3º Encontro sobre os Laptops na Educação/OLPC
14 de setembro de 2010
Auditório Prof. Romeu Landi, USP, S. Paulo.
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Um grupo de professores tuitou a partir do auditório do evento. Neste documento fizemos, em tempo real, uma síntese desta tuitagem toda contando também com a revisão, correção e complementação dos próprios tuiteiros presentes.
A seguir, destaques de todas as falas deste encontro. Um relato ilustrado com fotos pode ser também lido no blog Educa Já, da profa. Cybele Meyer.
Abertura e boas-vindas
- Na abertura do encontro Rodrigo Arboleda e Roseli Lopes fizeram um retrospecto histórico e lembraram o caráter indutor de mudanças educacionais que a tecnologia pode ter.
Rodrigo Arboleda
- Trabalho em equipe, acesso personalizado ao conhecimento, diminuição drástica da hierarquia entre professores e alunos.
- Aprender fazendo é mais importante que os conteúdos, ajuda muito mais a memória profunda, melhora a concentração
- Aprender a programar é a pedra filosofal do aprender a aprender
- O mais importante é desenvolver a capacidade criativa das crianças, não dar o peixe, ensinar a pescar, a construir a vara e a pensar em soluções para quando a água acabar...
Os Projetos da OLPC no Brasil: acontecendo em sala de aula
Parte 1
José Armando Valente (UNICAMP)
- Relata a experiência na EMEF Padre Emilio Miotti, de Campinas.
- Investiu-se na autonomia da escola para a tomada de decisões quanto ao projeto.
- Nesta escola usa-se o XO (laptop educacional da OLPC) em atividades de robótica.
- Inovação tecnológica impulsionando a inovação pedagógica, que é a mais importante
Maria Elizabeth Almeida (PUC-SP)
- A indução de mudanças proporcionada pelos laptops educacionais converge com a filosofia de Paulo Freire.
- "Uma coisa é acreditar/ter o discurso da mudança e outra é efetivamente militar na prática diária"...
- “Imersão tecnológica faz grande diferença na cultura digital da escola”.
- Inovação pedagógica é muito mais difícil que a tecnológica, que já está dada; e a interação multidirecional é o primeiro da lista de desafios da inovação pedagógica.
- "Os currículos possuem alto grau de prescrição. O laptop na mão da criança ajuda a quebrar isso"
- Apresenta o projeto UCA (Um Computador por Aluno) levado adiante em Palmas (TO): envolveu toda a comunidade de educadores e profissionais do sistema, inclusive funcionários, que também precisam compreender do que se trata.
- A entrada dos laptops na escola mudou a gestão da sala (com o aluno monitor), o tempo e a dinâmica de aula, bem como o currículo.
- Vídeo com matéria exibida na TV local nos primeiros meses de uso dos laptops educacionais em Palmas (TO): http://www.youtube.com/watch?v=Qg6F5RMwoqk
Léa da Cruz Fagundes (UFRGS)
- “Nós brasileiros podemos sim oferecer modelos de reflexão sobre a prática pedagógica para o mundo”.
- "O que perseguimos na educação é o desenvolvimento humano!".
- "Precisamos praticar valores para novos modelos de sociedade", em lugar de "formar para o mundo da tecnologia".
- “É preciso estudar a entrada da escola na cultura digital, não do digital na escola”.
- "A tecnologia não é neutra. Precisamos conhecê-la para fazer o melhor uso dela".
- Na experiência de Porto Alegre, professores quiseram aprender com os alunos. Não precisou de curso de capacitação.
- Uma curiosidade constatada em Porto Alegre: quem usou o XO teve mais facilidade para usar outra máquina depois. É preciso investigar este impacto da interface e do projeto global do XO, que não é tecnológico mas sobretudo educacional.
- Vídeo com matéria do Jornal Hoje da época em que os laptops chegaram, ainda com poucos meses de aplicação em Porto Alegre: http://www.youtube.com/watch?v=_f9Fdj_Gu9c
Os Projetos da OLPC no Brasil: acontecendo em sala de aula
Parte 2
Roseli de Deus Lopes (USP)
- Lembra que haverá continuamente mudanças nos equipamentos, e é preciso incorporar isso ao longo do tempo.
- Relata a experiência conduzida numa escola da periferia de S. Paulo desde 2007.
- Resultados apontam para uma atitude mais colaborativa dos alunos, mais autônomos, mais envolvidos, concentrados, com mais foco na busca de soluções de problemas.
- O professor não é aquele que tem de controlar tudo, controlar a turma. O professor tem que acompanhar os processos dos alunos.
- Apresenta depoimentos de alunos monitores, que auxiliam no dia a dia com os laptops nas salas de aula.
- Exibe alguns vídeos com crianças usando o laptop na escola.
- Canal de vídeos no Youtube sobre a experiência em S. Paulo: http://www.youtube.com/user/ucaprojeto
Mauro Pequeno (UFC)
- Fala sobre a única escola de ensino médio que faz parte do projeto UCA (http://uca-ce.blogspot.com).
- Ela está integrada com as demais escolas pertencentes ao projeto UCA porque o objetivo é o mesmo: melhorar a aprendizagem.
- Vestibular eliminado na UFC. Enem será a única baliza - uma forma de combater Ensino Médio conteudista
Marcelo Otte (Fundação CERTI)
- CERTI: pioneiro no uso de laptops educacionais no Brasil, desde 2005, em Florianópolis.
- Como em SP e em Porto Alegre: laptop nas mãos dos alunos e deixa-se que eles explorem livremente.
A OLPC no mundo: das experiências ao uso pelos paises
Gullermo Spiller (Projeto Ceibal – Uruguai)
- Fala do Plano Ceibal como um motor de revolução social no Uruguai - http://www.ceibal.edu.uy
- Um laptop para cada aluno e cada professor, simplesmente TODOS os alunos, TODOS os professores do país. 380 mil laptops: 362 mil para alunos e 18 mil para professores. Números que exprimem a importância que o país vem dando à Educação.
- Exibe um vídeo mostrando professores e as crianças uruguaias com seus uniformes tradicionais constrastando com os laptops coloridos.
- Outros vídeos do Plano Ceibal: http://www.youtube.com/canalceibal
Felipe Rodriguez (Peru)
- Fala da experiência no Peru. Pobreza extrema. Alunos que levam 2 horas para chegar à escola e mais 2h para voltar pra casa.
- Na primeira etapa uso individual do laptop; na segunda, uso socializado.
- No Peru 118.520 mil docentes capacitados.
- Fatores de êxito:
- sólida proposta pedagógica;
- normas claras (MDE-DRE??);
- estudantes aplicam tecnologia na aula;
- comunidade educativa (docentes, estudantes, APAFA) motivados;
- gestão de suporte técnico;
- supervisores e monitores para acompanhamento;
- docentes capacitados;
- distribuição dos laptots feita pelo MED- DRE - UGEL (ministério da educação??)
- Todos precisam estar falando a mesma língua no que se trata da proposta pedagógica.
- Laptop é um centro de recursos em si mesmo.
- Os processos pedagógicos precisam acontecer ao mesmo tempo que o de distribuição.
- Processo de capacitação docente envolve planejamento e supervisão
- Resultados no Peru - compreensão de texto:
- 2008 e 2009 6.8% e 10,05% no nivel 2
- idem 42,8 e 48,4 no nivel 2
- matemática mesmos anos nivel 1 7% e 7,5%
- nível 1: 33% e 29,9%
- Resultados mostram um alto interesse das crianças pela escola, aumenta criatividade, a responsabilidade de ir ao colégio e estarem mais atentos ás aulas, se comprometem consigo mesmos, são livres para decidir o que fazer e demonstram mais iniciativa.
- Conta a história do filósofo na praia com estrelas do mar morrendo e uma criança tentando salvá-las.
Juliano Bittencourt (Ruanda)
- Brasileiro que trabalha para OLPC e mora em Ruanda, dá suporte para iniciar o projeto naquele país.
- Localização de Ruanda no centro da África, colonizado pelos belgas, fica entre cadeias de montanha que trazem sérias conseqüências para a economia do país.
- Sofreu com a guerra que matou quase 1 milhão de pessoas... conseqüência do processo de colonização que colocou uma etnia contra a outra. Não existia neutralidade. O genocídio durou 3 meses, entre as consequências, o ministério da educação tinha apenas 3 funcionários. Todas as instituições começaram do zero, professores morreram ou tiveram que fugir para não morrer.
- Ainda hoje os desafios são enormes. Tem a maior densidade populacional da África por conta da alta taxa de natalidade após o genocídio. Não tem recursos naturais. Criaram o visão 2020 que escolhe serviços como turismo (por conta das blas paisagens) e TICs como motor de crescimento econômico: as pessoas são o maior capital do país.
- Ensino até aqui baseado na memorização, professores sem qualificação, crianças ainda assim acreditam na escola.
- Memorizam procedimentos para entrar em um laboratório, mas escola nenhuma tem laboratório... !!!) tudo para manter o controle sobre as pessoas, impedir que cresçam...
- A OLPC começou em Ruanda como estratégia para promover uma mudança na educação e desenvolvimento das pessoas. Partem do principio que é preciso correr antes de andar.
- Total de 110mil XO em fase de implantação, 10mil já distribuidos.
- Alunos de 3ª a 6ª séries em 150 escolas espalhadas pelo país (sem saturação). A escolha da 3ª série se deu porque é nessa fase que os professores começam a estimular os alunos a deixar a escola, só ficando os bons alunos para que os índices de aprovação sejam melhores...
- Como implementar em escala e com qualidade? Não existem receitas, apenas idéias
- Desafio da escola: em julho foram formados 300 diretores de escola em 1 semana. Se seguirem esse modelo com professores vão levar 3 anos! A solução é treinar formadores.
- Formação de professores é um processo muito longo que dificilmente se escala com qualidade
- É preciso pensar espaços dentro e fora da escola como espaços de intervenção, principalmente qdo as crianças levam os laptops para casa
- Usam modelo de crescimento (MoG): mudar a cultura de aprendizagem dentro e fora da sala de aula, trabalhar estratégias micro/macro, instanciar exemplos poderosos de laptops e aprendizagem.
- Mais importante que a formação de professores é o tipo de formação: ela precisa ser tão inovadora quanto a proposta que se pretende implementar.
- Trabalham com parcerias como uma instituição que trabalha com mapeamento e desenvolveram um software para trabalho com mapas, outras para desenvolver jogos
- Relata o projeto com o livro “Curiosidade Premiada” (que traduziram para o projeto) para trabalhar o aprender a fazer perguntas.
- O que aprendemos:
- a diferença acontece quando levam os laptops para casa. Na escola são sub-utilizados;
- não deve ficar sob controle da escola;
- modelos de contágio -saturação: quando se satura toda uma região com laptops, muito mais gente aprende e se espalha;
- formação é um processo contínuo e de longo prazo;
- oferecer modelos prontos e manuais não resolve: é preciso criar novas referências de práticas pedagógicas;
- professores precisam ser integrados em redes sociais de suporte, onde possam compartilhar suas experiências; redes sociais aqui podem ser via celular
- criaram uma base de capital humano e estabeleceram um modelo de uso de laptops para pautar a discussão sobre o projeto
- mudaram a compreensão de administradores sobre do que esse projeto se trata, estabeleceram parcerias com outros atores sociais além do governo para contribuir com o projeto.
Educar em tempo de Laptops
Nelson Pretto (UFBA)
- Qual é o conceito de educação que temos e o que pensamos para educar com essas tecnologias.
- Grande problema que tem por foco só a tecnologia é o acelerado desenvolvimento das tecnologia que torna obsoleto rapidamente o que se tem.
- É preciso pensar que essa é a geração que atua com múltiplas telas ao mesmo tempo.
- Acostumamo-nos deixar de lado a compreensão da Internet e seus aparatos e insistimos que essas tecnologias são ferramentas auxiliares da educação... como ferramentas nos deixam escravos.
- Tecnologia é elemento de cultura, é estruturante da comunicação, dai a importância de se ter tecnologia que amplie o poder de comunicação.
- É fundamental compreender que não tratamos de tecnologias educacionais, pegamos todo o potencial presente pela natureza e a colapsamos nos moldes didáticos/pedagógicos. Temos problemas fundamentais de politicas publicas como o medo de se investir em educação em projetos que não sejam estritamente educativos. Temos que ter cuidado fenomenal com números e estatísticas. Não é possivel pensar que apenas as tecnologias são responsáveis pelo aumento nos números de aprovação.
- "Se esses projetos entrarem na escola apenas para ajudá-la a funcionar como ela está, eles não nos interessam".
- Esses laptops educacionais são na verdade laptops de comunicação, vão na verdade atrapalhar a educação: e isso é o que se precisa... não pode existir apenas uma concepção pedagógica, não é possível se ter apenas a identidade de um projeto. Ele nasceu com uma concepção pedagógica já pensada. é preciso uma escola produtora de cultura e de conhecimento. O perigo é se cair novamente no instrucionismo
- O problema é o uso de máquinas com uma pedagogia embarcada.
- Precisamos formar professores, todos dizem isso, ocorre que ai aparece um problema: não há projetos (1)com outras concepções na formação de professores, (2) faculdades de educação que continuam colocando no mercado professores que desconhecem solenemente o que acontece na sociedade. Se o prof é bem formado na faculdade, o trabalho de formação como esses dos laptops seria mto menor.
- Tecnologia só é educativa quando o professor se apropria dela.
Maria de Fátima Franco ( UFMG)
- Apresentação on line aqui :http://tinyurl.com/284f43a
Clique em visualizar junto, na barra de ferramentas inferior, para trocar ideias. - Denise falando sobre a preparação do 2º Encontro do ProUca na Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro.
- Feliz por ver que os Projetos estão caminhando e sensibilizando todos que nele estão envolvidos.
- Começando a apresentação da Fátima Franco - Pesquisa entrevistando os próprios integrantes do curso - Perguntas:
- Utiliza e-mails todos os dias?
- Sabe reconhecer as mensagens de spam?
- Participa nas Redes Socias?
- Listas de Discussão? Sim 35% - Não 64%
- Fóruns educacionais - Sim 40% Não 60%
- Usa Msn?
- Já participou de video conferência
- Lê blogs?
- Escreve m Blogs? Deixe seu link
- Utiliza recursos web 2.0 em aulas
- usa computador em aulas? Sim 7% PPT 15% não usa 78%
- Uso de wikis sim 9% não 88% não conhece 3%
- Um Projeto desenvolvido pela Federal de MG :está fazendo uma re-qualificação de todos os professores de Minas
- Hoje os professores estão se procurando para se ajudar.
Denise Vilardo - Rede Peabirus - (Colégio Graham Bell - RJ - Fundadora dos Encontros de OLPC)
- Temos que acabar com alguns mitos de que o computador afasta as pessoas.
- Queremos formar gente de verdade. Chega de Phd que acabou com o Planeta.
- Os alunos têm que aprender a programar para não serem programados.
- Se não for para instalar o caos não faz sentido o que estamos fazendo aqui.
Rosália Lacerda
- Uma reflexão para o encerramento do evento: sobre uma escola de Porto Alegre - “Luciana de Abreu” - Rosália Lacerda que está contribuindo
- Como se dá o processo de mudança dentro da escola com a chegada dos laptops?
- Os professores perceberam que o seu uso trouxe uma maior busca pela pesquisa e uma vontade maior de aprender.
- Este sentimento se espalhou também pelas famílias;
- Colaboração entre os alunos e o envolvimento e assiduidade dos alunos;
- Vontade de fazer alguma coisa com este recurso, porém passado este primeiro momento de inovação, muitos querem retornar ao que era antes.
- Acabam buscando uma situação intermediária entre o que era e o uso do laptop - gera um desiquilíbrio pois não se tem mais a configuração anterior da escola. Dentro desta nova configuração nós temos 3 etapas de uso do laptop:
empolgação, recuo e interesse. Estas etapas acabam se interligando e proporcionando um bom caminho.
- O ideal é a sintonia entre escola, família e aluno no uso da tecnologia.
- Finalizando:
- Um grupo vê a possibilidade de ganhar poder
- Outro grupo vê a possibilidade de perda de poder.
- Em qualquer processo de mudança pode haver ganhos e perdas, o principal é que mudanças ocorrem.
- O caos está estabelecido em nossas cabeças!
- Agradecimentos ao LSI - Roseli de Deus - a todos os colegas que trabalharam para que o evento fosse possível, aos convidados do Uruguai e Peru, Rodrigo Lara Mesquita.
- Este projeto é child centered e não teacher centered - há um milhão de crianças envolvidas com os laptops. Com a velocidade com que tudo caminha é preciso saber que as crianças são uma missão e não um mercado.
- Agradecendo a nossa presença.
- Boa noite!
Nota sobre a autoria desta síntese
Este foi um trabalho realizado a várias mãos. Wilson Azevedo foi o organizador e um dos co-autores. Cybele Meyer, Denise Vilardo, Lilian Starobinas, Maria de Fátima Franco e Mirian Salles foram co-autoras voluntárias ou através do Twitter ou diretamente redigindo e complementando o texto. Em comum todos possuem uma característica: participam do grupo de discussão “Blogs Educativos”. Mas outros foram também co-autores involuntários que simplesmente tuitavam a partir do auditório do evento e acabaram tendo, assim, algumas de suas frases ou expressões aproveitadas aqui. É possível que esqueçamos algum nome, mas com toda certeza Nelson Pretto, Bianca Santana, Cassio Ribeiro e Cris Mattos são também indiretamente co-autores deste texto, ainda que não o saibam.
Para a realização deste trabalho contamos com os recursos do GoogleDocs. O documento foi criado e os co-autores adicionados. Com netbooks, smartphones e notebooks aqueles que estavam no auditório ou enviavam tweets ou acessavam diretamente o Docs. Os tweets eram lidos, organizados e aproveitados no texto por quem não estava em S. Paulo, mas acompanhava a distância o evento por aqui.
Organizador e co-autores deixam aqui esta nota como um incentivo a que outros, com o uso de recursos tão simples quanto GoogleDocs, sintam-se motivados a fazer o mesmo de forma colaborativa com eventos, cursos, congressos, encontros, palestras etc, produzindo assim recursos educacionais abertos como este.