Floresta
Índios que nos contam dos baixios de deuses em árvores.
Vitórias régias que encantam os céus aquáticos dos pântanos
Grilos e sapos que nos bendizem a noite
Lodos e raízes que cicatrizam os segredos, das sagradas terras verdes...
Arde em seus poros a ânsia da vida
Vibra em seu ar a respiração dos deuses mais antigos que a pulsação da luz.
Ressoa em seu canto áspero os tambores dos corações dos seres que a anima.
Resvalam em suas cores as pinceladas de uma grande deusa que nos oferta beleza.
E assim, a Floresta entoa os ventos celestiais em suas flautas verdes.
Embala, como uma paciente mãe, os seus filhos amados, que comem e alimentam os homens.
Dignifica a Terra para semear as boas sementes.
E lapida as pedras com a voz das correntezas.
Com atenta delicadeza
Retorce os cipós para dar graça ao sustento;
Retalha as folhas em diversos símbolos para saudar os caminhos do Tempo;
Contrapõe luzernas de sol, construindo luminárias para os seus seres.
Fazendo gracejos com os pássaros
E fúrias com os selvagens.
Germinando a vida nas mais sutis existências
E nas mais densas moradas.
Floresta, onde a seresta divina toca a sua lira de várias cordas na mesma melodia;
Onde as musas vão buscar o néctar da sua poesia;
Onde as amas encontram o leite que as amamentam;
E as deusas vão buscar as suas dádivas.
Selva sagrada que o Criador fecundou no útero fértil da Mãe Terra.
Coração vigoroso desse pequenino planeta – que, contudo, és maior em amor que seu próprio corpo.
Tempo de todas as estações; solo de todas as vegetações.
Floresta, que carrega em si o Verbo ancestral de todo o colosso humano,
Não nos deixe esquecer o som do seu farfalhar e ficarmos surdos com os sons das correntes;
Não permita que matemos sufocados o azul e o amarelo que te faz verde,
E assim, doentes de nós mesmos, maldizemos em pensamentos e ações suas divinas criações.
Ser que com olhos atemporais
Observa os nossos atos impensados e imorais,
Conceda-nos a falange de sabedoria que te habita.
Conceda-nos a tribo de virtuosos trabalhadores que te fazem.
Que na sua noite sombria e misteriosa
Cultivemos a alvura da semente da esperança
E no sol que penetra em extensão somente a sua extremidade
Lembremos que ainda há tempo de nos iluminar
Para não devastá-la na penumbra de nós mesmos,
E nem refutarmos as nossas ignorâncias
Na perfeita luz do dia,
Que nos exige transparência.
Sagrado pulmão da Terra
Amoroso coração do Planeta
Acolhedor útero dessa pequena centelha
Mantenha-se firme em suas raízes horizontais, e celestial em seus troncos verticais,
Para que não nos esquecemos da gratidão pela a nossa efêmera passagem a terra, e principalmente, para que relembremos a nossa missão de voltar para a Casa.
Mantenha-se firme, para que, os que ainda têm olhos para ver, possam mirá-la e terem força para adubar o seu Ser e escaldar o seu Verde.
Mandala de Simone Bichara – Texto de Daniella Paula Oliveira