Redação nas mídias convergentes
Dad Squarisi
O xis da questão não reside no que dizer, mas no como dizer.
Três fatores ditam a linguagem a ser usada: o veículo, a natureza do texto e o público.
O rádio exige coloquialismo. A tevê, agilidade.A web, síntese. O jornal, tudo isso e algo mais.
O editorial pede terno e gravata, nunca smoking.
Reportagens, entrevistas, perfis vão bem de blazer e calça jeans, mas nunca de bermuda e camiseta.
Colunas, crônicas e blogues podem aparecer de sunga e sandália ou traje de baile.
No exercício da profissão, somos poliglotas da nossa língua.
Mas seja qual for o veículo, o destinatário, a mensagem precisa atender a dez quesitos essenciais.
Os dez mandamentos comunicação eficaz:
- Seja adequado: texto orientado para cada tipo de conteúdo;
- Seja claro: a clareza ajuda o público a entender a mensagem;
- Seja preciso: a precisão tem íntima relação com as palavras, o vocábulo certo para o contexto correto;
- Seja natural: o texto um toque humano;
- Seja fácil: textos curtos, precisos e prazerosos;
- Seja leve: busque a frase elegante, com clareza e simplicidade;
- Seja respeitoso: evite palavrões, obscenidades e expressões chulas;
- Seja surpreendente: surpresa chama a atenção e desperta a curiosidade;
- Seja dinâmico: abuse de verbos e substantivos concretos, preferindo a voz ativa;
- Seja gentil: fuja de preconceitos.
Elementos do estilo
Os tempos são convergentes de mídias.
O redator desempenha funções no impresso, rádio, tevê e internet.
Além de conhecer as idiossincrasias de cada veículo, ele precisa dominar a linguagem.
A tarefa exige que se transite com desenvoltura pelas múltiplas possibilidades linguísticas:
- Palavras simples e curtas: entre dois vocábulos, fique com o mais curto e entre dois curtos, o mais simples;
- Vocábulos concretos: o específico informa melhor que o genérico, definido, melhor que o vago e o concreto, melhor que o abstrato;
- Substantivos e verbos: dão voz ativa ao texto;
- Adjetivos denotativos: o denotativo particulariza o objeto, não emite opinião, informa, enquanto o subjetivo ou afetivo limita-se a registrar o julgamento de quem escreve, portanto, pretensioso;
- Advérbios informativos: advérbio é adjetivo do verbo, desse modo, ee não for para indicar com exatidão, pode ser retirado da frase, usa-se com cautela;
- Artigo definido: presta-se à confusão de significados, exigindo atenção redobrada;
- Gênero explícito: cargos e funções, se exercidos por mulher, escrevem-se no feminino;
- Forma positiva: o “não” provoca arrepios, a regra é dizer o que é, não o que não é;
- Voz ativa: é mais direta, vigorosa e concisa que a voz passiva;
- Verbos de sentir: os verbos declarativos aceitam a conjunção integrante (que, se), expressando emoção, estado de espírito, reação psicológica;
- Frase curta: opte por frase curta e na ordem direta;
- Gerúndio: evite a todo custo, pois denota imprecisão;
- Ordem direta: a memória funciona a curto prazo e a ordem direta ajuda a reter melhor a mensagem;
- Ordem de colocação: as palavras gozam de plena liberdade, pois isso é preciso clareza e coerência;
- Harmonia: a frase harmônica soa bem e tem ritmo;
- Truque do três: trios bajulam os ouvidos (Pai, Filho e Espírito Santo; “Liberdade, igualdade e fraternidade”);
- Diversidade: as repetições (sons, palavras ou estruturas) transmitem descuido e pobreza de vocabulário, a solução é suprimir ou substituir por sinônimo;
- Concisão e clareza: conciso não significa lacônico, mas denso e clareza está na ordem direta;
- Verbos-ônibus; ter, ser, estar, haver, dizer, fazer e ver funcionam como transporte coletivo do texto;
- Politicamente correto: apague as palavras que discriminam ou reforçam preconceitos.
A internet subverte a leitura e a escrita
Antes da web, o autor era dono e senhor do texto.
Depois, a história mudou de enredo.
Com o hipertexto, a ordem perdeu o rumo.
O leitor assume o protagonismo.
Além de escolher o que ler e quando, ele interfere no conteúdo, fazendo comentários.
O que era uma comunicação unilateral, agora é dialógica.
Em suma: o público rege os elementos da comunicação.
Este público é infiel, inconsistente, proativo, receptivo, crítico, exigente, visual, multimídia e apressado.
Trata-se de uma nova criatura.
Ora, novo paradigma implica nova forma de atuação.
Agora, autor e leitor se tornam colaboradores.
Comentários viram pauta, notícia e ampliação de conteúdo.
Fotos encaminhadas à redação ilustram matérias, ganham chamadas.
Vídeos e áudios são aproveitados.
Munido de celular (smartphone), o público apura a matéria, tira fotos, grava declarações, faz vídeos e escreve o texto na hora.
Se ninguém publicar, ele mesmo edita e posta nas suas redes sociais.
O redator, para atender às exigências desse novo mundo, precisa:
- Escrever o português culto;
- Dominar a tecnologia na web;
- Ter lastro cultural para contextualizar a informação;
- Saber apresentar a notícia segundo as peculiaridades de cada fato;
- Dar crédito a críticas e comentários de internautas, que se tornam coautores do conteúdo;
- Apurar com seriedade e checar as informações antes da divulgação;
- Manter o foco nas necessidades e hábito dos visitantes;
- Não subestimar o leitor;
- Contar bem uma história.
Exigências da notícia on-line:
- Apuração rigorosa: entre o furo e a apuração, fique com ela, pois o internauta não se preocupa com a notícia em primeira mão, mas quer a informação correta;
- Português correto: erros pegam mal, desacreditam o conteúdo, o repórter e o portal de notícias;
- Textos curtos: a notícia não deve ultrapassar o tamanho da tela;
- Sentenças declarativas com apenas uma ideia;
- Frases curtas e, sempre que possível, bem-humoradas;
- Verbos fortes, de preferência na voz ativa;
- Declarações diretas: entre logo no assunto;
- Enunciados concretos: palavras abstratas e genéricas são pragas;
- Facilidade de leitura: menor é melhor, se fácil, juntam-se tamanho e rapidez;
- Pirâmide invertida: o lide volta com total autoridade.
Na internet, o lide impõe mudanças para atender às exigências de rapidez e economia, em cinco
mandamentos:
- Não tolerar redundâncias;
- Valorizar a esquerda da tela, pois o internauta tem pouco tempo;
- Não começar o parágrafo com partículas de transição (aliás, além disso, veja bem);
- Não abrir a matéria com história ou declarações longas;
- Dar preferência a enunciações.
A atualização em tempo real desafia o redator.
Escrever uma notícia exibe bom texto e boa edição.
Isso impõe atenção plena para evitar as seguintes trombadas:
- Empilhamento de informações afasta a leitura;
- Erros de apuração, ortografia e sintaxe pegam mal;
- Tag: sem palavra-chave (a isca para os internautas) o conteúdo não cai na rede do internauta;
- Indicação de tempo da publicação e da atualização;
- Validação das páginas: a desatualização é mortal;
- Referências para que o site seja encontrado e acessado;
- Limitações: ser acessível de qualquer plataforma (computador, celular).
140 toques
O X-Twiter ensina a ser econômico e preciso nas mensagens.
Menos palavras e menos letras é sinônimo de mais informação.
Como economizar espaço sem comprometer a compreensão:
- Palavras curtas;
- Siglas;
- Abreviaturas;
- Conteúdo curto;
- Voz ativa;
- Numeral;
- Formas positivas;
- Sinais de pontuação;
- Códigos emocionais.
- Escrever é cortar.
A dificuldade de cortar é um apego.
A qualidade de um texto não é medida por metro ou peso.
A limitação do X-Twitter serve de prova.
Corte o seguinte:
- Palavras acessórias: substantivos e verbos são soberanos;
- Artigos indefinidos: em 99% dos casos, é gordura pura;
- Pronomes “seu” e “sua”: tornam o texto ambíguo ou sem função;
- Pronome “todos”: dispensável;
- “Algum”, “alguma”: supérfluo;
- O que é, que foi, que era: não precisa detalhar;
- Nas datas, os substantivos dia, mês e ano: economiza-se ao máximo, contando;
- Zeros desnecessários (07/06/2019: 7/6/19);
- Locuções prepositivas por preposições: troque;
- Orações substantivas por substantivos: substitua.
O jornal se reinventa
Há formas e formas de apresentar a notícia.
Textos, fotos, infográficos, tabelas, quadros, ilustrações são algumas.
Qual a melhor? A mais adequada e atraente para o leitor.
É importante pensar com cabeça hipermídia.
O jornal não se restringe a assinaturas ou vendas em banca, debandou também para a internet.
O mundo moderno e as tecnologias impõem uma nova forma textual.
O hipertexto, por exemplo, quebra a linearidade do texto.
Com poucas linhas, aprofunda o assunto em paralelo.
O leitor pode continuar a leitura ou interromper e voltar a ela.
São vários os novos impactos na mídia impressa:
- Eu acho: o leitor fala, opina, entra nas páginas como parte da matéria;
- Palavra de especialista: parecer de quem entende do assunto, dá credibilidade à matéria;
- Opinião do internauta: o leitor tem vez na internet;
- Análise da notícia: interpretação dos fatos;
- Crítica: Avaliação de obra ou espetáculo, se assinada, ganha crédito;
- Cara a cara: dois especialistas apresentam pontos de vistas diferentes;
- Entenda o caso: contextualização da matéria;
- Serviço, dicas: a prestação de serviços é indispensável;
- Linha do tempo, cronologia: informação gráfica, infográfico;
- Blá-blá-blá: o “nariz de cera” agora é “falação”, a retórica vazia não tem vez;
- Frase: sentença que merece destaque, sendo realçada, a declaração sobressai e dá o tom da narrativa;
- Memória: recuperação de fatos passados que se relacionam com um acontecimento atual, contendo dados e informações que agregam conhecimento;
- Numeralha: visualização gráfica (destaque) dos números;
- Perfil: apresenta uma pessoa ao leitor, reportagem;
- Personagem da notícia: pessoa que se destaca não por ser a personagem principal, mas por ter papel relevante na história;
- Ponto a ponto: roteiro para entender os meandros da notícia;
- O povo fala: opinião de pessoas comuns;
- Texto-legenda: esgota o assunto.
Os jornais populares mudaram de conteúdo e exigem uma redação diferenciada:
- Apuração: é incansável e em profundidade;
- Língua: a apresentação da notícia tem íntimo nexo com o jeito de dizer;
- Vocabulário: as pessoas simples também querem ser tratada com inteligência;
- Fotos: sem foto, nada feito;
- Capa: por não ter assinaturas, vende-se pela capa;
- Títulos: sem obrigatoriedade do verbo;
- Textos: curtos, precisos, enxutos, exatos, em que a ordem direta é imprescindível.
Rádio e TV na web
A interação das mídias criou o jornalista eletrônico e digital.
O adjetivo engloba o jornalista de rádio, de tevê e de veículo impresso, agora simultaneamente na internet.
Polivalente, o profissional do século 21 produz conteúdo para a web.
Além das exigências universais (clareza, concisão, facilidade, precisão etc.), o redator desenvolve novas habilidades.
Ele escreve para o leitor e também fala para o telespectador e o ouvinte.
A palavra, proferida em tempo real, precisa ser captada no ato.
Habilidades linguísticas do novo redator:
- Seja criativo: fuja dos chavões, lugares-comuns não se constroem só com palavras;
- Seja coloquial: o ouvido tem estreita conexão com o coração, pois o ouvinte e o telespectador são amigos, cúmplices, exigindo descontração e bom humor;
- Seja interativo: o público telefona, manda conteúdo (foto, áudio, vídeo) e mensagem instantânea (WhastApp), e-mail, enfim, participa;
- Seja capaz de improvisar: eventuais faltas técnicas exigem jogo de cintura;
- Seja redundante sem ser repetitivo;
- Seja correto: corrija;
- Ritmo: o rápido rouba o ar e vagaroso dá sono, mas a sabedoria está no meio;
- Emoção: a palavra tratada com delicadeza, mas sem cerimônia;
- Harmonia: a língua encanta;
- Cacófato: exclua;
- Nomes próprios: pronúncia e escrita corretas;
- Palavras estrangeiras: pesquise a pronúncia correta:
- Números: apoie-se em recursos visuais, arredonde;
- Horas: prefira a forma de como se fala.
SQUARISI, Dad. Manual de redação e estilo para mídias convergentes. Geração, 2011.