Published using Google Docs
ATIVIDADE DO DIA 26/07:
Updated automatically every 5 minutes

ATIVIDADE DO DIA 26/07:

A carta aberta reproduzida a seguir foi publicada em um jornal distribuído na região de Nova Lima, município próximo de Belo Horizonte (MG). Leia-a e responda às questões.

 Leitura 2

Carta aberta aos homens de vida pública e “boa vontade”

Por Cristina Veloso

Lembro-me, quando ainda adolescente, de que era a Faculdade de Veterinária da UFMG [D1] o centro de apoio para animais de proprietários carentes que não podiam pagar consultas e tratamentos em clínicas particulares.

O Hospital Veterinário da UFMG prestava um serviço público e era centro de referência nacional para tratamentos de animais domésticos de pequeno ou grande porte, bem como dos silvestres.

Hoje, se uma pessoa carente financeiramente passar pelo infortúnio de ter um animal de estimação adoentado ou acidentado, e, da mesma forma, aqueles que movidos pela compaixão desejarem socorrer um animal de rua doente, atropelado, ou mesmo qualquer animal silvestre nessa situação, não terão a quem recorrer se não tiverem como pagar.

O poder público apenas disponibiliza o serviço de castração gratuito, assim mesmo só em alguns municípios.

Em se tratando de saúde animal a situação é de total abandono, salvo alguns raríssimos e heroicos veterinários particulares, cujas clínicas prestam socorro, nas situações acima citadas.

Aproveitando o espaço de que dispomos neste jornal, e que dividimos, privilegiadamente, com homens públicos de efetivo empenho ao bem comum, a Promutuca vem fazer um apelo suprapartidário à consciência e à sensibilidade pessoal dos vereadores e deputados que partilham conosco dá vontade de contribuir para uma sociedade mais justa: necessitamos de um projeto de lei que obrigue as Faculdades de Veterinária públicas e privadas, a exemplo do que ocorre nas Faculdades de Medicina e de Direito em suas respectivas atribuições, a prestarem serviços gratuitos aos animais abandonados ou cujos proprietários não disponham de recursos para custear seu tratamento.

É com grande espanto que constatamos os cursos de Veterinária se distanciarem de seu verdadeiro objetivo: a formação de profissionais dedicados à saúde e ao bem-estar animal.

Animais saudáveis são utilizados em experimentos com fins científicos (pesquisa) ou didáticos: a dissecação, ação de seccionar partes do corpo ou órgãos de animais mortos para estudar sua anatomia, e a vivissecção, que é a realização de intervenções invasivas em animais vivos, anestesiados ou não: práticas obsoletas que nos remetem a René Descartes e sua teoria do animal-machine. No século XVII, o físico inglês Isaac Newton concebeu o universo como um imenso mecanismo de relógio, possível de ser compreendido pelo estudo de suas partes. Na mesma época, Descartes adaptou esse mecanicismo para a medicina. Para ele, os corpos de animais eram apenas máquinas, e sentimentos como prazer, dor e sofrimento moravam na alma, que só os homens possuíam. Se animais não tinham alma, a dedução lógica era a de que não sentiam dor. Os ganidos de cães seccionados vivos e conscientes, na Escola de Port-Royal, por ele e seus seguidores, eram interpretados como o simples ranger de uma máquina. Era o auge da teoria do animal-machine (animal-máquina).

Na Europa e nos Estados Unidos, muitas faculdades de medicina não mais utilizam animais, nem mesmo nas matérias práticas como a técnica cirúrgica e cirurgias experimentais, oferecendo substitutivos em todos os setores. Nos EUA, mais de 100 escolas de medicina (quase 70%), incluindo Harvard, não utilizam animais. Na Inglaterra e na Alemanha, a utilização de animais na educação médica foi abolida, sendo que na Grã-Bretanha (Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda) é contra a lei estudantes de medicina, humana ou animal, praticarem cirurgia em animais com fins meramente “didáticos”.

No Brasil, a Faculdade de Medicina Veterinária da USP[D2]  desde 2000 não utiliza animais vivos em aulas de técnica cirúrgica. Utiliza cadáveres, especialmente preparados, de animais que tiveram morte natural em

clínicas e hospitais veterinários. A preparação é feita a partir de substâncias que preservam a consistência do tecido como a de um animal vivo.

Não obstante a efetiva evolução moral e científica abolindo a utilização de animais na educação, por meios alternativos mais éticos e eficientes, estudantes realizam a tarefa por imposição. Por que não aprender cuidando, salvando vidas animais?

É que a clínica de animais tornou-se um lucrativo “negócio” para as Faculdades de Veterinária, distanciando-as de seu objetivo fim: o pedagógico, cuja excelência vai além do científico, abrange a compaixão e essa não se ensina, pratica-se.

Nobres deputados, vereadores, alunos de Veterinária, de Biologia, professores, proprietários de animais e homens de sensibilidade: precisamos que cada escola de Veterinária abra a sua porta, por pelo menos duas vezes na semana, uma para clínica, outra para cirurgia de animais.

As Faculdades de Medicina já há muito assim o fazem, as de Direito também. Mais uma vez vemos nessa situação a concreta e manifesta desconsideração com a Vida Animal.

Tenho certeza de que muitos leitores endossam nosso pedido. Já sopra um vento de mudanças com relação ao alargamento ético e jurídico dos direitos animais na modernidade. Feliz do homem que sabe ler o seu tempo. E utiliza-se da boa ação em “tempo oportuno”.

Cristina Brugnara Veloso é advogada e moradora em um dos condomínios integrantes da ONG Promutuca.

Cristina Brugnara Veloso. Carta aberta aos homens de vida pública e “boa vontade”. Jornal do Belvedere e Condomínios de Nova Lima, Belo Horizonte, 10 jan. 2012.

 No vale do Mutuca está o córrego do Mutuca, que é parte da bacia hidrográfica que atende Belo Horizonte.

A vegetação de suas margens abriga pássaros e mamíferos de pequeno porte, inclusive espécies em risco de extinção. Conheça a Associação para Proteção Ambiental do Vale do Mutuca (Promutuca) acessando:

<http://www.promutuca.org.br/o_vale_do_mutuca/o_vale.html>.

 

Muitas cartas abertas apresentam fórmulas de despedida como Atenciosamente ou Cordialmente.

A localidade e a data podem aparecer no início ou no final do texto ou ser omitidas quando a publicação da

qual elas fazem parte já apresenta tais dados.

 

Vocabulário:

Abolindo: anulando.

Endossam: apoiam.

Oportuno: apropriado.

 Refletindo sobre o texto:

1.O texto da carta que você acabou de ler pode ser dividido em cinco partes, indicadas a seguir. Identifique os parágrafos que se relacionam a essas partes.

a) Contextualização do fato social que motiva a carta.

b) Apresentação da solicitação.

c) Justificação da solicitação.

d) Retomada da solicitação e detalhamento de uma proposta.

e) Conclusão do raciocínio.

 

2.Reflita sobre a maneira como a produtora do texto se apresenta.

a) Ela fala apenas em nome dela? Explique sua resposta.

b) Junto da assinatura, há uma identificação social. Qual é a relevância disso para o leitor?

c) No início da carta, a advogada faz referência a uma lembrança. Essa referência torna a carta pessoal? Justifique sua resposta.

 

3.Observe, agora, os destinatários da carta.

a) Nesse contexto, “homem” é uma referência a um ser do sexo masculino? Explique sua resposta.

b) Já no final da carta, a produtora usa vocativos para designar seus destinatários. Transcreva-os.

c) Qual é o efeito do uso de vocativos, nesse ponto da carta, para referir-se aos destinatários?

d) A produtora da carta emprega a expressão tenho certeza para indicar a crença de que os leitores concordam com a proposta apresentada. Qual é a função do uso dessa expressão em relação ao destinatário?

 4 Uma carta aberta deve dirigir-se aos que efetivamente são responsáveis por determinado setor da vida social.

a) Qual é a reivindicação expressa no sexto parágrafo e a quem ela é feita?

b) A produtora do texto está correta em dirigir seu pedido a esses interlocutores especificamente? Justifique sua resposta.

c) A produtora afirma que seu apelo é suprapartidário. Identifique o radical dessa palavra e explique o sentido do prefixo.

5 Como você pôde perceber, na carta aberta foi empregada a linguagem formal. O que justifica a escolha desse nível de linguagem?

6 Analise a escolha lexical (de vocabulário) da carta.

a) Para evitar a repetição de uma pessoa, adoentado e acidentado, quais palavras foram usadas no parágrafo 3?

b) Quais palavras foram empregadas no parágrafo 4 para indicar que o serviço público oferecido a animais é insuficiente?

c) Explique como, no parágrafo 5, os adjetivos que acompanham a expressão veterinários particulares tornam-se argumentos em defesa da causa da advogada.

 

Vocativo é um termo ou uma expressão utilizados para chamamento.

Exemplo: “Senhoras e senhores, aproveitem o espetáculo”.

 

Embora se dirija especialmente a alguns interlocutores, a carta tem circulação pública.

Por que a existência de muitos leitores contribui para a obtenção do objetivo da carta aberta?

 

7 O fragmento a seguir foi retirado de uma carta aberta dirigida ao prefeito de Fortaleza, em 2017. Leia-o.

 Compreendo [...] que Fortaleza é uma cidade de crescimento desordenado – principalmente nas periferias – e que sofre com problemas urgentes e de difícil solução, mas é por isso mesmo, senhor prefeito, que lhe peço que seja o primeiro a lembrar também deste outro caso de difícil solução que são os maus-tratos

aos animais. É urgente a necessidade da criação de políticas públicas (que alcancem o maior número possível de pessoas) que contemplem o combate ao abandono e o incentivo à castração.

É urgente também a criação de um hospital veterinário público, gratuito e acessível, principalmente aos ativistas da causa e às pessoas de comprovada baixa renda; assim como também é urgente a acolhida destes animais em situação de abandono (com base nos modelos estadunidenses de abrigos) e a promoção constante de feiras de adoção.

Celso Santos. Publicado pela ANDA — Agência de Notícias de Direitos Animais.

a) O produtor da carta insere o problema para o qual pede solução em um conjunto de outras demandas da cidade. Como ele apresenta essa ideia?

b) Embora o produtor dessa carta e a representante da ONG Promutuca se preocupem com o atendimento de cães abandonados ou de donos de baixa renda, há uma diferença significativa no que propõem. Compare as propostas.

c) O que seria necessário para que cada uma dessas propostas fosse colocada em prática?

d) Na sua opinião, qual é a proposta mais viável? Você defenderia uma delas? Proporia alterações? Por quê?

 

O gênero textual carta aberta é escrito em linguagem formal e tem circulação pública. Seu objetivo é expor um ponto de vista e apresentar argumentos para sustentá-lo. Em geral, há a intenção de convencer os interlocutores e, indiretamente, também os demais leitores, que, conhecendo uma reivindicação válida

ou um protesto, poderão fazer pressão social para que essas manifestações sejam atendidas.

 

 


 [D1]Universidade Federal de Minas Gerais

 [D2]Universidade de São Paulo