Você acha que seu filho tem TDAH ?
Por: Naira Caroline Teixeira
O TDAH – Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade é uma síndrome amplamente difundida e que vem sendo constantemente diagnosticada e confundida em crianças que apresentam vivacidade, impetuosidade, animação, curiosidade e são capazes de surpreendentes façanhas para chamar a atenção dos adultos. Comportamentos tidos como inapropriados para crianças que apresentam agitação, tristeza, falta de iniciativa, ansiedade e dificuldade de aprendizagem e de relacionamento também são apresentados por adultos pelos mesmos motivos já que são comportamentos resultados de uma desordem ou problemas emocionais; ainda assim é preciso entender que cada indivíduo apresenta características comportamentais que são mais ou menos acentuadas e que muitas vezes não encontram aceitação do próprio indivíduo e das pessoas que convivem por não corresponder a um padrão tido pela sociedade como “aceitável” para convivência social e são padrões não raramente excludentes.
Comportamentos padronizados são cada vez mais exigidos das crianças já que podem ser “delineados” com drogas em consultórios após um diagnóstico de TDAH. Os pais e os adultos, em geral, tem menos tempo para participar do crescimento e desenvolvimento das crianças e exigem comportamentos tidos como ideais há muitas décadas, quando a educação era mais repressora e não permitia questionamentos como atualmente. Como exigir os mesmos resultados de décadas atrás se educação hoje é bem mais discutida, negociada e co-participativa. É preciso entender que certos parâmetros mudaram e, portanto, os resultados dessa educação também sofreram mudanças.
O comportamento reprimido por castigos físicos a tempos atrás hoje são mais manifestados por encontrarem abertura no processo criativo para desenvolver. A flexibilidade nessa negociação aumentou e não há “cura” para isso, por que não há doença!
Outro ponto é que os pais ou os responsáveis pela educação são bombardeados pelo excesso de informação e exigências, o resultado disso é menos paciência e dedicação para cuidar das crianças, colocando-as aos cuidados de pessoas que são pagas para cumprir esse papel. Transformação justificável no funcionamento do mundo atual, mas que exige um olhar plástico e compreensível por parte dos responsáveis e cuidadores. Toda criança, assim como todo adulto precisa ser ouvido e legitimado pela conversa e pelo exercício social da sua personalidade para que possa compreender qual o lugar que ocupa na vida das pessoas e que comportamentos desenvolvem melhor sua habilidade social e para isso a dedicação dos pais é inigualável a qualquer outro recurso.
Voltando as características do TDAH podemos dizer que incluem sintomas como desatenção, inquietude e impulsividade que são reconhecidos pela OMS – Organização Mundial de Saúde. Algumas pesquisas sinalizam para o caráter hereditário do transtorno e abrange 3% a 6% da população infantil em idade escolar e os sintomas podem chegar a fase adulta, embora de forma bem mais branda. No Brasil a taxa pode chegar a 7% da população infantil segundo dados do IBGE do 2010.
O diagnóstico de TDAH é clínico e muitas vezes dependem do relato dos pais e cuidadores já que não aparecem claramente no consultório e a partir de uma interpretação do psicólogo ou médico é que se pode chegar a um diagnóstico e indicar um tratamento,já que não existe nenhum exame laboratorial confiável para o diagnóstico desse transtorno.
O Brasil vem sofrendo uma avalanche de diagnóstico assim como ocorreu nos estados Unidos a décadas atrás. A situação é alarmante, pois comportamentos comum a infância estão sendo rotulados como distúrbios.
A falta de atenção, inquietude e desobediência confundida com hiperatividade podem apresentar-se por diversos motivos, dentre eles, a ansiedade, a depressão e excesso de timidez ou ainda outros sentimentos que nem passam pela via patológica.
O ideal é que o psicólogo seja consultado quando há suspeita de TDAH ou ainda quando há repetidas incidências de manifestação de comportamentos característicos desta síndrome para que a criança ou adolescente possa ser avaliada e investigada as possíveis causas desses comportamentos. E no caso de um diagnóstico conclusivo de TDAH a terapia tem se mostrado de grande valia aliada ao acompanhamento neurológico e ao tratamento medicamentoso na superação do transtorno, melhorando a qualidade de vida e promovendo um convívio social mais satisfatório.
Nos dois casos a alternativa psicoterapêutica beneficia a criança e também a família preparando-a para lidar com a situação de forma mais harmoniosa e integrada, podendo-se aliar também a terapia familiar como forma de fortalecer os vínculos entre os familiares e intensificar os laços afetivos e de confiança. A criança que se sente inserida num contexto familiar harmônico e pleno reflete segurança para superar todos os desafios colocados em quaisquer circunstâncias.
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Autora: Naira Caroline Teixeira
Registro no Conselho Regional de Psicologia do Estado do Espírito Santo (CRP-ES) n. 1648. Psicóloga formada pela Universidade Federal do Espírito Santo - UFES
Pós-Graduada com Especialização em Terapia Familiar e Políticas Sociais de Atenção à Família pela Faculdade Unida
Membro do ANIMA - Grupo de Estudos e de Vivências em Psicologia Analítica em Vitória/ES
Publicação: 24/07/2014 – site www.psicologiaclinica.aempresa.com.br
+info: http://www.doctoralia.com.br/medico/teixeira+naira+caroline-14026551