O rapaz estava desacordado, e possuía um grande corte no abdômen, além de outros pequenos cortes nos braços e no rosto. Lara chorava cada vez mais desesperada, e Lúthien não conseguia compreender o que ocorrera. Sua mente estava confusa, e ela estava praticamente sem ação. Thor assim que terminou de farejar Seylfe e todo o local à sua volta, uivou repentinamente. Uivando cada vez mais alto, o lobo era observado por Lúthien. Os cavalos ao escutarem o uivo, ficam agitados e começam a empinar e andarem desgovernados.

Lúthien estranhava o comportamento de Thor, ela nunca havia o visto uivar daquela maneira. Levantando-se rapidamente, foi acalmar os cavalos e prendeu-os em uma árvore às costas de Lara. Quando prendeu Cadoc, lembrou-se do que trouxera, e então pegou as cobertas em baixo da sela do cavalo. Colocando uma das cobertas nos ombros de Lara, Lúthien abaixou-se e cobriu Seylfe, que estava com a pele gélida. Retirando sua capa e colocando-a em cima do jovem, levantou-se novamente e fez com que os cavalos se deitassem em torno do rapaz, esquentando-o. Thor continuava uivando cada vez mais alto, e Lúthien tentava concentrar-se para pensar no que fazer. Abraçando Lara fortemente para esquentá-la, procurava organizar seus pensamentos e achar uma solução para tudo aquilo. Como faria para levar Seylfe até o castelo? Se não o levasse logo para um local aquecido, provavelmente ele não sobreviveria. Ele estava perdendo muito sangue, e a noite estava muito fria.

De repente, um grande lobo surgiu em meio à vegetação, o que fez com que Lara soltasse um grito. Thor aproximou-se rapidamente do lobo, e começou a farejá-lo. Ele sempre parecera grande para Lúthien, porém agora ao lado daquele lobo, ele parecia pequeno e fraco. O lobo possuía a pelagem clara como a de Hlorridi, mas possuía uma aparência prateada que a loba não possuía. Era grande e forte, e com certeza tinha mais do que o dobro do tamanho de Thor. Ele transmitia calma em Lúthien, mesmo que ela soubesse exatamente o porquê. Lara tremia abraçada a tia, e disse com a voz fraca e quase sumindo: - Esse lobo nos protegeu... Foi ele que os espantou daqui...foi ele.

Lúthien olhando para Lara, não entendia nada do que ela estava falando. E usando seu poder, retirou um pouco de água do solo para que ela bebesse. O lobo, ao ver a possa de água que Lúthien fizera, aproximou-se para beber. Com a luz da lua, Lúthien podia ver mais claramente aquele lobo. Com certeza era muito mais velho que Thor, e seu pelo brilhava com a luz do luar. Agora que ela via-o mais de perto, percebeu que ele possuía uma aparência surrada, como se já tivesse participado de muitas brigas. Seus olhos não eram castanhos como o de Thor, e nem verdes como os de Hlorridi. Eram amarelos, o que tornava sua aparência ainda mais agressiva. Seus dentes e garras eram muito afiados, e rasgariam qualquer coisa com grande facilidade.

Mas mesmo com todas essas características agressivas, que dariam medo em qualquer um, Lúthien não se sentia ameaçada. Ela sentia como se o conhecesse há muito tempo, mas não lembrava de onde. Assim que terminou de beber água, o lobo levantou sua cabeça e soltou um uivo ainda mais alto que o de Thor. Os dois lobos uivaram por algum tempo, e então Donnerstag, Holnir e Fyorgin chegam galopando rapidamente. Assim que chegou, Donnerstag desmontou de Gondir e abraçou fortemente Lúthien enquanto Fyorgin abaixava-se para ver Seylfe. Holnir acariciou o grande lobo, que parecia feliz em encontrá-lo.

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Estava cada vez mais frio em Ellesmera e uma fina chuva começou a cair. Ao se aproximar, Holnir falou para Lúthien: - Vejo que já conheceu Gulltopper.

Olhando para o lobo, e depois para Holnir, Lúthien respondeu: - Sim, ele chegou há poucos instantes. Thor começou a uivar, e então ele apareceu.

- Ele é o meu lobo Lúthien, é o meu companheiro – disse Holnir acariciando a grande cabeça de Gulltoper, que agora olhava fixamente para ele.

Espantada, Lúthien perguntou: - Mas como eu nunca o vi antes em Ellesmera? Porque ele não anda com você?

Sorrindo, Holnir tentou explicar para a sobrinha da forma mais simples que conseguiu: - Nós não precisamos estar lado a lado para estarmos juntos Lúthien. Estamos ligados de tal forma, que mesmo que ele se mantenha muito distante por muito tempo, sei exatamente onde ele está. E o mesmo ocorre com ele. Você provavelmente já o viu antes, quando era pequena. Mas provavelmente não se lembra, pois deveria ser da idade de Luke, ou talvez até menor. Gulltopper saiu em uma missão para mim, e antes dela, estava em muitas outras. Ele vai a lugares distantes e me traz as informações que eu preciso.

Não entendendo claramente o que o tio estava explicando, Lúthien perguntou: - E o meu pai tio? Ele também tinha um lobo? Onde está o lobo dele?

- Sim Lúthien, ele também tinha um lobo. O nome dele era Reggin. Sempre estava com Gulltopper e raramente retornava. Reggin provavelmente está morto Lúthien, pois assim como um lobo sente quando nós precisamos dele, ele também sente quando nós falecemos. Nós podemos não sentir, ou talvez não percebamos... mas um lobo sabe, e provavelmente Reggin soube quando seu pai faleceu.

Fazendo uma pequena pausa, e olhando carinhosamente para Gulltopper, Holnir continuou: - E ele provavelmente fez o que todo lobo de um elfo faz quando percebe que seu dono morreu: isolou-se do grupo e faleceu também.

Horrorizada, Lúthien falou: - Não! Mas porque eles fazem isso?

Com um olhar triste, Holnir explicou: - Eu acho que eles não conseguem viver sem a companhia de seu dono. E então fazem a única coisa que podem para reencontrá-lo: morrem.

Lúthien agora olhava para Thor, que agitado estava circulando em volta de Donnerstag e Fyorgin enquanto preparavam a maca. Ele parecia extremamente feliz, e abanava o rabo, tentando brincar com eles em alguns momentos. Lúthien se dava conta de que nunca conseguiria viver sem aquele lobo. De repente, seus pensamentos foram interrompidos pelas palavras de Holnir: - Os lobos possuem o espírito muito puro. Eles não conseguiriam viver sabendo que seu parceiro elfo está morto, nunca lutam sem um verdadeiro motivo, não possuem ganância em seus corações e nunca matariam por vingança.

Assim que Holnir terminou de falar, a maca improvisada acabara de ser feita, e então todos começaram a se preparar para partir. Lúthien fez com que Lara montasse em Cadoc. A jovem estava trêmula e com o olhar distante, como se não estivesse realmente ali. Quando Lúthien ia montar em seu cavalo, Donnerstag aproximou-se e colocou sua capa sobre os ombros dela. A capa de Donnerstag era praticamente o dobro da de Lúthien, que continuava sobre Seylfe. E assim que a capa cobriu o corpo da elfa, começou a lhe transmitir calor, e fez com que ela percebesse o quanto estava sentindo frio até aquele momento.

Agradecendo ao marido, a jovem subiu no cavalo segurando Lara e começou a puxar os outros cavalos. A maca de Seylfe vinha logo às suas costas, carregada por Fyorgin e Donnerstag e Holnir cavalgava atrás de todos, vigiando a estrada. Cavalgaram por quase uma hora, pois além de serem forçados a seguir a estrada e contornar a floresta, seguiam em uma velocidade muito baixa por causa da maca. Seria impossível atravessar a floresta por onde Lúthien veio, pois além de que somente Cadoc tivesse habilidade em andar pela floresta tranquilamente, seria muito difícil carregar a maca por entre as árvores que eram muito próximas umas das outras.

Quando finalmente chegaram ao castelo, Luke correu em direção a mãe chorando. Apesar de Lúthien não perceber, ela passara mais de três horas fora. Descendo do dorso de Cadoc e pegando o filho no colo, Lúthien puxou a capa sobre ele e abraçou-o fortemente. Ele demonstrava muito cansaço, e abraçava a mãe com seus pequenos braços. Aproximando-se rapidamente, Juwidia falou: - Ele não quis dormir de jeito nenhum. Até mesmo Hlodin já adormeceu há algum tempo! O que aconteceu Lúthien? Você demorou tanto para voltar, estava preocupada!

Nesse instante, Holnir fazia com que Lara descesse do cavalo, e a garota parecia estar em estado de choque. Fyorgin e Donnerstag já haviam entrado no castelo, levando a maca com Seylfe. Com a ajuda de Juwidia, Lúthien reuniu todos os cavalos e saiu em direção ao estábulo enquanto explicava: - Me desculpe pela demora Juwidia, eu demorei a encontrar Lara, e quando a encontrei, ela estava em uma estrada após da floresta. Seylfe estava desacordado, e Lara não fazia nada além de chorar. Foi tudo muito confuso, nem vi o tempo passar!

Luke havia adormecido nos braços de Lúthien, que caminhava lentamente para o estábulo ao lado de Juwidia. Os cavalos mostravam-se exaustos, principalmente Cadoc que carregara Lúthien e Lara até ali. Chegando ao estábulo, Lúthien colocou o filho sobre um monte de feno cobrindo-o com a capa de Donnerstag. Com a ajuda de Juwidia, rapidamente retirou as selas e arreios de todos os cavalos e providenciaram água e comida para todos. Quando puxou os cavalos de Seylfe, Lúthien finalmente pôde ver o quanto eram belos. A fêmea era de um tom amarelo, com a crina e o rabo mais claros, quase brancos. O macho era muito parecido com Cadoc, porém um pouco mais claro, de estatura mais baixa e possuía uma grande mancha branca no peito que lembrava um coração.

Ao puxá-los, Lúthien percebeu algo que não havia visto antes graças à escuridão: o macho estava com um corte na pata dianteira esquerda. Aproximando-se parar ver melhor, a jovem elfa percebeu que aquele corte fora feito com uma espada. Deixando Juwidia com Luke e os cavalos no estábulo, Lúthien correu para o castelo à procura do marido. Chegando ao saguão, viu Donnerstag levantar-se ao vê-la chegar e apressou-se em direção a ele e falou em voz baixa: - Um dos cavalos foi ferido com a lâmina de uma espada!

Surpreso com o que acabara de ouvir, Donnerstag chamou Holnir discretamente e os dois seguiram para o estábulo atrás de Lúthien. Chegando lá, Holnir confirmou o que Lúthien já suspeitava: ele fora ferido com uma lâmina que não pertencia a nenhuma espada de Ellesmera. Holnir voltou apressado ao castelo, e enquanto Juwidia fazia um curativo no cavalo, Lúthien ajudou Donnerstag a preparar novamente os cavalos para sair. O cavalo de Holnir era alto, e essa era a primeira vez que Lúthien preparava o cavalo do tio. Na realidade, tratava-se de uma égua malhada, cuja pelagem misturava as cores branco e marrom. Tinha a crina era praticamente do mesmo tamanho que a de Asa-Loke, também mesclando as duas cores e o rabo totalmente branco. Seu nome era Skadi, e era uma das únicas éguas pertencentes a um cavaleiro. Holnir nunca a levava para as batalhas, pois além de preferir correr nessas ocasiões, preocupava-se com o fato de que ela poderia se ferir gravemente durante a batalha. Ele só montava em Skadi algumas vezes, porém quando montava, a sincronia que apresentavam fazia parecer que eles eram somente um.

Após algum tempo, Holnir voltou acompanhado de Fyorgin, que disse rapidamente à Lúthien antes de partir: - Lawfey não está se sentindo muito bem, será que você poderia fazer companhia a ela até eu retornar?

Fazendo um sinal afirmativo com a cabeça, Lúthien respondeu: - É claro, estou indo para lá agora mesmo.

E então, os três cavaleiros saíram em disparada em meio à noite escura.

Juwidia havia terminado de fazer o curativo no cavalo, e agora conferia se todos os cavalos tinham água e comida a disposição. Quando terminaram de arrumar o estábulo para que os cavalos ficassem confortáveis, Lúthien pegou Luke no colo e foi com Juwidia em direção ao castelo. Porém, no caminho encontraram Lif que galopando em Braggi, chegava ao castelo naquele instante. Após cumprimentá-la, Juwidia voltou ao estábulo para acomodar Braggi com os outros cavalos, e Lúthien entrou no castelo com Lif.

Assim que entraram, Lif aproximou-se de Lara e abraçou-a chorando. Lúthien subiu até seu quarto, e colocou o pequeno filho em sua cama cobrindo-o muito bem. Enquanto acendia a lareira, viu Lawfey entrar em seu quarto. Virando-se para ela, disse: - Lawfey! Eu estava indo para o seu quarto agora mesmo, assim que acendesse a lareira. Fyorgin me disse que você não está se sentindo muito bem, o que aconteceu?

Aproximando-se lentamente, Lawfey falou: - Lúthien acho que estou grávida. Estou sentindo enjôos há alguns dias, acho que estou grávida.

Surpresa com a notícia de Lawfey, Lúthien falou animada: - Que ótima noticia Lawfey! Você já contou para alguém?

- Ainda não, só para você... Mas Lúthien, eu estou com medo. E se eu não for uma boa mãe? – respondeu Lawfey enquanto olhava para Luke que dormia profundamente.

- Não seja boba Lawfey! Você será uma ótima mãe, e caso precise de ajuda, tem a mim, a Lif e a Juwidia! Quanto a isso você não precisa se preocupar! – disse Lúthien ajeitando as cobertas em cima do pequeno filho.

Antes que qualquer uma das duas pudesse falar qualquer coisa, Lif chegou apressada e disse: - Eu estou indo para casa com Lara, será que vocês podiam avisar Rubezahl quando ele chegar? Ele foi com o tio Holnir e os outros, e eu falei que estaria aqui. Mas eu acho melhor levar Lara para casa, acho que será melhor para evitar brigas entre Rubezahl e Odensberge. Apesar de Rubezahl ter vindo até aqui, foi somente pelo fato de que soubemos que Lara não estava bem para ir para casa. Se Rubezahl cruzar com Odensberge aqui com certeza haverão brigas.

- Claro Lif, eu avisarei a ele. – adiantou-se Lúthien. – Pode ir se deitar Lawfey, você está cansada. Depois nós conversamos está bem?

- Então até amanhã. Melhoras Lawfey! – disse Lif antes de sair apressada para o saguão e levantar Lara que ainda parecia estar em estado de choque.

Lawfey foi se deitar, e logo caiu no sono. Lúthien caminhou lentamente até o saguão, pensando na pequena conversa que tivera com Lawfey. De repente, escutou um grito vindo do lado de fora do castelo, e correndo em direção ao som, logo foi alcançada por Juwidia que estava na cozinha. Ao saírem, viram Lif segurando Braggi abaixada na porta do estábulo. Lara estava caída inconsciente no chão, e Lif estava abaixada sobre ela.

Correndo em direção a elas, Juwidia falou: - O que aconteceu? Porque ela está aqui fora? Acho que seria melhor se ela passasse a noite no castelo!

E enquanto Lúthien e Juwidia levantavam Lara com grande esforço, Lif começou a explicar: - Eu pensei que seria melhor levá-la para casa para evitar discussões entre Rubezahl e Odensberge, mas quando íamos montar em Braggi, ela desmaiou!

- Vamos levá-la para dentro Juwi, ela pode ficar no meu quarto. Eu vou levar as crianças para a minha casa, aqui eles não conseguirão dormir direito com essa confusão, e se forem para lá liberarão as camas para Lara e Seylfe. Amanhã voltarei bem cedo com eles. – disse Lúthien indo em direção ao castelo.

Lif entrou novamente no estábulo com Braggi, e Lúthien e Juwidia encaminharam-se para o castelo carregando Lara com grande dificuldade. Felizmente, quando estava no meio do caminho, encontraram Donnerstag, Rubezahl e Fyorgin que retornavam.Fyorgin foi diretamente para o quarto de Lawfey, para ver como ela estava. Donnerstag foi até o estábulo para libertar os cavalos e Rubezahl pegou Lara nos braços. Holnir havia se separado dos demais para ir até a casa de Seylfe, para informar Odensberge de todos os acontecimentos.

Lúthien guiou Rubezahl até seu quarto, onde pegou cuidadosamente Luke enrolando-o com uma coberta e dizendo para Rubezahl colocar Lara na cama. Juwidia guiou Fyorgin e Donnerstag que carregavam a maca de Seylfe até seu quarto, para que colocassem-no na cama também. Lif e Rubezahl passariam a noite em seu quarto, e em alguns instantes todos tinham lugares para dormir. Lúthien e Juwidia então começaram a se preparar para sair para a casa de Lúthien, onde passariam a noite. Como Lawfey havia acordado com o movimento no castelo, por insistência de Fyorgin decidiu acompanhá-las, pois lá poderia descansar melhor.

Saíram assim que Luke e Hlodin já estavam enrolados em cobertas grossas, e todas estavam com suas capas para se proteger do frio daquela noite. Donnerstag carregava Luke, enquanto Lúthien carregava o pequeno filhote de Thor. Fyorgin carregava Hlodin, para que Juwidia pudesse levar o pequeno filhote de Fenrir e assegurar-se de que Lawfey não iria cair ou desmaiar. Assim que chegaram, Lúthien arrumou um canto da sala com algumas cobertas onde Hlorridi e Thor poderiam ficar confortáveis com o seu filhote. Juwidia acendeu a lareira para esquentar a casa, e ajeitou o filhote de Fenrir em uma cesta, bem ao lado do fogo onde a fênix se sentia mais confortável. Donnerstag guiou Lawfey até o quarto de Luke, dizendo que ela poderia dormir ali. Depois, acompanhado de Fyorgin colocou Luke e Hlodin na cama de casal.

Assim que colocou Hlodin na cama, Fyorgin foi se despedir de Lawfey, que em segundos caiu no sono. Depois saiu acompanhado de Donnerstag para o castelonovamente. Antes de sair, Donnerstag beijou Lúthien na testa, e falou: - Cuidem-se.

Assim que os dois saíram para o castelo, Lúthien e Juwidia foram para o quarto de casal, onde as crianças estavam. Após cobrí-los muito bem, Lúthien foi até o quarto de Luke, para colocar mais um cobertor sobre Lawfey que já dormia profundamente. Rapidamente a casa ficou quente e confortável, e Lúthien foi tomar um banho quente e depois conversou com Juwidia durante um longo tempo, até adormecerem na cama com Luke e Hlodin, exaustas com tudo o que havia acontecido naquele dia. No castelo Holnir, Donnerstag e Fyorgin conversavam seriamente no escritório, e Lif e Rubezahl observavam sua filha dormir um sono agitado.

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O dia seguinte amanheceu claro, porém o céu estava com muitas nuvens. Lúthien e Juwidia acordaram cedo e prepararam um delicioso desjejum. Lawfey acordou após algum tempo, sentindo bem melhor e foi ajudar as irmãs. Logo que a comida estava pronta, Luke e Hlodin também acordaram e todos comeram até ficarem satisfeitos. Logo após, Lúthien e Juwidia foram dar um banho nas crianças, enquanto Lawfey ficou na cozinha arrumando algumas porções de comida para levar ao castelo. Quando terminou de arrumar as porções, Lawfey foi até o quarto de Lúthien, onde a encontrou tentando arrumar Luke. O pequeno não parava de se mexer, dificultando que Lúthien fechasse a camisa que estava tentando fazê-lo vestir. Achando graça do que estava vendo, Lawfey aproximou-se para ajudar Lúthien a vestir Luke.

Quando tudo já estava pronto, as três elfas saíram em direção do castelo observando Luke e Hlodin que brincavam a sua frente. Fenrir, Hlorridi, Thor e os filhotes ficaram na casa, onde teriam mais conforto longe de toda a agitação do castelo. Assim que entraram no castelo, puderam ouvir vozes alteradas de uma discussão. Juwidia então decidiu levar Luke e Hlodin para o campo, para que eles ficassem longe de toda essa confusão e gritaria. Lúthien e Lawfey foram até o escritório, onde os cavaleiros estavam. Bateram levemente na porta, e ao entrarem, perceberam que nenhum dos três havia descansado. Lúthien foi cumprimentar Donnerstag, que logo após cumprimentá-la perguntou do filho.

- Ele foi com Juwidia ao campo, aqui no castelo tudo está muito agitado, há pessoas gritando e isso não é muito bom para as crianças verem... – respondeu Lúthien enquanto cumprimentava Holnir e Fyorgin.

Lawfey logo começou a distribuir os embrulhos que trouxera, e logo eles começaram a comer satisfeitos. E então despedindo-se, as jovens saíram para cumprimentar Lif e deixar que os cavaleiros continuassem sua conversa. No corredor os gritos tornavam-se cada vez mais altos conforme se aproximavam dos quartos. Quando chegaram ao quarto de Juwidia, encontraram Rubezahl e Odensberge discutindo ao lado da cama de Seylfe. Rubezahl estava muito nervoso, e gritava furioso: - A culpa disso tudo é sua e de seu filho! Se ele não tivesse levado Lara para cavalgar, nada disso teria acontecido! Minha menina não sabe andar a cavalo, e agora com tudo o que aconteceu, ela não fala mais com ninguém! Esta em total estado de choque!

Odensberge apesar de falar alto, não demonstrava nervosismo. Ele falava calmamente com sua voz alta e grave: - Tudo isso foi um acidente Rubezahl, meu filho também não está saudável, ele está desacordado como pode ver. Não é hora de culpar-mos uns aos outros, e sim de nos concentrarmos na saúde de nossos filhos. Brigas e discussões não vão nos levar a lugar algum, acalme-se, por favor, vamos conversar. – dizendo isso Odensberge aproximou-se para tocar no ombro de Rubezahl, que bruscamente deu-lhe um soco no estômago tão forte que o fez cai parar trás.

Com Odensberge caído no chão, Rubezahl gritou ainda mais nervoso: - Eu não tenho nada para conversar com você! Mantenha seu filho longe da minha família, pelo próprio bem dele!

E saiu furioso com passos largos passando por Lawfey e Lúthien como se não as tivesse visto ali. As jovens haviam parado na porta do quarto, e ao verem Rubezahl vindo em sua direção, abriram caminho para que ele passasse. Depois, entreolharam-se rapidamente e entraram para ajudar Odensberge a se levantar.

Ele era mais velho que Rubezahl, e fora um grande companheiro de Alifader. Perdera sua esposa quando Seylfe era pequeno, e desde então criara o filho sozinho. Ele estava com a aparência cansada e surrada, e agradecendo a ajuda das elfas sentou-se na cama olhando para o filho. Acariciando seu rosto, disse: - Ele acha que tudo é culpa de Seylfe, mas tenho certeza de que meu filho nunca pensara que isso poderia acontecer. Ele ama muito aquela menina, e faria qualquer coisa por ela. É uma pena que Rubezahl não queira enxergar o amor que eles possuem um pelo outro por causa daquele mal entendido...

Entreolhando-se, Lúthien e Lawfey sabiam que pensavam a mesma coisa naquele instante, mas foi Lúthien quem falou: - Um dia ele entenderá Odensberge, tenha certeza disso.

- A culpa não foi de ninguém, tudo isso foi um acidente. Esperamos que quando os dois melhorarem que continuem lutando por seus sentimentos. – completou Lawfey.

Olhando para elas, Odensberge falou segurando as mãos das jovens entre as suas: - Espero que vocês estejam certas, para o bem de Seylfe e Lara, eu realmente espero que estejam certas.

Um leve sorriso se esboçou no rosto dele, que mesmo assim mostrava cansaço e uma grande preocupação no olhar. Lawfey sentiu pena do cavaleiro e desejou que todo esse sofrimento que ele sentia logo terminasse. E lembrando-se do que carregava, pegou dois embrulhos que havia feito e entregou-os à Odensberge falando: - Tome isso é para você. E caso Seylfe acorde tem um para ele também! Coma, nós fizemos com muito carinho.

Pegando os embrulhos, ele falou: - Obrigado minhas jovens, isso será muito bom para que eu recupere as minhas energias. Vocês me lembram muito seus pais, sempre preocupados com os outros.

Sorrindo, Lawfey e Lúthien despediram-se e deixaram os dois sozinhos no quarto. Passaram pelo quarto de Lúthien com a esperança de encontrarem Lif, porém ela não estava lá. Ela havia partido com Lara para sua casa logo pela manhã, para mantê-la longe de todas as discussões de Rubezahl. Como não encontraram Lif, saíram para os campos, para encontrar Juwidia e os pequenos Luke e Hlodin.

                Enquanto isso, na casa de Lif, Rubezahl havia acabado de chegar furioso. Lara ainda não dissera uma palavra sequer, e a única coisa que fazia era ficar sentada olhando para o nada. Ela havia acabado de adormecer, e Lif foi tentar acalmar o marido. Achou-o na cozinha, andando de um lado para o outro impaciente. Aproximando-se lentamente, Lif colocou as mãos em seus ombros e o fez parar. Abraçando-a, Rubezahl perguntou: - Como está a nossa menina?

                - Ela está bem, está dormindo agora. – respondeu Lif sabendo que não estava dizendo realmente a verdade.

                - Ela falou alguma coisa? – perguntou Rubezahl com um pouco de esperança.

                - Não, nada ainda... Ela não fez nada além de olhar para o nada desde que acordou. Ela nem parece estar aqui, parece estar... vazia. – disse Lif sentindo um grande aperto no coração.

                De repente, gritos começaram a vir do quarto de Lara. Os dois se apressaram até lá, onde encontraram a filha revirando-se na cama gritando: - Seylfe! Seylfe! Pare por favor! Seylfe me ajude, por favor! Não!

                Segurando-a, Lif disse quase sussurrando para acalmá-la: - Está tudo bem Lara, acalme-se, está tudo bem minha filha!

Haviam lágrimas escorrendo no rosto de Lara, que repetiu o nome do rapaz até que adormecesse novamente. Lif acariciou seu rosto e então levantou-se abraçando Rubezahl. Entre lágrimas, disse: - Toda vez que ela dorme acontece isso! Toda vez que ela adormece ela chama por ele... Você tem que deixar essa briga de lado Rubezahl! Pelo bem de nossa filha você tem que superar esse mal entendido bobo!

Ao ouvir essas palavras, Rubezahl afastou-se empurrando Lif e saiu batendo a porta da frente da casa. Lif ao ouvir a porta bater, caiu de joelhos com as mãos no rosto chorando desesperadamente. Na cama, Lara ainda repetia em tom tão baixo que quase ninguém poderia escutar: - Seylfe... me desculpe... Seylfe...

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Capítulo 9 – Os imprevistos de Ellesmera

 

Lúthien e Lawfey haviam acabado de chegar ao campo, onde avistaram Luke, Hlodin e Juwidia correndo e brincando. Asa-Loke e Cadoc estavam ali perto, e ao avistarem as elfas chegarem, correram para cumprimentá-las. Lawfey abraçou seu grande corcel negro, entrelaçando os dedos em sua crina. Lúthien acariciou o focinho de Cadoc, que parecia agitado chamando-a para cavalgar. Luke, ao avistar a mãe com Cadoc, correu em sua direção o mais rápido que pode e perguntou: - Mamãe vamos andar de cavalo?

Sorrindo e pegando seu pequeno filho no colo, ela respondeu: - Só poderemos andar a cavalo se Cadoc concordar. Pergunte a ele se você pode montá-lo.

Virando-se para Cadoc, Luke perguntou gentilmente: - Posso montar em você?

O corcel aproximou-se lentamente e encostou seu focinho no rosto do pequeno, e posicionou suas costas em frente a ele mostrando que aceitara o pedido. Lúthien colocou o filho em cima do dorso de Cadoc dizendo: - Segure-se firme.

Luke era muito pequeno, e perto de Cadoc essa característica se ressaltava. O pequeno soltava grandes risadas segurando-se à crina do cavalo e segurado pela mãe. Logo Cadoc começou a andar lentamente, com Lúthien ao seu lado segurando Luke com uma das mãos e acariciando seu pescoço com a outra. Andaram vagarosamente até onde Juwidia estava, e então Lúthien colocou Luke no chão. Ele rapidamente saiu correndo em direção a Hlodin, que festejava alegremente ao ver que Luke andara de cavalo. E então os dois pequenos saíram correndo novamente para brincar. Lúthien abraçou o pescoço de Cadoc, dizendo-lhe em voz baixa: - Obrigado... Muito obrigado!

 O cavalo deixou que ela o abraçasse por alguns segundos, e quando Lúthien o soltou, ele balançou a cabeça agitado e correu para junto dos outros cavalos feliz por estar livre no campo. Observando seu cavalo ir feliz para junto dos outros cavalos, Lúthien percebeu algo que ainda não havia notado: os cavalos de Seylfe e Lara também estavam lá. Agora pareciam recuperados, e estavam felizes por estarem ali, assim como Cadoc.

O macho ainda estava com um curativo na pata, porém isso não parecia incomodá-lo. Ele corria e saltava com os outros cavalos, como se já houvesse esquecido tudo o que ocorrera na noite anterior. Lawfey, Lúthien e Juwidia ficaram ali até o entardecer, e Luke e Hlodin brincavam animados correndo pelo campo entre os cavalos, que não lhe davam atenção. Quando o sol já começava a descer Holnir, Donnerstag e Fyorgin apareceram. Ao ver o pai, Luke correu em sua direção, saltando em seu colo. Hlodin também correu em direção aos recém-chegados, e foi pega por Holnir, que adorava crianças.

Aproximando-se Fyorgin abraçou Lawfey, beijando-lhe. Holnir entregou Hlorridi a Juwidia e Donnerstag abraçou Lúthien ainda com Luke em seu colo. O filho estava animado, e agitado perguntou ao pai: - Papai vamos andar a cavalo?

Sorrindo Donnerstag respondeu: - Nós já vamos Luke, só deixe que eu converse antes com a sua mãe está bem?

Um pouco contrariado, mas aceitando a proposta do pai, Luke desceu de seu colo e foi observar os cavalos. Donnerstag após conferir onde Luke estava, falou: - Eu vou com seu tio e Fyorgin observar os movimentos de Menglod. Achamos que esse ataque à Seylfe e Lara é obra dele, e precisamos ir nos certificar. Provavelmente Odensberge, Rubezahl e alguns outros cavaleiros irão conosco, portanto vocês devem ficar atentas durante a nossa ausência. Acho que não iremos demorar muito a voltar, mas durarão no mínimo algumas semanas.

- Algumas semanas? Mas vai mesmo demorar tudo isso para observarem o movimento de Menglod? – disse Lúthien preocupada.

- Nós também iremos passar por outras terras para firmar alianças. Seremos mais breves o possível, e retornaremos assim que tudo estiver certo. – disse Donnerstag com um olhar triste.

- Está bem... Mas prometa-me que irá se cuidar! – disse Lúthien abraçando-o. Ao olhar para o lado, viu Lawfey abraçada à Fyorgin, ela provavelmente também recebera a notícia. Mas algo Lúthien não conseguia entender: porque ela e Fyorgin estavam sorrindo? Em alguns instantes Rubezahl e Odensberge chegaram a cavalo carregando selas e bolsas. Cumprimentando a todos e entregando as coisas de cada cavaleiro, saíram novamente cavalgando em direção a suas casas. Lúthien, Lawfey e Juwidia ajudaram os cavaleiros com as suas coisas, enquanto eles selavam os cavalos. Cada um possuía uma forma única de chamar seu cavalo: Donnerstag assoviava em um tempo curtíssimo, mas o som saía realmente muito alto. Fyorgin colocava os dedos polegar e indicador na boca e produzia um assovio um pouco mais longo, tão alto quanto o de Donnerstag. Já Holnir produzia um assovio mais baixo, que praticamente formava uma melodia com seu tempo maior. Porém, mesmo sendo mais baixo que os outros, também se propagava por todo o campo.

Os três cavalos aproximaram-se correndo assim que ouviram os assovios dos donos. Cumprimentando-os, posicionavam-se para serem selados. Logo os três cavalos estavam selados, e os cavaleiros montaram para se certificar de que estava bem preso. Holnir saiu galopando rapidamente para que Skadi se aquecesse. Juntos treinavam desvios de obstáculos imaginários, paradas bruscas e meias voltas repentinas. Em poucos segundos estavam em perfeita sincronia, e mesmo com movimentos muito bruscos Holnir não se desequilibrava.

Assim que Donnerstag montou, Luke saiu correndo em sua direção animado. Donnerstag puxou-o pelo braço esquerdo, colocou-o no cavalo e então saiu galopando. O pequeno divertia-se muito cavalgando com o pai, e pedia sempre para que ele fosse mais rápido. Fyorgin ao ver Hlodin observando Luke cavalgando com o pai, aproximou-se e perguntou: - Você quer ir cavalgar comigo?

Com os olhos praticamente brilhando de tanta felicidade, ela perguntou: - Eu posso?

Sorrindo, Fyorgin respondeu: - Pergunte a sua mãe se ela deixaria que eu a levasse para um passeio. Se ela deixar, podemos apostar uma corrida com Luke e Donnerstag!

Correndo ate Juwidia, Hlodin falou praticamente gritando: - Mamãe, mamãe! Fyorgin me convidou para cavalgar! Eu posso ir? Você deixa? Por favor mamãe! Se você deixar eu vou apostar uma corrida de cavalo com o Luke!

Olhando para Fyorgin, Juwidia disse voltando-se para Hlodin: - Só deixo você ir se ele realmente não se importar.

Hlodin correu até Fyorgin pulando de felicidade, e chegando até ele, repetiu as palavras da mãe: - Ela falou que só me deixar cavalgar com você se você realmente não se importar.

Pegando-a no colo e montando em Groover, Fyorgin disse animado: - É claro que eu não me importo! Afinal, eu preciso treinar para quando o meu filho nascer!

Em disparada, eles saíram galopando até alcançarem Donnerstag. Quando estavam ao seu lado, Hlodin gritou animada: - Vamos apostar uma corrida?

Fyorgin e Donnerstag apressaram seus cavalos, e corriam alegrando os pequenos. Juwidia surpresa com o que Fyorgin dissera antes de sair, perguntou: - Vocês vão ter um bebê Lawfey? Você está grávida?

Sentindo seu rosto corar, Lawfey respondeu: - Eu acho que sim Juwidia.

Juwidia abraçou Lawfey dizendo-lhe parabéns pela boa notícia, animada com a idéia de ter um novo sobrinho. Lúthien sorria para Lawfey, contente que ela havia contado para Fyorgin sobre sua suspeita. Agora ela entendia o porquê eles estavam sorrindo na hora em que ela olhou.

Alguns minutos depois Rubezahl apareceu na colina mais alta do campo, e então Donnerstag e Fyorgin voltaram para onde estavam as elfas. Quando chegaram, Holnir já havia se despedido de todas, e já galopava em direção a Rubezahl. Donnerstag abraçou Lúthien fortemente, e pegou suas coisas que deixara ela segurando. Abraçando Luke, falou: - Cuide de sua mãe para mim está bem? Quando eu voltar lhe ensinarei a cavalgar sozinho.

Beijando a testa do filho, montou em seu cavalo e disse a Lúthien: - Se tudo der certo dentro de aproximadamente duas semanas estarei de volta. Tenha cuidado está bem? Eu te amo.

Com um olhar triste Lúthien respondeu: - Eu também te amo, cuide-se!

Fyorgin que havia descido de seu cavalo e colocado Hlodin no chão, dizia a pequena: - Quando tivermos uma chance, cavalgaremos novamente se você quiser está bem?

Animada Hlodin fez um sinal com a cabeça concordando com ele, e então ele abraçou Lawfey dizendo-lhe: - Eu te amo, cuide-se. Logo eu irei voltar para você.

Beijando-lhe e pegando suas coisas, partiu com Donnerstag atrás de Holnir e os outros cavaleiros que já haviam partido.

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Infelizmente, nem tudo ocorreu como o planejado na viagem dos cavaleiros, e eles já estavam fora de Ellesmera há quase um mês. Muitos dos humanos que antes apoiavam os elfos haviam se virado contra eles, comprados pelas promessas de poder e riqueza que Menglod lhes fazia. Havia somente alguns pequenos grupos que lhes eram fiéis, e eles estavam escondidos em florestas esperando por algum sinal dos elfos. Esses imprevistos fizeram com que os elfos demorassem bem mais que o previsto, pois tiveram que reunir todos esses pequenos grupos e organizá-los novamente. Holnir sempre mandava Gulltopper com informações para Ellesmera, e torcia para que alguém entendesse suas mensagens. Sempre que o lobo retornava, trazia novas informações sobre Ellesmera, e as últimas que trouxera não foram muito animadoras.

Lara e Seylfe ainda não apresentavam grandes melhoras desde sua partida, e Lawfey havia perdido seu bebê. Essas notícias reforçaram ainda mais a grande vontade de todos de retornarem logo para casa, mas mais complicações sempre apareciam e a volta era adiada. Até agora Holnir havia tentado conseguir um espaço de terra onde o exército humano pudesse ficar, porém ainda não obtivera resultados. Os cavaleiros humanos que ainda eram fiéis aos elfos eram na maioria ainda muito jovens, alguns ainda crianças. Em geral sabiam manejar espadas e armas muito pouco, e precisavam ser treinados urgentemente. Isso era uma grande vantagem para Menglod, que tinha entre seus exércitos cavaleiros já treinados a manejar armas e a cavalgar.

Para o bem de Ellesmera Holnir precisava encontrar logo um local onde treinar seu exército e retornar para a cidade. Procurava uma estratégia que resolvesse seu problema, mas não conseguia encontrá-la. Em uma noite, enquanto Holnir discutia com alguns cavaleiros sobre uma estratégia que tivera, escutou barulhos vindos de arbustos próximos. Preparando-se para atacar, ele se aproximou vagarosamente e surpreendeu-se com o que saiu dos arbustos: Thor e Hlorridi, que traziam informações de Ellesmera.

Os lobos estavam com a aparência mais adulta, e Thor ganhara grandes porções de massa muscular. Os olhos de Hlorridi estavam ainda mais verdes, parecendo com duas grandes esmeraldas. Gulltopper aproximou-se rapidamente, e farejou-os. Holnir estava espantado com o fato de aqueles lobos estarem ali. Nunca imaginara que Lawfey e Lúthien conseguiriam ficar tão longe de seus lobos. Apesar de saber que estavam praticando com a ajuda de Osthatho Chetowa, não imaginou que poderiam cobrir uma área tão grande em tão pouco tempo. Ele levara mais de um ano para conseguir fazer isso, e elas o estavam fazendo com menos de um mês de treino.

Gulltopper se aproximou de Holnir, que soube a mensagem que eles estavam trazendo imediatamente: Seylfe acordara por alguns minutos a dois dias atrás. Isso espantou Holnir, não somente pelo fato de que teria de apressar ainda mais a volta a Ellesmera, mas também pelo fato de que os lobos haviam chegado ali em apenas dois dias. Apesar de serem jovens, provavelmente eles correram muito para chegarem em tão pouco tempo, e provavelmente não haviam parado para descansar durante a viagem. Virando-se para Donnerstag que também estava ali, falou: - Reúna os outros, precisamos conversar.

Ele saiu imediatamente atrás dos outros, e então Holnir falou para um jovem humano que estava ali: - Quero que arranje comida e água para esses lobos, eles estão cansados, então quero que arranje um lugar calmo e quente onde possam descansar.

O jovem pareceu surpreso com o que acabara de ouvir, porém saiu chamando os lobos para dentro do acampamento. Holnir viu-os se afastarem, e concluiu que ao contrário do que pensava, eles não estavam cansados. Muito pelo contrário: os dois lobos estavam muito agitados e enérgicos e andavam praticamente pulando. Abaixando-se ao lado de Gulltopper e apoiando o braço no pescoço do lobo, disse: - Certifique-se de que eles ainda não partam. Quero que eles levem uma mensagem para mim.

Levantando-se, saiu apressado em direção a outra borda do acampamento, onde Donnerstag o esperava com Rubezahl, Fyorgin e Odensberge. Assim que chegou lá, começou a falar: - Lúthien e Lawfey mandaram seus lobos para nos trazerem notícias. A boa noticia é que finalmente Seylfe acordou, e apesar de não ter se mantido acordado por muito tempo, ele acordou alguns minutos. Isso foi antes de os lobos partirem para cá, há dois dias atrás. A má noticia é que com isso teremos de nos apressar ainda mais para retornar, então precisamos de novas estratégias.

Os cavaleiros discutiram durante um longo tempo, tentando criar uma boa estratégia para conseguirem sua terra. Assim que decidiram o que iriam fazer, Holnir foi até onde Thor e Hlorridi estavam, agitados, ainda esperando para que pudessem partir para Ellesmera novamente. Passando-lhes as informações necessárias para Ellesmera, mandou-os de volta, pedindo que eles logo chegassem, pois carregavam informações extremamente importantes.

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Na terra dos elfos Lúthien e Lawfey estavam agitadas e aflitas. Apesar dos treinamentos, não conseguiam saber exatamente onde os lobos estavam o que as deixava nervosas e ansiosas por seu retorno. Já era a manhã do quinto dia desde que eles partiram, e elas estavam realmente preocupadas com o que poderia acontecer com seus lobos. Lawfey estava ótima apesar da perda do bebê. Ela pensava que tudo aquilo havia acontecido porque ainda não estava pronta para criá-lo, então não ficara tão afetada com a perda. Sua barriga praticamente não havia crescido quando ela o perdeu, e agora seu corpo estava totalmente recuperado. Lúthien estava sempre ao lado dela, apoiando-a em relação a tudo isso.

Juwidia agora estava sempre com Lif, ajudando-a a cuidar de Lara. A jovem melhorara um pouco mais desde o dia em que os cavaleiros partiram. Ela já estava praticamente normal, a não ser pelo fato de que ainda não dissera uma única palavra desde o dia do ataque. Com exceção do que dizia quando tinha pesadelos, a jovem não emitia um som sequer, mas ao menos agora não estava mais em estado de choque. Antes de Seylfe acordar pela primeira vez, Lara sempre ia até o castelo visitá-lo e cuidar de suas feridas. Porém, desde que ele acordara há uma semana atrás, ela não fora uma vez sequer até lá, e quando ia, nunca subia até os quartos e saía muito afetada. No dia em que Seylfe acordou, todos pensaram que Lara iria correr para vê-lo, porém sua reação foi surpreendente. Assim que soube, começou a chorar desesperadamente e se trancara no quarto. E desde aquele dia, ela não queria mais sair de sua casa.

Seylfe pelo contrário, sempre que acordava perguntava por ela, pedindo para que pudesse vê-la enquanto estava acordado. Ele acordava somente algumas horas por dia, e ainda estava muito fraco. Suas feridas estavam praticamente curadas, menos o corte no tórax que ainda o fazia sentir muita dor de vez em quando. Estava ansioso para que Holnir retornasse logo, pois tinha muitas informações importantes para lhe passar. Decidira que para a própria segurança de todos, ele não falaria sobre isso com ninguém até o retorno dos cavaleiros.

O dia estava claro, e Lúthien e Lawfey estavam arrumando o castelo. Juwidia estava na casa de Lif, cuidando de Lara que amanhecera completamente triste. Luke e Hlodin brincavam animados no saguão do castelo, seus animais haviam crescido consideravelmente, e sempre estavam atrás dos pequenos. Quando o sol já raiava em seu ponto mais alto, Seylfe acordou. Lawfey que estava por perto foi até seu quarto, enquanto Lúthien preparava a comida. Assim que chegou lá, Seylfe perguntou: - Porque Lara nunca veio me visitar? Será que ela não quer mais me ver? Será que ela não gosta mais de mim?

Sentindo-se triste por ver que o rapaz sofria tanto com a ausência de Lara, Lawfey respondeu: - Com certeza não é isso Seylfe, ela ainda está muito confusa com tudo o que aconteceu. Desde aquela noite ela ainda não disse uma palavra sequer... Ela está bem afetada por não vir vê-lo, mas logo ela virá. Tenha paciência, concentre-se na sua saúde.

Ainda contrariado com o fato de Lara não vir vê-lo, Seylfe tentou se levantar. Sentindo uma grande pontada de dor, tornou a se deitar com a mão sobre a ferida. Aproximando-se rapidamente Lawfey disse: - Não faça esforço Seylfe! Você ainda não esta completamente saudável, e sua ferida ainda não cicatrizou completamente. Fique calmo e descanse, pois assim logo estará curado.

- Eu não agüento mais ficar aqui parado, eu quero andar! Eu quero ir ver Lara, respirar ar puro, cavalgar... Eu quero voltar a viver! – disse Seylfe revoltado com seu próprio corpo que o fazia ficar parado naquele quarto há tanto tempo. Em pouco tempo Lúthien chegou com a comida, que Seylfe comeu com prazer. Assim que terminou, o rapaz deitou-se e fechou os olhos. Lawfey e Lúthien entenderam que ele queria descansar, e antes de saírem abriram a porta da sacada para que entrasse um pouco de ar fresco.

Lawfey retornou somente após algumas horas, com um preparado de ervas que Seylfe tinha que tomar. Chegando lá, derrubou a bandeja que carregava com a surpresa que levara: o rapaz não estava mais no quarto. Chamando por Lúthien, a jovem desceu as escadas correndo e lhe informou sobre o que tinha acontecido. Rapidamente elas vasculharam todo o castelo a procura do rapaz, mas como não o encontravam em nenhum lugar, pegaram suas capas e saíram correndo até o estábulo onde encontraram algo que lhes deu a certeza de que ele havia saído: seu cavalo não estava lá.

Selando rapidamente seus cavalos, elas saíram à galope do castelo a procura de qualquer pista do rapaz. Nesse momento desejaram ainda mais que seus lobos estivessem ali, pois eles poderiam ajudá-las a encontrá-lo usando seu faro. Luke e Hlodin estavam com elas, e se divertiam de cavalgar tão rápido.

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Lara estava no jardim em frente a sua casa. Essa era a primeira vez que saía de sua casa em dias, pois desde que Seylfe acordara, ela não conseguia atravessar a porta. Aquela tarde porém decidira sair um pouco para cuidar das flores em frente a sua casa. O ar puro enchia seus pulmões, e o cheiro da terra que mexia fazia com que ela se sentisse mais calma. Estava replantando algumas plantas, e usando seus poderes para que a terra ficasse mais fértil. Repentinamente, uma mão tocou em seu ombro direito dando-lhe um susto. Virando-se para ver quem era, ela levantou em um salto ao ver Seylfe parado em pé a sua frente. Largando tudo como estava, entrou apressada em sua casa fugindo de Seylfe, mas o rapaz seguiu-a, apoiando-se nas paredes para não cair. Ele havia saído um pouco depois de Lúthien e Lawfey saírem de seu quarto, descendo silenciosamente as escadas e escapando pela porta da cozinha. Sentia uma grande dor em seu ferimento, porém sua vontade de ver Lara criava-lhe forças para continuar. Pegando seu cavalo no estábulo, montou nele sem selá-lo, e saiu a galope até lá.

Ao chegar à sala, viu Lara de costas para ele, olhando para uma parede. Aproximando-se, disse: - Lara porque não fala mais comigo? Porque não foi me visitar?

Quando ela se virou para responder, ele pôde ver que havia lágrimas escorrendo no rosto da jovem. Ela não dizia nada, então ele perguntou novamente: - O que aconteceu Lara? Fale comigo, por favor!

Lara continuava muda, somente com suas lágrimas e um olhar que demonstrava a tristeza que ela sentia em seu interior, corroendo sua alma. Seylfe continuou a falar: - Você não gosta mais de mim Lara? Eu senti tanto a sua falta...

Como se essas últimas palavras tivessem devolvido a voz de Lara que há tanto havia sumido, a jovem começou a dizer entre lágrimas enquanto o abraçava: - Me desculpe Seylfe, me desculpe... Eu não pude fazer nada naquele dia, eu sou uma inútil! Se eu tivesse feito alguma coisa você não estaria como está agora. E se eu não cavalgasse tão devagar, teríamos escapado e você não teria se ferido e não sofreria tanto! Me desculpe foi tudo minha culpa, me desculpe por favor!

Surpreso com a repentina mudança de comportamento de Lara, Seylfe quase caiu quando a jovem o abraçou. Teve de se segurar na parede para que não caíssem, e quando ela disse sua última palavra e começou a chorar ainda mais abraçada a ele, demorou algum tempo até que ele conseguisse reorganizar seus pensamentos. Abraçando-a fortemente e depois fazendo com que ela olhasse em seus olhos, disse: - Você não tem que se desculpar Lara! Tudo o que aconteceu aquele dia foi um grande acidente, não foi culpa de ninguém o que aconteceu, e eu não queria que te machucassem, por isso lutei! Você fez bem em se esconder, fez exatamente o que eu queria que fizesse! E eu sou muito grato por você estar bem agora, isso faz valer a pena cada gota de sangue que eu derramei aquela noite.

- Mas se eu não cavalgasse tão devagar, não teriam nos alcançado, e você não precisaria lutar! Se eu não tivesse caído, teríamos escapado e nada disso teria acontecido! – disse ela com cada vez mais lágrimas escorrendo em sua face.

- Você ainda esta aprendendo a cavalgar Lara, não foi sua culpa! Por favor, não fale mais isso... – disse ele sentindo-se triste por ver que ela sofrera tanto.

- Ah Seylfe, eu te amo tanto! Fiquei com medo de não poder lhe dizer isso, eu te amo Seylfe, cada dia mais! – disse Lara abraçando-o novamente.

- Eu também te amo Lara, sempre te amei! Desde quando nos conhecemos eu te amo, mas nunca tive a coragem de lhe dizer isso com medo de que nossa amizade fosse estragada... – disse ele beijando-a finalmente. Aquele beijo que ele esperara tanto para acontecer.

Nesse instante, Lif e Juwidia chegaram a casa, e espantaram-se ao ver Lara e Seylfe juntos. Elas haviam saído há algum tempo para buscar ervas, e Lara havia ficado cuidando do jardim. Assim que viu Seylfe ali, Juwidia perguntou: - O que está fazendo aqui Seylfe? Você não deveria estar no castelo descansando?

- Me desculpem, mas eu realmente precisava ver Lara. – disse ele ainda abraçado a jovem.

Lif ao ouvir a resposta do rapaz, perguntou: - Lara como você está? Você está bem? Eu vi as plantas fora de casa e fiquei preocupada que algo tivesse acontecido. Você nunca deixa as flores sem terminar de plantá-las!

- Eu estou bem mamãe, agora que Seylfe está comigo eu estou muito bem! – respondeu ela com um lindo sorriso no rosto.

Surpresa ao ver sua filha falar, Lif sentiu um grande alívio e felicidade tomarem conta de seu coração. Correndo em direção a filha, abraçou-a fortemente dizendo: - Eu não sei o que aconteceu, mas Seylfe muito obrigado por trazer a felicidade da minha filha de volta! Muito obrigada Seylfe...

A tarde passou rapidamente, e com a ajuda de Lara, Lif trocou todos os curativos de Seylfe e preparou um chá de ervas para amenizar a dor que ele sentia. Quando já era quase noite, Lúthien e Lawfey chegaram cavalgando rapidamente na casa. Ao verem Seylfe, disseram aliviadas: - Seylfe! Procuramos você por toda parte, ainda bem que está aqui!

Desculpando-se, ele falou: - Me desculpem pelo trabalho, e obrigado pela preocupação. Eu precisava realmente ver Lara, se eu continuasse naquele quarto sem vê-la eu iria enlouquecer!

- Tudo bem, não faz mal desde que você esteja bem. Você não deveria ficar se movimentando ainda, não está totalmente curado. – disse Lawfey, que repentinamente sentiu um arrepio subindo pelo corpo.

Olhando para Lúthien, viu que ela também havia sentido a mesma coisa, e então as duas saíram apressadas até a porta. Dizendo que voltariam logo, montaram em seus cavalos e galoparam o mais rápido possível em direção a saída de Ellesmera.

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Capitulo 10 – As revelações

 

Cavalgaram durante alguns minutos, seguindo um caminho que não tinham nem certeza de que estaria certo. Seus corações batiam acelerados, e elas torciam para que chegassem logo no local que desejavam. Agora estavam cavalgando em meio a um campo aberto, onde a vegetação era rasteira e em pequena quantidade. O solo de terra fazia com que um grande rastro de poeira se levantasse por onde os cavalos passavam. Após algum tempo em campo aberto, avistaram o que estavam procurando: a alguns quilômetros a sua frente, estavam dois lobos parados, farejando algo estendido no chão. Cadoc e Asa-Loke como se lessem o pensamento das jovens, aceleraram ainda mais, e em pouquíssimo tempo chegaram até onde os lobos estavam.

As jovens saltaram de seus cavalos, e ao se aproximarem perceberam que de fato eram Thor e Hlorridi, porém eles não estavam farejando como elas imaginaram, e sim rosnando ameaçadoramente. Quando chegaram ao lado do corpo deitado no chão, viram que era Mardoll, o noivo de Juwidia. Ele estava com o braço esquerdo ferido, todo ensangüentado, e rapidamente, cobriu o rosto, porque Thor começou a avançar sobre ele.

Abaixando-se ao lado de seus respectivos lobos, as jovens viram que eles estavam feridos. Thor tinha um corte vertical em seu olho esquerdo, que apesar de não chegar a cegá-lo, fazia com que ele perdesse muito sangue. Fora isso, haviam vários cortes em seu corpo e em seu pescoço, fazendo com que poças de sangue se formassem no chão. Hlorridi estava com a pata dianteira esquerda machucada, com um corte grande e fundo, formando uma poça de sangue em baixo dela.

Mardoll ao reconhecer as jovens, disse tentando segurar os braços de Lúthien: - Me ajudem, por favor, seus lobos ficaram loucos e não me reconhecem mais! Eles me atacaram repentinamente, eu não fiz nada para eles!

Antes que ele tocasse em Lúthien porém, Thor avançou agressivamente sobre ele. Puxando Thor para cima de si e acariciando seus pêlos, Lúthien ainda não conseguia entender o que estava acontecendo ali. Os lobos de fato nunca gostaram muito de Mardoll, porém nunca haviam o atacado. Lúthien procurou em suas memórias, algo que poderia ter causado essa reação dos lobos, porém foi interrompida por Lawfey, que falou: - Ele é um traidor Lúthien! Olhe a armadura dele, e olhe a espada atrás de você. Esta ensangüentada! Foi ele quem atacou os lobos primeiro, e não ao contrário como ele diz ser!

Olhando para trás, Lúthien viu a espada de Mardoll ensangüentada, e com isso começou a entender um pouco do que se passava ali. Lawfey e Lúthien não podiam entrar em contato com seus lobos, pois esse processo ainda era muito demorado, e elas ficariam muito vulneráveis durante o tempo em que pegavam as informações com seus lobos. Levantando-se e deixando Thor ao lado de Mardoll, Lúthien foi até Cadoc e pegou uma corda que carregava em baixo da sela. Quando voltou, Mardoll começou a gritar: - Não. Eu só usei minha espada como defesa própria, eu não quis ferir os seus lobos! E essa armadura eu só estou usando-a porque eu a achei um dia na floresta. E como eu não tinha mais roupas para vestir, a coloquei. Mas eu juro que não sou um traidor, por favor, acreditem em mim! Eu sou o noivo da sua irmã, vocês deveriam acreditar em mim!

Não se deixando levar pelos gritos de Mardoll, Lúthien amarrou suas mãos para trás. Ele só ficou quieto enquanto ela o fazia, porque Thor ameaçava brutalmente, e qualquer movimento que ele fizesse, o lobo atacaria ferozmente. Lúthien falou assim que terminou: - Me desculpe se você for inocente, mas não poderemos facilitar. Se você não for mesmo um traidor como se diz ser, não teremos problemas. Mas eu tenho que te manter amarrado para a nossa própria segurança.

Levantando-se, viu que Lawfey estava enfaixando a pata de Hlorridi, que estava sobre Asa-Loke. Aproximando-se de Cadoc, Lúthien amarrou a outra ponta da corda na sela do cavalo, fazendo o nó mais firme que conseguia. Depois, aproximou-se de Lawfey e disse quase sussurrando: - E agora Lawfey? O que faremos?

Parecendo perdida e confusa, ela disse: - Eu não sei Lúthien, não podemos levá-lo a Ellesmera, seria perigoso demais agora que os nossos maridos não estão lá. Se ao menos meu pai estivesse aqui...

Repentinamente, Thor começou a uivar, seguido de Hlorridi que uivava em cima do dorso de Asa-Loke. Já era noite, e estava começando a esfriar. Os lobos uivavam cada vez mais alto, e o som de seus uivos praticamente ecoava pelo campo. Depois de alguns segundos, ouviram de longe um uivo em resposta. Lúthien conhecia muito bem aquele uivo, era igual ao que ouvira na noite em que achou Lara e Seylfe. Era o uivo de Gulltopper, que logo se pôde ser visto.

Em alguns segundos Gulltopper chegou aonde as jovens estavam, e começou a farejar Thor, que agitado pulava dando-lhe patadas. Após se farejarem, os dois começaram a uivar de forma mais longa, por um longo tempo. Esperaram cerca de meia hora, e durante esse tempo os lobos ficavam super atentos a tudo a sua volta. Hlorridi havia descido do dorso de Asa-Loke, e estava farejando o ar assim como os outros. Lúthien e Lawfey conversavam perto dos cavalos, até que começaram a ouvir o barulho de cascos de cavalo vindo de longe.

Logo avistaram Holnir, Rubezahl e Odensberge se aproximarem, e os lobos saíram em disparada em direção a eles. Enquanto os cavaleiros se aproximavam, Mardoll conseguiu soltar a corda que o prendia e saiu correndo em direção a uma floresta próxima do local onde estavam. Os lobos ao verem isso, apressaram-se para voltar, porém como já estavam no meio do caminho entre os cavaleiros e Mardoll, não conseguiriam alcançá-lo.

Lúthien que demorou um pouco até se dar conta do que estava acontecendo, correu atrás de Mardoll, porém não conseguiu alcançá-lo antes que ele entrasse na floresta. A floresta era escura e tinha as árvores muito próximas umas das outras, e quando Lúthien fez menção em entrar, ouviu gritos dizendo: - Não Lúthien, não entre ai! Pare!

Eram os cavaleiros, que somente agora haviam chegado ao local. Aproximando-se, Holnir disse: - É melhor não entrarmos nessa floresta Lúthien, não conhecemos o que tem aí. E como ele correu para ela, é possível que existam outros cavaleiros inimigos na floresta, portando é melhor que não entremos aí.

Contrariada, Lúthien falou: - Me desculpe tio, se eu tivesse prendido ele mais forte ele não teria escapado. Me desculpe. Agora temos um traidor solto por aí!

- Tudo bem Lúthien, não faz mal. Pelo menos ninguém se feriu, e ainda teremos muitas chances de acabar com esse traidor. – disse Holnir calmamente enquanto voltavam ao local onde Lawfey estava com os cavalos.

Um pouco antes de chegarem, Lúthien perguntou ao tio: - Onde está Donnerstag?

Assim que chegaram, Holnir desceu de seu cavalo para cumprimentar Lawfey, e falou: - Infelizmente Donnerstag e Fyorgin tiveram que ficar lá, para treinarem os cavaleiros que nos são fiéis. Nós só viemos para tratar dos assuntos urgentes, como o de Seylfe e então também retornaremos para lá.

As jovens sentiram-se tristes por saberem que não veriam os maridos por mais um tempo, mas sabiam que tudo isso era necessário para que Ellesmera ficasse a salvo da ganância dos humanos como Menglod. Observando o ferimento na pata de Hlorridi, Holnir perguntou: - Foi Mardoll quem fez isso a ela?

- Acreditamos que sim – disse Lúthien observando o tio.

- Quando chegamos aqui ela já estava ferida, e Mardoll estava no chão. Nós sentimos nossos lobos chamando em Ellesmera, e então cavalgamos até aqui. Mas como vocês já sabem não podemos nos comunicar com nossos lobos em áreas abertas, pois nos tornamos muito vulneráveis, e ainda demoramos algum tempo até conseguirmos obter tudo, pois ainda não praticamos tanto isso. – completou Lawfey.

- Entendo... – disse Holnir acariciando a cabeça de Hlorridi delicadamente.

- Então façam isso agora, nós as protegeremos. – completou.

- Mas tio, não seria mais fácil se você se comunicasse com eles? Você com certeza o faria mais rápido, e em segundos conseguiria obter todas as informações! – perguntou Lúthien sem entender a lógica do tio.

- Sim, seria mais rápido, porém não posso fazer isso. Seria um grande desrespeito eu tentar me comunicar com os seus lobos. Seria um grande desrespeito com vocês, e também com os seus lobos. Somente seus companheiros devem trocar informações com seus animais, e, além disso, eu nunca as vi fazendo isso. Façam para que possa observar como o fazem. – respondeu Holnir.

Então, as duas elfas não fizeram mais perguntas, e aproximando-se de seus lobos, cada uma de sua forma, começaram a trocar informações com eles. Lawfey foi até o lado de Hlorridi, e colocando a mão sobre a cabeça da loba e fechando os olhos, concentrou-se ao máximo para conseguir entrar em contato com ela. Lúthien abaixou-se perto de Thor, e puxando-o para si, abraçou-o fechando os olhos também. Os lobos também fecharam seus olhos, e logo Holnir sabia que já haviam começado.

As imagens que se passavam na mente das duas jovens elfas eram confusas, e passavam aceleradas e um pouco borradas. Mas logo passaram a ser mais nítidas, e elas puderam ver que os lobos estavam correndo juntos por uma grande floresta, e ao saltarem um grande arbusto, viram Holnir preparado para atacar. A expressão de Holnir mudou completamente quando os viu, mostrava uma grande surpresa, e abaixando sua arma foi cumprimentá-los. Então, as cenas aceleraram um pouco mais, e então viram Holnir aproximando-se novamente de dentro de um acampamento e dizendo: - Vocês devem avisar a elas que Seylfe não deverá falar sobre aquela noite com ninguém ainda, até chegarmos a Ellesmera. Para a segurança de todos, é melhor que não toquem no assunto.

Após isso, as imagens tornaram a se acelerar e só pararam em meio a uma escura floresta, onde os lobos estavam fugindo de algo. Em poucos instantes grandes cavalos apareceram à sua frente, e montados em seus cavalos atacavam os lobos com suas espadas somente por diversão. Usavam as mesmas armaduras que Mardoll estava usando, e apesar de fortes, manejavam mal suas espadas. Os lobos corriam desesperadamente por entre as árvores, até que conseguiram finalmente escapar.

Novamente, as imagens aceleraram, e a próxima cena foi totalmente surpreendente para as elfas. Agora os lobos estavam no campo onde elas haviam os encontrado, e Mardoll saltara de seu cavalo, que agora corria livre para a floresta. Os lobos correram felizes para cumprimentá-lo, pois apesar de não gostarem muito dele, estavam felizes de ver alguém de Ellesmera após o susto que viveram com a perseguição dos cavaleiros. Porém, para a sua surpresa, quando se aproximaram Mardoll atingiu Hlorridi violentamente com sua espada. A loba caiu surpresa no chão, sentindo uma dor tremenda. Thor foi até ela, e ao ver que estava ferida, começou a rosnar para Mardoll enquanto afastava-se lentamente.

O cavaleiro ria descontroladamente, e brandindo a espada para cima de Thor, dizia: - O que foi lobinho? Surpreso com o que aconteceu? Não fique. Eu nunca gostei de vocês, e sempre tive a vontade de poder fazer isso. Vocês são uns inúteis, assim como todos os outros habitantes de Ellesmera! Tolos aqueles de Ellesmera que acreditavam que eu era alguém de confiança, eu nunca passei de nada além de um espião do inimigo. Eu salvei Alifader uma vez em uma guerra para que pudesse obter sua confiança, e aquele tolo acreditou em mim, e tornou-me um dos cavaleiros em quem ele mais confiava. E mesmo depois de morto ainda me concedeu a mão de sua filha, que apesar de bonita, não passa de uma tola assim como o pai! Eu sempre a traí, desde a nossa festa de casamento nunca fui fiel a ela. Durante aquela festa, eu me aproveitei de uma hora de distração de todos e saí até a fronteira, para avisar aos inimigos que aquela seria a hora perfeita para um ataque. Fui eu quem planejou tudo, e depois simplesmente fiz alguns pequenos cortes em meus braços e rosto para que todos acreditassem que eu também havia batalhado duramente. Todos não passam de tolos, eu me divertia muito enquanto estava lá. Sempre me encontrava com algumas jovens humanas durante a tarde, enquanto Juwidia me esperava em nossa casa. Aquela tola, no começo não gostava de mim, mas com o tempo passou a gostar, e ficava ainda mais fácil engana-la. É uma pena que ela tenha descoberto um dia, e com isso me expulsado de casa. Mas ela vai me pagar por isso, e como vai! Eu terei o prazer de matá-la durante a invasão que estamos planejando para daqui alguns dias, e também terei o prazer de matar aquela menininha insuportável que ela decidiu criar e todos os outros elfos que surgirem na minha frente. E fiquem calmos lobinhos, eu terei o prazer de contar às suas donas como eu os matei, e como vocês tentaram em vão fugir de meus golpes. Eu contarei tudo a elas, detalhe por detalhe. E então depois eu as matarei exatamente da mesma forma que vou fazer com vocês.

Como se as últimas palavras despertasse algo dentro de Thor, ele avançou em Mardoll tão feroz que nem parecia ser o mesmo. Até mesmo o cavaleiro se surpreendeu, e inutilmente tentou usar a espada para se defender, acertando o olho do lobo. Thor ao receber o golpe, afastou-se e balançou a cabeça atordoado, mas em segundos recuperou-se e avançou ainda mais feroz para cima do cavaleiro. Apesar de receber alguns cortes em seu corpo, ele não parava de morder Mardoll, que em poucos minutos começou a implorar por sua vida: - Não, por favor não me mate! Eu estava brincando com você lobinho, por favor, não! Solte-me, por favor!

Thor afastou-se um pouco, e ainda sentindo uma fúria enorme crescendo dentro de si, ficou somente a ameaçá-lo. Logo sons de cavalos foram ouvidos, e Lúthien e Lawfey viram a si mesmas chegando montadas em seus cavalos. Com essa cena as elfas voltaram à realidade, e viram-se no campo novamente cercada pelos cavaleiros. A noite ali tornava-se cada vez mais fria, e tudo tornava-se assustador naquele local. Levantando-se com a ajuda de Holnir, Lúthien falou: - Acho melhor falarmos do que vimos em Ellesmera, pois são informações muito importantes, que acho melhor não discutirmos em campo aberto.

Lawfey afirmou com a cabeça, concordando com Lúthien, e então todos montaram em seus cavalos e partiram para Ellesmera. Holnir levou Hlorridi em seu cavalo, para que a loba não forçasse a sua pata. Em alguns minutos de cavalgada chegaram até a casa de Lif, onde encontraram todos muito preocupados. Lúthien e Lawfey entraram na frente, enquanto os cavaleiros soltavam os cavalos, que provavelmente iriam para o estábulo. Assim que entraram na casa, Lif gritou: - Lúthien! Lawfey! Até que enfim vocês chegaram, eu estava tão preocupada! Vocês demoraram tanto a voltar, estávamos com medo que algo tivesse acontecido. Juwidia levou Luke para a casa dela, pois ele não parava de chorar sentindo a sua falta, então ela o levou para tentar distraí-lo. O que aconteceu? O que vocês...

Mas Lif não terminou a frase, pois ao ver Rubezahl entrando na casa ela perdeu a voz. Seylfe ainda estava na casa dela, sentado no sofá com Lara. Ao ver Rubezahl entrar, levantou-se rapidamente, sentindo uma pontada de dor de sua ferida. Lara também se levantou, e abraçando-se as costas de Seylfe, olhava desconfiada para o pai. Todos imaginavam que Rubezahl teria outro ataque de nervos, e expulsaria Seylfe de sua casa imediatamente, porém, a única reação que teve foi de rir da expressão que todos o olhavam. Beijando Lif na testa, aproximou-se de Lara falando: - Minha filha, como você está? Que bom que está melhor do que quando eu parti em minha viagem. Vejo que você também está bem Seylfe, ainda bem.

Todos não conseguiram disfarçar a surpresa que sentiram. Confuso, Seylfe perguntou: - Você não está bravo que eu estou aqui com a Lara senhor?

- Não Seylfe, eu não serei mais contra seu namoro com a minha filha. Eu e seu pai nos acertamos antes de viajar, e agora nos tornamos companheiros. Ele me fez enxergar finalmente que nossa briga não tinha um motivo real, e que fora tudo simplesmente um mal entendido. Eu lhe devo desculpas, e a você também Lara, eu peço desculpas por todos os problemas que eu causei ao namoro de vocês. Eu não estava sendo justo com ninguém. – respondeu Rubezahl calmamente estendendo a mão para Seylfe.

Ao ver que os dois apertaram suas mãos, Lara pulou em cima do pai explodindo de alegria enquanto dizia: - Obrigado papai, muito obrigado!

Todos se sentiram muito felizes com o que acabara de ocorrer, e sentaram-se para conversar. Lif saiu à procura de Juwidia, pois como era a única ali que não tinha informações para discutir com os cavaleiros, ofereceu-se a sair para buscar Luke. Assim que retornasse, cuidaria das feridas dos lobos. Todos se sentaram na sala e começaram a conversar. Lúthien e Lawfey contaram tudo o que viram nos pensamentos dos lobos, e quando terminaram Holnir falou: - Eu já imaginava isso antes mesmo de ele desaparecer, e depois do que Juwidia me contou a briga que tiveram, essa desconfiança cresceu ainda mais. Agora está mais que comprovado que Mardoll sempre foi um traidor, e como Menglod conseguia montar estratégias tão boas para nos atacar.

Educadamente Seylfe falou: - Era exatamente o que eu precisava falar com você Holnir, foi ele quem atacou a mim e a Lara naquela noite.

Todos ficaram surpresos com o que ele falara, e Lara sentiu um grande sentimento de angustia dentro de si. Ela não queria relembrar-se daquela noite, pois aquilo lhe trazia muita tristeza, e ao perceber isso, Lawfey se ofereceu a ficar com ela no quarto enquanto todos conversavam. Aceitando o convite da tia, ela saiu com Lawfey da sala.

Assim que as duas saíram, Holnir falou: - Conte-me exatamente o que aconteceu aquela noite Seylfe, por favor.

O jovem fez um sinal afirmativo com a cabeça, e começou a relatar: - Depois que saímos da festa de Luke, nós cavalgamos até um penhasco onde gostamos que ver o sol se pôr. Quando o sol se pôs, Lara não queria voltar para casa, então decidimos que iríamos dar uma volta por Ellesmera à cavalo. Demos a volta na floresta, e ao chegar à estrada, vimos cavaleiros inimigos na fronteira da cidade. Eu fiquei confuso, me perguntando como eles haviam chegado até lá, e então falei para que Lara corresse. Nós tocamos os nossos cavalos que saíram em disparada pela estrada, mas infelizmente os cavaleiros nos viram e saíram atrás de nós. Infelizmente Lara apesar de saber andar a cavalo muito bem, ainda não sabe correr muito bem, então aos poucos eles foram se aproximando. Quando eles estavam a menos de três metros de nós, Lara se desequilibrou do cavalo e caiu. Com ela no chão, percebi que não daria tempo para ela montar novamente e fugir antes que eles a alcançassem, então dei a volta com o meu cavalo e mandei que ela fugisse. Eu tentei com todas as minhas forças distraí-los, para que Lara pudesse escapar, porém eles estavam com espadas, e mesmo vendo que não estava com uma, me atacaram. Eu consegui me desviar de alguns golpes, porém um deles conseguiu acertar a espada no meu tórax, como vocês podem ver pela ferida. Ao ser atingido, eu derrubei o elmo do cavaleiro que me atingiu, e então vi que era Mardoll. Ao ver que eu havia visto seu rosto, ele sorriu malignamente e disse “Olá rapazinho, você vai morrer agora.”. Depois eu recebi um golpe forte na cabeça, que me derrubou do cavalo e a única coisa que eu me lembro antes de ficar inconsciente foi a escuridão, o grito de Lara e as risadas dos cavaleiros.

Todos estavam pasmos com o que acabaram de ouvir, e não conseguiam dizer nada. Foi Rubezahl quem quebrou o silêncio, perguntando: - O que aconteceu com a minha filha depois? Ela te contou?

Fazendo um sinal negativo com a cabeça, Seylfe disse: - Ela não quer falar daquela noite, e eu não quis forçá-la.

- Mas essa informação pode ser extremamente importante para nós, precisamos que ela nos conte o que aconteceu depois. – falou Holnir pensativo.

Todos ficaram em silêncio por um momento, pensando no que poderiam fazer. E dessa vez quem quebrou o silencio foi Lúthien, que disse: - Eu posso tentar conversar com ela, assim talvez ela nos conte o que aconteceu.

Todos pareciam em dúvida do que fazer, mas aceitaram a proposta da elfa. Levantando-se, ela encaminhou-se até o quarto de Lara, onde encontrou-a olhando pela a janela. Lawfey estava sentada na cama, observando a jovem, e ao ver Lúthien entrar, perguntou: - Terminaram?

- Ainda não, precisamos conversar com Lara. – respondeu Lúthien olhando para a sobrinha que agora a olhava fixamente. Aproximando-se, disse delicadamente para a jovem: - Precisamos que você nos conte o que aconteceu depois que Seylfe desmaiou Lara, isso é realmente importante para todos. É extremamente importante para toda a Ellesmera.

Lágrimas começaram a se formar nos olhos de Lara, que tremendo falou: - Eu não quero ter de me lembrar daquele dia... Foi tudo tão horrível!

- Por favor Lara, você tem de ser forte, todos precisamos dessa informação.

Então, respirando fundo Lara limpou os olhos e fez um sinal afirmativo com a cabeça. Segurando no braço da sobrinha, Lúthien começou a andar em direção da sala novamente seguida de Lawfey. Chegando a sala, fez com que Lara sentasse ao lado de Seylfe, que segurou as suas mãos.

- Conte para nós Lara, conte-nos o que aconteceu. – pediu Lúthien delicadamente.

Tentando acalmar-se, Lara começou a  relatar: - Depois que eu caí do cavalo, Seylfe passou por mim correndo, e disse para que eu fugisse. Eu me escondi na borda da floresta, em meio à vegetação e fiquei observando o que estava acontecendo. Quando eu vi Seylfe ser atingido e cair do cavalo, não consegui segurar meu impulso, e gritei pelo nome dele. Os cavaleiros ao escutarem meu grito, vieram até onde eu estava, e descendo dos cavalos começaram a se aproximar.

Lara parou de falar por alguns instantes, pois não conseguia terminar de falar graças às lagrimas que escorriam em sua face naquele instante. Seylfe abraçou-a, para que ela se acalmasse. Respirando fundo, ela continuou: - Eles se aproximaram de mim, dizendo que eu era muito bonita, e que seria um grande desperdício se me matassem sem ao menos se divertirem. Eles começaram a me puxar pelo braço, mas eu me agarrei a um tronco de árvore, e consegui chutar um deles para longe de mim. O homem que eu acertei saiu praguejando, e falando palavrões. Dois deles riram do acontecido, porém um deles se aproximou e me puxou com força para a estrada. Eu não consegui me segurar, e quando me dei conta ele estava segurando os meus dois braços. Eu estava chorando, e não enxergava direito o seu rosto, por causa da sombra que a lua formava em seu rosto. Mas quando ele falou, eu percebi que conhecia aquela voz de algum lugar, e apesar de não me lembrar de onde era, tinha a certeza de que já tinha a ouvido em algum lugar. Ele também se lembrou de mim, pois disse aos companheiros que me conhecia...

- Mardoll. – disse Rubezahl com um tom agressivo.

Olhando fixamente para o pai, Lara disse: - Não, não era ele, apesar de que ele também estava lá.

Todos se assustaram, pois tinham a certeza de que seria Mardoll, que após atingir Seylfe foi para cima de Lara ao reconhecê-la. Confuso, Seylfe perguntou: - Então quem era Lara? Quem foi que te agarrou?

Olhando para baixo, Lara continuou a narrar o que acontecera aquela noite: - Depois que o cavaleiro disse que me conhecia, ele me perguntou se eu também me lembrava dele. Como eu não respondi, ele falou “Eu vou te dar uma dica. Eu te conheço desde que você era muito pequena.”. Eu fiquei confusa, não conseguia me lembrar de quem era aquela voz, e mesmo sabendo que essa informação estava em minha memória, eu não me lembrava de forma alguma de onde eu o conhecia. Fiquei um tempo calada, tentando me lembrar de alguém da minha infância, e ao mesmo tempo em que eu me lembrei, ele se virou para a luz da lua, quase me tirando do chão.

Lara começou a tremer muito, e começou a chorar mais do que antes. Demorou algum tempo até que ela conseguisse se acalmar novamente, e a ansiedade crescia dentro da mente de todos ali. Quando finalmente Lara de acalmou, ela finalmente revelou quem era que tinha a segurado: - Era o Balder...

Rubezahl levantou-se bruscamente, mostrando-se furioso. Ele realmente percebera que Balder havia sumido, mas achou que provavelmente seria pelo fato da discussão que tiveram. Após alguns meses do casamento de Lawfey, Lif havia contato a Rubezahl sobre o seu beijo com Balder no jardim, na noite em que seu pai havia falecido. Rubezahl no início ficou furioso, e foi tirar satisfações com seu escudeiro. Eles brigaram feio, e desde então Rubezahl não queria mais saber daquele traidor. Mas nunca imaginara que ele poderia ser um traidor de Ellesmera, e muito menos que poderia aproveitar-se de sua filha. Nervoso, ele gritou: - Eu mato aquele desgraçado!

Holnir segurou o braço de Rubezahl, e disse gentilmente: - Acalme-se por favor Rubezahl. Vamos ouvir o relato de sua filha até o final.

Sentando-se novamente, Rubezahl falou: - Desculpem-me, pode continuar minha filha.

Mas Lara não disse nada, estava com a cabeça baixa, olhando para as mãos de Seylfe segurando as suas. Seylfe gentilmente beijou suas mãos, e disse carinhosamente: - Por favor Lara, continue a nos contar. O que aconteceu depois?

Ela até tentou começar a contar, mas antes que terminasse a primeira palavra, lenvantou-se bruscamente e disse: - Eu não consigo! – e saiu correndo para o seu quarto, batendo a porta ao entrar. Todos se entreolharam, e então Lawfey e Lúthien saíram atrás dela, pedindo para que esperassem ali.

Chegando a porta do quarto, bateram levemente, e então entraram. Lara estava novamente na janela, chorando silenciosamente. As elfas se entreolharam rapidamente, e aproximaram-se lentamente. Enquanto andavam cautelosamente até ela, Lúthien perguntou: - Lara você está bem?

Quando chegaram ao lado da jovem elfa, Lara virou-se abraçando fortemente Lúthien, chorando desesperadamente. Falando entre lágrimas, ela disse: - Ele me forçou a isso, eu não tive escolha!

Lawfey e Lúthien ficaram confusas, e não entendiam bem do que ela estava falando, mas tentavam acalmá-la dizendo: - Calma Lara, nós sabemos que se tivesse escolha nunca faria nada de errado. Fique calma e tente nos contar o que aconteceu está bem? Para que então nos possamos ajudá-la a superar tudo isso.

- Vocês prometem que não vão contar para ninguém? – perguntou ela olhando fixamente para as tias.

- Sim, nós prometemos. Mas achamos que você deve contar. – disse Lawfey.

- Não, por favor, eles não podem saber disso! – implorou a jovem.

- Tudo bem Lara, mas se tiver algo muito importante, alguma informação essencial para os cavaleiros, nós teremos que passar a Holnir, pela nossa própria segurança. – disse Lúthien levando-a até a cama.

- Está bem. – falou a jovem acalmando-se parar começar a relatar o que ocorrera aquela noite. – Eu vi que era Balder quem estava ali, e fiquei surpresa por ele estar ali com os cavaleiros inimigos. Acho que ele percebeu a minha surpresa, e disse que eu não precisava ficar com medo, porque ele não iria me machucar. Mas ele se aproximou do meu rosto, e começou a dizer que eu era muito linda, e que ele achava isso desde que eu ainda era somente uma criança. Ele disse que eu sou muito parecida com a minha mãe, mas que eu era ainda mais bonita por causa da minha personalidade. Depois de dizer isso, ele tentou me beijar, mas eu virei o rosto. Nervoso, ele me acertou um tapa no rosto, não muito forte, mas que me fez cair. Eu estava assustada, e com muito medo. Então ele veio novamente para cima de mim. Ele e os outros cavaleiros se aproximaram, e ele me levantou novamente. Me levando até onde Seylfe estava, ele disse “Seu namoradinho vai pagar pelo o que você fez... Olhe só.”. E os outros cavaleiros começaram a chutar e socar Seylfe, que estava inconsciente. Eu gritava para que eles parassem, mas eles não me escutavam. Foi horrível, eles bateram muito em Seylfe, e eu tentava me soltar para ir protegê-lo, mas Balder não deixava que eu escapasse. Enquanto os cavaleiros batiam em Seylfe, Balder me beijou a força, e depois todos vieram para cima de mim... Foi horrível! Mas antes que eles pudessem fazer qualquer coisa para mim, eu ouvi um uivo, e aquele lobo gigantesco apareceu. Rapidamente ele afugentou todos os cavaleiros, e depois soltou um uivo horripilante. Eu estava caída no chão, e fui até Seylfe para ver como ele estava. Ele não acordava, e eu fiquei apavorada. Eu gritava por socorro, mas ninguém aparecia para me ajudar. Eu pensei que íamos morrer lá, e gritei durante horas por socorro, pedindo para que alguém me ajudasse, rezando para que Seylfe não me deixasse. O lobo sumiu em alguns instantes, e em alguns minutos você chegou Lúthien...

Chocadas com o que haviam acabado de escutar, Lawfey e Lúthien se entreolhavam. Abraçando Lara que agora chorava desesperadamente, Lúthien falou: - Nada disso foi sua culpa, você não tinha como impedir a maldade no coração daqueles monstros, se é que eles realmente tem um.

- Mas Balder não era assim, ele era tão gentil! Ele só ficou estranho depois de brigar com o meu pai, e apesar de não saber o que foi que aconteceu, eu notei que logo após a briga ele se tornou alguém totalmente diferente. – disse Lara.

- Tudo bem Lara, pelo menos você está bem agora. Mas ainda acho que você deveria conversar com seus pais e Seylfe sobre isso, com certeza eles gostariam de saber que você confia neles o suficiente para lhes contar isso. – disse Lawfey.

- Nós não vamos contar nada a ninguém, mas você deveria pensar nessa possibilidade. – completou Lúthien.

Lara deitou-se no colo de Lúthien, e em alguns instantes adormeceu. Lawfey e Lúthien voltaram para a sala, deixando Lara dormindo no quarto. Assim que chegaram lá, Luke correu para o colo da mãe. Ele havia chegado há pouco tempo, e estava esperando ansioso que a mãe saísse daquele quarto. Pegando o pequeno filho no colo, Lúthien falou: - Luke meu pequeno, já está tarde, você tem que dormir!

- Eu estava com saudades mamãe, e estou com saudades do papai! – respondeu Luke deitando-se no ombro da mãe.

- Eu também estou com saudades dele, mas seu pai ainda não pode voltar para Ellesmera Luke, você tem que ser forte! Agora espere só um pouquinho enquanto converso com o tio Holnir e então iremos para casa está bem? – falou Lúthien abraçando o pequeno.

Nesse momento, Lif se ofereceu para cuidar de Luke enquanto Lúthien conversava com Holnir, e pegou-o no colo. Levando-o para fora, dizia que lhe mostraria o jardim, e que logo ele poderia ir para casa. Juwidia ficara em sua casa, pois Hlodin já havia adormecido. Assim que Lif saiu, Lúthien falou: - Não há nenhuma informação importante nessa última parte do relato de Lara...

- Mas o que aconteceu? O que aquele traidor maldito fez com a minha filha? – interrompeu Rubezahl.

- Não podemos lhes contar, prometemos a ela que não o iríamos fazer. Mas provavelmente ela irá contar a vocês, tenham paciência. Logo ela irá conseguir superar tudo isso, e então irá contar tudo a vocês. – disse Lawfey gentilmente.

- Bom, preciso ir, Luke deve estar extremamente cansado, e eu preciso colocá-lo na cama. Boa noite a todos, e Lawfey você quer ir para a minha casa? – disse Lúthien levantando-se para sair.

- Ah, não Lúthien, como meu pai está aqui agora, eu não irei ficar sozinha no castelo, então vou dormir por lá hoje. Mas obrigado por deixar que eu ficasse lá enquanto todos estavam fora. – respondeu Lawfey.

- Então está bem, eu vou indo, pois está muito tarde. Amanhã nos vemos. – e chamando Thor, Lúthien saiu pela porta da frente. O lobo agora estava com um curativo em seu olho, e tinha faixas envolvendo seu corpo para proteger os cortes das costas. Fora da casa, Lif estava com Luke que havia adormecido em seu colo. Pegando-o carinhosamente, Lúthien despediu-se de Lif e saiu em direção a sua casa. A noite estava fria, e o céu estava praticamente negro.

Enquanto andava calmamente até sua casa, Lúthien passou a refletir sobre tudo o que Lara lhe contara, e ficava realmente intrigada ao pensar que Balder também era um traidor de Ellesmera. Ele sempre fora gentil com ela, e nunca demonstrara nenhuma característica maldosa. Lúthien pensava que talvez a notícia de que Lif não o amava de verdade como dizia tenha sido demais para ele e tenha feito com que ele ficasse louco, justificando o ocorrido. Logo ela chegou em sua casa, e colocando o filho em sua cama e cobrindo-o bem, acendeu a fogueira e foi tomar um banho relaxante. Durante o banho sentiu como se todas as energias negativas saíssem de seu corpo com a água quente, deixando-a mais leve. Assim que saiu do banho, colocou Thor em cima da cama e deitou-se também. Logo todos adormeceram, Lúthien, o lobo e Luke. Todos na mesma cama, dormiram profundamente durante toda a noite.

Nos outros locais de Ellesmera todos também dormiram rapidamente, e assim como Lúthien, dormiram muito profundamente. No castelo Lawfey dormiu com Hlorridi em sua cama, acariciando seus pêlos e pedindo para que a sua pata melhorasse logo e não causasse dor à loba. Holnir dormiu rapidamente também, e Gulltopper dormiu na porta, como fazia no acampamento, para protegê-lo de qualquer perigo. Lif e Rubezahl dormiram logo, abalados com a notícia de que Balder tornara-se um traidor. Os dois sentiam-se um pouco culpados, principalmente Lif por confundir os seus sentimentos. Seylfe e Odensberge haviam saído há pouco para sua casa, e Lif não trocou uma palavra sequer sobre todo o assunto daquela noite com o marido.

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Capitulo 11 – Os preparativos para a guerra

 

O dia seguinte amanheceu calmo, e Holnir saiu para cavalgar com Lawfey durante a manhã. Há tempos não faziam isso, e ele queria conversar um pouco com a filha sobre tudo o que acontecera desde que ela se casara. Ele queria conversar com a filha sobre o bebê perdido, sobre toda a guerra que estava acontecendo por Ellesmera e todos os outros assuntos que poderiam conversar. Quando voltavam para o castelo, passaram na casa de todos para convidá-los a irem até o castelo comerem, pois ainda haviam assuntos a serem resolvidos. Todos concordaram de ir ao castelo quando o sol estivesse em seu ponto mais alto, e um pouco antes de isso acontecer Lúthien foi até a casa de Juwidia. Chegando lá, Luke e Hlodin começaram a brincar, mas Luke não estava tão animado como normalmente estava. Seu humor estava afetado com a falta que sentia do pai, e ele acordara desanimado naquele dia.

Quando Lúthien e Juwidia chegaram ao castelo, todos já estavam lá. Deixando Luke e Hlodin brincando no saguão, foram para a cozinha onde encontraram Lif e Lawfey. Elas já haviam começado a preparar a comida, e cumprimentaram as irmãs ao verem-nas chegar. Hlorridi não estava lá, o que fez com que Thor ficasse agitado procurando-a. Ao ver a agitação do lobo, Lawfey disse: - Ela está no meu quarto Thor, está com um pouco de dor na pata, então disse para que ficasse lá em cima.

Thor mostrou-se confuso com o que Lawfey dissera, e como que pedindo socorro, olhou para Lúthien. A jovem elfa apontou para o teto, e só então o lobo saiu correndo para as escadas. Isso mostrava o que Holnir havia dito na noite anterior, sobre a comunicação dos animais com outras pessoas. Thor só entendia o que Lúthien dizia, e se outra pessoa falava com ele, ele olhava para Lúthien, como que esperando por uma tradução.

Logo a comida ficou pronta, e todos se sentaram à mesa para comer. Depois de terminarem, Holnir disse: - Temos de planejar a nossa volta ao campo de treinamento, infelizmente não posso permanecer aqui por muito tempo.

Seylfe ao ouvir as palavras de Holnir, disse: - Eu vou com vocês, preciso fazer alguma coisa pelo exército também.

- Não Seylfe, você irá ficar aqui. Ainda está ferido, e precisa cuidar de sua saúde, - disse Odensberge.

- Isso não é justo, eu estou bem o suficiente para treinar! – respondeu Seylfe irritado com a idéia de ficar em Ellesmera sem fazer nada.

- Seu pai está certo Seylfe, mas você não irá ficar sem treinar. Muito pelo contrário, eu quero que você treine os jovens daqui a lutar. Quero que você os ensine a lutar com honra, assim como todos de Ellesmera devem saber. Quero que treine os jovens daqui, pois precisaremos do maior número de guerreiros possível. – disse Holnir seriamente.

- Sim senhor. – disse Seylfe.

- Logo mandarei outros cavaleiros para ajudá-lo, mas você é quem estará no comando por aqui. Espero que treine-os bem, para que se tornem guerreiros bons assim como você. – disse Holnir.

- Sim senhor, irei me esforçar para isso. – disse Seylfe seriamente.

- Acho que partiremos para o campo de treinamento amanhã quando o sol raiar. – disse Holnir a Rubezahl e Odensberge.

- Sim, será perfeito. Teremos tempo para reorganizar algumas coisas em Ellesmera hoje, e amanhã estaremos prontos para retornar. – respondeu Rubezahl.

- Também quero fazer alguma coisa! – disse Lúthien levantando-se.

Holnir olhou-a com uma expressão indefinida. Lawfey então levantou-se também e disse: - Eu também quero papai!

Juwidia e Lara também concordaram com a idéia de Lúthien, seguidas de Lif, que apesar de dizer em voz baixa, concordou. Holnir então disse: - Vocês devem cuidar das coisas em Ellesmera, cuidar das casas e das famílias que precisarem de apoio.

- Mas isso nós fazemos normalmente, queremos fazer algo pela guerra. – disse Lúthien firmemente.

- Então treinem. Treinem seus poderes, o contato que têm com seus animais. Isso com certeza será de grande ajuda para todos. – respondeu Holnir calmamente.

Lúthien então se sentou novamente, estava decidida de que iria treinar fortemente para conseguir controlar melhor seu poder. Estava decidida a treinar o suficiente para ir à guerra, lutar por Ellesmera. Sua energia parecia de expandir e atingir aos outros também, que decididos estavam dispostos a se esforçar ao máximo para que essa guerra acabasse.

Durante a tarde, cada um foi cuidar de seus deveres. E Lúthien foi com Luke até a casa do sábio Osthato Chetowa, pedir para que ele a treinasse mais. Ele morava um pouco isolado da cidade, em uma pequena caverna. Era um pouco distante, mas Lúthien chegou rapidamente lá. Ao chegar, o sábio já estava a esperando do lado de fora da caverna, e chamou-a para entrar. Dentro da caverna era úmido, e um pouco escuro. Luke ficou curioso com todos os frascos espalhados pela caverna, e sempre que a mãe se distraia um pouco, mexia em alguma coisa. Derrubou algumas coisas, mas o sábio nada dizia, como se ignorasse o caos que o pequeno estava fazendo.

Quando Lúthien pensou em fazer a pergunta, o sábio disse: - Eu não tenho mais o que lhe ensinar. O que eu poderia lhe passar eu já passei, e agora depende somente de você. Você deve encontrar a forma de se fortalecer sozinha, eu não posso fazer isso por você.

- Mas você poderia me ensinar a controlar melhor meu poder, me ensinar a canalizá-lo, para usá-lo em uma batalha, por exemplo. – disse Lúthien enquanto vigiava Luke para que ele não estragasse mais nada naquele dia.

- Eu não posso fazer isso, somente você encontrará a solução de seus problemas. – disse o sábio de costas para Lúthien. Nesse instante, um barulho de vidro quebrando-se soou atrás de elfa, que ao se virar viu o filho na frente de um pote quebrado com todo o conteúdo espalhado pelo chão.

- Luke! Venha aqui, pare de mexer nas coisas! Olhe o que você está fazendo... – disse Lúthien. Mas antes que terminasse sua frase, foi interrompida por Osthato Chetöwa, que disse: - Um grande futuro aguarda para esse pequeno, ele trará algo muito importante para Ellesmera no futuro.

Sem entender do que o sábio dizia, Lúthien pegou a mão de Luke e disse: - Como assim? Qual a coisa importante que ele trará para cá? Ele é somente uma criança arteira.

- Deixe que o futuro lhe mostre a resposta de suas perguntas. – disse o mago saindo da caverna. Lúthien seguiu-o, e encontrou-o meditando sobre uma pedra. Em vão tentou falar com o sábio, porém ele não lhe respondia nada, somente continuava com os olhos fechados com a face virada para o céu. Como viu que não conseguiria nada ali, Lúthien voltou desanimada para o castelo, onde encontrou com Lawfey e contou-lhe o que tinha acontecido.

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No dia seguinte Holnir, Rubezhal e Odensberge retornaram para o campo de treinamento humano antes mesmo de o sol nascer. Em poucos dias, Fyorgin retornou com outros cavaleiros, e junto com Seylfe passaram a treinar os jovens de Ellesmera a lutar com dignidade. Ensinaram a todos que nunca se deveria atacar o inimigo usando sua arma se ele não estivesse com uma também, que deveriam sempre lutar de igual para igual,  mesmo que os inimigos não seguissem essas regras.

Lúthien, Lawfey e Juwidia sempre participavam de alguns treinos, e logo aprenderam a manejar as espadas. Juwidia havia criado uma técnica que consistia em esquentar a lâmina da espada com seu poder, tornando-a então em uma espada de fogo. Todos os dias ela treinava essa técnica, e a cada dia sua técnica tornava-se mais poderosa.

Lúthien e Lawfey também criaram sua técnica, apoiando-se na técnica de Juwidia. Porém, a espada que elas formavam tratava-se de uma espada de gelo, tornando-a mais comprida ou mais curta a hora que quisessem. Também treinavam todos os dias, e algumas vezes treinavam com Juwidia, lutando contra ela que possuía o poder do fogo para aumentar a intensidade de seus ataques. Geralmente as três elfas passavam o dia inteiro treinando, e Luke e Hlodin divertiam-se brincando com suas espadas de madeira.

Lara a cada dia que passava, tornava seu poder mais canalizado, e aprendia com a mãe várias técnicas para utilizar a terra ao seu favor. Também estava treinando a cavalgar, todos os dias saía para andar com Seylfe, e com o tempo foi aprendendo a ter sincronia com a sua égua. Com o tempo ela conseguiu correr mais, porém ainda tinha muito medo de cair novamente.

Os anos foram se passando dessa forma, e sempre Thor, Gulltopper e Hlorridi traziam e levavam informações de um local ao outro, mantendo o contato entre Holnir e Ellesmera. O corte no olho de Thor cicatrizara em pouco tempo, e cada vez mais seu corpo ganhava massa muscular. A cada dia ele se tornava mais parecido com Gulltopper, tanto na aparência quanto na personalidade. Hlorridi continuava com os olhos verdes e brilhantes, e também evoluía com o tempo. Tornava-se mais adulta a cada dia, e aparência de inocente foi sumindo, dando lugar a uma aparência independente. Mas mesmo com isso ela continuava extremamente doce com Lawfey, e sempre que possível a acompanhava para todos os lados que ela fosse.

A ferida de Seylfe com o tempo se cicatrizou, deixando somente uma marca que o incomodava algumas vezes. Porém, ele se acostumara e lutava tão bem como antes, desviando-se com facilidade de golpes e manejando a espada muito bem.

Logo já haviam se passado três anos desde que Holnir retornara para o campo de batalha humano, e muita coisa havia se modificado em Ellesmera. Apesar de receberam notícias dos lobos, Holnir e os outros cavaleiros estavam ansiosos para retornar e ver como estavam as coisas por lá. Luke e Hlodin estavam agora com nove anos, totalmente diferentes do que eram há três anos atrás. Hlodin continuava com a pele branca como a neve, e seus cabelos estavam muito vermelhos e compridos. Ela continuava agitada, e adorava usar vestidos coloridos. Sempre prendia o seu cabelo como Lúthien: prendia somente a parte de cima para trás, deixando todo o resto solto. O ondulado de seu cabelo dava um efeito especial a esse penteado, deixando-o mais bagunçado. Ela adorava correr pela floresta, e em geral era acompanhada de Luke.

Luke continuava muito parecido com seu pai, seus cabelos batiam na altura dos ombros e eram levemente ondulados. Sempre usava camisas brancas mal fechadas, e acompanhava Hlodin aonde quer que ela fosse. Não conversava muito, mas tornara-se bem mais comunicativo do que quando era criança. Ele passara a treinar com Seylfe desde que completara sete anos, e estava aprendendo a cavalgar rapidamente, sem que ninguém o ensinasse. Ele encontrara por acaso um corcel acinzentado no campo, e desde então o montava sempre que não havia pessoas observando. Geralmente não usava selas, e às vezes levava Hlodin para passear também.

Seylfe e Fyorgin continuavam fazendo o máximo para treinar os jovens de Ellesmera, e todos os dias iam para o campo para cavalgar com Lawfey e Lara. Lara estava cada vez mais bela, seus cabelos tornavam-se mais brilhantes a cada dia, e seu corpo definia-se também. Ela aprendera a correr mais com o cavalo, porém sempre ficava para trás quando apostavam corridas. Lawfey criara uma ligação com Asa-Loke assim como Holnir tinha com sua égua, e assim como ela, Lúthien e Juwidia também possuíam essa ligação. Sempre que possível elas cavalgavam pelos campos juntas, e há poucos meses atrás também começaram a usar seus poderes enquanto cavalgavam. Seus poderes estavam bem mais canalizados agora, e Juwidia conseguia criar jatos de fogo lançando-os em algum alvo. Lawfey e Lúthien conseguiam utilizar a umidade do ambiente para criar lanças de gelo, entre outras armas. Além disso, também podiam utilizar a água para distrair o inimigo lançando-lhe uma quantidade de água no rosto, confundindo-o.

Lif treinava sempre seus poderes com ervas, melhorando cada vez mais seus conhecimentos de medicina. Sempre ensinava Lara a controlar o elemento terra ao seu favor, e mostrava como as ervas poderiam salvar a vida se preparadas da forma correta. Todos os dias elas iam juntas para a floresta, colher ervas e treinar os seus poderes de crescimento das plantas. Certo dia, enquanto todos estavam no campo de treinamento treinando o manejo da espada, Holnir e os outros cavaleiros chegaram de surpresa. Lúthien e Lawfey correram para cumprimentar Holnir e Donnerstag, animadas de finalmente os rever. Lúthien beijou o marido com toda a saudade que tinha em si, e abraçou-o fortemente. Quando seus braços se soltaram, Donnerstag perguntou: - Onde está Luke?

Sorrindo, Lúthien falou: - Está no campo. Ele sempre vai para lá essa hora do dia...

- Eu vou ir vê-lo, quero ver se ele quer que eu o ensine a andar à cavalo como eu prometi que o ensinaria a dois anos atrás. – disse Donnerstag beijando a esposa e saindo e busca do filho.

Rubezahl e Odensberge haviam permanecido no campo de treinamento humano, já que eles haviam ido para Ellesmera no mês passado. Holnir estava feliz de estar de volta a sua terra, e estava ainda mais feliz de ver que Lawfey estava tão bem. Após cumprimentar Lúthien, disse: - Soube que vocês andam praticando, vamos ver como vocês lutam. Eu as desafio a lutar comigo.

- Não podemos lutar as duas contra você papai, apesar de você ser bem mais forte que nós duas juntas, não seria justo lutar duas contra um! – disse Lawfey preocupada.

- Eu não me importo, estou precisando treinar mesmo. E eu quero ver como vocês lutam. – replicou Holnir.

- Então está bem. – disse Lúthien. – Prepare-se!

Logo os três começaram uma batalha de treinamento, e as espadas começaram a ser usadas. As elfas usaram por um momento as espadas normalmente, mas como não conseguiam nem ao menos chegar perto de Holnir, passaram a usar seus poderes também. Congelando a espada para torná-la mais comprida, as duas atacaram ao mesmo tempo, e pegando Holnir desprevenido, quase o atingiram, cortando somente um pouco de sua roupa.

Vendo que quase fora atingido, Holnir sorriu interessado, teria de se esforçar mais para dar conta das elfas sozinho. Em segundos elas voltaram, modificando suas espadas em sincronia, e praticamente criando uma dança enquanto o atacavam. Elas haviam criado uma sincronia perfeita, que fazia com que seus ataques tornassem-se mais poderosos, pois juntas conseguiam atacar com muito mais força. Várias vezes elas quase acertaram Holnir, que por pouco conseguia de desviar da série de ataques que elas produziam.

Repentinamente, as espadas das jovens saíram de suas mãos, e foram lançadas longe, como que se um ser invisível houvesse tomado-lhes as espadas de suas mãos. As espadas caíram a alguns metros de onde estavam, e as elfas surpreenderam-se com isso, tornando-se vulneráveis por alguns instantes. Holnir aproveitou esse momento para atacá-las, porém as elfas foram mais rápidas e conseguiram desviar-se dos golpes. Demorou somente alguns segundos para que elas voltassem a atacar, usando dessa vez somente o corpo e a agilidade como armas.

Seus ataques ainda eram sincronizados, e mesmo sem armas elas não eram oponentes fracas. Em um momento de distração, as elfas conseguiram jogar a espada de Holnir para longe, e ele surpreendeu-se com isso, pois não pensou que elas também estivessem treinando a luta corporal. Mas logo ele conseguiu imobilizá-las, com as espadas apontadas para as gargantas das elfas. Ele havia usado seu poder para pegar as espadas de Lúthien e Lawfey, e agora as usava para imobilizá-las.

Devolvendo suas espadas, Holnir falou: - Vocês me surpreenderam, estavam muito sincronizadas, o que contou pontos a seu favor.

- Nós andamos praticando nossa sincronia, mas ainda temos de treinar mais, porque algumas vezes nossos golpes falharam. – disse Lawfey com a respiração forte.

- Sim, algumas vezes nosso contato se rompeu, fazendo com que cometêssemos erros bobos. – completou Lúthien.

Com uma expressão de surpresa, Holnir perguntou intrigado: - Como assim?

A espada de Holnir que estava a metros de distância, começou a flutuar no ar, chegando até a sua mão, fazendo com que as elfas entendessem o que havia ocorrido durante a luta, quando perderam suas espadas: Holnir também utilizara seus poderes.

- Nós andamos treinando nossa sincronia telepática, assim como fazemos com os lobos. Mas estamos treinando para que possamos usá-la para trocar informações entre nós durante uma batalha. – respondeu Lúthien ao tio.

- Sim, assim como nós nos comunicamos com os lobos, também estamos nos comunicando entre nós, para que possamos combinar ataques durante uma batalha. – explicou melhor Lawfey.

Surpreso, Holnir falou: - Não sabia que isso era possível.

- Nós também não, até que um dia quando estávamos treinando com os lobos escutamos os pensamentos uma da outra. – disse Lúthien rindo.

- Sim, foi estranho. Eu escutei as ordens de Lúthien para Thor, e fiquei totalmente confusa no início, porém depois acabamos nos acostumando com isso, e usamos a nosso favor. Desde esse dia, nós temos treinado juntas para que consigamos utilizar isso em uma batalha real. Essa luta foi o nosso primeiro teste com esse poder. – completou Lawfey rindo também.

Os três ficaram conversando sobre esse assunto durante um longo tempo, sentados na borda do campo de treinamento enquanto se recuperavam. Enquanto isso, Donnerstag chegava discretamente ao campo, procurando por seu filho. Distante, ele viu alguém montando em um cavalo acinzentado, sem utilizar a sela. Impressionou-se com a habilidade que ele possuía em montar naquele cavalo, e a sincronia que ele criara com o animal. Quando aproximou-se mais, percebeu que o jovem assustou-se ao vê-lo chegar, saltando do cavalo que correu em direção a floresta.

O menino ficou olhando fixamente para Donnerstag durante algum tempo, até dizer em tom de desconfiança: - Pai?

Somente quando ele falou Donnerstag se deu conta de que estava à frente de Luke, seu filho. Ele mudara muito nos anos que se passaram, e crescera muito. Agora batia praticamente em seu ombro, um pouco abaixo. E tinha o rosto um pouco diferente também. Feliz em vê-lo, Donnerstag disse: - Luke!

O menino correu em direção a ele, e abraçou-o fortemente. Donnerstag abaixou-se para ficar na altura do filho, e perguntou: - Quando você aprendeu a andar de cavalo?

Luke pareceu embaraçado por saber andar de cavalo sem que o pai tivesse o ensinado, pois ele queria aprender com o pai, mas acabara aprendendo sozinho. Sentindo-se um pouco envergonhado, ele respondeu: - Eu aprendi sozinho.

Donnerstag olhou-o espantado.

- Como assim sozinho? De onde veio aquele cavalo que você estava montando?

- Eu o achei na floresta um dia, e acabei fazendo amizade com ele. Ele é um pouco arisco, mas deixa que eu monte nele. Eu ia esperar você voltar pai, eu juro. Mas como me apareceu a oportunidade de tentar, eu não deixei que ela passasse. Mas eu ainda não sei montar usando a sela direito, você pode me ensinar isso. – disse Luke sem graça.

- Não faz mal que você saiba andar Luke, não pense que eu estou bravo com isso! Muito pelo contrário, estou muito orgulhoso que você tenha aprendido a andar a cavalo tão bem sozinho! Há quanto tempo você está montando nesse cavalo? – disse Donnerstag empolgado.

Sentindo-se mais confiante, Luke respondeu: - Há mais ou menos duas semanas, que foi quando eu o encontrei na floresta. Mas eu não posso andar todos os dias com ele, algumas vezes não dá tempo.

- Nossa, estou impressionado! Eu demorei mais de dois meses para aprender a ter sincronia com Gondir. Eu também aprendi a montar sozinho, meu pai morreu quando eu ainda era novo, e eu não tinha ninguém que me ensinasse. – disse Donnerstag ainda mais empolgado. – Chame-o para eu ver você andando!

Afirmando com a cabeça e correndo até o meio do campo, Luke colocou assoviou da mesma forma que Donnerstag assoviava para chamar Gondir. Logo o corcel estava de volta, e foi diretamente até o menino, dando-lhe uma leve cabeçada ao chegar. Ao ver Donnerstag, sentiu-se um pouco desconfiado, e ficou agitado. Luke tentava fazer com que ele parasse para que pudesse montar, não queria decepcionar seu pai, mas o corcel não parava quieto de forma alguma. Então, Luke aproveitou uma hora em que ele estava passando a sua frente, e saltou em suas costas, fazendo-o sair correndo.

Ajeitando-se no dorso do cavalo, logo eles estavam em perfeita sincronia, e Luke conseguiu até mesmo fazer com que o corcel fosse até Donnerstag por alguns poucos segundos. Donnerstag sentia-se orgulhoso de ver que seu filho tinha tanta habilidade para montar, e ficava feliz de saber que ele já tinha encontrado um companheiro para cavalgar. Agora a única coisa que eles precisariam seriam de selas, para melhorar ainda mais o desempenho de Luke com seu cavalo.

Pai e filho andaram com seus cavalos durante um longo tempo, fazendo com que os dois anos de ausência de Donnerstag fossem compensados em uma única tarde. Os cavalos corriam muito, e apesar de Gondir ser quase o dobro do corcel de Luke, os dois corriam quase sempre emparelhados.

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Durante uma semana Donnerstag e Holnir permaneceram em Ellesmera, e durante esse tempo Donnerstag aproveitou para tentar fazer com que Luke e seu corcel usassem selas para aumentar a sua sincronia. Todos os dias saía ao campo para cavalgar com o filho, que ainda na maioria das vezes preferia não utilizar a sela, pois dizia-se mais confortável assim. Holnir aproveitou a semana para treinar com Lúthien e Lawfey, que usavam o contato telepático para criar estratégias de ataque que desafiavam até mesmo o potencial dele. Sempre treinavam usando tudo que podiam: espadas, corpo, velocidade, poderes... E cada dia mais as elfas se aproximavam de acertá-lo.

Vários assuntos tinham de ser resolvidos, e Lúthien e Lawfey sempre tentavam ao máximo ajudar Holnir em suas tarefas de Ellesmera. Hlodin estava treinando seus poderes com Juwidia, pois ela ainda não conseguia controla-lo. Elas muitas vezes passavam a tardes treinando a canalizar os poderes, e rapidamente Hlodin pegou o jeito para controlá-los.

Após esse tempo, Holnir e Donnerstag precisavam retornar ao campo de treinamento humano, e iriam levar consigo todos os jovens de Ellesmera, para que agora treinassem todos juntos, criando uma união entre todo o exército. Seylfe e Fyorgin também os acompanhariam, e no dia anterior à partida, Lawfey e Lara passaram o dia todo com seu respectivo amado. Luke decidira que também iria com o pai, porque queria treinar para se tornar forte  bastante para batalhar e proteger Ellesmera. Lúthien estava triste por saber que no dia seguinte os dois iriam partir, mas ficava feliz em saber que eles estavam tornando-se tão unidos. À noite, ajudou Luke a juntar suas coisas para ir, e entregou-lhe algo muito precioso: uma corrente que fora de seu pai, Alifader, que ela decidira dar a ele quando ele crescesse o bastante para cuidar daquele bem precioso.

A corrente era grossa, e tinha um pingente em formato de espada pendurado. Entregando ao filho, Lúthien disse: - Tome, quero que fique com isso. Era de seu avô, meu pai. É muito valoroso para mim, por isso tome cuidado para não perdê-lo está bem? Espero que ele o proteja, assim como protegeu o meu pai.

- Obrigado mãe, terei muito cuidado com essa corrente, pode ter certeza. Não fique triste por eu ir com o meu pai amanhã, por favor, eu irei voltar logo. – disse Luke colocando imediatamente a corrente no pescoço.

- Sim, eu estarei te esperando aqui meu filho. – disse Lúthien abraçando-o. – agora vá descansar, pois amanhã será um grande dia. Saindo do quarto, Lúthien foi se deitar na cama com Donnerstag. Abraçando o marido, disse: - Cuide bem de nosso filho está bem?

Virando-se para ela, ele respondeu: - Fique calma Lúthien, eu cuidarei muito bem dele, ele estará seguro no campo de treinamento. Ele ainda não está indo para a guerra querida, não precisa se preocupar. – e beijando a testa da esposa, abraçou-a fortemente.

 O dia seguinte amanheceu claro, com o céu sem nuvens. Lúthien foi até a fronteira com Donnerstag e Luke; assim como Lawfey fora com Holnir e Fyorgin; Lara fora com Seylfe, e tantas outras famílias com seus respectivos cavaleiros. Despedindo-se, eles partiram em direção a campo de treinamento, onde ficariam durante longos nove anos até retornarem a Ellesmera.

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Após nove anos longe de sua família, todos os cavaleiros elfos voltaram juntos a Ellesmera. Quando partissem novamente de lá, iriam diretamente para a guerra, que após tantos anos estacionada, finalmente iria acontecer, e decidiria para sempre o futuro de Ellesmera. No dia em que os cavaleiros chegaram, muitas mulheres esperavam seus maridos ansiosamente na entrada da cidade. Assim que os primeiros cavaleiros apareceram, uma grande confusão se formou. Todos corriam em encontro aos cavaleiros, e com toda a confusão criada com isso, tornava-se difícil que cada família encontrasse o seu cavaleiro. Muitos jovens haviam mudado drasticamente, o que dificultava ainda mais as coisas para as famílias.

Lúthien, Lawfey, Lif, Lara, Juwidia e Hlodin ficaram esperando longe de toda a confusão, montadas em seus cavalos, ansiosas por verem algum de seus cavaleiros. Hlodin havia ficado em Ellesmera para treinar com as mulheres, e durante esse tempo sentiu muita falta de Luke, como jamais sentira antes. Durante esse tempo ela não mudara muito, somente perdera o corpo de criança para o de uma jovem de sua idade. Fora isso não havia grandes mudanças em sua aparência.

Seus cabelos continuavam vermelhos, e sua pele branca como a neve. Porém agora ela não era mais apenas uma menina, e seus sentimentos por Luke tornaram-se diferentes da amizade de crianças que tinham quando ele partiu. Aprendera a andar de cavalo com a sua mãe, com um filhote que Räg havia dado a luz há cinco anos atrás. Era um cavalo de pelagem marrom avermelhado, de estatura mediana. Bonito desde que nascera também era muito saudável e adorava correr.

As elfas ficaram ali esperando ansiosas até que seus cavaleiros aparecessem ali. O primeiro a aparecer foi Rubezahl, que continuava com exatamente a mesma aparência de quando partiu. Assim que o viu, Lif fez com que Braggi corresse até ele, e quando chegou lá, pulou em cima de Rubezahl beijando-o e chorando de felicidade. Logo após Fyorgin e Seylfe apareceram, e vieram correndo ao encontro de Lawfey e Lara. Holnir e Donnerstag demoraram um pouco a aparecer, mas após algum tempo finalmente surgiram em meio a todos os cavaleiros procurando suas famílias. Lúthien desceu de Cadoc para cumprimentar o marido, e beijou-o feliz por finalmente revê-lo depois de tanto tempo. Cumprimentando o tio e os outros cavaleiros, ela perguntou: - E Luke? Onde ele está? Eu não o vi ainda...

Donnerstag olhou para trás, procurando pelo filho e disse: - Eu não sei, ele deve estar em meio aquela multidão. Ele estava com os amigos que fez no campo de treinamento, logo ele aparecerá. Ele mudou muito desde que partimos, talvez você até tenha o visto e não o reconheceu. De repente, Donnerstag viu seu filho conversando com outros cavaleiros jovens perto das árvores na entrada e assoviou para chamar-lhe a atenção. Luke ao ouvir o assovio do pai, demorou um pouco até encontrar de onde viera, mas assim que o avistou tocou seu cavalo em direção a eles. Sorrindo, Donnerstag falou: - Ali está ele, está vindo para cá.

Quando Lúthien viu seu filho, entendeu o que o marido queria dizer. Luke estava totalmente mudado, deixara seu cabelo crescer até o meio das costas, que agora estava liso como o da mãe. Seus traços tornaram-se mais parecidos com os dela, porém com o formato do rosto do pai ainda. Ele se transformara em um rapaz muito bonito, com o corpo forte e definido. Seu lobo também se tornara grande, de um tom entre o claríssimo de Hlodin e o escuro de Thor. Tinha um tom bonito, e um corpo também definido. Tornara-se um companheiro feroz, que sempre ajudava Luke nas batalhas.

Cavalgando até a mãe, saltou de seu cavalo e abraçou-a fortemente. Quando se afastou, Lúthien pode ver que ele estava usando a corrente de Alifader ainda, e então percebeu o quanto Luke estava lembrando o seu pai agora. Animado, Luke falou: - Mãe! Estava com saudades de você!

- Também estava com saudades Luke! Muita saudade! Eu senti tanto a sua falta aqui ao meu lado! – disse Lúthien abraçando o filho novamente.

Ao abraçar a mãe, Luke viu algo que ainda não havia visto. Em um canto isolado, estavam Juwidia e uma moça muito bonita montadas em seus cavalos. Com o olhar preso na jovem ao lado de Juwidia, Luke perguntou: - Aquela é Hlodin?

Virando-se para ver de quem o filho estava falando, Lúthien respondeu: - Sim Luke, é ela! Vá lá cumprimentá-la.

Correndo até onde Hlodin estava, Luke gritou: - Hlodin! Lembra-se de mim Hlodin? Sou eu, o Luke!

Ao avistá-lo, Hlodin desceu de seu cavalo e foi correndo em direção a Luke, sentindo como se seu coração fosse lhe sair pela boca. Ao chegar lá, abraçou-o fortemente. Sem perceber, Hlodin começou a chorar de emoção, e falou: - Luke! Eu senti tanto a sua falta!

- Eu também Hlodin, você não imagina o quanto! – respondeu o jovem, e sem que eles percebessem, como que por reflexo suas bocas se uniram em um grande beijo. Um beijo apaixonado, de saudades, de amor.

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Capítulo 12 – A Batalha Final

 

Depois de todos os cavaleiros serem encontrados, todos foram para o castelo, pois tinham muitos assuntos para conversar. Todos conversaram por um longo tempo, atualizando-se de tudo o que acontecera enquanto estiveram longe. Os casais matavam a saudade que sentiam, e conversavam sobre tudo o que se poderia imaginar. O dia passou rapidamente, e todos estavam muito felizes de estarem juntos novamente. Luke e Hlodin saíram logo após comerem para o campo e para a floresta, para se relembrarem de quando eram pequenos e viviam naqueles lugares. Cavalgaram por toda a Ellesmera, passaram por todos os pontos onde ficavam juntos quando pequenos, e no fim da tarde foram ver o pôr-do-sol juntos.

Os dois jovens tornaram-se um casal inseparável, e faziam tudo juntos, até mesmo treinar. Um dia, durante o treinamento, Holnir percebeu algo diferente no treinamento deles, e aproximou-se para observar melhor. Logo percebeu que os jovens estavam combinando seus poderes, fazendo praticamente que eles tornassem-se um só. Hlodin possuía o poder do fogo, e criava grandes jatos de fogo como Juwidia lhe ensinara, porém, eles eram interferidos pelo poder de Luke, que tinha o poder do ar. Luke usava seu poder para alimentar as chamas de Hlodin e controlá-las para que acertassem em cheio o alvo.

Aproximando-se, Holnir perguntou: - O que vocês estão fazendo?

- Estamos treinando, como fazíamos quando éramos menores. – respondeu Hlodin enquanto criava vários jatos de fogo, que controlados pelo ar de Luke, formavam praticamente um espiral de fogo.

- Vocês fazem isso desde que eram pequenos? – perguntou Holnir espantado.

- Sim, desde que tínhamos aproximadamente nove anos nós treinamos isso. Nós procurávamos uma forma para treinarmos por mais tempo juntos, então criamos essa técnica de junção dos dois poderes. – disse Luke concentrando-se para criar uma imensa esfera de ar comprimido, que com a ajuda de Hlodin tornou-se uma grande esfera de fogo, girando sobre a cabeça do casal.

Holnir saiu apressado para reunir todos, e depois os levou até onde Luke e Hlodin estavam. Quando chegaram lá, disse: - Eu finalmente encontrei qual é o ponto fraco do exército de Menglod! Com a ajuda de Luke e Hlodin eu finalmente descobri a estratégia perfeita para ganharmos essa batalha.

Luke e Hlodin olharam espantados para Holnir, sem entender o que exatamente haviam feito para despertar a mente do tio. Ao ver a expressão de dúvida de todos, Holnir falou: - A união! Esse é o nosso ponto forte e o ponto fraco de Menglod! Lá o exército é cada um por si, o que causa uma grande desorganização do exército em geral. Se conseguirmos usar a união como arma, venceremos essa batalha mais facilmente que a primeira!

- Mas como assim a união? – perguntou Lara.

- Se batalharmos unidos, nosso poder se multiplicará! Mas para isso teríamos de fazer o que Luke e Hlodin fazem, eles batalham juntos. Mostrem para eles o que vocês estavam fazendo agora a pouco, por favor, Luke. – disse Holnir animado

- O que? – perguntou Luke.

- Isso? – perguntou Hlodin lançando uma chama, que rapidamente foi controlada por Luke e transformou-se em um grande jato de fogo.

- Sim, exatamente isso! É isso que devemos fazer, nos unir como eles para que nosso poder seja multiplicado. Há algum tempo atrás eu vi Lúthien e Lawfey lutando juntas também, mas não havia me ocorrido que isso poderia ser tão positivo para nós. Temos que nos aproveitar disso! – disse Holnir empolgado com a idéia de que finalmente havia achado a solução de algo que ele procurava há tanto tempo.

- Mas como faremos isso? – perguntou Fyorgin.

- Teremos de começar a treinar sempre em duplas, para que assim tudo se torne mais fácil. Mas devem ser duplas que possuem sincronia, e que sejam aproximadamente do mesmo nível, para que não ocorra de haver perda de poder. Por exemplo, Lúthien e Lawfey podem lutar juntas, se vocês inserirem a técnica de Luke e Hlodin à técnica de vocês, ela se tornará imbatível! Fyorgin e Seylfe, que trabalham bem com a agilidade do corpo e a luta corporal, também formarão uma boa dupla, pois vocês podem aproveitar-se da velocidade que ambos possuem. Rubezahl e Odensberge que possuem uma ótima força bruta e que manejam bem a espada podem treinar a fazer ataques juntos, e assim por diante! Se cada um encontrar alguém com quem consiga juntar seu poder para se tornar mais forte, isso faria com que nós treinássemos a união! – disse Holnir empolgado.

                Logo todos ali presentes passaram a ser dividir em duplas, e começaram a treinar o trabalho em grupo. Em menos de uma semana Ellesmera inteira conseguia lutar de uma forma tão unificada que seu poder tornava-se ainda maior. E todos os dias eles treinavam, criando novas técnicas e fazendo com que suas técnicas se aprimorassem.

                Quando o dia da batalha finalmente chegou, todos encontraram-se no castelo antes de sair da cidade. Ficara decidido que Lawfey, Lúthien, Juwidia, Lif, Lara e Hlodin também iam, pois depois de muita discussão, elas finalmente haviam conseguido convencer os cavaleiros de permitirem que elas fossem também. Partiram antes mesmo de o céu começar a clarear, e encontraram os anões no caminho.

                Quando finalmente chegaram a Du Fells Nangoroth, encontraram o exército humano esperando-os para entrar nas terras malditas. Holnir foi à frente, seguido pelos outros cavaleiros de Ellesmera e as jovens elfas, que se posicionaram em uma grande linha reta. À sua frente, posicionaram-se os homens, e na primeira fileira, os anões. Quando todos os cavaleiros entraram, percebia-se a grande diferença entre os dois exércitos.

O exército de Menglod era praticamente três vezes maior que o dos elfos, e isso era destacado pela diferença de área que eles ocupavam. Essa grande diferença preocupou muitos humanos, que somente por suas expressões mostravam que pensavam que aquilo seria suicídio. Mas os elfos continuavam calmos, e olhando para o exército inimigo, esperaram até que eles também estivessem preparados.

Do outro lado das terras malditas, a voz de Menglod ecoou: - Desistam elfos! Entreguem-me as terras de Ellesmera!

Holnir, apesar de parecer falar tranquilamente, também teve sua voz ecoada por todos os cantos: - Não precisamos disso Menglod, tire essa ganância de seu coração!

Uma risada tenebrosa veio do outro lado, e então Menglod disse: - Que assim seja...

Em poucos segundos após ele dizer essas palavras, uma grande quantidade de pedras em brasa foram mandadas para cima do exército élfico, deixando muitos humanos assustados por não receberem nenhuma ordem de se proteger. Com um movimento de mão, Holnir, Luke e os outros cavaleiros que haviam aprendido a utilizar o poder do ar desviaram as pedras mandadas para longe do exército, fazendo parecer que eles haviam errado na mira.

Novamente, Holnir falou: - Não faça isso com você mesmo Menglod, não é a riqueza ou quantidade de terras que vai lhe dizer quem você é. Não precisamos lutar por algo tão desprezível!

- Cale-se e lute! – gritou Menglod, e mais pedras foram lançadas para cima do exército. Desviando novamente as pedras, Holnir abaixou a cabeça parecendo decepcionado, e falou para Lúthien: - É, acho que não teremos alternativas. Vamos começar.

Lúthien entendendo o que o tio queria dizer, desceu de Cadoc e foi para a frente do exército, acompanhada de Lawfey. Uma ao lado da outra, ficaram observando o exército inimigo em toda a sua extensão, esperando as ordens de Holnir.

Menglod, ao ver as duas elfas irem para a frente do exército, gritou: - É só isso que pode fazer? Colocar duas elfas inúteis em frente ao seu exército? – e uma mar de flechas veio em direção as elfas. Rapidamente todas as flechas pegaram fogo e viraram apenas cinzas, quando Juwidia e Hlodin levantaram o braço direito em perfeita sincronia.

Então, Holnir abaixou a cabeça e disse em tom triste: - Podem começar...

Lúthien e Lawfey deram as mãos, e seus lobos posicionaram-se ao seu lado. Fechando os olhos para se concentrarem melhor, recriaram juntas a imagem do exército inimigo e a área vazia que se encontrava entre eles. Logo que criaram a área em suas mentes, que estavam conectadas, os lobos começaram a uivar. O uivo ficava mais alto que o normal ali, e perturbava muito os cavaleiros inimigos, que atordoados tampavam os ouvidos. Em segundos após o uivo dos lobos, a terra foi se congelando em direção ao exército inimigo, formando uma grossa camada de gelo por onde passava. Rapidamente o gelo chegou até os primeiros cavaleiros, que tiveram seus pés presos ao chão congelado. Rapidamente os outros cavaleiros afastaram-se do gelo, e os que estavam presos praguejavam em voz alta, e tentavam se soltar.

Lúthien e Lawfey abriram novamente os olhos, e então voltaram para seus cavalos tranquilamente. Foi então a vez de Holnir e Luke, que levantando os braços criaram grandes correntes de ar que sopraram fortemente o exército inimigo, fazendo com que eles dessem vários passos para trás. E então assim que o vento parou, Hlodin levantou a mão direita, e vários pássaros de fogo do tamanho de uma pessoa formaram-se no ar, seguida de Juwidia, que formou um pássaro de fogo gigante, que era do tamanho de praticamente cem pássaros de Hlodin. Com um movimento de suas mãos, os pássaros voaram em direção ao exército inimigo, que olhavam paralisados para aqueles pássaros chegarem e queimarem todas as suas catapultas e outras armas que poderiam ser usadas em grande distância.

Logo o exército inimigo estava praticamente em meio ao fogo, com tudo queimando à sua volta. Muitos soldados fugiram, abandonando o campo de batalha, fazendo com que o exército de Menglod diminuísse consideravelmente. Mas mesmo com o grande número de fugas, ainda havia mais que o dobro de cavaleiros no exército inimigo. Tudo queimava do outro lado, e logo as grandes catapultas começaram a se quebrar, e trazer grande perigo para os cavaleiros inimigos. Lawfey e Lúthien então levantaram suas mãos, formando uma chuva em cima dos cavaleiros, e apagando o fogo que queimava as catapultas. Em pouco tempo, os cavaleiros estavam encharcados, mas sem nenhum dano físico. Todos esses ataques eram somente contra as armas, e também serviam para afugentar pessoas inocentes, que só haviam sido enganadas por Menglod e que ao verem tudo aquilo enxergariam a verdade e fugiriam.

Holnir disse então: - Esses foram nossos poderes separados Menglod, mas também podemos uni-los, e torná-lo somente um, mais poderoso e destrutivo que todos os outros. Deixe essa ganância de lado e vá para casa, esqueça que as terras de Ellesmera existem!

Menglod deu uma risada e respondeu: - Você acha mesmo que meus cavaleiros têm medo de um pouco de água? Aqueles que fugiram são covardes, que não mereciam dividir o prêmio com os que ficaram! Eu não tenho medo de vocês elfos inúteis!

Todos os que possuíam poderes então levantaram seus braços, formando uma grande quantidade de troncos secos em chamas suspenso no ar soltando uma grande quantidade de fumaça, purificando o ar. A grande massa de fogo crescia cada vez mais, e começou a se aproximar do exército inimigo. Mais uma grande quantidade de cavaleiros fugiu, sobrando praticamente a mesma quantidade de pessoas dos dois lados das terras malditas. Com isso, finalmente o objetivo dos elfos havia sido alcançado, então a massa se desfez, soltando somente uma chuva negra, que caía bem no meio da campina ardente. Holnir então disse: - Você não possui mais armas de longa distância, portanto não iremos atacá-lo dessa forma também. Teremos de nos aproximar para resolvermos isso!

- Que venha então! – disse Menglod, e um grito forte ecoou por toda a área: - ATACAR!

O exército inimigo começou a se deslocar em direção ao meio da campina ardente, e Holnir foi para frente de seu exército e gritou: - Não teremos escolhas, teremos de lutar! Mas não se esqueçam de lutar com dignidade e honra! Atacar!

Todos saíram em disparada em direção ao exército inimigo também, e logo entraram na área onde a chuva negra caia, manchando as roupas brancas que todos ali usavam. O exército inimigo tornava-se cada vez mais próximo, e pela primeira vez as elfas sentiam o sentimento de guerra entrar em seu corpo. Elas cavalgavam o mais rápido que podiam, e logo estavam nas primeiras fileiras. O encontro com o exército inimigo foi brutal. Vários cavaleiros tombaram, e as elfas lutavam com a mesma bravura de qualquer outro naquele campo de batalha. Durante horas a única coisa em que todos se concentravam eram garantir a própria vida, e defender as suas ideologias. A chuva negra continuava caindo, tingindo o chão de preto, e misturando-se com o sangue que era derramado a cada cavaleiro que tombava.

A guerra durou horas, e o dia foi se passando. Apesar da pequena quantidade de guerreiros, cada pequena batalha durava muito tempo, até que um deles saísse vitorioso. As horas se passavam, e todos estavam totalmente manchados de sangue. Sangue de suas próprias feridas, ou sangue dos cavaleiros que ele matara. Naquele local amaldiçoado não conseguia se saber quanto tempo havia se passado, pois o céu escuro não deixava que enxergassem o sol. Poderia ser noite, ou talvez até manhã, e todos continuavam batalhando sem parar.

O exército que protegia Ellesmera logo começou a ganhar vantagens, graças a união que apresentavam, tornando-os muito mais fortes. Enquanto os cavaleiros do exército inimigo lutavam cada um por si, no exército de Ellesmera todos se protegiam e se ajudavam, fazendo com que muitas vidas fossem salvas. Após algum tempo, o exército inimigo fora praticamente aniquilado, e então Juwidia encontrou Mardoll. O cavaleiro tentara atacá-la pelas costas, porém fora impedido pela fênix, que voando bicava-lhe confundindo-o. Juwidia batalhou com Mardoll durante um longo tempo, e sempre conseguia desviar de todos os ataques que ele fazia. Porém, ela nunca atacava, mesmo sem saber o porquê.

Foi então que Mardoll disse: - Assim que eu matá-la vou atrás de sua filhinha querida, e vou perseguí-la até a morte. E antes de matá-la, não se preocupe, eu vou contar detalhe por detalhe como você suplicou para que eu a deixasse viver, mas que não aconteceu. Contarei para ela tudo o que você passou, e depois farei com que ela suplique para morrer. E só quando ela sofrer bastante eu a matarei, para que vocês possam finalmente se encontrar e ter seu final feliz, que você acha mesmo que qualquer dia irá se tornar real.

Como se essas palavras despertassem Juwidia, ela pulou em cima de Mardoll, e socava sua face com uma força que nem mesmo ela sabia de onde vinha. Ela socava-o por tudo o que ele a fizera passar, socava-o e pelo o que Lara sofrera, socava-o pelos lobos, por Alifader, e por todas as outras pessoas para quem ele havia causado sofrimento. E ela o fez durante um longo tempo, até que ele começou a implorar para que ela parasse, e chorava como uma criança. E então ela viu que ele nunca passara de um covarde, um grande covarde. Então pegando a sua espada, matou-o em apenas um golpe. O sangue foi parar em seu rosto, e seus braços também ficaram sujos com aquele sangue imundo, mas que lhe trazia tanto alívio. Alívio de saber que agora o mundo tinha uma pessoa a menos para causar a dor alheia.

O fim da guerra ocorreu após um dia de batalha, que para os guerreiros pareceram somente algumas horas. Todos estavam sujos com o sangue inimigo, e agora procuravam sobreviventes. Lúthien encontrou Holnir caído ao lado de Skadi, que fora morta com um corte na garganta. Holnir estava com um punhal encravado em suas costas, e estava praticamente inconsciente. Quando chamou pelo tio, Lúthien ouviu uma risada vinda das suas costas, e viu Menglod deitado no chão. Aproximando-se dele, ela agarrou-o pela roupa e chacoalhando-o, perguntou: - O que você está rindo seu desgraçado?

Ele falava com dificuldade, estava com falta de ar. Mas falou como se estivesse se divertindo: - Você não imagina o prazer que foi ver seu tio ser apunhalado pelas costas, enquanto falava comigo. Aquele tolo tentava me convencer de parar com a guerra, e então um cavaleiro meu o apunhalou pelas costas. E eu ainda pude chegar até ele e dizer ‘Dê adeus a sua égua Skadi Holnir, foi um erro trazê-la para essa guerra’. Foi uma satisfação sentir a minha espada cortando a pele do pescoço daquela égua tão valiosa para ele, de vê-la cair morta no chão, sem ninguém pudesse fazer mais nada por ela.

Horrorizada, Lúthien gritou: - SEU MONSTRO! Foi você! Foi você quem causou todo esse sofrimento a tanta gente, que causou tantas mortes! Foi você quem matou o meu pai!

E formando um punhal com a umidade do sangue no chão, Lúthien começou a ferir Menglod, perfurando-o todo, até que Donnerstag chegasse e abraçasse. Lúthien abraçou o marido, com as mãos sujas de sangue, ela abraçou-o com todas as suas forças, chorando. Lawfey chegou alguns momentos depois, e chorando pedia para que o pai não morresse. Abraçada por Fyorgin, ela chorava desconsoladamente, e pedia para que alguém a ajudasse. Lif conseguiu rapidamente estancar o sangramento do tio, mas precisava que partissem logo para Ellesmera para que o tio então pudesse ser salvo.

Pela primeira vez o elfo havia levado sua égua para uma batalha, e nessa única vez perdera o seu bem tão precioso. Ele encontrara Menglod após algum tempo de batalha, e tentara convencê-lo de que tudo aquilo nunca levaria a nada, e aquela ganância que ele deixara tomar conta de seu coração nunca valeria todas as mortes que aquela guerra estava causando. Menglod ria das palavras de Holnir, dizendo-lhe que ele era um tolo, e que assim como Alifader deixaria se levar sempre pela bondade e nunca conquistaria nada em sua vida. Holnir continuou a tentar fazer com que Menglod entendesse o que ele dizia, porém, repentinamente, um cavaleiro surgiu em suas costas e enfiou-lhe a espada nas costas. Skadi agitara-se ao perceber que o elfo havia sido atingido, e então Menglod chegou e cortou-lhe a garganta após dizer aquelas palavras sádicas.

A égua caiu morta no chão ensangüentado antes mesmo que Holnir pudesse dizer qualquer coisa. No chão, ele abraçava o pescoço da égua em vão, chamando-a e implorando para que ela não estivesse morta. Soltando uma risada maligna, Menglod aproximou-se e disse: - Agora é a sua vez!

Mas antes que ele pudesse dar o golpe final, Luke surgiu montado em seu cavalo, e pulou em cima de Menglod. O cavalo que Menglod montava saiu correndo dali assim que pôde, e em poucos minutos estava saindo da campina ardente. O cavalo de Luke foi até Holnir, e deitou-se ao seu lado, para protegê-lo. Luke e Menglod logo iniciaram uma longa batalha. Suas espadas se rebatiam com imensa força, e durante um longo tempo ficaram ali se enfrentando até que Luke finalmente conseguiu acertar um golpe no abdômen de Menglod, que caiu atordoado no chão. Virando-se de costas para o cavaleiro, o jovem começou a caminhar em direção a Holnir, preocupado com a saúde do elfo. Menglod conseguiu se levantar, e saiu correndo em direção ao jovem elfo, que conseguiu se virar a tempo e acertar o humano novamente. Caindo atordoado com o golpe que recebera, Menglod pensava como era possível que seu golpe traiçoeiro não dera certo. Ele observou Luke conversar com Holnir por alguns segundos e ao avistar alguém sendo atacado, sair correndo novamente para o meio da batalha. Holnir interrompeu os pensamentos de Menglod ao perguntar: - Por que Menglod? Por que você precisa disso para se sentir feliz?

Sorrindo, ele respondeu: - Eu disse para você desistir Holnir, sua bondade nunca será um ponto forte numa batalha.

E arrastando-se com grande esforço em direção a Holnir, pretendia acabar o que havia iniciado. Mas seus planos novamente foram interrompidos pelos uivos de lobos, que corriam em sua direção. Gulltopper correu até Holnir, e ficou ali a zelá-lo por alguns instantes até que Lúthien chegasse.

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Lúthien ainda estava em choque abraçada a Donnerstag. Ela não conseguia acreditar que Menglod pudera ser tão cruel de lhe tirar duas pessoas tão importantes para ela. Ela chorava lembrando-se dos bons momentos com seu tio e cada vez mais lembrava-se de seu pai. Um uivo triste interrompeu seus pensamentos, e com a ajuda de Donnestag seguiu em direção ao som. Lawfey e Lif saíram em direção a Ellesmera com Holnir, que estava desacordado.

Assim que chegou à fonte do som, Lúthien pôde avistar Hlodin abraçada a Juwidia chorando e pedindo ajuda. Ao aproximar-se mais, viu seu filho estendido no chão. Correu em sua direção enquanto lagrimas escorriam em sua face. Ao ver os pais ao seu lado, Luke disse carinhosamente: - Pai, mãe... Finalmente a guerra acabou... Ellesmera está livre finalmente de toda essa guerra... Agora todos vão ficar bem. Obrigada por tudo o que fizeram por mim até hoje, obrigada por tudo o que me ensinaram e obrigada por sempre cuidarem tão bem de mim... Eu amo vocês, me desculpem por não ficar aqui com vocês agora...

Lúthien segurava firmemente a mão de Luke, ainda sem acreditar que aquilo estava acontecendo. Entre lágrimas, disse: - Eu te amo meu filho, e sempre vou te amar... Você foi um ótimo guerreiro nessa batalha, e sempre foi um orgulho para nós... Fique calmo, estamos aqui...

Sorrindo, Luke estendeu sua outra mão para Hlodin e disse: - Eu te amo Hlodin... sempre amarei.

Ao dizer essas palavras, Luke foi levado para o outro mundo, onde encontraria com Alifader e todos os outros cavaleiros levados pela guerra. Hlodin e Lúthien choravam sem parar, sem conseguir se conformar de que alguém tão bom como Luke pudesse ser morto por causa de uma guerra como esta.

O que ocorrera fora que um cavaleiro viera atacar Hlodin, porém no momento exato em que a espada iria acertá-la, Luke jogou-se em sua frente, levando o golpe por ela. A jovem viu Luke cair a sua frente, e assustada pôde ver o cavaleiro vir novamente para cima de si, porém, o lobo de Luke chegou furioso e matou o cavaleiro que matara seu dono. Luke salvara duas vidas naquela batalha, dando sentido às palavras que Osthato Chetöwa dissera ao vê-lo quando pequeno: “Um grande futuro aguarda esse pequeno, ele trará algo muito importante para Ellesmera no futuro.”. Seu lobo, com grande tristeza ao vê-lo morrer, deitou-se ao seu lado e dormiu um sono profundo da qual jamais iria acordar novamente.

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Muita tristeza foi causada por essa última guerra. Odensberge fora morto durante a batalha, e muitas outras perdas aconteceram. A guerra que trouxera tanta tristeza para todos, agora terminara, e então todos os cavaleiros de Ellesmera retornaram a sua terra. Levando todos os corpos dos cavaleiros que tombaram, retornaram lamentando-se dos efeitos que a ganância de uma única pessoa havia trago para todos.

Os corpos dos cavaleiros foram carregados de volta a Ellesmera, para que pudessem receber um funeral digno de um cavaleiro vitorioso, que com sua morte trouxera finalmente a tão sonhada paz à Ellesmera. Todos foram colocados em botes, e empurrados para o mar, assim como ocorrera com Alifader.

Holnir conseguira sobreviver com a ajuda de Lif, e no dia do funeral colcou-se ao lado de sua égua Skadi, pedindo para que sua alma pura subisse e encontrasse a felicidade. Holnir sabia que a encontraria depois, quando fosse o seu tempo. Muitos cavaleiros foram colocados junto de seus animais, para que suas almas não se separassem e não se perdessem. Assim, continuariam unidos, e festejariam suas vitórias juntos.

Luke foi colocado em uma embarcação junto ao seu lobo. Holnir agradeceu-lhe silenciosamente antes de sua embarcação ser empurrada para o mar. Muitos sofriam com a perda daquele jovem, que salvara duas vidas, mesmo que a última lhe custasse a sua própria vida. Quando sua embarcação estava sendo empurrada para o mar, Hlodin entrou na água correndo em direção à embarcação. Beijando-lhe, disse em um tom tão baixo que somente eles poderiam escutar: - Eu te encontro lá, espere por mim. Eu te amo.

Flechas em chamas fizeram com que as almas de todos os cavaleiros subissem aos céus, onde encontrariam todos os outros conhecidos que já haviam falecido. Hlodin infelizmente entregou-se a morte após alguns dias, assim como sua mãe fizera ao perder o seu marido. A tristeza que essa morte trouxera a todos foi grande, mas Juwidia entendia que ela sofreria menos com isso. Ela entendia que sua filha não agüentaria viver tantos anos mais sem Luke, com quem criara uma ligação tão forte desde pequena. Em seu funeral Juwidia sentia uma grande tristeza corroer-lhe por dentro, mas assim que a fênix de Hlodin fez com que o barco ficasse em chamas e desaparecesse com a embarcação, ela sentiu uma brisa lhe tocar, e então teve certeza: sua filha estava feliz junto a Luke.

Os anos se passaram em Ellesmera, e nunca aquela batalha seria esquecida pelo povo dali. Donnerstag passara a cuidar do cavalo de Luke, que agora arisco não deixava que ninguém mais lhe tocasse. Após algum tempo tentando fazer com que ele ficasse manso novamente, o cavaleiro desistiu, e soltou-o no campo onde encontrara Luke montando pela primeira vez. Vendo o cavalo correr livre pelo campo, sentiu uma enorme saudade de seu filho, que assim como aquele cavalo possuía um espírito livre, e sabia aproveitar cada pequeno momento da vida. Mas após esse dia, sempre que se lembrava do filho, sabia que ele estava feliz, junto com todos os outros cavaleiros e também com Hlodin, que sempre fora o amor da vida dele.

Todas as mortes trouxeram uma grande tristeza para todos, mas assim como há momentos ruins na vida, há momentos bons. E foi depois de algum tempo do fim da guerra, que nasceram os filhos de Lawfey e Luthien: Hodrin e Loki.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Escrito em: 2007/2008

Autor: Leka Japas