Era uma tarde silenciosa, o ar com um calor sufocante, mas o coração de Gojo Satoru estava cada vez mais sufocante. Ele andava pelos corredores do colégio Jujutsu, os passos ecoando em sua mente. Desde que da doença Hanahaki, não tinha mais paz em sua mente. Cada pétala que sua amiga Shoko retirava de sua garganta, eram um lembrete cruel do que não poderia ser.
Gojo estava sentado em uma cadeira na pequena sala da enfermaria, sua postura relaxada contrastando com a tensão visível em seus olhos. Shoko se inclinava sobre ele, com uma pinça em uma mão e uma expressão preocupada no rosto. Era uma rotina que se repetia mais vezes do que ela gostaria. As pétalas, pequenas e delicadas, precisavam ser removidas antes que ele sufocasse. Porém, cada sessão trazia a Shoko uma crescente inquietação. A doença estava piorando, e o peso do que isso significava se tornava cada vez mais difícil de ignorar.
— Respire fundo — Shoko instruiu, sua voz suave, mas firme.
Gojo obedeceu sem discutir, seu olhar fixo no teto enquanto sentia a pinça deslizar suavemente por sua garganta. Mais uma pétala roxa foi retirada, dessa vez manchada de sangue. O silêncio entre eles era quebrado apenas pelo som da respiração controlada de Gojo e o leve tilintar do metal contra a bandeja ao lado, onde Shoko depositava as pétalas removidas.
— Isso está ficando cada vez pior, Satoru — ela finalmente quebrou o silêncio, sua voz carregada de preocupação, mas mantendo um tom clínico. — Você sabe o que isso significa, não sabe?
Gojo desviou o olhar, os lábios se curvando em um sorriso forçado. — Ah, Shoko, você sempre tão direta.
— Não é hora de piadinhas, Gojo — ela disse, um tom de impaciência misturado com exasperação. — Se você não resolver isso logo, vai ser tarde demais. Hanahaki não vai esperar por você se decidir. As flores já estão se espalhando, e não consigo mais conter o progresso.
Ele suspirou, seus olhos azuis agora focados no chão, como se buscasse ali uma resposta que ele não queria encarar. — Eu sei... — murmurou, a voz mais baixa do que de costume. — Mas não é tão simples assim, Shoko.
— Não é simples porque você está complicando tudo — ela retrucou, colocando a pinça de lado e cruzando os braços. — Eu te conheço, Satoru. Você sempre evita o que te deixa vulnerável. Mas isso... — Shoko apontou para a bandeja cheia de pétalas. — Isso é o resultado do seu silêncio.
— E o que você quer que eu faça? — ele rebateu, a voz mais amarga agora, algo incomum para o geralmente confiante Gojo Satoru. — Que eu vá até ele e simplesmente diga?
— Exatamente. — Shoko o encarou com firmeza, o rosto endurecido pela preocupação genuína. — Ou vai esperar que as flores te sufoquem de vez? Porque é isso que vai acontecer se continuar ignorando seus sentimentos.
Gojo fechou os olhos, o peso da verdade de Shoko afundando em seus ombros. Ele sempre fora o mais forte, o inabalável, aquele que protegia os outros. Mas agora, enfrentava algo que nem sua força imensa poderia vencer.
— E se eu perder ele? — a pergunta saiu como um sussurro, a vulnerabilidade que ele tanto evitava agora à mostra.
Shoko suspirou, relaxando um pouco ao ver que, finalmente, Gojo estava lidando com a realidade. — Se você não fizer nada, vai perdê-lo de qualquer jeito, Satoru. — Ela abaixou a voz, agora mais suave. — Eu não posso continuar te ajudando com isso. Não posso parar a doença... só você pode.
Gojo manteve o olhar no chão, processando suas palavras. Ele sabia que ela estava certa, mas o medo de admitir seus sentimentos, de enfrentar Geto, era esmagador.
Shoko se aproximou mais, colocando a mão suavemente em seu ombro. — Satoru, você é o feiticeiro mais forte, mas nem mesmo você pode lutar contra o que sente. Se continuar assim, não vai sobrar nada para ser o mais forte de. Faça algo antes que seja tarde demais.
Gojo apenas assentiu, um silêncio carregado de pensamentos não ditos pairando entre os dois. Ele sabia que estava no limite, e Shoko havia acabado de colocá-lo cara a cara com a escolha que ele tanto evitava.
— Eu vou... pensar nisso — ele disse, finalmente, tentando manter a fachada de sempre, mas a gravidade da situação já estava estampada em seu rosto.
Shoko suspirou mais uma vez, sabendo que aquilo era o melhor que poderia tirar dele no momento.
— Apenas pense rápido, Satoru. Essas flores não vão esperar por você. — Ela deu um último olhar preocupado antes de sair da sala, deixando-o sozinho com suas flores e seus medos.
O albino respirou fundo, fechando os olhos por um momento enquanto sentia o vazio se aprofundar dentro de si. Shoko tinha razão. As flores estavam crescendo, e o tempo estava acabando.
Gojo nunca imaginou que esta doença pudesse tocá-lo. Uma doença que florescia em corações que não era correspondido, se enraizavam no pulmão e as flores subiam para a garganta. Uma doença que anunciava o fim de um amor jamais consumado ao homem que entre o céu e a terra é mais horado.
Entretanto, o que ninguém nunca soube, era que Satoru nunca teve coragem de admitir seu maior por Geto. Esse amor não era como um amigo sente por outro e muito menos um amor de irmãos, mas algo que estavam muito além, um além-doloroso. Este apego que florescia em seus pulmões com candura, intenso, isso o assustava, e, pouco a pouco, esse amor começou a tomar uma forma literal.
No começo, Satoru desconsiderou o desconforto que sentia. Eram pequenos espasmo na goela, um incomodo que parecia inofensivo. Mas a cada encontro com Geto, a cada palavra que não era expressada, a sensação se intensificava, até que um dia infeliz, ao abrir a boca para falar, tossiu. E com isso, uma pequena pétala roxa caiu com leveza dos seus lábios.
Por um momento Gojo ficou estático. O olhar fixo na pétala que caia de forma leve até o chão. A delicadeza da pequena flor era uma diferença cruel com o que sentia dentro de seu corpo: uma dor sufocante, a ausência que consumia. A lasca parecia carregar a carga de tudo o que ele jamais conseguiu exclamar, a completude o prendia ao moreno de uma que o estragava.
Seu corpo se abaixou de forma automática, ele pegou a pétala entre seus dedos. A tessidura era macia, quase confortável, porém, ele sabia o significado. Hanahaki era um reflexo do que ele sempre evitava: admitir suas emoções. Logo ele? O feiticeiro mais forte, o inabalável Gojo Satoru, estava lá à mercê de logo que desta vez não poderia controlar e muito menos vencer.
Em dias seguintes, tentou desvincular os sinais. Fez de tudo para afastar Geto de seus pensamentos, como se isso interrompesse o florescer das pétalas. Porém, a cada encontro, cada sorriso ou troca de olhares que trocavam, Satoru sentia uma flor crescendo dentro de seu corpo, se enraizando em frases ou palavras não ditas, em seus mais profundos desejos não confessados. Era como... como se a afeição, ao invés de ser uma força que o libertava, o estrangulava.
"Satoru... Tá tudo bem?" - A voz manhosa de Suguro trouxe Satoru de volta ao presente, enquanto ele andava pelos corredores vazios. A familiaridade e a preocupação no tom de Geto fizeram seu coração pulsar. Satoru virou o rosto para o lado, evitando o olhar preocupado de seu "amigo".
"Obvio. Por que eu não estaria?" - Respondeu com sorriso de orelha a orelha, no entanto, era forçado. Ele se segurava, pois mais uma pétala ameaçava sair.
O moreno franziu o cenho, sentindo que algo estava errado com seu parceiro, mas não protestou. Algo entre eles, algo que Satoru sempre estava esquivando e se rejeitava a enfrentar, e crescia o abismo que os separava. Ainda assim, ele não imaginava o qual real esse abismo iria se tornar.
A noite se envolveu numa névoa de angústia. Reservando em seu quarto Satoru foi agredido por uma nova crise de tosse. Desta vez, não foram apenas lascas, mas sim um grande punhado delas, escalarte, rosas, lírios molhadas. Uma onda de dor, afundou-se de joelhos, agarrando o peito como se quisesse sufocar a flor que não desabrochava dentro de si, corroendo-o por dentro. Era o último golpe. Se ele não se revelasse, a doença o consumiria por completo, selando seu destino.
Imerso em seus pensamentos, como iria confessar em seus sentimentos a Geto? A ideia de perder seu amor o consumia, porém, o silêncio também o estava o exterminando lentamente. Os girassóis, agora manchados de sangue, estavam dando um recado
cruel da doença que o corroía pelo interior. A cada pétala que saia, sua escolha se tornava cada vez mais clara: revelar seu amor e arriscar perder Geto para sempre, ou se sufocar em um silêmcio, proporcionando que a doença o levasse.
O albino se rastejou até a cama do quarto em que estava, seu corpo tremia de dor e fraqueza. Seus pensamentos estavam confusos, a respiração descontrolada enquanto tossia mais flores. Gojo sabia que seu fim estava próximo. Cada lasca que saía era um grito em meio ao silêncio, uma súplica que nunca seria ouvida.
Ele fechou seus olhos, seu corpo estava fraco, mas sua mente continua a lutar intensamente. "Se eu morrer com esse segredo idiota...será como eu tivesse mentido para suguru todos esses segredo idiota...será como eu tivesse mentido para suguru todos esses anos", pensou, sentindo o desespero aumentando.
De repente, "Satoru? Está aí?" - Era Geto. Essa voz ele conhecia esse timbre tão bem, acalmava sua tempestade e, ao mesmo tempo, as provocava. Gojo tentou se levantar, porém, seu corpo não respondia.
Gentilmente a porta se abriu, Geto congelou ao ver o estado de seu amigo. Seus olhos se arregalaram, e em por um momento seu mundo parou. "Satoru!" - Disse ele correndo até o amigo, caindo de joelhos ao lado da cama, tocou no rosto do albino com cuidado, como se a qualquer momento Satoru fosse quebrar. "O que tá acontecendo com você?"
"Hanahaki..." murmurou, sua quase era quase inaudível.
Rapidamente o olhar de geto se tornou de horror. Qualquer pessoa sabia o que essa doença significava. "Por quê? Quem...?"
O quarto ficou em um silêncio ensurdecedor. Geto olhou para o outro, sem palavras. Ele sentia o peso da confissão. "Por que não me disse antes seu idiota?" - Sussurrou ele, a voz trêmula. "Por que deixou isso acontecer?"
Satoru abaixou suas pálpebras, sentindo o fim se aproximar. "Eu tinha medo. Medo de perder você." - Lágrimas desceram pelo rosto de ambos. Geto segurou as mãos do outro, sentindo o sangue das flores escorrendo entre seus dedos.
"Eu nunca teria te deixado" - exclamou ele, a voz balanceada. "Eu te amo, Satoru."
Mas já era tarde demais.
"Pela última vez, eu pude ver o sorriso marcado em dor e alívio, pude ouvir um "Eu também te amo" depois disso eu apenas vi a última pétala cair da sua boca... e todo seu corpo cedendo ao peso."
Então, Suguru Geto também tossiu. Uma pétala branca caiu de seus lábios, e foram seguidas de outras.
O destino dos dois foi selado naquele momento. Eles se confessaram tarde demais, e agora as flores o consumiam por dentro. O moreno se sentou ao lado do cabelos brancos, segurando sua mão até o sua última respiração. Tudo o que restou daquele momento foram dois corpos sem vida, sangue por todo lado e flores sobre o sangue dos dois.