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Desafio (colônia de férias)
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Arrepios percorrem por todo o meu corpo cada vez que eu adentro mais naquela casa. A beleza e exuberância que exibe não conseguem mascarar o medo que você sente ao estar dentro dele. Pinturas realmente belas ornavam as paredes daquele lugar, tentando trazer um ar mais sofisticado para o horror que estava prestes a encontrar.

Em todos os cômodos por qual passei haviam arranjos de flores que por certo, nunca cheguei a ver antes. Pareciam demasiado com rosas, porém, suas pétalas mais alongadas e grossas diziam exatamente que essa não era a sua espécie, além de que se apresentavam nas cores mais estupendas que eu um dia já vi. Conseguia perceber que ela escondia algum segredo por trás de toda aquela beleza magnética a qual se mostrava aos meros espectadores, como eu.

Um cheiro desagradável misturava-se com o odor cada vez mais forte das flores a medida que eu avançava por um corredor longo, estreito e de baixa iluminação. O medo que eu senti ao entrar naquela casa não se compara ao que eu estou sentindo agora, meu coração sufocado pelo pânico buscava desesperadamente por uma saída do meu corpo. Meu desejo era simplesmente correr para fora dali o mais depressa possível, mas eu simplesmente não podia fazer isso, tinha a necessidade de saber o que aconteceu ao meu irmão e a única pessoa que me daria essa resposta era o homem a quem eu estava indo encontrar.

Minhas mãos trêmulas e suadas subiam e desciam diversas vezes por minha coxa, queria conter ao menos um pouco de todo o nervosismo que percorria minhas veias. No final do corredor tinha uma porta larga que ocupava todo o diâmetro da parede de uma ponta a outra, também era a única porta presente ali. Por fim, encontrava-me de frente aquela estrutura de madeira maciça.

Um dos homens que me acompanhou por todo o caminho abriu a porta e deixou um espaço para que eu entrasse, porém, meu corpo inteiro ficou tensionado e não conseguia mover nenhum músculo. Não era capaz nem de ao menos distinguir o que estava diante aos meus olhos. Senti uma pressão sendo posta em meu braço esquerdo e meu corpo ser jogado para frente com certa brutalidade, antes que eu pudesse virar e dizer algo grosseiro para esse brutamonte a porta já estava sendo fechada e os dois sumiram por trás dela.

— Vejam só quem resolveu fazer uma visitinha. — Uma voz asquerosa espalhou-se por todo o cômodo e um mal estar se instalou em minha barriga. — Não faz ideia o quanto esperei pelo dia que eu fosse te encontrar novamente.

Franzi a testa não entendendo muito bem o que acontecia ali. Viro meu corpo ficando de frente para uma mesa de mogno e atrás dela estava o dono da voz que me causou náuseas, sentado em uma grande cadeira de couro que tentava transmitir todo o poder que eu sabia que ele tinha. Era um velho na faixa dos sessenta anos, os cabelos completamente brancos e uma barba bastante volumosa na mesma cor.

— Não sei do que está falando, nunca te vi em toda a minha vida — disse, tentando transparecer por minha voz toda a segurança que eu não tinha.

— Claro que você não lembra, era uma criança na época, bastante respondona se quer saber. — Um sorriso irônico brincava em seu rosto e eu engoli a seco. — Mas, tenho certeza que não foi para isso que você veio aqui, estou certo? — perguntou e eu neguei com a cabeça. — Sente-se, não queremos ter essa conversa com você de pé.

Andei até a extremidade da mesa e receosa sentei-me em uma das duas cadeiras postas em frente a ela.

— O que aconteceu com o Sebastian? — Sou direta, não gosto de enrolação e nos poucos minutos que o conheço, percebi que ele também não.

— Diretamente ao ponto, gosto assim. — O sorriso permanecia em seu rosto em todo o momento e eu apenas queria sair correndo dali o mais rápido possível. — Meu querido Sebastian — suspira. — Era um bom garoto, mas infelizmente cruzou o meu caminho da forma errada e eu não tive outra opção.

— O que você fez com o meu irmão? — grito completamente alterada e agora um sorriso de escárnio surge em seus lábios.

— Minha querida senhorita Campbell, você acha que eu não sei o que você está tentando fazer? — Perco a respiração diante ao que ele disse. — Espero que você saiba o que está fazendo e onde está se metendo. — disse enfatizando o você.

— Não estou entendendo o que você quer dizer — consegui manter minha voz firme sem deixar transparecer todo o meu desespero.

— Minha cara, não seja tola. Tenho certeza que não deseja ver todas as pessoas que ama mortas, estou certo? — sua voz saía controlada e ele não demonstrava nenhuma emoção. Respondi a sua pergunta apenas balançando a cabeça, negando. — Tudo no mundo é frágil demais, Amelia. Espero que você entenda isso e não faça nada que acabe com a paz na qual vivemos agora.

 — Eu entendo e pode ter certeza que não planejo fazer nada, estava apenas em busca de saber o que aconteceu com o meu irmão, mas parece que já descobri. — mentirosa, já pode mudar de curso e fazer artes cênicas Amelia.

— Fico feliz que entenda. — Cruzou as mãos apoiando-as em cima da mesa. Algo em sua voz me dizia que ele não acreditava em minhas palavras. — A vida é um jogo constante que termina apenas com a nossa morte, porém, não é qualquer um que consegue jogar e ganhar. Devemos aprender a seguir todas as regras e não inventar de criar novas. Você me promete que irá fazer isso e não tentará destruir o que já está em perfeita ordem?

— Eu prometo, pode ter a certeza que você nunca mais vai ouvir falar sobre mim. — tentei sorrir amigavelmente, entretanto, sabia que tinha saído mais como uma careta que qualquer coisa.

— Está vendo essa flor? — perguntou retoricamente. — Linda, não é mesmo? A vida é como ela, bonita, mas frágil, nossa responsabilidade é preservá-la e não deixar que morra. — Pega uma tesoura que tinha em cima da mesa e começa a cortar as folhas que pendiam no galho da flor. — Para você, espero que cuide muito bem dela. — estende o braço por cima da mesa deixando a flor perto de mim. Pego e ao tê-la tão perto, consegui sentir o aroma forte que emanava. Era algo adocicado e ao mesmo tempo azedo, um contraste gritante.

Levanto da cadeira e ele faz o mesmo, acompanhando-me até a porta fechada. Abriu-a e deu passagem para que eu saísse, foi o que fiz. Tentei andar o mais rápido possível para sair logo dali, ao longe consegui ouvir um “não deixe que ela saia”, tenho certeza que eu não deveria ouvir aquilo. Olhei para trás no exato momento que o mesmo sorriso irônico de antes estampava seu rosto. Não tive tempo para pensar no que fazer, apenas corri.

Tentava manter a minha respiração regularizada para continuar correndo. Parece que aquela casa foi feita exatamente para parecer um labirinto, pois não conseguia encontrar a saída e olhava para todos os lados tentando me direcionar e sair de uma vez daquele lugar.

Por fim, a porta pela qual eu entrei quando cheguei estava diante dos meus olhos e eu suspirei aliviada. Não tinha a noção de quanto tempo eu passei correndo pelos corredores daquela casa, também não tinha interesse em saber. Com cautela, abri a porta e olhei ao redor tentando decidir a melhor forma de sair dali. Voltei a correr o mais rápido que as minhas pernas deixavam, um vulto passou ao meu lado e sem que eu pudesse fazer alguma coisa senti um peso sendo jogado em cima de mim e meu corpo entrando em contato com o chão duro, por sorte havia caído na grama e ela amorteceu um pouco a queda.

— Você acha mesmo que vai conseguir sair daqui? Não seja idiota — fala divertido e pega uma faca do coldre preso a sua cintura. — O que acha de começarmos a destruir esse rostinho bonitinho? — Viro o rosto quando ele passa a ponta da faca por minha bochecha, sinto a pele rasgando e uma ardência no local do corte.

Ele segura minhas bochechas com força e eu gemo de dor pelo contato de seus dedos com o corte recém feito em meu rosto. Posiciono minhas pernas de uma forma que fique abaixo de sua intimidade e uso de toda a força que ainda existe em mim para chutar suas partes baixas. Com um grunhido de dor ele sai de cima do meu corpo colocando as duas mãos por cima dos testículos doloridos pelo chute, aproveito essa sua distração para levantar, porém, antes que eu pudesse voltar a correr senti um objeto perfurar a pele da minha perna e uma dor insuportável subiu por meus músculos.

Com cuidado retiro a faca da minha perna e vejo o sangue escorrendo. Sem pensar muito no que fazia, inseri a faca no abdômen do garoto e ele gritou pela dor. Abri a boca chocada com a minha atitude, mas não tinha tempo de ficar me lamentando por aquela ação, então volto a correr e já sou capaz de avistar o grande portão que cercava toda aquela estrutura atrás de mim.

Estava cada vez mais perto do meu destino, o corte em minha perna dificultava muito e eu não conseguia correr mais tão rápido como antes. Chego no meu destino com a respiração ofegante e o coração acelerado, olho para trás e para os lados conferindo se não havia ninguém por perto, de relance vi uma silhueta na varanda do último andar e aos poucos a pessoa foi ganhando forma. Era Marcus. Ele ergue a mão que segurava uma taça com um líquido que não conseguia distinguir e sorria. Ele divertia-se com toda aquela situação.

Rapidamente digito o código que Bruce havia me passado e com a pressa não consegui destravar o portão, isso acontece mais três vezes antes que eu, enfim, fosse capaz de sair dali.

Na medida que a adrenalina saía do meu corpo sinto as rajadas de vento soprando contra o meu rosto e a dor em minha perna triplicar. Não parava de correr, não posso parar. A neve cobre todo o chão abaixo dos meus pés e uma forte névoa não permite que eu veja muita coisa que esteja diante dos meus olhos.

A rua em que eu estava era completamente escura e eu buscava desesperadamente por uma saída. Uma saída daquele lugar, da minha vida e dos meus problemas.

Para onde eu vou agora? Tentava encontrar a resposta para aquela pergunta e para diversas outras que rondavam minha mente naquele momento, mas eu sabia que naquele lugar eu não encontraria nada, na verdade eu não fazia ideia de onde iria encontrar essas respostas. Talvez não tivessem uma.

Minha perna continua latejando e eu sinto o líquido viscoso escorrendo sem parar. Depois de um longo tempo correndo avisto um grande prédio abandonado e não perco tempo em correr na direção dele. Olhei para trás verificando se ninguém me seguia e ao constatar que não entro nele, sentando-me no chão e respirando pesadamente. Queria entender o rumo que a minha vida tinha tomado. Apertei a minha perna conferindo o corte profundo feito em minha perna e pressionei os lábios um contra o outro, tentando conter o gemido de dor.

No momento que eu coloquei os pés naquela casa, soube que não importava o que eu fosse encontrar, aquilo arruinaria minha vida. Apenas não sabia o quanto. Com os pensamentos fixos no que eu faria de agora em diante, permiti que meu corpo relaxasse um pouco, esquecendo da dor e adormecendo ali mesmo no chão frio.