História da televisão
Rogério Sacchi de F. Werneck
O termo “televisão” nasceu de um título de tese apresentado pelo cientista francês Constantin Perskyi, no Congresso Internacional de Eletricidade, em Paris, em 28 de agosto de 1900.
Ele usou a junção dos termos “tele” (longe) e “videre” (ver), do grego e do latim, respectivamente..
Outros termos que nomearam o evento não vingaram como a “telefoto”, a “radiovisão” e o “teletroscópio”.
Somente a partir da segunda metade da década de 1940, a sigla TV começa a aparecer para abreviar a expressão “televisão”.
O isolamento de um elemento químico, em 1817, pelo cientista sueco Jakob Berzelius, é considerado o início da história da televisão.
Ao observar o selênio, Berzelius percebeu que sua fotossensibilidade fazia com que desprendesse elétrons sempre que exposto à luz.
Em 1873, o inglês Willoughby Smith deu força a esta tese, a da transformação de energia luminosa em energia elétrica.
Em 1884, o alemão Paul Nipkow patenteou uma técnica que, teoricamente, garantiria a transmissão de imagens à distância.
Oito anos após, Julius Elster e Hans Getbel, também da Alemanha, desenvolveram a célula fotoelétrica.
No início do século seguinte, Vladimir Zworykin, russo naturalizado norte-americano, viabilizou um sistema de televisão mecânica, conseguindo transformar uma imagem em corrente elétrica.
Ele patenteou, em 1923, o iconoscópio, aparelho que fazia uso de um tubo de raios catódicos.
O cientista, pouco antes de morrer em 1982, cunhou a seguinte frase sobre sua participação para a invenção da televisão: “de tudo o que criei, acho que o melhor foi o botão de desligar”.
Os caminhos estavam abertos para o escocês John Baiard, que levou o título de “pai da televisão”.
No dia 7 de setembro de 1927, o norte-americano Philo Famsworth apresentou ao mundo a televisão eletrônica.
Os primeiros serviços de televisão
A Alemanha, governada pelo Terceiro Reich, foi o primeiro país do mundo a oferecer um serviço de televisão pública, em 22 de março de 1935.
Dez anos depois, já durante a Segunda Guerra Mundial, o país interromperia as transmissões.
Mas a Inglaterra tomou para si o título de pioneira.
Em 2 de novembro de 1936, quando inaugurou a BBC.
Pode-se dizer que a televisão nasceu dentro de um modelo reconhecido como público.
Havia nele a ideia de que as produções culturais deste meio, por pertencerem a um povo.
A Inglaterra ainda hoje mantém uma taxa a ser paga por todo usuário de serviços de rádio e TV.
Trata-se da licença-paga que quer garantir, em princípio, a obrigação das grandes redes de comunicação em satisfazer plenamente a demanda dos vários públicos.
Os Estados Unidos foram os primeiros a romper com este modelo, com patrocinadores e anunciantes sustentando a programação.
No modelo comercial, só se sustenta na grade de programação a atração que consiga audiência suficiente para garantir o retorno da publicidade.
Primeiras experiências no Brasil
Edgard Roquette Pinto - médico legista, antropólogo, professor e etnólogo - é conhecido como o “pai da radiodifusão” no Brasil.
Em 1923, graças a seu empenho, foi criada a primeira rádio no país. Mas coube a ele outro feito, também ligado às comunicações.
Em 1933, no prédio da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, localizado na Rua da Carioca, Roquette Pinto fez as primeiras experiências com televisão no país.
Junto ao cantor, compositor e radialista Henrique Foreis Domingues, o Almirante, e outros colaboradores, o professor criou um motor com dois eixos: em um deles ficava o aparelho de transmissão; no outro, o de recepção.
O Brasil foi apresentado à televisão, oficialmente, no dia 2 de junho de 1939.
A imprensa assistiu à demonstração, a primeira da América Latina, no pavilhão de entrada da Feira de Amostras do Rio de Janeiro.
No dia seguinte, foram realizadas exibições em circuito fechado para convidados.
O primeiro serviço da TV brasileira
O primeiro país da América Latina a ter um serviço de televisão foi o México, em 1º de setembro de 1950.
Dezoito dias depois foi inaugurada oficialmente a TV brasileira.
Mas a TV Tupi-Difusora, PRF-3, já realizava seus testes de transmissão em circuito fechado meses antes.
Por meio de Assis Chateaubriand a TV nasceu dentro do modelo comercial.
Assis Chateaubriand foi o dono do primeiro império de comunicações do Brasil, os Diários Associados.
Em seu auge, os Diários detinham 34 jornais, 25 emissoras de rádio, 18 de televisão, 18 revistas e duas agências de notícias.
O paraibano de Umbuzeiro, nascido em 4 de outubro de 1892, era analfabeto aos 10 anos; aos 21, formou-se em Direito.
Chatô, como também era conhecido, nutria uma paixão pelo jornalismo desde os 14 anos, quando trabalhava como aprendiz de repórter em um jornal pernambucano.
Em 1924, ele comprou O Jornal, o primeiro veículo de seu império.
Ele cresceu e fez seu negócio expandir-se utilizando, sem pudor ou vergonha, o poder da comunicação contra seus desafetos políticos e pessoais.
Pelo Masp, fundado por sua iniciativa, ele arrematou obras em leilões internacionais e mandou cobrar a conta de empresários paulistas - e eles pagavam.
TV para poucos e para muitos
Ao final do ano de 1950, havia aproximadamente 344 mil aparelhos receptores de televisão no Brasil.
A chamada elite brasileira de então, que tinha condições de adquirir um televisor, cultuava certos valores e referências culturais que, pretensamente, diferenciavam seu espírito do gosto popular.
Dentro deste contexto, programas como “Grande Teatro das Segundas-Feiras” (São Paulo - 1951), “Câmera Um” (Rio de Janeiro - 1956) e “TV de Vanguarda” (São Paulo - 1952) justificavam seu espaço na grade de programação.
Em 1960, havia 622 mil aparelhos de TV no país.
Uma nova classe econômica estava ocupando a sala como telespectadora: a classe média.
Segundo o Censo do IBGE, em 1970 existiam 4,3 milhões aparelhos de televisão no Brasil.
Uma década depois, subiu para 14 milhões.
Nestas duas décadas, a televisão consolidou sua linguagem, quase que totalmente independente do rádio e do teatro.
A TV no Brasil torna-se mais industrial e competitiva, esperando da audiência respostas rápidas.
Chegando aos anos 1990, o aparelho de TV já era o eletrodoméstico mais vendido no país.
Agora, a TV Digital coloca em xeque toda estruturação da programação novamente.
Telejornalismo no Brasil
Assis Chateaubriand gostava de ser reconhecido como jornalista.
Como tal, fez questão de colocar no ar, no dia seguinte ao da inauguração, em 19 de setembro de 1950, o primeiro telejornal brasileiro, intitulado “Imagens do Dia”.
Sem hora certa para entrar, o programa narrava assuntos sobre imagens que haviam sido filmadas ao longo do dia e durava o tempo que elas rendessem.
O jornalismo na TV buscava uma linguagem própria, a partir da estreia do “Repórter Esso”, na TV Tupi, em 1º de abril de 1952.
Com notícias abastecidas pela Agência Nacional e pela United Press, o noticiário, que entrava no ar às 19h45, começou a criar um público cativo. A linguagem deste programa ainda estava muito centrada na figura do locutor, herança do rádio.
Gontijo Teodoro (Rio), Kalil Filho (São Paulo), Luiz Cordeiro (Belo Horizonte), Edson de Almeida (Recife) e Helmar Hugo (Porto Alegre) foram seus grandes representantes.
O “Repórter Esso” teve o mérito estilístico de trazer para o jornalismo televisivo o gosto pelas frases curtas, concisas e sem adjetivação.
Em 31 de dezembro de 1970, foi ao ar pela última vez.
O “Jornal de Vanguarda”, criação de Fernando Barbosa Lima, que estreou em 2 de outubro de 1963, na TV Excelsior, foi aquele que traduziu para a televisão a expressão do jornalismo, independentemente do rádio e dos impressos.
Original e revolucionário, o programa trouxe o tom informal à notícia.
Introduziu a figura do comentarista especializado e do colunista social, reinterpretando notícias com gosto de humor e crônica.
Como dizia seu slogan, era um “show de notícias”, com um elenco de jornalistas e intelectuais de peso: VillasBôas Corrêa, Tarcísio Hollanda, Newton Carlos, Sérgio Porto, Millôr Fernandes, Ricardo Amaral, Gilda Muller, Borjalo, entre outros.
Após o Ato Institucional nº 5 (AI-5) e o recrudescimento da censura militar ao jornalismo, Fernando Barbosa Lima retirou o jornal do ar, em 1968.
Os telejornais têm no “Jornal de Vanguarda” a grande referência, respeitadas as evoluções técnicas e tecnológicas.
O “Jornal Nacional” (1/9/1969), da TV Globo, foi o primeiro telejornal a ser exibido em rede e ao vivo.
Na era da segmentação, merece destaque a Globonews (15/10/1996), o primeiro canal de notícias 24 horas no ar da América Latina.
O “TJ Brasil”, que estreou no SBT em 4 de setembro de 1988, teve o mérito de trazer para a bancada do telejornal o primeiro jornalista a assumir a figura de âncora: Boris Casoy.
Ele apresentava o jornal, comentava a notícia, entrevistava do estúdio e opinava, deixando clara a postura editorial do programa.
WERNECK, Rogério Sacchi de F. Televisão. In: LAIGNIER, Pablo; FORTES, Rafael. Introdução à história da comunicação. E-papers, 2009. p. 91-103.