ENTREVISTA COM GABRIELA BILÓ, FOTOJORNALISTA DO ESTADÃO
-A quantidade de mulheres no fotojornalismo é inferior à de homens na profissão, como você lida com isso e com o machismo na área?
Gabriela Biló: Faz muita falta ter mais mulheres. O dia a dia pesa, a gente repassa na cabeça milhares de vezes as situações tentando se convencer de que não foi machismo, que faz parte do jogo, que somos vistas como iguais, mas ao fim, percebemos que não, o machismo é sempre presente. Eu nem sempre consigo responder de imediato ao machismo, as vezes você é pega desprevenida, as vezes fica sem resposta sem entender direito o que acabou de acontecer. Eu tento fortalecer minha mente, tento responder na hora, mas nem sempre consigo.
-Durante a sua trajetória, qual foi o momento mais marcante?
G: Acho que o dia que o Estadão me chamou para freelar pela primeira vez. Eu era freela em uma pequena agencia, achava que eu era invisível, foi a primeira vez que eu pensei que talvez tivesse uma linguagem que alguem pudesse se identificar. Fora isso, a cobertura do posse preside
Acho que o dia que o Estadão me chamou para freelar pela primeira vez. Eu era freela em uma pequena agencia, achava que eu era invisível, foi a primeira vez que eu pensei que talvez tivesse uma linguagem que alguem pudesse se identificar. Fora isso, a cobertura do posse presidencial do Bolsonaro. Foi a minha primeira posse, lembro de tremer de nervoso, mal dormi aquela noite.
-Ser fotojornalista sempre foi sua escolha ou houve momentos de dúvida? A falta de representatividade fez você pensar em desistir em algum momento?
G: Eu tenho duvida até hj rs. Ja quis ser de tudo,já fui muita coisa, de garçonete a apresentadora de web canal, sou em geral uma pessoa pouco satisfeita. A falta de representatividade nunca foi um fator pra decisão, pelo contrário, aí que dá vontade de ficar mesmo e trazer mais mulheres.
-Em sua carreira, fotos de eventos políticos são predominantes, qual o maior desafio de fotografar esses momentos?
G: A concentração, longas horas de espera, agilidade para perceber que as noticias estão mudando, inclusive ao decorrer da pauta. Conseguir de posicionar bem e tentar não errar na leitura política.
-O olhar é o diferencial do fotojornalismo, mas como os equipamentos auxiliam na qualidade do trabalho?
G: Uma tele boa e uma câmera rápida fazem um tipo de cobertura, fazem você ter mais possibilidades principalmente se o assunto está longe e mal iluminado, mas muitos fotógrafos fazem um trabalho de excelência sem isso. O exemplo é o Orlando Brito.
-Qual dica você daria para mulheres que querem entrar no fotojornalismo?
G: Não desistam, O fotojornalismo é duro para qualquer um, especialmente nós. Use o machismo como combustivel, não desanime. Só o fato de você estar lá presente já é revolucionário, já faz diferença para todas nós mulheres, venha.
-Alguma mulher te inspirou ou inspira até hoje?
G: Muitas, minhas principais referencias sao mulheres: Margaret bourke White, Annie Leibovitz,Claudia Andujar, Ana Carolina Fernandes.
-Você pensou em desistir quando teve seus dados vazados? Qual foi a maior preocupação nesse momento?
G: Não, por isso jamais. Minha familia, que não tem nada a ver com as minhas escolhas de vida e estava na mira das ameaças ali. Uma coisa é você enfrentar as escolhas das suas decisões sozinha, outra é quando envolvem as pessoas que você mais ama.
-Qual foi a maior dificuldade de seguir carreira na área?
G: Para mim foi devido a minha dedicação, negligenciar parte da vida afetiva, social e familiar. São longas horas de trabalho, muitos plantões, sem feriados, sem horário fixo. Isso piora ainda mais no começo da carreira, pq a remuneração é ruim. Acho que o desafio aí foi acreditar que valeria a pena os sacrifícios.
*Entrevista feita por Ana Clara Lopes, estudante de jornalismo, com Gabriela Biló, do Estadão.