Oi oi gente, esse é o tortinha de climão sinta-se em casa.
Pra quem não me conhece eu sou a marina, divulgadora científica, física e professora particular. E hoje vamos falar um pouco mais sobre papelada. sobre relatório gigantesco.
O propósito desse podcast é informar um pouquinho mais as pessoas sobre o que é, o que causa, e o que podemos fazer quanto ao aquecimento global. E eu pretendo voltar a fazer episódios mais... introdutórios, digamos. Explicar um pouquinho melhor sobre o que compõe a atmosfera. Falar de nuvens. Falar um pouquinho mais sobre balanço energético, essas coisas. Mas é impossível não aproveitar esse momento de divulgação de novos relatórios para falar um pouquinho deles.
Já falei bastante do IPCC por aqui né?
Resumão: IPCC é um painel da ONU, um juntadão de cientistas, que produz relatórios avaliando o que tem de mais relevante e recente nas ciências climáticas. Esse mundaréu de cientistas se dividem em três grupos. Então um relatório gigantão do IPCC na verdade são três relatórios gigantes, um pra cada grupo de trabalho.
O primeiro grupo de trabalho lida com as bases físicas, físico-químicas. O segundo grupo de trabalho lida com os impactos, adaptações e vulnerabilidades. e o terceiro com a mitigação. Uma forma de resumir os grupos de trabalho é pensar que o primeiro lida com "como foi que chegamos aqui?", "como é que estamos mesmo?" e "como saímos daqui?" No fim do ano passado fomos presenteado com a primeira parte desse relatório e agora, no início de 2022, sairam as duas partes faltantes. E é um pouquinho sobre "como é que estamos mesmo" e "como saímos daqui" que eu quero falar hoje.
E eu vou falar um pouquinho mesmo. Cada uma das partes do relatório tem mais de três mil páginas. É muito conteúdo. Então assim: confia em mim, ninguém que tá fazendo divulgação desses resultados leu os relatórios inteiros. Eu até apostaria que nem quem ajudou a escrever algum capítulo leu tudo. É coisa DEMAIS.
O que posso te garantir que todo mundo leu, o deveria ter lido, é o summary for police makers. Um resumão que a equipe produz para apontar os principais pontos, focado no público de gestores, de tomadores de decisões, de líderes de nações.
E tudo bem que não tenhamos lido quase dez mil páginas das três partes do relatório pra fazer divulgação. Primeiro porque esses relatórios não trazem ciência NOVA, e muito dos resultados apontados nele são bem conhecidos já pela comunidade científica. Segundo pq, como eu falei no primeiro episódio, falar de mudanças climáticas é falar de muita, muita coisa. Então dificilmente eu passaria todo conteúdo releante de uma das partes do relatório que seja em um único tortinha.
Por serem um grande compêndio da ciência climática, esses relatórios são fontes primárias para quase toda divulgação científica sobre mudanças climáticas e, aqui, não deve ser muito diferente.
Mas marina chega de enrolação e vamos falar do conteúdo desses relatórios.
Começando pela parte 2, pelo relatório do segundo grupo de trabalho, o que trata de impactos, adaptação e vulnerabilidade. algumas palavras chave desse relatório são riscos (definido como o potencial de reações adversas em sistemas humanos ou ecossistemas). vulnerabilidade, que é a exposição humana a esses riscos e ela é variavel entre sociedades, regiões, classes e tempo. ADAPTAçÃO, que é diminuição da vulnerabilidade as mudanças climáticas e Resiliência: que é a capacidade de recuperação depois de enfrentada uma adversidade
O relatório é um ótimo resumo, super bem embasado, de algo que a gente consegue pensar e concluir sozinho quase que com a nossa intuição. Primeiro dá uma olhadinha em volta, sua rua, seu bairro, sua cidade, e se possível seu país. Não é difícil notar que a gente vive em condições muito desiguais né? Agora imagina, um mundo com mais eventos extremos, como as chuvas que causaram estrago em petrópolis ou minas gerais... Dá pra gente concluir que a vulnerabilidade, varia muito entre nós né? É indicado no relatório uqe cerca de 3.3 a 3.6 bi pessoas vivem em contextos que são muitíssimo vulneráveis às mudanças climáticas. Uma boa proporção das espécies - de bichos e plantes - também são. E, claro, a gente não pode esquecer que humanos e ecossistemas são sistemas interdependentes né. O que acontece de ruim em um pode mudar completamente o outro.
Um dos principais resultados desse relatório é que como hoje nós sabemos mais coisas do que sabíamos há alguns anos, nós também somos capazes de prever um pouquinho melhor o futuro. Infelizmente o futuro que a gente prevê é meio ruim. Os riscos ficam muito grande muito rapidamente a cada décimo de grau, a cada 0.1 °C, que subimos na média da temperatura global. E isso indica que nos adaptarmos para ter um futuro com resiliência climática talvez seja mais difícil do que se pensava. E é por isso que é tão, mas tão importante, tentarmos manter o aquecimento em 1.5°C.
E também é por isso que precisamos dar bastante atenção para adaptação.
Imagina que a gente consiga, hoje, agora, nesse instante, parar de queimar combustíveis fósseis no mundo todinho. Tá tudo bem? Acabou mudanças climáticas? Infelizmente não. A gente já está num processo de aquecimento e de mudança para o sistema climático terrestre. Ainda precisaríamos nos adaptar a essas mudanças (até que o mundo atigisse nova estabilidade).
Ou seja, cidades costeiras precisam estar atentas, precisam de medidas para se adaptar a elevação do nível do mar. Regiões secas talvez precisem de um sistema de armazenamento e distribuição de água mais eficiente; E ó, não é qualquer adaptação que é adaptação válida hein. uma exemplo de maladaptação é a construção de quebra-mar ou paredões. a curto prazo isso realmente pode reduzir impactos de elevação de nível do mar, mas a longo prazo pode rolar o oposto, pode piorar a situação e aumentar os riscos para populações costeiras, aumentando a vulnerabilidade. O relatório indica que a melhor forma de garantir que as politicas de adaptação serão mesmo efetivas é ter uma abordagem multisetorial, não ignorar desigualdades e ter planos robustos para soluções duradouras, não só a curto prazo. E agora eu vou lembrá-los aqui que nosso papel, como indivíduo inserido numa sociedade é cobrar do Estado que essas adaptações sejam feitas. E bem feitas. E esse vai ser um lembrete presente em todos os programas daqui pra frente. Estamos em ano de eleições presidenciais e, mais que nunca, ter em mente a pauta da emergência climática é ESSENCIAL. Até pq, como aponta o relatório, se a gente quiser seguir o caminho de menor sofrimento, a gente precisa agir rápido. Existe uma janela oportunidade pra ação que tá aí deixando de estar escancarada pra ficar só com uma frestinha aberta. E antes de passar pra próxima parte do relatório eu quero ler um trechinho sobre desenvolvimento resiliente. Ler não pq tá em inglês e esse é um podcast em pt-br. Então vai aí uma tradução muitíssimo livre de um trechinho aqui
Desenvolvimento resiliente é possível quando governos, sociedade civil e setor privado fazem escolhas inclusivas e priorizam a redução de riscos, a equidade e a justiça. Um desenvolvimento resiliente é facilitado pela cooperação internacional e por todos os níveis de governo trabalhando com comunidades, instituições educacuionais e científicas, imprensa, investidores e negócios. E por desenvolver parcerias com grupos marginalizados, como mulheres, jovens, povos indigenas, e minorias étnicas.
Vê bem, essa não é uma afirmação bonita sobre como devemos esperar um mundo mais inclusivo para termos um futuro com menos sofrimento. Essa é uma evidência de que as nossas ações de adaptação terão mais resultados se os governos forem mais inclusivos e se formos mais participativos. Se precisamos mudar as coisas pro ar da mudança passar por essa frestinha de janela aberta logo, precisamos aceitar as evidências que temos, que elas apontam por um melhor caminho se ser seguido.
Agora falemos do relatório mais recente: o do grupo de trabalho 3, sobre MITIGAÇÃO.
Eu inclsuive vou fazer um resumo do resumo do resumo pra vocês: se a gente quer sair dessa bagunça climática a solução mais fácil eeficaz é PARAR DE QUEIMAR COMBUSTÍVEL FÓSSIL. Chega de petróleo, chega de carvão. Simplesmente chega.
Essa é a melhor opção pra lidar com o problema. Mas a gente sabe né, problemas complexos... soluções complexas.; Não tem como simplesmente pararmos DE UMA HORA PRA OUTRA de usar petróleo. Aliás,
E se você abrir o resumo para tomadores de decisão vai receber um tapão na cara logo de início: as emissões de gases de efeito estuva seguiram subindo entre 2010 e 2019. Pois é, pois é, o ipcc produzindo meia dúzia de relatório há uns trinta anos, e a gente falando da necessidade de diminuir emissões, acordo de paris e tudo e... ainda tamos num crescente de emissões.
Cada vez mais áreas urbanas estão emitindo e por mais que estejamos fazendo esforços pra mudar nossa matriz energética, esses esforços não estão dando conta de balancear o crescimento do consumo, da indústria, da necessidade energética, e todas essas coisas que emitem gases de efeito estufa.
Mas é importante lembrar que o mundo todo não emite co2 do mesmo jeito, nem no mesmo tanto. O brasil, por exemplo, tem uma emissão muitíssimo ligada ao uso da terra e agricultura, que é diferente de outros países. aliás, se você for dar uma olhadinha no volume de emissões de países africanos é um susto, a gente tá tão acostumado a ver recordes em emissões que até estranha quando percebe que alguns países emitem relativamente pouco carbono.
MaS depois de dar o tapa na cara de que as emissões subiram. vem uma boa notícia: mudar de matriz energética tá ficando cada vez mais barato. E de 2010 pra 2020 ouve um aumento significativo na presença de outras formas de gerar energia. Significativo mesmo. MAS ainda assim essas formas de produçãoo de energia, como solar e eólica, mal correspondem a 10% da produção total de energia. Ainda temos um longo caminho a percorrer.
Porque sim, eu to totalmente ciente que disse que não existe nenhuma chance de pararmos de queimar combustíveis fósseis de uma hora pra outra, numa canetada, num impulso desesperado para salvar o mundo. MAS isso não significa que não podemos e até devemos nos planejar pra parar de queimar combustíveis fósseis num futuro próximo.
Aliás, se a gente quiser manter o acordo de paris e não aquecer a terra pra mais de 1,5°C a gente precisa fazer mais. a gente brasil. e a gente o mundo. O relatório aponta que se todos os países seguirem a risca suas promessas ainda assim não conseguiriamos garantir esse futuro menos quente. A ação precisa melhorar.
Precisamos investir pesado em descarbonização e garantir que essas tecnologias sigam sendo cada vez mais acessíveis. E precisamos investir nas coisas certas
O relatório tem um gráfico ótimo mostrando o potencial de descarbonização e o custo envolvido. Energia eólica e solar são as grandes estrelas! economico e com um potencial incrível pra ajudar de forma efetiva na descarbonização. Já coisas como Captura de Carbono, que seria ter tecnologias para tirar o carbono do ar e armazenar num lugar que não aqueça o planeta, é uma péssima idéia. E cara.
Pode ser que daqui um tempo tenhamos boas tecnologias de captura de carbono mas a verdade é que não temos tempo. Precisamos garantir uma emissão mínima de gases de efeito estufa o quanto antes, então não dá pra ficar esperando solução mágica do elon musk não.
E olha que eu não to ignorando que precisamos sim remover carbono da atmosfera. porque por mais que a gente queira cortar todas as emissões a gente precisa encarar a realidade: não vai dar pra não emitir nada. Então, pra compensar esas emissões inevitáveis, precisamos de condições de remoção de carbono. E isso pode vir com soluções tenológicas de captura de carbono mas também podem vir com políticas de reflorestamento ou medidas sustentaveis de produção agrícola, por exemplo.
Enfim. A coisa tá feia e assunto é sério, mas esses relatórios trazem pra gente informações chave para tomarmos medidas efetivas para evitar um aquecimento pior. Ninguém disse que é fácil, mas impossível não é.
Por hoje é só. E me conta. Nos próximos episódios, o que você quer ouvir? Eu to doida pra falar de nuvem, pq é meu assunto favorito, mas você pode ter outro assunto favorito e pq não me mandar uma sugestão? manda email pra contato@tortinhadeclimao.com ou uma mensagem lá no twitter: tortinhaclimao.
Esse podcast é uma produção do dragões de garagem, se você quiser contribuir financeiramente basta ir na aba seja doador em dragoesdegaragem.com
O roteiro foi produzido por mim, marina, a edição de áudio é do maravilhoso thiago miro e a arte do tortinha de climão é da marina tomás. Muito obrigada.